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Arquivo Mensal setembro 2019

Comentários preliminares sobre o Projeto Piloto Lista de Pacientes no Centro de Saúde do Santo Antônio em Florianópolis.

Recentemente, desde fins de abril deste ano, tem havido um caloroso debate em torno do lançamento da proposta do município de Florianópolis para reestruturar a adscrição de clientela da Estratégia Saúde da Família (ESF) por meio de lista de pacientes. Em círculos fechados da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, ao mesmo tempo que muitos médicos exultam a inovação e ousadia da iniciativa, outros enxergam consequências que podem desfavorecer a inserção comunitária das equipes e aprofundar iniquidades no acesso à saúde de populações negligenciadas.

Autor – Cassiano Franco

Leia artigo – Lista de pacientes Franco, Cassiano. Comentários preliminares sobre o Projeto Piloto Lista de Pacientes no Centro de Saúde do Santo Antônio em Florianópolis. 2019 (3)

Artigo – Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve

Recentemente foi iniciada uma discussão por diversos atores da medicina de família e comunidade (MFC) sobre o modelo de adscrição de “clientela” ou populacional que deve ser adotado na Atenção Primária à Saúde (APS) pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Autor – Hugo Crasso Oliveira do Nascimento

Leia artigo – Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve. Rio de Janeiro, junho de 2019 (1)

Da Atenção Primária à Saúde à Cobertura Universal em Saúde: um passo para a frente e dois para atrás

Os autores desta nota provêm de várias instituições de pesquisa renomadas, representando quase todos os continentes. Juntam-se assim vozes da Universidade do Cabo Ocidental (África do Sul), da Universidade de Ottawa (Canada), do Instituto Sul-americano de Governo em Saúde (Brasil), do Instituto de Medicina Tropical (Bélgica), da Rede de Recursos para Saúde Pública (Índia), e do Movimento Global para a Saúde do Povo, para nos recordar os princípios da Atenção Primária à Saúde (APS) que se estabeleceram em 1978, em Alma Ata, com a meta de assegurar uma vida saudável para todos (‘health for all’) até o ano 2000.

Agora, 19 anos depois do prazo estabelecido para atingir uma ‘vida saudável para todos’, olhamos para trás e percebemos a onda neoliberal que se instala nos anos 80que prejudicou a possibilidade de construir uma Nova Ordem Económica Internacional (New International Economic Order – NIEO). Os signatários de Alma Ata consideraram necessário estabelecer uma NIEO para poder alcançar as metas em saúde nos tempos estabelecidos. Porém, os desdobramentos do neoliberalismo trouxeram a proposta da Cobertura Universal em Saúde (CUS), e hoje (23.09.2019) uma das maiores instâncias de posicionamento mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU), está realizando a primeira Reunião de Alto Nível sobre Cobertura Universal da Saúde.

Os autores da nota alertam que um forte posicionamento global a favor da CUS pode concentrar uma atenção excessiva no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3.8: ‘Alcançar a CUS’. Logo, apontam, serão desvalorizados os outros ODSs relacionados à saúde, pelo lado dos determinantes sociais, a saber: comida e nutrição (ODS 2), igualdade de gênero (ODS 5), água e saneamento (ODS 6), a redução das iniquidades (ODS 10), a promoção de consumo e produção responsáveis e sustentáveis (ODS 12), e a mitigação das mudanças climáticas (ODS 4).

Os autores também ressaltam que o termo ‘cobertura’, ao contrário de ‘cuidado’, sugere uma oferta de serviços limitada, além da ideia de seguro. Apontam para as evidências que demonstram que os sistemas de seguro de saúde, sejam públicos ou privados, tendem a não ser equitativos, a não prover proteção financeira, e acabam transferindo fundos públicos para o lucro privado, aprofundando mais as inequidades existentes.

Além disso, sinalizam, a APS para a CUS é uma simples porta de entrada, um primeiro contato com o setor formal da saúde. Pelo contrário, a equidade no acesso foi um critério incluído nos princípios da APS em Alma Ata. Evocam então a celebração dos 40 anos de Alma Ata, no ano passado em Astana, e como ficou enfraquecida a APS nesta nova versão do compromisso internacional. Porém, nos recordam, houve também a Declaração Alternativa da Sociedade Civil de Astana sobre Cuidados Primários de Saúde – assinada também pela Abrasco ao lado de centenas de outras organizações da sociedade civil e movimentos sociais – que sinalizou os riscos de um aumento na medicalização e mercantilização da saúde no modelo de CUS.

Os autores alertam que não é suficiente pedir aos governos que implementem ‘regulação do setor privado’, porque, em muitos casos, eles não têm o poder de negociação suficiente para conseguir controlar o mercado. Em outros casos simplesmente não querem. Independentemente disso, o problema da mercantilização da saúde vai além das fronteiras nacionais, e para ser enfrentado precisa da mobilização da sociedade civil internacional e das instituições internacionais. Ficamos atentos aos resultados das discussões de hoje na Reunião de Alto Nível da ONU.

Acesse o artigo de David Sanders, Sulakshana Nandi, Ronald Labonté, Carina Vance, e Wim Van Damme na integra aqui.

Por Diana Ruiz e Valentina Martufi – doutorandas que contribuem para a REDE APS

 

Programa Médicos pelo Brasil

Em novembro de 2018, o governo de Cuba anunciou a finalização de sua participação no Programa Mais Médicos no Brasil, após questionamentos feitos pelo presidente eleito Jair Bolsonaro sobre a qualificação dos médicos cubanos e a exigência de revalidação dos diplomas no país (SEABRA, 2018).

Após a saída dos médicos intercambistas, muitos municípios ficaram com déficit desses profissionais. Segundo a pesquisadora Ligia Bahia entrevistada pelo jornal “O Globo”, após seis meses da saída dos médicos cubanos, quatro em cada dez cidades brasileiras (42%) onde atuavam esses médicos não tinham conseguido preencher todas as vagas (REIS, 2019).

