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Arquivo Mensal agosto 2017

Coordenador da Rede de Pesquisa em APS fala sobre a Revisão da PNAB e o financiamento da Atenção Básica na Câmara dos Deputados

No dia 22 (terça-feira), o coordenador da Rede de Pesquisa em APS Luiz Augusto Facchini participou de debate sobre a revisão da PNAB na Comissão de Seguridade Social e Família  da Câmara dos Deputados, a convite dos deputados Jorge Solla (PT-BA) e Odorico Monteiro (PSB-CE). O debate está na íntegra nesse link: https://edemocracia.camara.leg.br/audiencias/sala/reuniao/48697

O professor iniciou sua fala reforçando a relevância da APS para o país e a necessidade da sua universalização e qualificação. Reforçou ainda a importância de reforçar o acesso à Atenção Básica pública e gratuita justamente no contexto de crise econômica que vive o Brasil.

 

 

 

 

 

 

 

Facchini destacou que a defasagem de custeio da Atenção Básica é ainda maior que o próprio subfinaciamento que o SUS enfrenta historicamente. “Se levarmos em conta que o Piso de Atenção Básica Fixo, que é um valor per capita a partir do número de habitantes por município, varia ao redor de 24 reais por habitante-ano, ou seja, 2 reais por habitante por mês. É impossível os municípios darem conta das suas responsabilidades no cuidado da saúde com esse valor. Nós precisamos urgentemente de recursos novos para fazer frente às demandas crescentes ampliadas na área da saúde”, afirmou.

O professor calcula que é necessário dobrar o valor de 2 para 4 reais habitante-mês, ou seja, 48 reais de PAB Fixo. Isso totalizaria mais 5 bilhões de aporte anual do Ministério da Saúde à Atenção Básica no país. Além disso, trouxe estimativas que o custo médio de uma Equipe de Saúde da Família é 40 mil reais, porém a média de repasse do Ministério por equipe é apenas 20% do valor (8 mil reais).  Para enfrentar o quadro de subfinaciamento e aumentar o repasse variável para 50% do valor total por ESF, Facchini calcula que seria necessário um total de 8 bilhões a mais no repasse anual aos municípios.

 

 

 

 

 

 

 

Para o professor, o essencial não é investir recursos públicos em Planos Populares de Saúde, mas continuar discutindo a PNAB e avançar na definição de novos recursos financeiros para expandir a atenção básica de alta qualidade para no mínimo 90% da população. Para isso é fundamental garantir pelo menos mais R$8 bilhões para apoiar os municípios. Esse recurso permitirá priorizar a expansão da Saúde da Família e também qualificar as unidades tradicionais para ampliação da cobertura de atenção básica no país.

Trata-se de mais uma participação da Rede de Pesquisa em APS nesse importante debate.

Acompanhe mais no site da Rede: www.rededepesquisaaps.org.br

Comissão Acadêmica Nacional do ProfSaúde faz balanço do primeiro semestre do curso

A Comissão Acadêmica Nacional do ProfSaúde – Mestrado profissional em Saúde da Família esteve reunida nesta segunda-feira 21 de agosto, para fazer um balanço do primeiro semestre e discutir várias outras questões do segundo semestre do ProfSaúde. Ainda nos próximos dias 22 e 23, a Comissão receberá os coordenadores locais das 18 instituições envolvidas na rede.

O ProfSaúde é uma proposta de curso em rede nacional, apresentado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva e instituições de ensino e pesquisa que atuam no país. Com a finalidade de formar profissionais de saúde que atuam no Saúde da Família/Atenção Básica nos diversos municípios brasileiros, o ProfSaúde fomenta ainda a produção de novos conhecimentos e inovações na atenção básica no país, considerando as diversidades regionais e locais, integrando parcerias entre Instituições acadêmicas e gestores da saúde pública.

Para Cristina Guilan, coordenadora acadêmica nacional do ProfSaúde o objetivo do encontro é saber qual é a singularidade de cada instituição: – “Existe uma diretriz geral, pois o ProfSaúde é um curso único, que teve um edital único, que tem um acompanhamento único mas cada instituição tem o seu “sotaque”. Nos perguntamos como o curso se desenvolve na região norte, na região nordeste… quais são as singularidades de cada região? Então é disso que se trata esse encontro”, explica Cristina.

