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Arquivo Diário 15 de julho de 2019

ANS estimula as operadoras de planos privados de saúde a instituir programas de promoção da saúde e prevenção de riscos de doenças

A Agencia Nacional de Saúde Suplementar (ANS) continua incentivando as operadoras de planos privados de saúde a incorporar ações de prevenção de riscos e doenças. Em dezembro de 2018 a ANS instituiu o Programa de Certificação de Boas Práticas em Atenção à Saúde cuja primeira iniciativa é a Certificação em Atenção Primária à Saúde. Através desse programa se pretende reorganizar a porta de entrada na saúde suplementar e conceder uma certificação às operadoras que cumprirem alguns requisitos pré-estabelecidos na estratégia de atenção primária à saúde (ANS, s.d. a).

Atualmente, 1.822 programas de Promoção da Saúde e Prevenção de Riscos de Doenças têm sido cadastrados junto à ANS. Do total de 743 operadoras de planos de saúde médico hospitalares 394 (53%) têm programas deste tipo focados principalmente nas doenças crônicas não transmissíveis (ANS, 2019a).

Neste ano foram divulgados os principais resultados e desafios encontrados nos casos selecionados pelo Laboratório de Inovação sobre Experiências de Atenção Primária na Saúde Suplementar Brasileira. As operadoras têm desenvolvido diferentes práticas, como a implementação de programas específicos para usuários com doenças crônicas. No entanto, segundo Rogério Scarabel diretor de Normas e Habilitação dos Produtos da ANS, uma questão a melhorar é a coordenação do cuidado (ANS, 2019b)

A ANS destaca a importância da implementação desse tipo de programas nos planos de saúde privados devido à mudança do perfil de morbidade e mortalidade da população, o aumento nos custos da assistência em saúde e os impactos potenciais das ações de promoção da saúde e prevenção da doença (ANS, s.d. b). Entretanto, a lógica econômica predominante no setor da saúde suplementar parece ser contraditória ao ideário sociopolítico da promoção da saúde. Os programas de promoção da saúde e prevenção das doenças poderiam estar orientados por uma concepção disciplinadora da vigilância e controle voltado fundamentalmente à redução de custos (RODRIGUES, SILVA e SENA, 2015). Como ressaltado pela Professora Fátima Sousa, da UnB, em reportagem do Correio Braziliense, “(…) as operadoras de planos de saúde estão se atentando para o fato de que a atenção primária é um bom investimento” (Roscoe, 2019).

Referencias:

ANS, Agencia Nacional de Saúde Suplementar. Dia Mundial da Saúde: ANS orienta operadoras a promoverem a atividade física. Notícias ANS. 1 de abril de 2019a. Disponível em: http://www.ans.gov.br/aans/noticias-ans/qualidade-da-saude/4918-dia-mundial-da-saude-ans-orienta-operadoras-a-promoverem-a-atividade-fisica Acesso em: 8 de julho de 2019

ANS, Agencia Nacional de Saúde Suplementar. Seminário de Acompanhamento do Laboratório de Inovações em Atenção Primária. Notícias ANS. 3 de maio de 2019b. Disponível em: http://www.ans.gov.br/aans/noticias-ans/qualidade-da-saude/4958-seminario-de-acompanhamento-do-laboratorio-de-inovacoes-em-aps  Acesso em: 8 de julho de 2019

ANS, Agencia Nacional de Saúde Suplementar a. Programa de Certificação de Boas Práticas em Atenção à Saúde. Seção Gestão em Saúde. Homepage na internet. S.d. a. Disponível em: http://www.ans.gov.br/gestao-em-saude/certificacao-de-boas-praticas Acesso em: 8 de julho de 2019

ANS, Agencia Nacional de Saúde Suplementar b. Histórico dos Programas de Promoção da Saúde e Prevenção e Controle de Riscos e Doenças. Homepage na internet. S.d. b. Disponível em: http://www.ans.gov.br/index.php/planos-de-saude-e-operadoras/espaco-da-operadora/298-promoprev-historico Acesso em: 8 de julho de 2019

RODRIGUES, Andreza Trevenzoli; SILVA, Kênia Lara; SENA, Roseni Rosangela de. Programas de promoção da saúde na saúde suplementar em Belo Horizonte, MG, Brasil: concepções e práticas. Interface (Botucatu), Botucatu,  v. 19, n. 54, p. 455-466,  Sept.  2015.   Disponível em:  <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832015000300455&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 9 de julho de 2019

Roscoe, Beatriz. Planos de saúde de olho na prevenção. Correio Braziliense –DF. 31 de março de 2019. Disponível em: http://cliente.linearclipping.com.br/ANS/site/m014/noticia.asp?cd_noticia=58947227 Acesso em: 8 de julho de 2019

Por Diana Ruiz e Valentina Martufí – doutorandas que contribuem para a REDE APS

 

 

Carta manifesto das Médicas e Médicos de Família e Comunidade do Município do Rio de Janeiro

Capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar às intempéries, aos infortúnios ou às mudanças.