Em resposta a esse déficit, os estados do Ceará, Espirito Santo e Tocantins e o município de Campinas (SP) desenharam seus próprios planos para preencher as vagas ociosas. Esses planos contemplam bolsas de estudo para médicos que realizem residência ou especialização em medicina de família e comunidade para atuação em unidades básicas de saúde (COLLUCCI, 2019).

Em 1º de agosto deste ano, depois de vários meses anunciando o desenho de uma nova proposta que substituiria o Programa Mais Médicos, o governo federal publicou a Medida Provisória (MP) n° 890/2019 que institui o Programa Médicos pelo Brasil, no âmbito da atenção primária à saúde no Sistema Único de Saúde, e a criação do serviço social autônomo denominado Agência para o Desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde (BRASIL, 2019).

Segundo o texto da Medida Provisória, a finalidade do Programa Médicos pelo Brasil é aumentar a prestação de serviços médicos em locais de difícil acesso ou alta vulnerabilidade e fomentar a formação de médicos especialistas em medicina de família e comunidade no âmbito da atenção primária no Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2019). Na MP ficou especificado que os locais de difícil provimento correspondem a municípios de pequeno porte populacional, baixa densidade demográfica e distantes de centros urbanos, conforme classificação do IBGE, Distritos Sanitários Especiais Indígenas e comunidades ribeirinhas. Os locais de alta vulnerabilidade foram definidos como municípios com alta proporção de pessoas cadastradas nas equipes de saúde da família e que recebam benefícios financeiros do Programa Bolsa Família, benefício de prestação continuada ou benefício previdenciário com um valor máximo de dois salários mínimos (BRASIL, 2019).

No âmbito do programa serão contratados médicos de família e comunidade e tutores médicos. Para participar do processo seletivo para o Programa, os médicos devem estar inscritos no Conselho Regional de Medicina e os tutores médicos devem ser especialistas em Medicina de Família e Comunidade ou em Clínica Médica (BRASIL, 2019).

O processo seletivo para tutores médicos consiste em uma prova escrita eliminatória e classificatória. O processo seletivo para médico de família e comunidade está composto por uma prova escrita; curso de especialização com duração de dois anos realizado por instituição de ensino parceira com atividades de ensino, pesquisa e extensão e componente assistencial com integração ensino-serviço; e, prova final escrita para habilitação do título de especialista em medicina de família e comunidade. As atividades realizadas durante o curso de formação serão supervisadas pelo tutor médico (BRASIL, 2019).

As atividades desenvolvidas durante o curso de formação não representam nenhum vínculo empregatício. Durante o curso o médico receberá uma bolsa-formação (BRASIL, 2019) de R$ 12mil, gratificação para locais remotos de R$ 3mil e gratificação para DSEI, ribeirinhas e fluviais de R$ 6mil. Após concluir o curso e ser habilitado como médico de família e comunidade a contratação será com vínculo CLT por até 21 mil reais nos primeiros três anos e até 31 mil reais depois de 10-12 anos no programa (BOLSONARO, MANDETTA, 2019).

A maior parte das vagas deste programa estarão nas regiões norte e nordeste. Segundo os dados apresentados pelo presidente e pelo ministro da saúde existirão 7.328 novas vagas em áreas rurais ou remotas, enquanto outras áreas de alta vulnerabilidade (regiões urbanas e intermediárias adjacentes) teriam uma diminuição de 7.163 vagas (BOLSONARO E MANDETTA, 2019). O Programa será executado pela Agência para o Desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde – Adaps, (BRASIL, 2019) questão que será objeto de um boletim posterior.

Após a divulgação da Medida Provisória, algumas entidades analisaram o programa proposto e publicaram suas considerações. A Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (2019) destacou que, apesar das críticas do governo ao Programa Mais Médicos, a nova proposta mantém algumas das suas caraterísticas a exemplo da articulação de atividades de ensino, extensão, e integração ensino-serviço, a vinculação com bolsa, recolhimento junto ao INSS e isenção de Imposto de Renda. No entanto, questões muito relevantes para a melhoria da qualidade da atenção e que eram contempladas no PMM, como a adequação da estrutura física das unidades de atenção e as mudanças na formação médica, parecem não ser parte da proposta atual do governo.

A Sociedade Brasileira de Médicos de Família e Comunidade (SBMFC, 2019) também salientou que além do provimento de médicos é necessário fortalecer a infraestrutura das unidades de saúde, a ampliação da carteira de serviços, o acesso a serviços de apoio diagnóstico e a ampliação da formação de profissionais enfermeiros(as) especialistas em APS para melhorar a qualidade da atenção. Questões que não parecem estar sendo contempladas no Programa Médicos pelo Brasil.

A SBMFC (2019) reconheceu como aspecto positivo do programa a adoção de critérios específicos para definir os municípios aptos para aderirem a ele. No entanto, a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (2019) destacou que os mesmos critérios do IBGE e da OCDE utilizados para identificar os municípios em alta vulnerabilidade no Programa Médicos pelo Brasil eram os usados no Programa Mais Médicos, porém no PMM existia uma maior complexificação para a distribuição dos profissionais, levando em conta também a diversidade regional, a construção compartilhada com a Frente Nacional de Prefeitos e com o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde e o fato de que a maior parte da população do país mora na periferia das grandes cidades.

A SBMFC (2019) também reconheceu a importância da mudança do vínculo laboral dos médicos. Porém, a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (2019) destacou a contradição do governo federal ao propor a vinculação dos médicos mediante CLT, enquanto promove uma reforma trabalhista que desmonta a seguridade social e os direitos dos trabalhadores.

