Faça parte da rede aqui!
Fique por dentro das últimas notícias, eventos, debates e publicações científicas mais relevantes.

Arquivo Mensal março 2020

Para evitar o caos – artigo de Gulnar Azevedo e Gastão Wagner

Os presidentes Gulnar Azevedo e Silva e Gastão Wagner de Sousa Campos contribuíram com o debate social sobre a pandemia que assola a humidade, em artigo publicado em 28 de março no jornal O Globo. Eles são enfáticos ao afirmar que o coronavírus vem derrubando paradigmas, hábitos e, infelizmente, vidas. “Temos que colocar a vida humana como totalmente prioritária: à frente de negócios, produtividade, carreiras e interesses financeiros”. Clique aqui e acesse na publicação original, e leia abaixo na íntegra.

Para evitar o caos

O momento é gravíssimo. E o nosso compromisso é com a saúde da população. A nossa luta hoje é para salvar vidas.

O presidente da República, diferentemente de outros chefes de Estado, negou, em cadeia nacional, a gravidade da pandemia da Covid-19 na noite de 24 de março. Em sua fala, desqualificou as evidências científicas e a experiência de outros países de que a melhor estratégia, no momento, é fortalecer as medidas de isolamento domiciliar. Desvalorizou o trabalho incansável de jornalistas nos grandes veículos de comunicação e nas redes sociais, que têm esclarecido e orientado a população sobre a Covid-19 e as medidas preventivas para dirimir a transmissão da infecção. Rebaixou, inclusive, as orientações técnicas que o Ministério da Saúde vinha seguindo, em afinação às recomendações corretas da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A pandemia do novo coronavírus vem derrubando paradigmas, hábitos e, infelizmente, vidas. Temos que colocar a vida humana como totalmente prioritária: à frente de negócios, produtividade, carreiras e interesses financeiros.

Entre epidemiologistas e sanitaristas o debate está em curso sobre o rumo da epidemia no Brasil. As projeções no momento, ainda que em constante reelaboração, indicam que temos pela frente um futuro preocupante.

A recomendação da OMS é de somar, e não de escolher uma ou outra estratégia. Medidas de isolamento domiciliar e distanciamento social são efetivas e, conforme a dinâmica da epidemia, devem ser radicalizadas ou atenuadas.

Ampliar significativamente os gastos com o SUS se coloca mais do que nunca como essencial para aumentar a capacidade de internação em terapia intensiva, contratando profissionais em caráter emergencial, centralizando a regulação de leitos privados pelo SUS e instalando novos hospitais e serviços básicos de atendimento.

Alguns governadores e secretários estaduais estão acertadamente esforçando-se para dar respostas que possam lidar com o aumento da demanda de casos suspeitos, adotando medidas para possibilitar e assegurar o isolamento domiciliar. Merecem, assim, todo o nosso apoio. Contudo, infelizmente, este exemplo não está sendo seguido em todos os estados e municípios do país.

Apelamos para que o Brasil como um todo siga o caminho de valorização da vida. Competentes economistas já indicaram que o impacto negativo na economia será maior com a perda de vidas, o que acontecerá se pessoas se expuserem em trabalhos que não sejam estritamente essenciais, adoecendo e morrendo em maior número. Voltar às ruas agora é o que não deve ser feito.

Vamos precisar da solidariedade de todas e todos os brasileiros e, sobretudo, que o Estado assuma sua responsabilidade e coordene em todo os níveis medidas firmes de controle desta terrível pandemia. Apesar dos grandes avanços científicos e tecnológicos, o que aprendemos até agora é que os únicos remédios eficazes são o isolamento e o atendimento hospitalar adequado e em tempo certo. Estamos falando de evitar mortes e preservar vidas.

