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Arquivo Diário 24 de setembro de 2012

Forças impulsoras e restritivas no trabalho em equipe‏

Autores:Ana Cristina Sussekind1, Denize Bouttelet Munari2, Bárbara Souza Rocha3 , Cynthia Ferreira de Melo4, Gleydson Ferreira de Melo5.

Introdução: Nas políticas públicas de saúde no Brasil que centralizam a atenção na assistência à família e comunidade, o trabalho em equipe é colocado sempre em evidência(1).Na estratégia de Saúde da Família SF as ações são norteadas pelos princípios da territorialização, integralidade da assistência,vínculo, do estímulo à participação social e do trabalho multidisciplinar e em equipe(2). Na medida em que a SF busca se constituir como um modelo de atenção que contempla as múltiplas dimensões das necessidades de saúde, individual e coletiva, propõe mudanças no objeto de atenção, na forma de atuação profissional e na organização do serviço. Nesta nova forma de atuação, a ação multiprofissional deve ser concretizada por meio do trabalho em equipe. Para tanto, é fundamental a construção de novos modos de pensar e fazer essa prática, que requer alta complexidade de saberes, de desenvolvimento de habilidades e de mudanças de atitudes, por parte de toda a equipe, o que se constitui um grande desafio(3). Nesse sentido, é essencial o desenvolvimento de investigações que focalizem as várias dimensões do trabalho em equipe, pois estas podem gerar pistas para o aprimoramento das habilidades dos profissionais para essa prática, bem como nutrir gestores para buscar formas mais eficientes no processo de gestão. Por essa razão o foco deste estudo foi voltado para os fatores que dificultam o melhor desempenho das equipes no contexto da saúde da família e também aqueles que as sustentam.

Objetivo:
Identificar na literatura latino-americana evidências de forças impulsoras e restritivas para o trabalho em equipe a partir da visão do profissional da saúde da família.

Metodologia:Revisão integrativa da literatura(4), cujo processo permite a busca, a avaliação crítica e a síntese das evidências disponíveis sobre determinado tema, construindo como produto final o estado atual deste conhecimento, possibilitando a implementação de intervenções efetivas na assistência à saúde bem como a identificação de lacunas que direcionam para o desenvolvimento de futuras pesquisas. Para tanto, partimos da seguinte questão de pesquisa: Que forças impulsionam e restringem o trabalho em equipe no âmbito da saúde da família na perspectiva dos profissionais das equipes?A partir desta, partimos para o processo de busca do material, definindo o recorte temporal entre 1994 a 2010, tendo em vista a criação do Programa de Saúde da Família (PSF), em 1994 pelo Ministério da Saúde. Ainda considerando o SF como um programa de âmbito nacional, optamos por focar a pesquisa em bases de dados de abrangência latino-americana, muito embora não desconsideremos a possibilidade de publicação de pesquisadores brasileiros em outros periódico. Os artigos foram localizados considerando sua disponibilidade em meio eletrônico, na base de dados:Literatura Latino – Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e na Biblioteca SciELO (ScientificElectronic Library). A seleção dos artigos obedeceu ainda como critérios de inclusão: apenas artigos originais, disponíveis na íntegra e online. Os descritores utilizados para a busca foram selecionados no DeCS da Biblioteca Virtual de Saúde abrangendo: “saúdeda família”, “trabalho”, “equipe de assistência ao paciente” “Programa Saúde da Família”. Do total de 2167 artigos, foram selecionados 12 que tratam do tema proposto e obedecem aos critérios definidos para inclusão neste estudo. Os artigos selecionados foram submetidos à análise crítica e descritiva a partir da leitura orientada por meio de um protocolo que possibilitou a caracterização dos artigos e sua análise tentando identificar fatores impulsores restritivos para o desenvolvimento do trabalho em equipe na perspectiva do profissional de saúde.