Na pauta da reunião foram abordados temas como os critérios para o aproveitamento de créditos, a avaliação das disciplinas a qualificação dos alunos, além da situação da evasão – com baixíssimos registros, do Profsaúde. O professor Luiz Augusto Facchini, Pró-reitor do curso, avaliou positivamente este primeiro semestre: – Há uma sinalização dos colegas das instituições que compõe a rede do ProfSaúde de um desenvolvimento muito satisfatório do curso em cada local, levando em conta as suas peculiaridades, as suas especificidades. Mas em geral, estamos cumprindo a lógica de um curso único, em todo território nacional, com uma grande abrangência e que nos traz perspectivas bastante promissoras para um segundo semestre e para a conclusão do curso no próximo ano”, resume Facchini.

Além de Cristina Guilan e Luiz Facchini, participaram da reunião a coordenadora executiva Carla Pacheco Teixeira – Fiocruz; AnaClaudia Fassa – UFPEL; Maria Eugênia Pinto – UFCSPA; Dario Pasche – Abrasco; Eliana Cyrino – Unesp; Elisabeth Fassa – UFPEL; Katia Silveira – Fiocruz; Teresa Maria Passarella – DEGES /MS; Marcia Lopes – Fiocruz; Fatima Antero – Fiocruz; Fúlvia da Silva – UFCSPA. Da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde do Ministério da Saúde vieram Lilian Resende e Maria Silvia Freitas.

Nota publicada site ABRASCO – https://www.abrasco.org.br/site/

Coordenador da Rede de Pesquisa em APS debaterá proposta de revisão da PNAB na Câmara dos Deputados na terça-feira

A Comissão de Seguridade Social e Família debate amanhã, terça-feira dia 22, às 9h30 a proposta de revisão da Política Nacional de Atenção Básica – PNAB.

Será realizado no plenário 7 da Câmara dos Deputados pode ser acompanhado ao vivo no link https://edemocracia.camara.leg.br/audiencias/sala/reuniao/48697

O debate atende a pedidos dos deputados Jorge Solla (PT-BA) e Odorico Monteiro (PSB-CE). A Abrasco será representada pelo professor Luiz Augusto Facchini, da Universidade Federal de Pelotas, ex-presidente da ABRASCO e coordenador da Rede de Pesquisa em Atenção Primária à  Saúde. O professor pretende enfatizar, dentre outros assuntos, aspectos relacionados ao financiamento da APS no país, especialmente numo contexto de crise.

Além dele, foram convidados para o debate de amanhã:

  • um representante do Ministério da Saúde;
  • Ronald Ferreira dos Santos, presidente do Conselho Nacional de Saúde,;
  • um representante do Conselho Nacional de Secretarias de Saúde (Conass);
  • Andréia Corteletti, presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Espírito Santo (Cosems-ES) e do Colegiado de Secretários Municipais de Saúde do Espírito Santo (Conases);
  • Agleildes Arichele Leal de Queirós, representante do Centro Brasileiro de Estudosde Saúde (CEBES);
  • Ilda Angélica Correira, representante da Confederação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde (Conacs);
  • Luís Claudio Celestino de Souza, representante da Federação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combates às Endemias (Fenasc).

Acompanhe e participe!

Fiocruz lança e-book interativo sobre o Sistema Único de Saúde

A luta pelo direito à saúde e pela consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) tem se expressado a partir da articulação de trabalhadores das áreas da saúde, pesquisadores e militantes dos movimentos sociais nas últimas décadas. Pela importância do tema e da obra, o livro O Que É o SUS, de Jairnilson Silva Paim, foi selecionado para se transformar no primeiro e-book interativo da Editora Fiocruz, O livro digital contou com a colaboração da Coordenação de Comunicação Institucional (CCI/ENSP) e da Radis, entre outros.

O objetivo do projeto não era mudar o suporte do papel para a tela, mas oferecer uma nova experiência de leitura, onde vídeos, áudios, galerias de fotos, infográficos e outros recursos ora complementassem, ora substituíssem partes do texto original, criando uma nova textualidade eletrônica.

