Faça parte da rede aqui!
Fique por dentro das últimas notícias, eventos, debates e publicações científicas mais relevantes.

Arquivo Mensal julho 2017

Contra a reformulação da PNAB – nota sobre a revisão da Política Nacional de Atenção Básica

A Abrasco, o Cebes e a ENSP se manifestam contra a revisão da Política Nacional de Atenção Básica – PNAB que pode ser aprovada ainda hoje, durante a 7ª Reunião Extraordinária da Comissão Intergestores Tripartite – CIT, uma instância de articulação e pactuação na esfera federal que atua na direção nacional do SUS, integrada por gestores do SUS das três esferas de governo – União, estados, DF e municípios. Tem composição paritária formada por 15 membros, sendo cinco indicados pelo Ministério da Saúde (MS), cinco pelo Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) e cinco pelo Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems). A representação de estados e municípios nessa Comissão é regional, sendo um representante para cada uma das cinco regiões no País. Nesse espaço, as decisões são tomadas por consenso e não por votação. A CIT está vinculada à direção nacional do SUS.

+ Confira aqui a minuta PNAB

As atuais ameaças aos princípios e diretrizes do SUS de universalidade, integralidade, equidade e participação social parecem não ter fim.

Não bastasse o estado de sítio fiscal imposto por um governo ilegítimo e golpista com a promulgação da EC 95 que fere de morte o SUS ao agravar o subfinanciamento crônico, reduzindo progressivamente seus recursos por 20 anos, agora nos defrontamos com uma proposta de reformulação da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB).

Causa imensa preocupação a proposição de uma reformulação da PNAB num momento de ataque aos direitos sociais estabelecidos na Constituição Federal de 1988. A revisão das diretrizes para a organização da Atenção Básica proposta pelo Ministério da Saúde revoga a prioridade do modelo assistencial da Estratégia Saúde da Família no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Embora a minuta da PNAB afirme a Saúde da Família estratégia prioritária para expansão e consolidação da Atenção Básica, o texto na prática rompe com sua centralidade na organização do SUS, instituindo financiamento específico para quaisquer outros modelos na atenção básica (para além daquelas populações específicas já definidas na atual PNAB como ribeirinhas, população de rua) que não contemplam a composição de equipes multiprofissionais com a presença de agentes comunitários de saúde. Esta decisão abre a possibilidade de organizar a AB com base em princípios opostos aos da Atenção Primária em Saúde estabelecidos em Alma-Ata e adotados no SUS.

O sucesso da expansão da atenção básica no país nos últimos anos e seus efeitos positivos no acesso a serviços de saúde e na saúde da população decorre da continuidade da indução financeira da Estratégia Saúde da Familia sustentada ao longo do tempo e reforçada nos últimos três anos com o Programa Mais Médicos. Resultados de pesquisas evidenciaram, sistematicamente, a superioridade do modelo assistencial da Saúde da Família quando comparado ao modelo tradicional. Sua maior capacidade de efetivação dos atributos da atenção primária integral produz impacto positivo sobre a saúde da população, com redução da mortalidade infantil, cardiológicas e cerebrovascular e das internações por condições sensíveis à atenção primária. Ao financiar com PAB variável a atenção básica tradicional, a proposta de reformulação da PNAB ameaça estes sucessos. Além de abolir na prática a prioridade da ESF, em um contexto de retração do financiamento e sem perspectivas de recursos adicionais, é muito plausível estimar que o financiamento destas novas configurações de atenção básica será desviado da Estratégia Saúde da Família.

A esta reformulação somam-se outras questões críticas do financiamento da atenção básica decorrentes do fim dos blocos de financiamento do SUS. Esta decisão penaliza a capacidade de indução do SUS em favor da Saúde da Família e da Atenção Básica, não garantindo sua prioridade nos governos municipais. Nossa crítica não contradiz a necessária adequação da rede básica de saúde às especificidades loco regionais, que devem ser financiadas mediante um aumento considerável do PAB fixo, cujo valor médio nacional de R$24,00 per capita ao ano é quase irrisório, estando muito defasado frente aos custos de manutenção e desenvolvimento dos serviços necessários para responder às necessidades de saúde da população. Urge majorar o PAB fixo para ampliar capacidades e autonomia das secretarias municipais de saúde, mantendo a prioridade à Saúde da Família.

