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Arquivo Diário 21 de janeiro de 2019

Nota Abrasco contra o Decreto 9.685, que flexibiliza porte de armas de fogo e munições no Brasil

Em face da aprovação do Decreto 9.685, que facilita a posse de armas de fogo e
munições à população brasileira, publicado em edição especial do Diário Oficial
da União em vigor desde o dia 15 de janeiro de 2019, a Associação Brasileira de
Saúde Coletiva – Abrasco manifesta sua discordância e aponta os riscos que esta
medida pode acarretar para a população brasileira.

O Brasil já se apresenta como o país com o maior número de mortes por arma
de fogo no mundo segundo dados da Pesquisa Global de Mortalidade por Armas
de Fogo (Institute for Health Metrics and Evaluation. Global Mortality from
firearms, 1990 – 2016, 2018). Em 2016, foram registrados no país 62.517
homicídios (Ministério da Saúde, Sistema de Informações de Mortalidade,
2018). Este número equivale a uma taxa de 30,3 mortes para cada 100 mil
habitantes, o que corresponde a 30 vezes a taxa da Europa. Nos últimos dez
anos, 553 mil pessoas morreram devido à violência intencional no Brasil, sendo
que 71% dos homicídios foram associados a armas de fogo. O maior percentual

destes óbitos ocorreu entre jovens do sexo masculino, negros, de periferia, com
baixa escolaridade (Cerqueira et al. Atlas da Violência. IPEA, 2018).

A lei federal sobre o Estatuto do Desarmamento entrou em vigor em 23 de
dezembro de 2003. É importante ressaltar que as alarmantes taxas de mortes
por armas de fogo, após esta lei entrar em vigor, diminuíram em estados como
Rio de Janeiro e São Paulo (IPEA. Atlas da Violência, 2018).

O novo decreto assinado pelo atual governo é um retrocesso e pode resultar em
um quadro ainda pior nos nossos índices de violência. O decreto não considera
as evidências científicas vitais que comprovam que a maior circulação de armas
de fogo contribui para o aumento da violência letal no país.
Alertamos que a liberação da posse de armas terá consequências gravíssimas
com risco potencial de aumento da violência inter e intrapessoal, o que não só
pode levar a um número elevado de óbitos como também a sequelas físicas e
mentais. Esta situação agravará as condições de vida de toda a população do
país e, em especial, a dos grupos mais vulneráveis que já sofrem em seu
cotidiano as consequências das desigualdades sociais, econômicas e culturais.
Estaremos atentos e conclamamos a toda comunidade acadêmica e os
profissionais de saúde que monitorem dados qualificados sobre os efeitos da
violência ao longo dos próximos anos.

A Abrasco se soma a todas as manifestações em repúdio ao Decreto 9.685 e
entende que o combate à violência deve se dar respeitando a cultura da paz com
grande investimento no campo da segurança levando em conta medidas
integradas que assegurem educação, saúde e proteção social a todos os
brasileiros.

Rio de Janeiro, 19 de janeiro de 2019.

10 prioridades de pesquisa em APS identificadas através da utilização de um método Delphi modificado

Com este estudo publicado pelo jornal aberto PLOS ONE, seis pesquisadores de instituições acadêmicas canadenses procuraram estabelecer quais são as 10 prioridades de pesquisa em atenção primária em saúde (APS), focando-se em particular nas necessidades de países de renda média e baixa. Justificaram a necessidade de um estudo desta natureza ressaltando a importância da APS para o êxito dos sistemas de saúde, e apontando a escassez de pesquisa centrada em temas de APS. Os autores argumentaram que o estabelecimento de prioridades de pesquisa em APS tornaria o financiamento desta mais efetivo.

O método escolhido para o estudo foi o processo da James Lind Alliance (JLA), desenvolvido para determinar prioridades empregando diferentes abordagens, como enquêtes e grupos focais. O JLA inspira-se no método Delphi, reconhecido para o desenvolvimento de consenso entre partes interessadas. O primeiro passo foi solicitar, através de uma plataforma na internet, respostas abertas à seguinte pergunta: “Por favor sugira até três questões importantes para a pesquisa em APS”. Os respondentes, ademais, tinham que identificar sua posição como parte interessada, entre “profissional médico”, “pesquisador”, ou “membro do público”. De fato, os autores visavam incluir a opinião do público geral, que, porém, somente representou 18,7% dos respondentes. A enquete foi disseminada em inglês, francês e espanhol através de uma abordagem dirigida, que procurou envolver principalmente, porém não unicamente, atores de países de renda média e baixa. Utilizaram-se contatos existentes com organizações de atenção primária, medicina da família e organizações de pacientes, convidando-os a disseminar a enquete para seus contatos, tipo bola de neve.

131 pessoas de 27 países responderam à enquete, provendo um total de 379 propostas de pesquisa. A maioria delas foi feita por profissionais médicos (60,4%) e pesquisadores (20,8%). Num primeiro momento, os autores eliminaram algumas das propostas: 29 por serem fora do tema da APS, 65 por considerar que dificilmente chegariam a ser escolhidas entre as 36 que seriam discutidas por um grupo focal, e 6 por serem relacionadas a temas já amplamente estudados. Dois dos autores trabalharam nas 279 propostas mantidas, juntando as similares, totalizando-se  101 questões. Estas foram classificadas de forma independente por cada autor, obtendo as 36 mais importantes segundo a classificação dos autores. O passo final foi de submeter as 36 propostas a uma reunião presencial de 26 participantes de 13 países (principalmente da África e da Ásia), durante um congresso internacional de medicina da família. As 10 propostas de pesquisa em APS identificadas através deste último exercício foram: 1) Qual a melhor maneira de abordar os determinantes sociais da saúde e promover a equidade em saúde através da APS? 2) Como financiar, organizar e prover profissionais para a APS 3) Qual o melhor jeito de alcançar a cobertura universal em saúde nos países de renda média e baixa? 4) Como medir o desempenho da APS? 5) Quais as maneiras mais efetivas de traduzir conhecimento e evidências em APS? 6) Quais as intervenções mais efetivas para melhorar as habilidades funcionais e qualidade de vida das pessoas com multimorbidade? 7) Quais as melhores estratégias para envolver os pacientes no desenho e implantação de ações de APS? 8) Como integrar o conhecimento de comunidades indígenas na provisão de serviços individuais em APS? 9) Qual o melhor jeito para a APS promover hábitos saudáveis na população? 10) Quais os efeitos de utilizar comunicação eletrônica (incluindo e-mail, mensagens de texto e registros eletrônicos) na provisão de APS?

Para concluir, os autores citaram um artigo de 2004 do jornal Annals of Family Medicine, que já ressaltava a necessidade de levar a cabo pesquisa centrada em medicina da família, descrevendo a pesquisa em APS como o elo perdido no desenvolvimento de cuidados na saúde que sejam de alta qualidade e baseados em evidências.

Para ler o artigo na íntegra clique aqui.

Por Diana Ruiz e Valentina Martufi – doutorandas que contribuem para a REDE APS