O livro inicia com entrevista do autor Jairnilson Silva Paim concedida à editora Fiocruz e conta com 5 capítulos entre os quais aborda a “Questão Saúde e o SUS”, “Tendências do Sistema de Saúde Brasileiro” e “Avanços e Desafios do SUS”.

Clique aqui para acessar o e-book grátis em tela cheia.

Fonte: Fiocruz 

Disponíveis os Anais do 3º Congresso de Política, Planejamento e Gestão em Saúde da Abrasco

Na apresentação dos Anais, o presidente do 3º Congresso, professor Cipriano Maia reforça que um Congresso não se encerra nos debates e diálogos que se produzem durante sua realização -“A produção científica e técnica que se apresenta no evento precisa ecoar pelos “quatro cantos da aldeia”. A publicação eletrônica que ora se apresenta, online, cumpre essa finalidade. A divulgação de saberes e a democratização do acesso ao conhecimento apresentado no evento é parte do compromisso da Abrasco. Os trabalhos aqui compilados e organizados em eixos temáticos foram apresentados durante o Congresso nas modalidades de comunicação coordenada e pôsteres interativos após prévia avaliação, cega, por pares, seguida de aprovação pela Comissão Científica do Congresso (…) Esperamos que o acesso aos relatos aqui apresentados produza novas possibilidades de interlocução entre os autores e junto aos sujeitos que atuam nessa nossa “aldeia global” da Saúde Coletiva e do SUS”, diz Cipriano.

 

ACESSE AQUI O DOCUMENTO EM ARQUIVO PDF

Cofen se manifesta contra a reformulação da PNAB

O Conselho Federal de Enfermagem vem expressar o seu posicionamento em relação à reformulação da Politica Nacional da Atenção Básica – PNAB.

Por mais de 20 anos a Estratégia de Saúde da Família – ESF tem sido a protagonista como orientadora da expansão e consolidação da Atenção Básica nas redes de serviços do SUS.

O sucesso da expansão da atenção básica no país nos últimos anos e seus efeitos positivos no acesso a serviços de saúde e na saúde da população decorre da continuidade da indução financeira da Estratégia Saúde da Família, sustentada ao longo do tempo e gerando resultados de pesquisas que evidenciaram, sistematicamente, a superioridade do modelo assistencial da Saúde da Família quando comparado ao modelo tradicional.

Embora a minuta da PNAB afirme a Saúde da Família estratégia prioritária para expansão e consolidação da Atenção Básica, o texto na prática rompe com sua centralidade na organização do Sistema Único de Saúde – SUS, instituindo financiamento específico para outros modelos na atenção básica, além daquelas populações específicas já definidas na atual PNAB como ribeirinhas, população de rua.

Ao financiar com PAB variável a atenção básica tradicional, a proposta de reformulação da PNAB ameaça a ESF, como prioridade nos governos municipais, pois, num contexto de retração do financiamento e sem perspectivas de recursos adicionais, é muito plausível estimar que o financiamento destas novas configurações de atenção básica será desviado da Estratégia Saúde da Família, flexibilizando  as regras para formação e atuação das equipes de atendimento nas unidades básicas de saúde,   porta de entrada do SUS.

Além de incorporar a implementação da “relação nacional de ações e serviços essenciais e estratégicos da AB” a serem oferecidos nas Unidades Básicas de Saúde. Este dispositivo também denominado “carteira de serviços” ou “cesta básica de serviços” tem sido utilizado para definir oferta seletiva de procedimentos, em resposta simplificada às demandas de cobertura universal das agências internacionais.

Consideramos que no contexto atual de crise econômica do país, a Atenção Básica forte, eficiente e resolutiva, contribui para reduzir desperdícios no Sistema Único de Saúde e, é a efetiva garantia dos princípios de universalidade e integralidade.

Neste sentido defendemos que qualquer reformulação na PNAB, seja precedida de analises técnico-científicas com amplo debate nacional entre gestores, usuários, profissionais e representantes da sociedade civil organizada.

Nos manifestamos pela manutenção da PNAB 2011.

Nota publicada na página do COFEN – http://www.cofen.gov.br/cofen-se-manifesta-contra-a-reformulacao-da-pnab_54159.html

Debate da Reformulação da PNAB extrapola as entidades e reforça a importância da APS para o país

Nas últimas semanas, a reformulação da Política Nacional de Atenção Básica foi o principal debate relacionado à saúde no país. Após o lançamento da Consulta Pública para Reformulação na PNAB, decidido na Comissão Intergestores Tripartite no dia 27 de julho, diversas entidades relacionadas à Reforma Sanitária e a construção da APS no Brasil se posicionaram a respeito da pauta.