A reformulação proposta também ameaça a presença do Agente Comunitário de Saúde como integrante e profissional da atenção básica. Com a expansão da Saúde da Família com cobertura de territórios em áreas urbanas de diferentes estratos socioeconômicos faz-se necessário fortalecer o papel do ACS, redefinindo e qualificando sua intervenção na comunidade como agente de saúde coletiva, elo entre o serviço de saúde e a população. O ACS conhece e reconhece as necessidades populacionais do território e devem ser contemplados com estratégias de educação permanente que apoiem seu trabalho de promotor da saúde, atuando na mobilização social para enfrentamento dos determinantes sociais e em ações estratégicas frente aos problemas de saúde da população.
Preocupante também é a implantação de modo simplificado, ou reducionista, de uma “relação nacional de ações e serviços essenciais e estratégicos da AB”. A ferramenta pode contribuir para a garantia de padrões essenciais mínimos mais qualificados e uniformes em todas as unidades básicas de saúde do país e mesmo de padrões estratégicos mais avançados de acesso e qualidade. Entretanto, cabe alertar que este dispositivo também denominado “carteira de serviços” ou “cesta de serviços” tem sido utilizado para definir oferta seletiva de procedimentos acoplada à implementação de seguros focalizados, em resposta simplificada às demandas de cobertura universal das agências internacionais. No Brasil, este instrumento poderá comprometer a integralidade da AB e do SUS se não houver um compromisso explícito de gestores e profissionais de saúde com oferta ampla e de qualidade das ações, conforme as necessidades de saúde da população.

Contra a reformulação da PNAB. Nenhum direito a menos! Em defesa do SUS público universal de qualidade e pela revogação da EC 95.

27 de julho de 2017

Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco

Centro Brasileiro de Estudos de Saúde – Cebes

Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – ENSP/Fiocruz

ONU e Harvard firmam parceria para realizar pesquisa sobre os 30 anos do SUS no Brasil

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) no Brasil firmou uma parceria com a Universidade de Harvard, dos Estados Unidos, para desenvolver estudos sobre os 30 anos do Sistema Único de Saúde (SUS). Pesquisas serão concluídas em 2018. Em seminário realizado na terça-feira (25), em Brasília, especialistas do organismo internacional, do centro de ensino norte-americano e também de instituições brasileiras discutiram os desafios do atendimento público no Brasil.

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) no Brasil firmou uma parceria com a Universidade de Harvard, dos Estados Unidos, para desenvolver estudos sobre os 30 anos do Sistema Único de Saúde (SUS). Pesquisas serão concluídas em 2018. Em seminário realizado na terça-feira (25), em Brasília, especialistas do organismo internacional, do centro de ensino norte-americano e também de instituições brasileiras discutiram as conquistas, desafios e ameaças ao atendimento público no Brasil.

“Com o estudo, queremos identificar evidências científicas sobre o que o SUS representou e simular cenários levando em conta o contexto político e econômico no Brasil para garantir uma saúde pública de qualidade. Queremos mostrar o que foi o SUS e o que pode ocorrer com o Sistema dependendo dos caminhos que o país adotar”, apontou a pesquisadora de Harvard e coordenadora das pesquisas, Marcia Castro.

A cientista afirmou ainda que, com a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) pela Assembleia Geral da ONU, “os países estão olhando para o Brasil como um observatório sobre políticas de saúde que deram certo e também as que não deram certo”.

O também coordenador das investigações, Adriano Massuda, disse acreditar que as análises darão visibilidade a “discussões pertinentes para o futuro do sistema de saúde brasileiro em um cenário de crise”.

Agenda 2030 da ONU

A parceria entre a agência regional da ONU e a Universidade de Harvard também visa identificar projeções e políticas para SUS até 2030. Segundo o chefe da Unidade Técnica de Sistemas e Serviços de Saúde da OPAS, Renato Tasca, esse marco temporal foi escolhido por coincidir com o ano-limite para o cumprimento dos ODS.