No que diz respeito ao eixo formação, que era um dos componentes importantes do PMM, o novo programa promove a formação de especialistas em medicina de família e comunidade em dois anos e com bolsas de estudo muito mais altas do que nos programas tradicionais de residência. Isso pode ocasionar um maior esvaziamento dos programas de residência na área, os quais já apresentam dificuldades para ocupar as vagas, o qual pode levar ao desmonte da Residência em Medicina de Família e Comunidade (REDE NACIONAL DE MÉDICAS E MÉDICOS POPULARES, 2019). Sobre essa questão, a SBMFC (2019) esclareceu que considera que a proposta do curso de especialização com duração de dois anos e carga horária de 60 horas semanais pode ser suficiente sempre que conte com o apoio pedagógico da SBMFC, tanto na elaboração dos conteúdos quanto na supervisão e avaliação dos profissionais a SBMFC.

                Além disso, a SBMFC (2019) considera que a estratégia de formação de especialistas proposta no Programa Médicos pelo Brasil é válida somente neste contexto de difícil provimento de profissionais, portanto deve ser uma medida provisória a ser utilizada no máximo nos próximos três anos, enquanto é realizado um processo mais amplo de mudança no marco regulatório de formação de especialistas no país, onde 40% das vagas de residência médica devem ser destinadas à medicina de família e comunidade. Após 2022 a formação como especialistas deve se dar unicamente pela via da residência médica.

No que tange à seleção de tutores, a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (2019) manifestou sua preocupação com a possibilidade de que médicos com residência em clínica médica possam atuar como supervisores porque esses profissionais têm uma formação estritamente hospitalar sem vivencia comunitária. No entanto, a SBMFC destacou que levando em conta que não se tem a quantidade suficiente de especialistas em Medicina de Família e Comunidade para exercer como tutores é razoável a abertura para que profissionais com Especialização em Clínica Médica realizem essa supervisão. Porém, a SBFMC (2019) sugeriu que sejam priorizados os profissionais com título de especialista em Medicina de Família e Comunidade, e somente se o número deles não for suficiente, dar preferência aos especialistas em Clínica Médica com experiência em serviços de Atenção Primária à Saúde, quem ademais deveriam partilhar suas atividades e ser supervisados pelos tutores especialistas em Medicina de Família e Comunidade.

Levando em conta o conteúdo da medida provisória e as análises realizadas pela Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares e a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade observa-se que o Programa Médicos pelo Brasil retoma algumas caraterísticas do Programa Mais Médicos. No entanto, parece estar limitado ao provimento de médicos e apresenta mudanças controversas que poderiam afetar a qualidade da formação e a sustentabilidade dos programas de Residência em Medicina de Família e Comunidade. Adicionalmente, não leva em conta outras estratégias para a melhoria da qualidade da atenção e não parece ter sido construído a partir de um processo amplo de participação. 

 

Referências

Bolsonaro, Jair e Mandetta, Luiz Henrique. Médicos pelo Brasil. Saúde em Família. Ministério da Saúde Brasil (Mimeo).

Brasil, Presidência da República, Secretaria-Geral, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Medida Provisória nº 890, de 1º de agosto de 2019. Institui o Programa Médicos pelo Brasil, no âmbito da atenção primária à saúde no Sistema Único de Saúde, e autoriza o Poder Executivo federal a instituir serviço social autônomo denominado Agência para o Desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Mpv/mpv890.htm Acesso em: 6 de setembro de 2019

Collucci, Cláudia. Cidades desenham programas para substituir Mais Médicos. Folha de São Paulo 15 de junho de 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/06/cidades-desenham-programas-para-substituir-mais-medicos.shtml Acesso em: 6 de setembro de 2019

Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares. Nota da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares sobre a proposta do Programa Médicos pelo Brasil.  Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2019/08/05/rede-de-medicos-populares-denuncia-as-contradicoes-do-programa-federal/ Acesso em: 9 de setembro de 2019

Reis, Vilma. Mais médicos: Após saída de cubanos, 42% das cidades têm vagas abertas. Abrasco. 27 de maio de 2019. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/outras-noticias/opiniao/mais-medicos-apos-saida-de-cubanos-42-das-cidades-tem-vagas-abertas/40961/ Acesso em: 6 de setembro de 2019

SBMFC, Sociedade Brasileira de Medicina de Familia e Comunidade. Análise da SBMFC em relação ao Programa Médicos pelo Brasil. 14 de Agosto de 2019. Disponível em: https://www.sbmfc.org.br/noticias/analise-da-sbmfc-em-relacao-ao-programa-medicos-pelo-brasil/ Acesso em: 6 de setembro de 2019

Seabra, Catia. O fim da parceria Cuba e Brasil no Mais Médicos. Folha de São Paulo. 14 de novembro de 2018. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/08/governo-lanca-medicos-pelo-brasil-em-substituicao-ao-mais-medicos.shtml Acesso em: 6 de setembro de 2019

Por Diana Ruiz e Valentina Martufí – doutorandas que contribuem para a REDE APS

Participação da Rede APS no 8º CBCSHS – João Pessoa

O 8º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde acontecerá entre os dias 26 e 30 de setembro de 2019, na Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, tendo como tema central “Igualdade nas diferenças: enfrentamentos na construção compartilhada do bem viver e o SUS”.

Nos dias 26 e 27 de setembro a Rede APS da ABRASCO realizará uma oficina com os integrantes do comitê gestor e interessados para apresentar os estudos de caso sobre as Inovações em APS Forte e, também, rever e discutir a Agenda Política Estratégica para a Atenção Primária à Saúde no SUS. 

Outra participação será no dia 29, das 8h30 às 10h30, na Mesa Redonda A APS no SUS em contexto de restrição de direitos que terá a coordenação da professora Lígia Giovanella, da ENSP e a participação do professor da UFPEL Luiz A. Facchini, ambos coordenadores da Rede. Participarão também do debate o Vice-presidente do CONASEMS Charles Cezar Tocantins de Souza e Fernando Cupertino, pelo CONASS. 