No final de julho, a ABRASCO, o CEBES (Centro Brasileiro de Estudos de Saúde) e a Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz divulgaram uma nota contrária à iniciativa. No dia 3 de agosto, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) vieram a público através de seus presidentes para reafirmar a necessidade da reformulação da política. Quatro dias depois, a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade também publicou um documento com análises críticas e contribuições à proposta, colocando-se “à disposição para o debate” e posicionando-se “contra qualquer forma de retrocesso da atenção primária brasileira”.

O debate extrapolou as entidades na área da saúde e chegou à imprensa. O programa Bom dia Brasil da TV Globo noticiou as mudanças propostas na APS e entrevistou o coordenador da Rede de Pesquisa em APS  na ABRASCO, Luiz Facchini.  O professor afirmou na entrevista que “recursos que hoje são destinados exclusivamente à Estratégia Saúde da Família sejam divididos com outras modalidades de atendimento e fragilizando essa modalidade bem-sucedida”.

Nesta semana, a Revista Época e o jornal Estado de São Paulo também noticiaram o debate, ouvindo tanto representantes do Ministério da Saúde quanto membros de entidades contrárias às propostas. À Época, a professora Ligia Giovanella, da ENSP-Fiocruz e também da Rede de Pesquisa em APS criticou a dimensão seletiva que a APS pode assumir com a lista de serviços essenciais e estratégicos. Num contexto de cortes, Giovanella afirmou que um dos riscos é que “a lista mínima se torne, na prática, a lista máxima”.

Ao Estadão, o Professor Facchini trouxe à tona a dimensão do financiamento e criticou o valor do Piso de Atenção Básica (PAB), estabelecido pela PNAB. Segundo ele, uma das mudanças necessárias à APS no país e que não consta nessa proposta da reformulação da PNAB, é o aumento desse piso. “O PAB fixo é muito baixo. O governo deveria aumentá-lo para apoiar investimentos na rede básica de saúde e articular o Saúde da Família com as unidades tradicionais”, afirmou.

A repercussão do debate evidenciou a importância do tema, especialmente no contexto de uma série de reformas que o atual governo federal vem implementando no país. A Consulta Pública foi prorrogada por mais 3 dias e encerrada no dia 10 de agosto, devido às mais de 5 mil submissões ao formulário eletrônico disponibilizado pelo Ministério da Saúde.

A Rede de Pesquisa em APS da ABRASCO vem participando ativamente desse debate e da construção de um SUS público, universal e de qualidade! Acesse nossa página, acompanhe, divulgue e participe!

Avanços promovidos pela Saúde da Família e retrocessos possíveis com a revisão da PNAB são destaque na imprensa

O debate aberto a partir da proposta do Ministério da Saúde em mexer com um dos programas que mais contribuíram para a melhora nos índices da saúde da população brasileira, a Política Nacional de Atenção Básica – PNAB – tem destacado na imprensa os avanços promovidos pela Estratégia Saúde da Família – ESF  – ação prioritária da atual PNAB. O pulo da cobertura da saúde da população – de 6,5%, em 1998, para 63,7% em 2016; a redução da incidência de internações por doenças que passaram a ser resolvidas pelo atual modelo de Atenção Primária em Saúde; e o cuidado introduzido e alcançado com populações historicamente desassistidas compõem a reportagem O governo quer mudar a atenção básica à saúde. Quais os efeitos?, do blog Check-Up, da revista Época.

O repórter Rafael Ciscati dissecou o percurso da consolidação da ESF e da atual PNAB para apresentar as consequências possíveis que as mudanças propostas pelo Ministério podem trazer à saúde da população. Para isso, a matéria ouviu, entre outras fontes, Luiz Augusto Facchini, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), presidente da Abrasco 2009 -2012 e coordenador da Rede de Pesquisa em Atenção Primária – Rede APS; Ligia Giovanella, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e diretora do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes) e Thiago Trindade, presidente da Sociedade de Medicina da Família e Comunidade.