Resultados: Cinco (5) dos doze (12) artigos foram publicados em periódicos específicos da área de Saúde Coletiva, quatro (4) em revistas da área da Enfermagem e outros três (3) publicados em periódicos de abordagem geral e de outras áreas da saúde. A maioria dos artigos (11) foi publicada entre os anos de 2006 e 2010 sendo que três (3) deles foram publicados no ano de 2008 e três (3) em 2010. Em relação ao desenho do estudo, os artigos abordam a metodologia qualitativa, mesclando com abordagens participativas/ problematizadoras e quanti-qualitativa. O processo de análise dos artigos foi conduzido a partir de uma aproximação com a Teoria do Campo de Forças de Kurt Lewin(5-6), que orienta a análise de forças impulsoras e restritivas como movimentos presentes nos grupos que podem influenciar positivamente ou negativamente os resultados do desempenho do grupo. Essas forças podem estar relacionadas a fatores internos ou externos às pessoas, ao grupo de trabalho e a organização, viabilizando a análise dessas em três dimensões: individuais, relacional e ambientais(5-6). Sendo assim, no que diz respeito às Características individuais dos profissionais que atuam na equipe de saúde da família, os dados extraídos dos artigos mostram, em destaque, que a participação, a motivação, a satisfação com o trabalho, a dedicação e o compromisso são características individuais que podem influenciar e são capazes de impulsionar o trabalho em equipe. Já em relação às características que podemrestringir o trabalho em equipe, os dados mostram que a sobrecarga de trabalho foi apontada pelos profissionais, sendo relacionada à falta de reestruturação nas tarefas exigidas e da capacidade instalada insuficiente. Consiste, portanto, em fatores pessoais restritivos ao esforço individual para lidar com a demanda excessiva, da falta de materiais e equipamentos, para garantir o funcionamento da equipe. A dimensão Relacional incorpora elementos dos relacionamentos interpessoais que se dão no interior das equipes. A análise dos artigos evidenciou que, a comunicação efetiva da equipe (estudos de casos e problemas da equipe), a integralidade, complementaridade das ações multiprofissionais, a interação satisfatória entre a equipe, a disposição dos profissionais à articulação das ações, a preocupação em estabelecer vínculos efetivos e a Enfermeira como coordenadora da equipe são características capazes de influenciar o relacionamento interpessoal e impulsionar o trabalho em equipe. Vale ressaltar o destaque dado pelos profissionais ao trabalho desempenhado pelo profissional Enfermeiro, que exerce a atividade de Coordenação/supervisão e liderança do trabalho realizado pelos ACS e Auxiliares de Enfermagem na SF. Das características identificadas nos artigos como restrivas ao trabalho em equipe, nessa dimensão, foram apontadas a falta de ações integradas para alcance dos resultados do trabalho, a dificuldade de trabalhar em equipe, e a falta de integralidade e complementaridade das ações multiprofissionais. No que se refere às Características ambientais destacaram-se como forças impulsoras o vínculo efetivo entre as equipes de SF e a comunidade, a realização de atividades educativas, o reconhecimento da comunidade pelo trabalho da equipe, a capacitação dos profissionais e as reuniões sistemáticas da equipe podem impulsionar o trabalho em equipe. Em contrapartida, a falta de capacitações dos profissionais, a infra-estrutura física inadequada da unidade, o material de trabalho insuficiente, o excesso de demanda, a ineficiência no sistema de referência e contrareferência, os baixos salários e a concepção equivocada da comunidade sobre a SF foram apontadas como restritivas ao trabalho em equipe.

Conclusão: A análise dos artigos possibilitou a identificação dos potenciais e dos limitadores para o melhor desempenho das equipes no contexto da SF. Destacaram-se na análise como fatores que prejudicam e comprometem a qualidade do trabalho das equipes na SF, as condições de trabalho precárias, os conflitos internos, os baixos salários, a falta de uma gestão participativa, dentre outros. Entendemos como grande desafio a necessidade de investir na formação e capacitação dos profissionais que compreendam a importância e o real significado do trabalho em equipe como ferramenta para melhoria do atendimento prestado a população. Os potenciais identificados nos dados parecem convergir para a relevância de se garantir diálogos saudáveis entre as pessoas para melhorar a convivência, diminuir conflitos, elevar a motivação da equipe e planejar com todos os membros as ações e os objetivos do trabalho, possibilitando assim a integração da equipe e, consequentemente, à qualidade da assistência. Nesse sentido, é fundamental o estabelecimento de estratégias de investimento no desenvolvimento das equipes, pensando nas dimensões individuais e relacionais, especialmente, as que focalizem a postura profissional qualificada para atuar na atenção a SF. Por outro lado é essencial garantir condições de trabalho dignas e mudanças nos processos de gestão que possibilitem a consolidação do SUS. Em destaque podemos ressaltar a importância de capacitar o profissional Enfermeiro, já que é reconhecido pelos outros profissionais como sendo uma liderança impulsionadora para o desenvolvimento do trabalho em equipe.

Referencias
1. Abreu L, Munari D, Queiroz A, Fernandes C. O trabalho de equipe em enfermagem:
revisão sistemática da literatura. Revista Brasileira de Enfermagem. 2005;58(2):203-37.
2. Rosa W, Labate R. Programa Saúde da Família: a construção de um novo modelo na
assistência. Revista Latino Americana de Enfermagem. 2005;13(6):1027-34.
3. Ciampone M, Peduzzi M. Trabalho em equipe e trabalho em grupo no Programa de Saúde
da Família. Revista Brasileira de Enfermagem. 2000;53 (especial):143-7.
4. Ganong LH. Integrative reviews of nursing research. Res Nurs Health. 1987; 10(1):1-11.
5. Lewin K. Field Theory and Experiment in Social Psychology: Concepts and Methods. The
American Journal of Sociology. 1939;44(6):868-96.
6. Suc J, Prokosch HU, Ganslandt T. Applicability of Lewin s change management model in
a hospital setting. Methods Inf Med. 2009;48(5):419-28.

1 – Enfermeira da Secretaria Municipal de Jaraguá – Goiás, Mestre em Enfermagem pela Faculdade de Enfermagem da UFG anacrissussekind@hotmail.com ; 2 – Professora Doutora em Enfermagem, Titular da Faculdade de Enfermagem da UFG boutteletmunari@gmail.com ; 3 – Professora Doutoranda em Enfermagem, Assistente da Faculdade de Enfermagem da UFG barbarasrocha@gmail.com ; 4 – Graduanda do curso de Enfermagem da FEN/UFG cynthia.ferreira1@gmail.com ; 5 – Enfermeiro do Pronto Socorro Psiquiátrico do Município de Goiânia – GO enf.gleydson@hotmail.com