Abaixo a programação da 2ª Oficina 2019 do comitê gestor da Rede APS – Inovações em APS forte

 26 de setembro

Local: Universidade Federal da Paraíba – CCS-508-BLOCO DORALICE

8h30/12h – Estudos de caso sobre Inovações em APS forte

Coordenação: Renato Tasca

Consolidação da Estratégia Saúde da Família como modelo único e universal de Atenção Primária à Saúde e porta de entrada eletiva do SUS, em Teresina;

Pesquisadores: Ligia Giovanella (ENSP), Patty Fidélis (UFF) e Luiz Augusto Facchini (UFPEL)

Brasília saudável: a estratégia de saúde da família e a conversão do modelo assistencial;

Pesquisadores: Aylene Bousquat (USP), Luciano Gomes (UFPB) e Nelson Felice de Barros (Unicamp)

O uso do Telessaúde e Telerregulação no apoio à prática clínica no SUS de Porto Alegre.

Pesquisadores: Elaine Thumé (UFPEL), Fúlvio Nedel (UFSC) e Sandro Batista (UFGO)

12h/14h – Intervalo Almoço

14h/17h – Revisitando a Agenda Política Estratégica para a Atenção Primária à Saúde no SUS num contexto de restrição de direitos.

Link – http://rededepesquisaaps.org.br/wp-content/uploads/2018/07/Abrasco_Final_06.07.pdf

27 de setembro de 2019

8h30/12h – Pesquisas em APS e rumos da Rede de pesquisa em APS da Abrasco. Quais são as pesquisas estratégicas em APS em contexto de restrição de direitos?

8h30/10h30 –  Apresentação das pesquisas em desenvolvimento pelos grupos integrantes da Rede e grupos emergentes.

10h30/12h – Rumos da Rede de pesquisa em APS

Posicionamentos sobre a Carteira de Serviços da APS

No dia 19 de agosto 2019, o Ministério da Saúde iniciou uma consulta pública  de documento propondo uma ‘Carteira de Serviços da Atenção Primária à Saúde Brasileira’ com prazo de oito dias para contribuições dos “profissionais de saúde, gestores, entidades médicas e demais cidadãos”. Para a elaboração da Carteira, a Secretaria de Atenção Básica à Saúde (SAPS) informou ter pesquisado o conteúdo de carteiras de seis capitais brasileiras (Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Natal, Curitiba, Porto Alegre e Florianópolis), e do SNS espanhol.

A consulta recebeu 1,8 mil contribuições submetidas entre 19 e 26 de agosto, sendo 76% submissões de profissionais de saúde, seguidos por gestores municipais (7%), usuários do SUS (5%), estudantes (4%), pesquisadores (2%), gestores estaduais (2%), e outros cidadãos. O MS anunciou que a versão final do documento será divulgada em outubro deste ano.

Posicionamentos

Por um lado, o governo e alguns outros atores, como a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), têm defendido que a Carteira é necessária para ampliar a resolutividade e aferir a qualidade e eficiência dos serviços prestados, além de assegurar que os cidadãos saibam quais serviços estão disponíveis em qualquer Unidade de Atenção Básica (UBS).

Por outro lado, instituições como o Conselho Nacional de Saúde (CNS), associações de profissionais de saúde como a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) e a Federação Nacional dos Enfermeiros (FNE), e pesquisadores da área denunciam a predominância da abordagem biomédica, limitando o espaço disponível para ações de prevenção de doenças e de promoção da saúde.

Nas palavras da ‘Recomendação No 035, de 23 de agosto de 2019’ do CNS: “o pleno do CNS […] contestou o texto base da Consulta Pública sobre APS, uma vez que este propõe uma integralidade restrita, assistência seletiva e resume-se em estabelecer rol de ações individuais, sem considerar a abordagem biopsicossocial, a ênfase na promoção da saúde e a garantia de acesso à atenção especializada e interdisciplinar com integração da rede assistencial para a continuidade do cuidado, de acordo com as necessidades do indivíduo e da comunidade.”

Segundo reportagem da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), desde 2016 – quando houve uma tentativa de introduzir a Carteira de Serviços de APS na gestão de Ricardo Barros no Ministério da Saúde –  a professora-pesquisadora da Escola, Mariana Nogueira, vem denunciando o foco excessivamente biomédico do instrumento. Hoje, ela alerta: “Nesse contexto, os padrões essenciais não partem de um subsídio da integralidade, no sentido do necessário a atender às demandas sociossanitárias da população, enquanto um direito, mas do possível e do mínimo a ser ofertado”. Além disso, analisa, há uma precarização do vínculo empregatício dos profissionais de APS, através da institucionalização de mecanismos empresariais. Isso tem relação direta com a MP 890, que cria uma agência que nada mais é do que uma legitimação da terceirização da atenção primária e dos interesses empresariais que avançam sobre este campo”.

A ABEn e FNE produziram uma carta de repúdio elencando uma extensa série de críticas à proposta do MS, incluindo: a excessiva brevidade do prazo da consulta, segundo eles inconstitucional; a falta de participação social, sendo que a proposta nunca passou pelo Conselho Nacional de Saúde, máxima instância deliberativa do setor saúde; o desprezo das ações de prevenção de doenças e promoção da saúde, convidando os prospectivos colaboradores a “evitar a inclusão de conteúdo excessivamente preventivo”; o excessivo foco na abordagem biomédica, desprezando os determinantes sociais da saúde, e a abordagem coletiva. A categoria ficou particularmente atingida a partir de referências depreciativas feitas à profissão de enfermagem, e denunciou:

“O desconhecimento profundo do Ministério da Saúde sobre a Enfermagem chega a causar choque quando o texto ressalta a seguinte afirmação sobre o cuidado que a Carteira de Serviços deve ter com a maior categoria profissional de saúde: “realizar uma definição clara do papel da equipe de saúde e principalmente do profissional enfermeiro, que historicamente encontra-se focado na realização de atividades repetitivas e pouco eficazes centradas na promoção e prevenção de saúde em detrimento das atividades curativas e/ou assistenciais”.”