“Nossa intenção é reunir evidências para subsidiar as decisões dos gestores na superação dos desafios postos ao sistema brasileiro. Vamos promover discussões pontuais, como a sustentabilidade do SUS em diversas perspectivas, reunindo os atores da saúde juntamente com pesquisadores do tema”, explicou o especialista do organismo internacional.

Participaram do seminário membros do Ministério da Saúde, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), da Associação Nacional do Ministério Público em Defesa da Saúde, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), da Associação Brasileira de Economia da Saúde (ABrES), da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).


Mais notícias de: 

NOTA SOBRE REVISÃO DA PNAB – ABRASCO/CEBES

As atuais ameaças aos princípios e diretrizes do SUS de universalidade, integralidade, equidade e participação social parecem não ter fim.

Não bastasse o estado de sítio fiscal imposto por um governo ilegítimo e golpista com a promulgação da EC 95 que fere de morte o SUS ao agravar  o subfinanciamento crônico, reduzindo progressivamente seus recursos por 20 anos, agora nos defrontamos com uma proposta de reformulação da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB).

Causa imensa preocupação a proposição de uma reformulação da PNAB num momento de ataque aos direitos sociais estabelecidos na Constituição Federal de 1988. A revisão das diretrizes para a organização da Atenção Básica proposta pelo Ministério da Saúde revoga a prioridade do modelo assistencial da Estratégia Saúde da Família no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Embora a minuta da PNAB afirme a Saúde da Família estratégia prioritária para expansão e consolidação da Atenção Básica, o texto na prática rompe com sua centralidade na organização do SUS, instituindo financiamento específico para quaisquer outros modelos na atenção básica (para além daquelas populações específicas já definidas na atual PNAB como ribeirinhas, população de rua)[1] que não contemplam a composição de equipes multiprofissionais com a presença de agentes comunitários de saúde. Esta decisão abre a possibilidade de organizar a AB com base em princípios opostos aos da Atenção Primária em Saúde estabelecidos em Alma-Ata e adotados no SUS.

O sucesso da expansão da atenção básica no país nos últimos anos e seus efeitos positivos no acesso a serviços de saúde e na saúde da população decorre da continuidade da indução financeira da Estratégia Saúde da Familia sustentada ao longo do tempo e reforçada nos últimos três anos com o Programa Mais Médicos.  Resultados de pesquisas evidenciaram, sistematicamente, a superioridade do modelo assistencial da Saúde da Família quando comparado ao modelo tradicional. Sua maior capacidade de efetivação dos atributos da atenção primária integral produz impacto positivo sobre a saúde da população, com redução da mortalidade infantil, cardiológicas e cerebrovascular e das internações por condições sensíveis à atenção primária.  Ao financiar com PAB variável a atenção básica tradicional, a proposta de reformulação da PNAB ameaça estes sucessos. Além de abolir na prática a prioridade da ESF, em um contexto de retração do financiamento e sem perspectivas de recursos adicionais, é muito plausível estimar que o financiamento destas novas configurações de atenção básica será desviado da Estratégia Saúde da Família.

A esta reformulação somam-se outras questões críticas do financiamento da atenção básica decorrentes do fim dos blocos de financiamento do SUS. Esta decisão penaliza a capacidade de indução do SUS em favor da Saúde da Família e da Atenção Básica, não garantindo sua prioridade nos governos municipais. Nossa crítica não contradiz a necessária adequação da rede básica de saúde às especificidades loco regionais, que devem ser financiadas mediante um aumento considerável do PAB fixo, cujo valor médio nacional de R$24,00 per capita ao ano é quase irrisório, estando muito defasado frente aos custos de manutenção e desenvolvimento dos serviços necessários para responder às necessidades de saúde da população. Urge majorar o PAB fixo para ampliar capacidades e autonomia das secretarias municipais de saúde, mantendo a prioridade à Saúde da Família.

A reformulação proposta também ameaça a presença do Agente Comunitário de Saúde como integrante e profissional da atenção básica.  Com a expansão da Saúde da Família com cobertura de territórios em áreas urbanas de diferentes estratos socioeconômicos faz-se necessário fortalecer o papel do ACS, redefinindo e qualificando sua intervenção na comunidade como agente de saúde coletiva, elo entre o serviço de saúde e a população. O ACS conhece e reconhece as necessidades populacionais do território e devem ser contemplados com estratégias de educação  permanente que apoiem seu trabalho de promotor da saúde, atuando na mobilização social para enfrentamento dos determinantes sociais e em ações  estratégicas frente aos problemas de saúde da população.