* Gulnar Azevedo e Silva é professora do Instituto de Medicina Social da Uerj e atual presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco); Gastão Wagner de Sousa Campos é professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e presidiu a Abrasco entre 2015 e 2018

+ Confira todas o Especial Abrasco Coronavírus – Matérias e Artigos de Opinião e Fontes de Informação Científica e validadas

APS no Serviço Nacional de Saúde inglês: atenção à Covid 19 somente à distância e transporte exclusivo oportuno de casos graves

O protocolo de atenção à epidemia da COVID 19 para o Serviço Nacional de Saúde inglês,  publicado  em 10 de março no BMJ http://bit.ly/BMJcov19recomenda atendimento prioritariamente por telefone com orientações ao isolamento dos pacientes sintomáticos em ambiente domiciliar, a importância do uso de EPI pelos profissionais de saúde e a necessidade de transporte exclusivo e oportuno para pacientes graves.

O documento inglês apresenta como deve ser realizado o isolamento em casa e na chegada de algum caso suspeito ao serviço de saúde. As orientações sobre o isolamento domiciliar, dadas por contato telefônico pela central do Sistema de Saúde inglês são minuciosas. Discorrem sobre o uso do espaço físico pela pessoa em isolamento radical na casa e demais cuidados com circulação de ar, limpeza do ambiente, descarte do lixo e proteção dos outros habitantes da casa. Os cuidados a se ter com contato com o isolado, observação sobre uso de máscaras, objetos pessoais, etc no âmbito domiciliar são explicitados. O mesmo descrito para os ambientes de Unidades de Saúde. 

Como se pode observar também nos diagramas a seguir (original e traduzido), o fluxograma indica a necessidade de condução  com segurança para o hospital dos casos graves com solicitação do transporte por número específico de telefone.

O Grupo de Trabalho de Saúde da População Negra da Sociedade Brasileira de Medicina de Família, em parceria com a Associação de Medicina de Família e Comunidade do Rio de Janeiro (AMFAC-RJ), elaborou um documento com orientações às periferias e comunidades  disponível em https://www.sbmfc.org.br/wp-content/uploads/2020/03/orientac%CC%A7o%CC%83es-para-favelas-e-periferias.pdf),  em linguagem acessível e recomendações que podem ser adotadas por pessoas que vivem em condições sociais e de renda desfavoráveis.

O Grupo de Trabalho de Saúde da População Negra, em parceria com a Associação de Medicina de Família e Comunidade do Rio de Janeiro (AMFaC-RJ) e apoio da SBMFC, lança guia com orientações para prevenção do coronavírus (Covid – 19) para a população das periferias e comunidades.

O material de fácil interpretação traz dicas de como se proteger desde a lavagem das mãos, utilizar transporte público como o mototáxi, por exemplo, higienizar a casa e entreter as crianças na fase de quarentena, de acordo com os recursos disponíveis.

Nem todo brasileiro tem condições de comprar álcool em gel e líquido 70% para fazer a higienização das mãos e do ambiente em que se vive, por isso, orientar a prevenção de acordo com a realidade de cada população, principalmente, as mais vulneráveis, que muitas vezes, não tem condições de isolamento individual em caso de apresentação dos sintomas, é essencial para evitar que a contaminação do Covid-19 se espalha nas comunidades e periferias.

Compartilhe nas redes sociais com a #covid19nasfavelas

O material está disponível no link: https://bit.ly/2U8QpKx

Nota da ABRASCO – Bolsonaro, inimigo da saúde do povo

As entidades de saúde coletiva e da bioética consideram intolerável e irresponsável o “discurso da morte” feito pelo Presidente da República, na noite de 24 de março, em cadeia nacional de rádio e TV.

Nessa manifestação, incoerente e criminosa, o Sr. Jair Bolsonaro, no momento ocupante do principal cargo do Executivo Federal, nega o conjunto de evidências científicas que vem pautando o combate à pandemia da COVID-19 em todo o mundo, desvalorizando o trabalho sério e dedicado de toda uma rede nacional e mundial de cientistas e desenvolvedores de tecnologias em saúde.

Nesse ato, desrespeita o excelente trabalho da imprensa e de numerosas redes de difusão de conhecimento, essenciais para o esclarecimento geral sobre a COVID-19, e desmobiliza a população a dar seguimento às medidas fundamentais de contenção para evitar mortes, medidas estas cruciais encaminhadas com muito esforço pelas autoridades municipais e estaduais, implementadas por técnicos e profissionais do SUS, os quais vêm expondo suas vidas para salvar pessoas. Além disso, Bolsonaro comete o crime de “infração de medida sanitária preventiva”, a ser enquadrado no Art. 268 do Código Penal Brasileiro, ao desrespeitar “determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa”.