Indignados, os representantes da categoria, que inclui 60% dos profissionais de saúde a nível nacional, defenderam o papel central desenvolvido por elas/es, abrangendo uma variedade de funções, desde prestação de cuidados (curativos e preventivos) até gestão e coordenação da assistência à saúde: “Tal afirmação do Ministério da Saúde denota o mais completo desconhecimento do cotidiano dos serviços e preconceito em relação ao trabalho árduo, responsável e eficiente da enfermagem, em especial do enfermeiro.”

O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e Conselhos Regionais de Enfermagem reiteraram em nota a indignação das associações de enfermagem, destacando que “ao atribuir as atividades de gestão do cuidado a uma única categoria profissional, o texto da consulta desconsidera a perspectiva do trabalho na equipe multiprofissional.” Porém, não discordaram da ideia de ter uma carteira de serviços, sendo que solicitaram a reabertura do prazo, e já na nota incluíram contribuições ao conteúdo da carteira.

A Rede APS fez severas críticas à proposta da carteira de serviços através de um texto elaborado por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (PPGSP/ENSP/Fiocruz) e da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FM/UFRJ), e apoiado por outros integrantes da Rede. Segue a carta elaborada:

Comentários sobre a carteira nacional de serviços para a APS sob consulta

“Uma carteira de serviços reflete o modelo assistencial de APS que se deseja implementar. Nosso modelo de Saúde da Família com equipe multiprofissional e abordagem territorial e comunitária tem tido impactos positivos na saúde da população evidenciados em diversas pesquisas.

O texto introdutório da carteira proposta diz que esta se baseia em quatro dos atributos da APS (Acesso, Longitudinalidade, Integralidade e Coordenação do Cuidado) conforme Bárbara Starfield. De fato, a carteira colocada em consulta, centra-se na lista de uma série de ações a serem ofertadas pouco explicitando os outros três: acesso, longitudinalidade e coordenação. Em nenhum momento incorpora os atributos primordiais de orientação familiar, orientação comunitária e competência cultural propostos por Bárbara. Atributos cruciais tanto para o cuidado individual quanto para uma abordagem territorial e populacional para a promoção da saúde e prevenção de doenças.

Uma APS efetiva deve buscar o equilíbrio entre o cuidado individual e o cuidado coletivo. Desta abordagem integral dependem os efeitos positivos da APS na saúde da população. A promoção da participação social, uma das dimensões cruciais da atenção primária integral, seja em seu componente individual de participação do paciente seja em seu componente comunitário não é mencionada em qualquer momento.

O foco explicitado para o estabelecimento da carteira de serviços está no alcance de melhor eficiência, quando deveria ser em proporcionar melhor acesso e qualidade. Parte-se de uma premissa equivocada que a eficiência geraria qualidade, como expressado na seguinte frase “…pilar fundamental para atingirmos melhor eficiência, resultando em maior qualidade da atenção à população, aliado a ganhos econômicos nominais que garantirão a sustentabilidade do sistema de saúde …”  A busca da eficiência em si poderia reduzir custos, mas não gera qualidade. Qualidade resulta de um conjunto amplo de iniciativas articuladas e seu alcance em geral implica em uso de recursos adicionais. O foco nos aspectos econômicos faz subentender que a carteira tem por objetivo, não primordialmente melhorar a qualidade, mas servir como instrumento para estabelecer contratos com o setor privado. Esta parece ser a intenção com alinhamento claro à política de austeridade fiscal e restrição de direitos sociais e de destruição da seguridade social.

A integralidade proposta é restrita. Expressa-se em resumido rol de ações individuais sem considerar a abordagem biopsicossocial, a ênfase na promoção da saúde e a garantia de acesso à atenção especializada conforme necessidades, com integração da rede assistencial para a continuidade do cuidado.

 A especialidade em medicina de família e comunidade parece ter sido abolida na carteira de serviços proposta. O termo utilizado é médico de família, sem comunidade. Não se trata apenas de desconsiderar o atributo de orientação comunitária, mas também de mudar o foco desta especialidade médica que é crucial para a APS integral de qualidade, de fato robusta, que tanto tem se empenhado para se legitimar como especialidade. O descaso pela denominação da especialidade na carteira enfraquece a identidade e a posição dos médicos de família e comunidade.

Chama também atenção a inclusão de temas não consensuais, mesmo entre médicos de família e comunidade, como a ênfase na lista de pacientes desterritorializada como se fora uma forma de “valorização do trabalho de longo prazo, de forma continuada e com fortalecimento do vínculo”. Listas de pacientes têm sua origem como instrumento para remuneração, outro componente necessário para o estabelecimento de um contrato com um prestador externo qualquer. O texto afirma literalmente “…conceitos como o de lista de pacientes devem definitivamente ser introduzidos na APS brasileira …”.

O texto introdutório no eixo acesso define amplo conjunto de regras de organização do trabalho das equipes que extrapolam a proposição de uma carteira adequada de serviços para a APS integral de qualidade e engessa o trabalho das equipes. As propostas de organização dos horários de trabalho de cada tipo de profissional nas UBS, aproximam-se de modelos de plantonista: fragmentam fortemente o trabalho em equipe, rompem o vínculo com a população adscrita, quebram a longitudinalidade da relação interpessoal e afastam os profissionais da convivência da realidade do território. Não garantem um bom equilíbrio no atendimento das demandas espontâneas e programadas e programáticas.

Há ausência completa de menção da ação dos agentes comunitários de saúde, elo crucial da articulação das equipes com as populações, na busca ativa, na facilitação do acesso para famílias vulneráveis, nas ações de saúde coletiva, na educação em saúde, na promoção da participação social.