Preocupante também é a implantação de modo simplificado, ou reducionista, de uma “relação nacional de ações e serviços essenciais e estratégicos da AB”. A ferramenta pode contribuir para a garantia de padrões essenciais mínimos mais qualificados e uniformes em todas as unidades básicas de saúde do país e mesmo de padrões estratégicos mais avançados de acesso e qualidade. Entretanto, cabe alertar que este dispositivo também denominado “carteira de serviços” ou “cesta de serviços” tem sido utilizado para definir oferta seletiva de procedimentos acoplada à implementação de seguros focalizados, em resposta simplificada às demandas de cobertura universal das agências internacionais. No Brasil, este instrumento poderá comprometer a integralidade da AB e do SUS se não houver um compromisso explícito de gestores e profissionais de saúde com oferta ampla e de qualidade das ações, conforme as necessidades de saúde da população.   

Contra a reformulação da PNAB

Nenhum direito a menos

Em defesa do SUS público universal de qualidade

Pela revogação da EC 95

[1] populações quilombolas não são referidas na minuta e assentamentos rurais perdem incentivo.                     

Uma análise da luta das entidades médicas brasileiras diante do Programa Mais Médicos

Buscamos analisar a agenda política das principais entidades médicas nacionais brasileiras e suas lutas em torno do Programa Mais Médicos do Ministério da Saúde do Brasil. Trata-se de pesquisa de natureza qualitativa, de nível exploratório e de caráter analítico, baseada em diversas fontes que veicularam posições dessas entidades, de maio de 2010 a dezembro de 2014, e em publicações da imprensa, de junho de 2013 a dezembro de 2014, que foram sistematizadas segundo categorias elaboradas a partir da própria análise. Identificamos que as entidades médicas brasileiras realizaram intensa atuação conjunta, integrando interesses voltados aos setores público e privado. O apogeu se deu entre junho e outubro de 2013, nas mobilizações de resistência ao Programa Mais Médicos. Entretanto, registramos que divergências em torno das lutas contra este Programa fragilizaram as articulações políticas dessas entidades que haviam sido construídas nos últimos anos.

Autores: 

Luciano Bezerra Gomes(a) 

Emerson Elias Merhy(b) 

 

Leia artigo completo- artigo24_07_2017

Artigo publicado na revista Interface 

 

Capítulo de livro internacional reflete sobre os desafios para a implementação de uma APS abrangente no Brasil

Em um dos capítulos do livro “Revitalizing Health for All: Case Studies of the Struggle for Comprehensive Primary Health Care”, Patty Fidelis de Almeida, Lígia Giovanella e Berardo Nunan refletem sobre a implementação da APS abrangente no Brasil.

O texto inicia com um panorama histórico da estruturação do SUS e da APS no Brasil, trazendo à tona suas particularidades e desafios. Enumeram, por exemplo, entraves para a consolidação da APS via ESF, no país: a mudança do modelo curativo e hospitalar consolidado na ditadura militar, as diferentes formas de financiamento e a vasta extensão territorial. Afirmam também que a mudança da nomenclatura de Programa para Estratégia, distancia a ESF de programas seletivos e reforça o potencial de uma APS forte, mais eficiente e ética.

Procuram encontrar características que permitam distinguir os programas seletivos dos que construam uma APS abrangente e situam a coordenação do cuidado como um eixo fundamental nessa transformação. A coordenação do cuidado é descrita no texto como “a organização de diferentes serviços de saúde relacionados a uma intervenção específica de forma que, independente onde esses serviços são fornecidos, eles são sincronizados de forma que atinjam um objetivo comum”.

O estudo apresentado no texto tinha como objetivo descrever e analisar o desenvolvimento de estratégias, ferramentas de coordenação do cuidado, em municípios que eram reconhecidos como exitosos na implementação da ESF, em especial na integração com outros níveis de atenção. Utilizando métodos quali e quantitativos, foram entrevistados profissionais e usuários de 4 grandes municípios brasileiros (Aracaju, Belo Horizonte, Vitória e Florianópolis).