Nossas entidades, representativas da comunidade brasileira de sanitaristas, epidemiologistas, planejadores e gestores de saúde, cientistas sociais e outros profissionais da área de saúde pública, vêm a público denunciar os efeitos nocivos das posições do presidente da República sobre a grave situação epidemiológica que estamos vivendo. Seu pronunciamento perverso pode resultar em mais sofrimento e mortes na já tão sofrida população brasileira, particularmente entre os segmentos vulnerabilizados em nosso país.

As instituições da República precisam reagir e parar a irresponsabilidade do ocupante da cadeira de presidente antes que o caos se torne irreversível.

Assinam esta nota as seguintes entidades:

Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO

Centro Brasileiro de Estudos da Saúde – Cebes

Associação Brasileira de Economia da Saúde – ABrES

Associação Brasileira da Rede Unida

Associação Brasileira de Enfermagem – ABEn

Associação Paulista de Saúde Pública – APSP

Sociedade Brasileira de Bioética – SBB

Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares – RNMMP

Associação Brasileira de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora – ABRASTT

Frente Ampla em Defesa da Saúde dos Trabalhadores

Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais – ABRATO

Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social – CNTSS

Federação Nacional dos Psicólogos – FENAPSI

Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde – CNTS

Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro – SinMed-RJ

Movimento Nenhum Serviço de Saúde a Menos

Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia – ABMMD

Associação Brasileira de Nutrição – Asbran

Federação Nacional dos Farmacêuticos – FENAFAR

Associação Brasileira de Educação Médica – ABEM

Conselho Federal de Nutrição – CFN

Conselho Federal de Serviço Social – CFSS

Federação Nacional dos Enfermeiros- FNE

Associação Brasileira de Ensino em Fisioterapia – Abenfisio

Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnicos-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil – Fasubra

A APS no SUS no enfrentamento da pandemia COVID-19

Fortalecimento do SUS

Mais SUS – Mais Estado – Mais Saúde

Revogação imediata da EC 95

Abastecimento e distribuição imediata de insumos e equipamentos para proteção dos profissionais de saúde em todos os serviços de saúde e para os pacientes

Contratação imediata de profissionais de saúde para auxiliar nas atividades assistenciais

Equipar hospitais e UTIs com insumos adequados e capacitação da força de trabalho com orientações de como proceder – organizar fluxos internos de atendimento

Disponibilizar de forma unificada todos os leitos dos serviços públicos e privados para atender os casos mais graves de Covid-19

Proteção econômica imediata de trabalhadores informais e formais para mitigar os efeitos econômicos do isolamento social

Proteção econômica imediata de todos os vulneráveis

Provisão gratuita imediata de produtos para a higiene pessoal das pessoas sem acesso

Investimentos em pesquisa para enfrentar a pandemia

A Rede de Pesquisadores em Atenção Primária à Saúde vem a público neste momento manifestar seu apoio aos gestores e profissionais de saúde que atuam na prevenção e no cuidado dos afligidos pela COVID-19 bem como a toda rede de atenção e cuidado à saúde que compõe o Sistema Único de Saúde.

Vivenciamos atualmente no país a expansão da pandemia da Covid-19 causada pelo coronavírus SARS-CoV-2. Uma situação grave e com muitas incertezas. A Rede de Pesquisas em APS, assim como a Abrasco, considera necessário manter um debate qualificado, difusão de informações com transparência e de orientações adequadas para o controle da Covid-19.