A carteira se divide apenas em: Atenção à Saúde do Adulto/Idoso, Atenção à Saúde da Criança, Procedimentos na APS e Saúde Bucal. Apresenta uma listagem totalmente desarticulada de ações em áreas totalmente diferentes, que impede a organização da carteira nas UBS e uma análise da suficiência do conjunto do conteúdo. As ações estão listadas em ordem alfabética: mistura desde cuidados paliativos a cuidado no puerpério e análise da situação epidemiológica, sem qualquer estruturação programática. Atenção à Saúde do Adulto/Idoso engloba tudo ficando dificílimo reconhecer quais as ações que de fato devem ser oferecidas por ciclo de vida / ou princípios da APS e da medicina de família e comunidade. A aversão aos programas chegou ao máximo de listar as ações em ordem alfabética de forma desarticulada.

Causou espanto incluir na carteira proposta a menção sobre identificar posse de armas e orientar para guardar em segurança. Talvez este item seja proveniente de um instrumento de avaliação estadunidense que já foi adaptado no Brasil em duas versões (PCATool). Na primeira versão feita por Celia Almeida e James Macinko esta pergunta não foi incluída pois foi feita uma adaptação cultural. Neste sentido, um aspecto precisa ficar claro. Uma coisa é uma pergunta em um questionário de pesquisa. Outra é inserir na norma nacional dando por certo, por correto, que o porte de armas deve ser ou será difundido.

Uma carteira de serviços em APS forte, integral, de qualidade não pode restringir-se a práticas clínicas individuais como o que está sendo proposto nesta carteira sob pena de apenas promover a medicalização sem melhorar nem a qualidade, nem a eficiência. O cuidado oportuno, de qualidade e a abordagem populacional territorial com ação comunitária e promoção da participação social são componentes cruciais de uma atenção primária à saúde integral.”

Ligia Giovanella e Cassiano Franco em 21 de agosto de 2019, Rio de Janeiro

Seguem as duas versões do PCATool validadas no Brasil, em 2006 e em 2010:

  • Almeida, Celia; Macinko, James. Validação de uma metodologia de avaliação rápida das características organizacionais e do desempenho dos serviços de atenção básica do sistema único de saúde (SUS) em nível local. Brasília-df: Organização Mundial da Saúde, 2006. 215 p. (Série técnica desenvolvimento de sistemas e serviços de saúde;10).
  • Departamento de Atenção Básica – Ministério da Saúde. (2010). Manual do Instrumento de Avaliação da Atenção Primária à Saúde – Primary Care Assessment Tool PCATool-Brasil. Brasília: Ministério da Saúde do Brasil.

 

Por Diana Ruiz e Valentina Martufi – doutorandas que contribuem para a REDE APS

O desafio e o sucesso do PROFSAÚDE refletidos na formatura da 1ª turma

Na plateia a diversidade já levantava a ponta do véu do que seria importante naquela cerimônia de formatura: o orgulho de discentes que levaram consigo pais, mães, filhos, maridos, esposas e amigos para a Formatura da 1ª Turma do Mestrado Profissional em Saúde da Família, o PROFSAÚDE, que aconteceu na manhã da sexta-feira, 30 de agosto, no Museu da Vida da Fiocruz, em Manguinhos, no Rio de Janeiro: – “O talento, a força de vontade, a persistência e a superação trouxeram vocês até aqui. Esperamos que esta vitória seja o início de muitas outras conquistas que vão impulsionar outras buscas e abrir novos horizontes, sempre apontando para um futuro luminoso.” disse a Coordenação Acadêmica do Mestrado.

Lançado em 2015 num esforço institucional de ampliar a formação médica pós-graduada no campo da formação para Atenção Primária em Saúde, o Mestrado Profissional em Saúde da Família o PROFSAÚDE é um programa de pós-graduação stricto sensu em Saúde da Família, reconhecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes do Ministério da Educação. A coordenação nacional é composta por Luiz Augusto Facchini, pela Abrasco, e por Maria Cristina Guilam e Carla Pacheco Teixeira, ambas pela Fiocruz.

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Antes de cumprimentar os formandos, Gulnar Azevedo e Silva, presidente da Abrasco, pontuou a formação da mesa de abertura: – “Estar nesta mesa com a Maria Célia, Adriana, Nísia, Cristiane e Samanta é muito importante, a única vez que eu vi uma mesa assim foi durante um congresso no Canadá onde todas as autoridades eram mulheres. Mas isso foi no Canadá, um país onde os governantes respeitam as mulheres… isso faz toda a diferença. E é um prazer ver na plateia homens que respeitam estas mulheres.” Ainda para a Gulnar é papel da Abrasco, enquanto sociedade científica em prol da Saúde Coletiva, facilitar as cooperações para um trabalho em conjunto: – “A Saúde da Família e a Saúde Coletiva são irmãs e o nosso objeto único é melhorar a saúde da população. Sozinhos não vamos a lugar nenhum, as parcerias são fundamentais. O trabalho do PROFSAÚDE é inovador e vai muito além dos conteúdos, os médicos que hoje estão se formando agora percebem que sozinhos não podem fazer tudo pela Saúde e que o importante é o trabalho multiprofissional, é valorizar o trabalho do agente comunitário de saúde, do professor nas escolas da rede pública, enfermeiros, psicólogos, dentistas, nutricionistas. Não podemos trocar esse modelo pelo que está sendo imposto hoje: que só fala no médico e de uma carteira de cuidados médicos. Cada um que sair daqui voltará para sua cidade entendendo e mostrando aos colegas que é possível se formar valorizando a Saúde Coletiva”. Avalia a presidente abrasquiana.