Dentre os vários achados apresentados no capítulo, destaca-se que aproximadamente 60% dos usuários entrevistados das quatro cidades analisadas, afirmaram que tiveram seus problemas de saúde resolvidos, sem a necessidade de encaminhamento a especialistas. Trata-se de um dado que reforça a resolutividade de uma APS abrangente.

Ainda que de forma heterogênea, foram identificados mecanismos para fortalecer e integrar a APS nas cidades analisadas. Dentre eles, destacam-se aqueles que aumentam e qualificam o acesso à ESF; consolidam o papel da clínica na APS como coordenadora do cuidado; aumentam a resolutividade e conectam diferentes modalidades de cuidado dentro do sistema de saúde.

Foram identificadas dificuldade que afetassem o cuidado dentro da APS: comunicação insuficiente dentro da rede; fragilidades na oferta de atenção especializada; pouco uso de protocolos nos fluxos para o cuidado hospitalar; baixa cultura colaborativa entre os diferentes níveis de atenção; baixo prestígio social e profissional no trabalho da APS e desafios referentes ao papel de porta de acesso e coordenador de cuidado na APS.

A conclusão do capítulo reforça a necessidade de compreender o acesso universal e equitativo a saúde como um direito social. Para isso, será necessário uma APS abrangente e resolutiva e tendo a coordenação de cuidado como um de seus eixos fundamentais.

Boa leitura!

Chamada Pública – Revista Brasileira de MFC

A Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (RBMFC) convida autores a submeterem artigos para seção especial “Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade” (RMMFC) do volume 12, número 39, de 2017 (Janeiro-dezembro).

Serão aceitos pesquisas originais, relatos de experiências e ensaios destinados a discutir:

(a)    Panorama da RMMFC no Brasil: número e distribuição de programas de residência médica na área; história da RMMFC no Brasil; etc.

(b)   Políticas de expansão e qualificação da RMMFC;

(c)    Preceptoria na RMMFC: políticas e experiências;

(d)   Gestão da RMMFC e articulações interinstitucionais;

(e)    Experiências de Programas de RMMFC específicos que apontem caminhos para novos programas;

(f)    Panorama e experiências internacionais de RMMFC;

O prazo para submissão dos artigos é 30 de agosto de 2017.

As propostas deverão seguir as normas para publicação de artigos da RBMFC: https://www.rbmfc.org.br/rbmfc/about/editorialPolicies#sectionPolicies.

Submissões de artigos para a RBMFC online em: https://www.rbmfc.org.br/rbmfc/about/submissions.

Os autores deverão selecionar a seção “Especial Residência Médica” durante o processo de submissão.

Submissões que não sigam as normas para publicação de artigos da RBMFC e que não se adequam aos termos desta chamada serão devolvidos aos autores.

Editores da RBMFC

Gustavo Gusso
Paulo Poli
Thiago Dias Sarti

 

Editores convidados desta Chamada Pública

Daniel Knupp Augusto
Nathan Mendes Souza
Sandro Rodrigues Batista
Thiago Trindade

Livro analisa a implementação da APS abrangente (“Comprehensive Primary Health Care”) em diferentes partes do mundo

“O conceito de APS abrangente – “comprehensive Primary Health Care” – tem como foco o esforço dos sistemas de saúde em melhorar a equidade no acesso, empoderamento comunitário, a participação de grupos marginalizados e a ação nos determinantes sociais de saúde. Apesar de sua existência desde os anos 70, poucos estudos foram capazes de destacar os resultados desse conceito – até agora.”

Essa é a apresentação do livro “Revitalizing Health for All: Case Studies of the Struggle for Comprehensive Primary Health Care”, editado por Ronald Labonté, David Sanders, Corinne Packer e Nikki Schaay, pesquisadores em Saúde Pública do Canadá e da África do Sul. O livro examina 13 estudos de caso de reformas relacionadas à estruturação de uma APS abrangente de diferentes países pelo mundo, dentre eles o Brasil.