Antes de tudo é necessário manter-se informado em fontes seguras. A UNA-SUS disponibiliza um espaço que congrega informações atualizadas com documentos, protocolos, artigos e notícias. Consulte: https://www.unasus.gov.br/especial/covid19/profissionais .  A OMS, por sua vez, mantém em sua página informações detalhadas sobre a situação mundial  através  do link https://www.who.int/es/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019

O Sistema Único de Saúde, um dos maiores sistemas públicos universais e gratuitos do mundo, com a capilaridade de seus serviços de APS, tem potencialidade para lidar com esta epidemia (Ventura, 2020; Grabois, 2020; Campos 2020). O SUS com sua extensa rede de atenção, vem construindo desde sua criação em 1988 um sistema de vigilância e controle sanitário desenhado para desenvolver ações estratégicas e promover a regulação sanitária das atividades através de ações prevenção, proteção e promoção da saúde. A importância de redes de saúde com Atenção Primária forte e resolutiva é facilmente demonstrável durante processos epidêmicos onde a presença nos territórios pode fazer grande diferença no cuidado à população, na prevenção e no controle da pandemia. É necessário fortalecer a organização em territórios de saúde com o apoio dos agentes comunitários de saúde e de combate a endemias.

No entanto, o SUS encontra-se ameaçado pelas medidas de austeridade implementadas nos últimos anos que somaram ao seu subfinanciamento crônico, um desfinanciamento agudo (Ocké, 2020; Grabois, 2020; Moraes, 2020; Campos, 2020; Ventura, 2020). A Emenda Constitucional 95 que congelou os gastos sociais por 20 anos, já afetou de maneira direta a saúde, ocasionando redução de R$ 20 bilhões dos recursos da saúde no orçamento de 2020 (Ocké, 2020). Além disso, a APS tem sido objeto de fortes ameaças associadas: à implementação da PNAB 2017, à finalização do Programa Mais Médicos que deixou centenas de municípios sem médicos, à abolição dos NASF e às modificações no financiamento, sobretudo no que se refere à capitação (Rede APS, 2019). Seria a APS responsável apenas pela população cadastrada? Essas mudanças afetam a capacidade de resposta da atenção básica, o que pode ser catastrófico neste momento (Moraes, 2020). As redes regionalizadas ainda são frágeis e a atenção hospitalar apresenta problemas de falta de profissionais e baixa remuneração, sucateamento de hospitais e fechamento de leitos, falta de materiais essenciais, equipamentos e adequada manutenção (Campos, 2020; Medronho, 2020). O desfinanciamento tem produzido desabastecimento de insumos e medicamentos essenciais, inclusive vacinas, com imensa sobrecarga dos municípios, em difícil situação financeira.  Além disso, a política econômica do Governo Bolsonaro-Guedes tem afetado todos os determinantes sociais da saúde com piora de indicadores e ressurgimento de outras doenças como dengue, sarampo e febre amarela (Ocké, 2020; Grabois, 2020; Moraes, 2020; Campos, 2020; Medronho, 2020).

A desproteção social e do trabalho promovida desde o golpe de 2016 (Bastos, 2017), e potencializada pelo atual governo aumentou a informalidade e a precarização das relações de trabalho (39 milhões de trabalhadores informais, 12 milhões de desempregados e suas famílias desprotegidos).[1] Tal cenário é agravado pela redução da cobertura do Bolsa Família e cancelamento de benefícios, redução e atraso na concessão de aposentadorias. Estas medidas mostrarão sua face mais perversa e de forma aguda neste momento, em que a situação sanitária exige isolamento social para desacelerar o contágio, reduzir mortes e possibilitar algum tempo para o sistema de saúde preparar-se para a epidemia reduzindo, em alguma medida, o risco de colapso.

Há consenso entre os pesquisadores que no panorama atual para enfrentar a pandemia é necessário fortalecer o Sistema Único de Saúde com ampliação imediata do seu financiamento e transferências ágeis a estados e municípios para o abastecimento de insumos de proteção, contratação de pessoal, equipar hospitais e UTIs. Urge revogar a EC 95. Para Ocké (2020) manter políticas de austeridade na situação atual não só é irracional senão irresponsável. Sugere abertura de um fundo público emergencial de R$ 20 bilhões para fortalecimento do SUS, a proteção da população e para garantia condições dignas de trabalho para os profissionais da saúde.