Os três defenderam o atual modelo com dados e contra-argumentos aos presentes na minuta do Ministério. “Nos municípios em que foi implantado, o Saúde da Família foi acompanhado por melhoras nos indicadores de saúde da população: “Já se provou que essa estratégia promove equidade”, disse Facchini, que completou a análise mostrando que a atual proposta pode acabar com o trabalho desenvolvido pelos Agentes Comunitários de Saúde – ACS. “Ao reconhecer, e estimular, outros modelos de atenção básica que não o Saúde da Família, o texto dá fôlego a alternativas que não contemplam o trabalho dos agentes de saúde. Se a proposta for aprovada, essa será uma categoria em extinção”.

Ligia Giovanella ressaltou a incongruência do texto em abrir outros modelos de financiamento para ações em Atenção Primária sem definir recursos. “Num contexto de corte de gastos, como o que a gente vive no Brasil, isso pode significar menos investimento para uma estratégia que já se mostrou eficiente”, diz a professora. Já Trindade abordou questões da garantia de recursos. “O financiamento diferenciado era o mecanismo de indução, e ele desapareceu. Dizer que a ESF continua prioritária não basta. É preciso dizer como ela será estimulada”. Leia a matéria na íntegra. 

Nota publicada pela ABRASCO – https://www.abrasco.org.br/site/ocultar-home/avancos-promovidos-pela-saude-da-familia-e-retrocessos-possiveis-com-revisao-da-pnab-sao-destaque-na-imprensa/30064/

Governo federal quer mudar modelo de atendimento básico de saúde no País

Matéria publicado no ESTADÃO – 11/08/2017

Proposta de nova política nacional permite financiamento de outras estratégias além do Saúde da Família e prevê integrações de equipes, como as comunitárias e a de combate a endemias; gestão também pode ser flexibilizada. Entidades criticam

O Ministério da Saúde apresentou nesta quinta-feira, 10, as novas propostas para a Política Nacional de Atenção Básica (Pnab). Entre as alterações relacionadas à gestão estão a possibilidade de financiamento de outros modelos de atenção básica, além da Estratégia de Saúde da Família (ESF), e a unificação das funções dos agentes comunitários e de combate às endemias. Há ainda mudanças no acesso às Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e implementação obrigatória do prontuário eletrônico.

Segundo o ministério, ao possibilitar o financiamento de outros modelos de atenção básica, será possível aumentar o número de equipes assistidas pelos Núcleos de Apoio à Família (Nasf). Atualmente, apenas equipes da Estratégia de Saúde da Família recebem suporte.

Outra alteração é que, pela nova Pnab, cada UBS teria autonomia para compor as equipes como julgar necessário. Hoje, elas são formadas por, no mínimo, um médico generalista ou especialista em Saúde da Família, um enfermeiro, um auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Dentistas podem integrar o grupo.

O governo também quer que a UBS passe a receber a indicação de um gerente, que não precisaria ser da área de saúde – hoje há muitos enfermeiros com a incumbência. E aposta na integração da atenção básica com outras áreas, como a vigilância em saúde. Com isso, o Agente de Combate à Endemia poderia compor as equipes com Agentes Comunitários de Saúde. Dessa forma, haveria a unificação do agente comunitário com o de combate às endemias.

“O que estamos fazendo é adequar o Pnab à realidade do País”, afirmou nesta quinta o ministro da Saúde, Ricardo Barros. De acordo com ele, as propostas devem começar a ser implementadas no fim deste mês – os municípios têm autonomia para aderir ou não às mudanças.

As medidas foram criticadas por especialistas e entidades ligadas à saúde pública. A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) e a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) lançaram notas oficiais contra as propostas. “O texto repete várias vezes que a Saúde da Família é estratégica, mas rompe com essa suposta prioridade ao estabelecer que usará verbas específicas para financiar outras formas de atenção básica”, afirma a pesquisadora Ligia Giovanella, da Ensp-Fiocruz. 

Para as instituições, ao permitir que o gestor municipal flexibilize equipes de atenção básica, a revisão da Pnab revoga a prioridade do modelo assistencial de Saúde da Família. Segundo Lígia, a mudança poderá minar um dos aspectos que tornou a ESF uma “iniciativa exemplar”, reconhecida internacionalmente. “Hoje, os profissionais das equipes trabalham em tempo integral, e isso é uma característica fundamental para estabelecer o vínculo com os pacientes de cada comunidade. Na nova conformação, qualquer grupo de profissionais, independentemente da carga horária, será considerado de atenção básica – e drenará os recursos.”