O livro parte do desafio da implementação da APS desde 1978, ano da Conferência de Alma-ata, que tinha como meta ambiciosa “Saúde para todos até o ano 2000”. Desde então, os autores afirmam que:

  • Ainda que tenha havido maciços avanços na biomedicina, o progresso da melhoria da saúde populacional do mundo foi moderado;
  • As iniquidades de renda e de saúde aumentaram nas últimas décadas e em alguns países a condição de saúde estagnou e até piorou;
  • Ainda que a APS abrangente tenha sido a base da elaboração de políticas governamentais e da OMS, a ênfase numa APS seletiva, vertical e com abordagens centradas na doença levou a um panorama insustentável que vem sendo cada vez mais reconhecido como um impedimento para atingir equidade na saúde de várias partes do mundo.

Na introdução do livro, os autores apresentam a APS abrangente tanto como uma filosofia sócio-política quanto como uma estratégia de implementação. Incorporando as definições de Alma Ata referentes aos princípios da APS, os autores elencam seis ideais da APS que se pretenda abrangente.

Para isso, ela deve a) aumentar a equidade no acesso à saúde e outros serviços e recursos essenciais à saúde; b) promover empoderamento comunitário e reduzir vulnerabilidades sociais; c) enfrentar os determinantes sociais e ambientais de saúde e reduzir a exposição ao risco; d) aumentar a participação comunitária e as capacidades políticas de grupos marginalizados; e) aumentar as ações políticas intersetoriais sobre determinantes econômicos e sociais de saúde e f) melhorar os indicadores da saúde populacional e da equidade em saúde.

O livro conta com um capítulo de sistematização das evidências científicas na literatura dos achados da APS abrangente e é dividido em 4 seções: 1) “Aumentando o acesso com equidade do cuidado em saúde”; 2) “Engajamento comunitário”; 3) “Trabalhadores de saúde comunitários” e 4) “Governança e ação intersetorial”.

Com diferentes perspectivas, trata-se de uma obra que contribui muito para o debate da qualificação e estruturação da APS no Brasil.

Boa leitura!

 

12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva em construção

Desde o lançamento do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, no dia 20 de junho passado, a Comissão Organizadora local já se reuniu duas vezes. O primeiro encontro aconteceu na tarde do mesmo dia do lançamento e reuniu o grupo formado pela Abrasco, Fiocruz, Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense, Instituto de Medicina Social da UERJ,  Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ e Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – Unirio.

O segundo encontro aconteceu na tarde desta primeira segunda-feira de julho, dia 3, no campus da Fiocruz, local do Congresso. A apresentação de Guilherme Franco Netto – coordenador desta Comissão Organizadora local e de Carlos Silva – secretário executivo da Abrasco, mostrou como está sendo construído o Abrascão 2018 – “Na reunião passada já recebemos várias demandas: iniciar articulação com o SUS daqui do Rio de Janeiro, mobilizar fundações de apoio, incluir o Congresso no calendário acadêmico das instituições de ensino parceiras através do contato com os reitores, e ainda governos estadual e municipal. Estamos trabalhando para colocar o encontro no contexto dos 30 anos da Constituição de 1988, os preparativos para os 40 anos da Abrasco (que acontecerá em setembro de 2019), os 70 anos de David Capistrano Filho, a grave crise econômica e política, o desmonte do SUS e ainda as eleições de 2018”, frisou Netto.

Outras comissões já começaram a ser desenhadas como a cultural, mobilização, orçamento e finanças e comunicação. Para Inês Rugani, representante da UERJ, é importante destacar a complexidade não só do contexto político, mas do financiamento, e juntar a isto o desenho do congresso – “Organizar o Abrascão 2018 vai exigir uma sintonia fina muito bem trabalhada entre a comissão científica e comissão organizadora nacional. Quando não se faz bem feito perde-se muita energia faz-se muito retrabalho A comissão local tem muita responsabilidade por garantir essa logística pra acomodar as atividades, precisamos estabelecer este processo que mapeie nossas atividades para garantir que os locais sejam apropriados – porque isso faz toda a diferença. Pensar ainda num cronograma é de extrema importância. Outro ponto chave é a comunicação, precisaremos preparar os participantes para as novidades desse congresso. E não posso deixar de falar sobre a alimentação, que é minha área de trabalho: precisaremos pensar não só no acesso e nos horários, mas na oportunidade dos participantes usarem o momento para comer para també celebrar. Eu quero me colocar à disposição para ajudar a pensar com muito carinho esse ponto porque eu acho que é um aspecto da rotina do congresso que precisa ser um espaço de coerência onde se possa discutir a saúde e a cultura que também se expressa na alimentação também”, comentou Inês.
 