Para a presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Nísia Trindade Lima, o dia da formatura é um daqueles momentos felizes de afirmação do Sistema Único de Saúde – SUS: – “Meu cumprimento para esta mesa se faz em compromisso pela continuidade deste trabalho, quero fazer uma saudação especial aos novos mestres pois eu sei que o desafio não foi pequeno…” Nísia lembrou sua participação na construção do PROFSAÚDE e pontuou o processo de elaboração da iniciativa: -“Na época parecia uma quimera… a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior  – Capes não entendia a proposta mas acabamos avançando. É importante hoje ressaltar uma ideia que foi central nessa proposta: o PROFSAÚDE foi uma iniciativa a partir do programa Mais Médicos e considerávamos imprescindível aproximar duas tradições: a medicina da família e comunidade e a tradição da saúde coletiva. Na minha opinião é esta linha que deve orientar o debate sobre o novo programa Médicos pelo Brasil. Atualmente falamos muito em dificuldades mas eu quero falar em potência e na força das nossas ideias e que só podem se realizar plenamente nestes espaços de diálogo espaços que honram a continuidade do SUS com toda a sua complexidade e com a toda a sua beleza” salientou Nísia.

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Além de Gulnar e Nísia, a mesa de abertura contou com a participação da Coordenadora-Geral Substituta de Ações Estratégicas, Inovação e Avaliação da Educação em Saúde/DEGES/SGTES do Ministério da Saúde Adriana Fortaleza Rocha da Silva; Diretora Substituta de Desenvolvimento da Educação em Saúde DDES/SESU do Ministério da Educação Aldira Samantha Garrido Teixeira; Maria Célia Vasconcellos, representando o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde – Conasems e Cristiane Machado, Vice-Presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz.

A cerimônia continuou com uma mesa de agradecimentos formada por Maria Cristina Rodrigues Guilam, Coordenadora Acadêmico Nacional; Carla Pacheco Teixeira, Coordenadora Executiva Nacional e o professor Luiz Augusto Facchini, presidente Abrasco na gestão 2009 – 2012 e atualmente Pró-Reitor do PROFSAÚDE que logo no início de sua fala brincou: – “Bom, é melhor chorar antes de falar, vocês não acham? Para depois não precisar segurar a emoção!”

O professor da Universidade Federal de Pelotas que ainda é coordenador da Rede de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde da Abrasco reforçou que um dia de formatura é um dia de festa acadêmica: – “Todas as instituições envolvidas neste mestrado têm sua trajetória na saúde do Brasil – história nem sempre fácil e nem sempre acolhedora para seus filhos. Mas hoje é dia de pensar nas conquistas, mesmo tendo tantas dificuldades do cotidiano, de criar a vida, de poder produzir aquilo que pode ser significativo para o percurso de todos nós e nada disso seria razoável se isso não tivesse como grande destinatário a nossa população brasileira, a melhoria da saúde destas pessoas, daqueles que realmente são os senhores deste país e que muitas vezes por qualquer cochilo são deixados de lado e desconsiderados.”

Facchini se debruçou sobre o nascimento do programa como compromisso ao SUS num dos países mais desiguais do mundo: – “Como um país capaz de acumular tantas riquezas pode ser tão desigual? E no entanto aqui não existe uma figura já tão comum nos países ricos: os gastos catastróficos em saúde que é quando uma pessoa para fazer frente às necessidades de custear tratamentos de saúde perde boa parte daquilo que possui. No Brasil não temos isso desde a criação do SUS e fomos capazes de, com a Constituição de 1988 e todo o trabalho do Movimento da Reforma Sanitária, de construir um sistema generoso para todos que coloca em grau de similaridade os pobres e os mais ricos. O SUS é sim uma das políticas brasileiras mais inclusivas desse país, e precisa ser defendida porque o fim do SUS é a tragédia”, disse.

Ele lembrou ainda a importância da Estratégia de Saúde da Família: – “Mesmo com dificuldades de subfinanciamento conseguimos estender nossa ESF para mais de 40 mil equipes para mais de 130 milhões de pessoas no Brasil. Tivemos a capacidade de propor um projeto pedagógico inovador em rede com mais de 20 instituições. Estamos em pleno andamento da segunda turma e já a caminho de uma terceira que será multiprofissional numa verdadeira integração da academia e do serviço.” O professor fechou sua fala com uma novidade – “Nós temos condições de sonhar para breve, muito breve, propor um doutorado profissional em saúde da família.”

O desafio e o sucesso do PROFSAÚDE

O Pesquisador do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, professor Luis Eugenio de Souza, que presidiu a Abrasco de 2012 a 2015, lembrou o documento aprovado em 2014, durante o Seminário de Formação Profissional em Saúde & Ensino da Saúde Coletiva, que aconteceu em Porto Seguro, numa realização da Abrasco, UFSB e ISC-UFBA: – “Na Carta de Porto Seguro, aprovada ao final do Seminário, afirma-se que a expansão do SUS aponta fortemente para a necessidade de adequar a formação de profissionais ao atendimento das necessidades de saúde da população e às demandas dos serviços públicos, de modo a qualificar o aumento da cobertura da atenção básica e enfrentar os desafios da oferta de uma assistência tecnicamente eficaz, humanamente solidária e eticamente acessível e oportuna. Foi, assim, com o objetivo de contribuir para essa adequação da formação de profissionais que a Abrasco assumiu naquela ocasião o enorme desafio de abrigar e coordenar uma rede de 22 instituições de ensino superior de todas as regiões do país, dispostas a oferecer um curso de mestrado profissional em Saúde Coletiva. Nesse sentido, é muito gratificante poder atestar, cinco anos depois, o sucesso dessa iniciativa, vendo a primeira turma se formar, com um total de 180 mestres, e saber ainda que duas outras turmas se encontram em formação. Hoje, em um momento difícil da vida nacional, de ataques violentos a avanços civilizatórios, tão duramente conquistados pelos brasileiros, é um alento ver um novo e aguerrido contingente de médicos, agora mestres em Saúde Coletiva, se juntar aos defensores do SUS e do direito universal à saúde”, pontuou Eugenio.