Defesa. O ministro da Saúde saiu em defesa das propostas. “Há uma desinformação muito grande. Alguns setores alegam prejuízos que não existem com a nova Pnab”, afirmou Barros. De acordo com ele, a flexibilização da atuação das equipes de Saúde da Família vai “facilitar o trabalho e as ações desempenhadas pelos profissionais”.

O diretor do Departamento de Atenção Básica do ministério, Alan Nunes, disse que não haverá retirada de investimento da área de Saúde da Família. “Reconhecemos que é preciso haver investimentos em outros modelos de organização. Estamos ampliando as possibilidades de reconhecimento, sem prejuízo ao orçamento já destinado à saúde da família.”

O epidemiologista Luiz Augusto Facchini, ex-presidente da Abrasco e coordenador da Rede de Pesquisas em Atenção Primária em Saúde, observa que o sistema atual “dá cobertura a 60% da população e é preciso de fato expandi-lo”. “É razoável fazer alterações na Pnab para incluir no Saúde da Família a população hoje atendida por unidades tradicionais. Mas, quando se faz uma mudança nas políticas de saúde, é preciso assegurar recursos para isso. O ministro não deixou isso claro.”

Financiamento. Hoje, para financiar a atenção básica, o governo federal transfere aos municípios o Piso de Atenção Básica (PAB), que é proporcional à população – cerca de R$ 24 por habitante por ano. Além do PAB fixo, os municípios recebem recursos extras se adotarem equipes de Saúde da Família – o PAB variável, a partir de R$ 7 mil por equipe. “O PAB fixo é muito baixo. O governo deveria aumentá-lo para apoiar investimentos na rede básica de saúde e articular o Saúde da Família com as unidades tradicionais. Do jeito que está sendo feito, a revisão vai tirar dinheiro da área, promovendo iniquidades”, defendeu Facchini.

Mudanças incluem processo eletrônico e acesso total a UBSs

Outro ponto previsto na nova Política Nacional de Atenção Básica (Pnab) é a obrigatoriedade do uso do prontuário eletrônico. O ministério pretende implementá-lo em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) do País até o fim de 2018 – como havia adiantado recentemente o ministro Ricardo Barros. Atualmente, 37,5% usam a ferramenta.

Segundo o ministro, a expectativa é de que a informatização ajude a reduzir as filas das unidades de saúde, pois o cidadão poderá acompanhar a marcação de consultas pelo prontuário. Pelas diretrizes da nova Pnab, os dados do paciente serão cadastrados na hora, o que diminuiria o risco de perdas de fichas e atraso no lançamento de informações.

A proposta também prevê que todas as Unidades Básicas de Saúde passem a oferecer um conjunto de serviços indicados como essenciais, como pré-natal e aplicação de vacinas. Embora isso não seja obrigatório, o objetivo da pasta é que a especificação dos serviços na Pnab contribua para que ações básicas possam ser reivindicadas nas unidades.

Além disso, passará a ser permitido ao usuário ser atendido em mais de uma UBS, e não apenas na que estiver mais perto de sua casa. Com a mudança, o paciente poderá escolher ser atendido perto do local de trabalho, por exemplo, ou em outra localidade.

Produtividade. De acordo com dados divulgados nesta quinta pelo Ministério da Saúde, a produção registrada por médicos da atenção básica do Sistema Único de Saúde (SUS) foi 43,8% menor do que o previsto pela pasta em 2016. A média mensal de consultas por médico foi de 168, enquanto o esperado era de 384 por mês.

No total, os cerca de 68 mil médicos em atuação na área de atenção básica do País registraram 125,7 milhões de consultas no Sistema Único de Saúde (SUS) no ano passado. Para o Ministério da Saúde, o descumprimento da carga horária é um dos principais motivos para a baixa produtividade dos médicos. 

Link Estadão – http://saude.estadao.com.br/noticias/geral,governo-federal-quer-mudar-modelo-de-atendimento-basico-de-saude-no-pais,70001932322