Rodrigo Murtinho, diretor do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnologia em Saúde – Icict, reiterou o interesse do Instituto em participar da Comissão de Comunicação do 12º Congresso – “Já iniciamos esta parceria com a Comunicação da Abrasco sobre a identidade visual do encontro, acho fundamental conseguir transformar o tema numa imagem que possa transmitir aos participantes a ideia do Congresso. Várias dimensões da Comunicação que foram colocadas aqui, explicitamente ou implicitamente, no que diz respeito às orientações aos participantes, a própria comunicação com a comunidade e com a cidade onde acontecerá o encontro envolve o impacto político dos temas que vamos debater numa conjuntura política bastante complexa. A comunicação precisa dar conta destes vários desafios e ela é um ponto articulador das questões que estão sendo colocadas neste Abrascão de 2018”, avalia Murtinho.
 
A próxima reunião da Comissão Organizadora local já está marcada: 17 de julho, também na Fiocruz. Inicia-se assim o processo de um Congresso que, definitivamente, já movimenta a Saúde Coletiva.
 
Divulgado no boletim da ABRASCO 

Estudo longitudinal analisa a multimorbidade da população de adultos no Brasil

Publicado no mês de junho no BMJ Open por 10 pesquisadores do Brasil, Índia e Colômbia, o artigo “Contextual and individual inequalities of multimorbidity in Brazilian adults: a cross-sectional national-based study” analisa um dos principais desafios na clínica da APS e pouco documentado no cenário de pesquisa nacional – a multimorbidade.

Para avaliar a magnitude dessa dimensão e sua associação com fatores individuais e relacionados ao contexto nos estados e regiões do país, foi realizado um estudo longitudinal, em 2013, com a população de adultos do país. Foram usados dados da Pesquisa Nacional da Saúde, que interrogou moradores de domicílios com mais de 18 anos, sobre o diagnóstico prévio de 21 condições de saúde e a utilização do PHQ-9*, para diagnóstico de depressão.

Conforme a literatura internacional, foi incluída a população com multimorbidade com mais de 2 e mais de 3 diagnósticos simultâneos, e analisada segundo variáveis como sexo, cor, estado civil, escolaridade, riqueza e condições de moradia, dentre outras. Após a seleção e ajuste de variáveis e padrões de associação, foram utilizados modelos de regressão linear e logística para avaliar a associação entre as doenças e as demais variáveis.

Dos mais de 60 mil adultos analisados, o estudo constatou uma prevalência de 22,2% para pessoas com mais de 2 morbidades e 10,2% com mais de 3 morbidades. Nesse grupo, foi verificado um risco maior de multimorbidade nas mulheres, idosos, na população vivendo com cônjuge e nos menos escolarizados. Indivíduos que vivem na área urbana e com plano de saúde, também foram identificados com mais doenças associadas.

Os pesquisadores afirmam que é possível extrapolar os dados produzidos para a população brasileira. Inferem, assim, que há 42,7 milhões de brasileiros adultos com mais de 2 doenças e 19,5 milhões com mais de três doenças. O resultado é similar aos produzidos em países classificados como de renda média ou baixa como a China e a Índia e em países como Canadá e Espanha.

Em suma, dentre os inúmeros achados do estudo, podemos afirmar que temos uma elevada prevalência de multimorbidade na população brasileira. Conforme os autores do artigo afirmam, será um desafio pensar o cuidado em saúde desses milhões de brasileiros com múltiplas doenças simultaneamente e, em especial, com importantes iniquidades tanto na dimensão territorial quanto individual. É importante lembrar que esse cuidado deverá se dar especialmente nos serviços de APS no país.

*Patient Health Questionnaire é um questionário com 9 perguntas, criado para profissionais de saúde avaliarem, de forma rápida, sinais e sintomas de depressão (a partir de 5 transtornos mentais comuns em atenção primária à saúde: depressão, ansiedade, abuso de álcool, transtornos somatoformes e transtornos da alimentação).

Boa leitura!