Carla Pacheco Teixeira, Coordenadora Executiva Nacional, fez agradecimentos a cada envolvido no programa: -“Parabéns cada mestre que não desistiu mesmo diante de uma conjuntura tão desfavorável para o militante da atenção primária e do SUS.” Mas o obrigada especial quase não saiu da voz embargada pela emoção: -“Quero de forma muito especial agradecer à Cristina, pela sua coragem de aceitar o desafio de ser coordenadora acadêmica do PROFSAÚDE e por acreditar em mim.”

A mesa fechou com música: Cristina Guilan contou que “Mesmo não sendo pessoa de briga reclamei muito com quem fez o vídeo da homenagem por causa da trilha sonora. Pois eu queria que todos soubessem, pela música também, do que nós estávamos falando, mas ele me respondia que as músicas possuem direitos autorais e que o correto era utilizar as chamadas trilhas brancas… enfim: não consegui colocar no vídeo a música que queria e por isso  eu a vou cantar aqui:

Isto aqui, ô ô
É um pouquinho de Brasil iá iá
Deste Brasil que canta e é feliz
Feliz, feliz,

É também um pouco de uma raça
Que não tem medo de fumaça ai, ai
E não se entrega não”

Matéria publicada pela ABRASCO – https://www.abrasco.org.br/site/outras-noticias/institucional/formatura-da-1a-turma-do-profsaude/42499/

Artigo em destaque: “O eufemismo das boas práticas ou a prática avançada de enfermagem”

Artigo teórico-reflexivo publicado em junho deste ano discute as práticas da enfermagem na atenção primária e como o enfoque das boas práticas no processo de cuidado e da Prática Baseada em Evidências suporta as discussões sobre a Prática Avançada da Enfermagem.

As autoras Tosso, Padilha e Breda (2019) destacam que levando em conta que existe sobrecarga de trabalho e dificuldade para realizar ações complexas na atenção primária, a implementação de estratégias de boas práticas no cuidado é fundamental. Precisa- se de educação permanente, formação, capacitação, uso de protocolos de cuidado e práticas de enfermagem baseada em evidências.

Sobre a inserção da Prática Avançada em Enfermagem no Brasil as autoras recomendam cautela porque isto afeta não só as práticas dos enfermeiros, mas também as de outras profissões que já têm se manifestado contra.  Além disso, para a implementação da Prática Avançada em Enfermagem recomenda se que o profissional tenha mestrado ou doutorado.

No nível internacional existem propostas para que a Prática Avançada em Enfermagem seja ampliada nos diferentes países. O Reino Unido participa da campanha Nursing Now, que pretende que o enfermeiro desenvolva todo seu potencial para contribuir para a solução de problemas de saúde da população; a OPAS propõe a Prática Avançada em Enfermagem para a região com enfermeiras com formação de mestrado para trabalhar na atenção primária com usuários com doenças agudas leves e crônicas, enfermeira gestora de casos e enfermeira com práticas avançadas em obstetrícia para a tenção das gestantes.

No Brasil, o COFEN e a Universidade de Brasília estão desenvolvendo a pesquisa “Práticas de Enfermagem no Contexto da Atenção Primária à Saúde (APS): Estudo Nacional de Métodos Mistos” que pretende identificar experiências de boas práticas e de práticas avançadas.

As autoras concluem que é necessário juntar o conhecimento produzido nas boas práticas e na prática baseada na evidência para contribuir com a discussão sobre implementação da Prática Avançada de Enfermagem no Brasil. Além disso, também indicam que será necessário melhorar a qualidade da formação em enfermagem, regulamentar o papel da Prática Avançada de Enfermagem e realizar acordos com os órgãos governamentais, os conselhos profissionais e os profissionais, sobre o processo de regulação, a formação e o espaço de atuação na perspectiva da prática avançada.

Por Diana Ruiz e Valentina Martufí – doutorandas que contribuem para a REDE APS

Referências

TOSO, Beatriz Rosana Gonçalves de Oliveira; PADILHA, Maria Itayra; BREDA, Karen Lucas. O eufemismo das boas práticas ou a prática avançada de enfermagem. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro ,  v. 23, n. 3,  e20180385,    2019 .   Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452019000300206&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 12 ago.  2019.

 

Um dia triste: morte de David Sanders

Com imensa tristeza comunicamos a morte de David Sanders (1945-2019), um guerreiro na defesa  do direito universal à saúde, inspirador do Movimento pela Saúde do Povos (People Health Movement https://phmovement.org/ ): perda inestimável para o movimento social global na luta da Saúde para Todos.

David  nos últimos seis anos foi co-coordenador do PHM em nível internacional e organizador de diversas iniciativas da International People’s Health University (IPHU). Foi professor e diretor fundador da Escola de Saúde Pública da Universidade do Cabo Ocidental (UWC), África do Sul,  com enorme experiência em políticas de saúde e desenvolvimento no Zimbábue e na África do Sul, nas áreas de atenção primária à saúde, saúde e nutrição infantil e recursos humanos em saúde, como parte do desenvolvimento de sistemas universais de saúde. Publicou inúmeros artigos, capítulos de livros e três livros.

No espírito da atenção primária à saúde integral da Declaração de Alma Ata, em seu último artigo publicado no Lancet neste mês reitera a importância da APS e  alerta sobre como agências internacionais dão um passo à frente  e dois passos atrás ao subsumir a atenção primária à saúde aos objetivos da cobertura universal e restringir o direito à saúde à cobertura por um seguro diferenciado conforme capacidade de pagamento https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(19)31831-8/fulltext

David sempre nos inspirará por sua coragem e perseverança para a luta pela defesa do direito universal à saúde de todas e todos em todo mundo.