Nós, Médicas e Médicos de Família e Comunidade do Rio de Janeiro, presentes no 15° Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade, em Cuiabá, MT, vimos a público, ratificar nosso compromisso com a construção de uma Atenção Primária de qualidade, baseada nos princípios de Universalidade, Integralidade e Equidade do nosso Sistema Único de Saúde, e reafirmar o compromisso com a defesa da saúde como direito do povo e dever do Estado.Exatamente por isso faz-se necessário publicizar o que vem acontecendo nos últimos anos e, particularmente nos últimos dias, na gestão da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Até há pouco tempo, a cidade do Rio de Janeiro era internacionalmente reconhecida pelos importantes avanços na oferta de cobertura e acesso universal aos serviços básicos de saúde, abrigando ainda hoje o maior programa de residência médica do país, pela SMS, UERJ e UFRJ/FIOCRUZ). Estes programas nos últimos anos colocaram juntos no mercado mais de 600 médicos de família e comunidade, hoje prestando assistência na cidade, no Estado, e no país inteiro. A famigerada “reformulação da atenção primária” ocorrida em 2018 está levando à demissão de diversos trabalhadores da saúde, à redução do numero de equipes e, consequentemente, ao aumento desproporcional de usuários para cada equipe. No seu conjunto, estas ações têm como consequência uma deterioração da qualidade dos serviços de saúde ofertados e a exaustão dos profissionais que resistiram (e resistem), levando à uma evasão maciça de bons trabalhadores da saúde que, diante destas incongruências, não se sentem seguros ou estimulados a permanecer.

Agravando sobremaneira esta situação, no último dia 5 de julho, cerca de 1.500 trabalhadoras e trabalhadores da saúde, incluindo Agentes Comunitários de Saúde, Técnicos de Enfermagem, Enfermeiros, Médicos e Preceptores dos Programas de Residência das áreas programáticas (distritos sanitários) 5.1 (Bangu / Realengo) e 5.2 (Campo Grande / Guaratiba) (na zona Oeste do Município) foram demitidos com a possibilidade de recontratação por uma nova organização social (IPCEP). A partir de um edital, foi imposto uma redução salarial média em torno de 40% dos valores originais. Não bastasse o absurdo ético e jurídico desta medida, fomos surpreendidos com o fato de sequer haver – até o presente momento – um contrato de trabalho formal, o que faz com que desde o último dia 6, aqueles que decidiram permanecer, estejam trabalhando em total insegurança jurídica.

Toda esta situação têm sido agravada pelo assédio, por parte da gestão da secretaria municipal de saúde, que vem impondo de forma sistemática a necessidade da cobertura pelos médicos remanescentes às equipes desassistidas, arbitrariamente deslocados de seus territórios para atendimentos nessas áreas, afora a convocação de plan-to-nis-tas, em uma clara falta de compromisso com a longitudinalidade do cuidado. Preceptores e residentes médicos dos programas de residência de medicina de família e comunidade do município têm sido diariamente convocados a prestar essa cobertura em outras áreas no vazio criado, em total dissonância com os objetivos dos programas, em uma demonstração clara da deformação de sua função e ainda sob ameaças veladas de retirada de subsídios e apoio.  Esta clara descaracterização do modelo da Estratégia de Saúde da Família, anteriormente implantada com sucesso, festejada em estudos internacionais e premiações, que trouxe resultados expressivos para a qualidade da saúde da população carioca, põe em grave risco pacientes, famílias e suas comunidades.  A resultante imediata: 1 milhão e Meio de pessoas sem cobertura adequada, unidades sem condições mínimas para o atendimento, profissionais desvalorizados e desmotivados, formação médica em crise.
Esse mesmo desmonte está previsto para as demais 8 áreas programáticas da cidade, até outubro próximo, elevando em níveis ainda mais críticos a situação da APS no Rio de Janeiro. Neste sentido, como garantidores do cuidado e organizadores da ação em saúde, nós, médicas e médicos cariocas, lutamos contra o desmonte da saúde que inflige sobre a população ainda mais sofrimento, além do que já é imposto pela crise, desemprego e violência.

Por tudo isso, encaminhamos um pedido de moção de repúdio por parte do 15° CBMFC à política de desmonte do SUS orientada pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, e a toda forma de assédio imposto a seus trabalhadores que colocam em risco os significativos avanços alcançados na APS Carioca. Avanços que foram frutos de anos de construção de mulheres e homens que se dispuseram e se dispõem a permanecer construindo, embora não a qualquer custo – especialmente aquele que implique no sofrimento de seus trabalhadores.  Nesse sentido, exigimos o fim das demissões, exigimos a estabilização contratual dos trabalhadores, a garantia de um processo de trabalho voltado para a Atenção Primária de qualidade e pela excelência da formação de médicos e médicas de Família e Comunidade.  Seguimos confiantes em nossa capacidade de permanecer servindo à população, de forma pública, democrática, equânime e universal.

Cuiabá, MT, 13 de julho de 2019.