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), a Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), a Associação Brasileira de Economia de Saúde (ABRES), a Rede Unida, o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES) e Associação Paulista de Saúde Pública (APSP) difundiram nesta semana uma Carta Aberta à Presidência da República, Governadores e Congresso Nacional instando a implementação de medidas sociais e econômicas emergenciais para mitigar a transmissão comunitária da Covid-19 e seus efeitos.  Entre as medidas propostas destacam-se: incentivos fiscais para empregadores para evitar demissões e cortes nos salários; disponibilização de benefícios sociais para os cidadãos com baixa renda; aumento no valor do Bolsa Família; repasses a instituições de abrigo a pessoas em situação de rua com isenção nas taxas e fornecimento gratuito de itens de higiene e alimentos; disponibilização de toda a capacidade instalada dos serviços de saúde na rede pública e privada para o atendimento dos casos graves da Covid-19; custeio de exames e tratamentos pelos planos de saúde para os brasileiros que fazem uso deles; proteção dos profissionais de saúde com a disponibilização permanente de equipamentos de proteção individual, proteção por exaustão e garantia de dispensa das atividades laborais para aqueles que apresentarem quadro de infeção por coronavírus; financiamento adequado e suficiente para o SUS, incluindo a revogação da EC 95; financiamento continuado de pesquisas em todos os campos da saúde, que, neste momento são essenciais para o enfrentamento da pandemia.  Leia a nota em sua integra no link: https://www.abrasco.org.br/site/outras-noticias/notas-oficiais-abrasco/a-pandemia-do-coronavirus-e-o-brasil-carta-aberta-a-presidencia-da-republica-governadores-e-congresso-nacional/45789/

Além de recursos emergenciais substantivos e imediatos, a regulação do mercado de produção e comércio de insumos necessários para mitigar os efeitos da pandemia é imprescindível para que gestores garantam os insumos de proteção dos profissionais e pacientes (óculos ou protetor facial, luvas de procedimento; gorros e aventais, máscaras etc), e os equipamentos como respiradores e medicamentos adequados para prestação de cuidado necessário à população.

O fortalecimento do SUS e a ampliação do seu financiamento é urgente não apenas neste momento para atender ao aumento de casos da Covid-19. Deve ser sustentado após passar a emergência sanitária. O financiamento do SUS deve ser adequado e alcançar investimentos, como recomenda a OPAS, de pelo menos 6% do PIB, em gastos públicos de saúde e destes 30% em APS, para garantir seu funcionamento cotidiano de forma eficiente e com qualidade e estar pronto para responder a novas emergências e às necessidades cotidianas de cuidados em saúde (Grabois, 2020; Ventura, 2020).

Os pesquisadores brasileiros também chamam a atenção sobre a importância da ciência e a educação para o enfrentamento da pandemia e a necessidade de alocar recursos adicionais para participar dos esforços de pesquisa internacionais para resposta efetivas e produção de uma vacina contra o coronavirus (Ocké, 2020). A solução da pandemia está na pesquisa! O Brasil pode contribuir muito, pois conta com um número importante de profissionais da saúde e pesquisadores capacitados (sanitaristas, virologistas, infectologistas e epidemiologistas) formados no sistema público de ensino superior, pós-graduação e pesquisa, hoje sob fortes ataques pelo governo atual e suas políticas ultraneoliberais de  austeridade e redução do Estado (Ventura, 2020), que não cessam mesmo diante do caos provocado pela epidemia.

O enfrentamento desta pandemia depende do fortalecimento do Sistema Único de Saúde em todos os seus componentes de vigilância, cuidado, promoção, prevenção e pesquisa, além do acompanhamento e aprendizado das experiências internacionais, compreendendo  recomendações e medidas de controle.

A OMS recomenda implementar medidas de isolamento social para prevenir a transmissão comunitária generalizada da Covid-19, o crescimento exponencial de casos, retardar os contágios, achatando a curva epidêmica e evitar o colapso dos sistemas de saúde. Recomenda três tipos de medidas efetivas: proteger os profissionais da saúde com equipamentos de proteção individual; identificação dos sintomáticos; realização de testes com resultados rápidos e isolamento;  identificação dos comunicantes e quarentena (WHO, 2020; Moura, 2020).

A Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS/MS) disponibilizou protocolo de manejo clínico da Covid-19 na APS com todas as orientações necessárias para o cuidado de pacientes,  proteção dos profissionais de saúde e medidas para evitar o contágio na UBS, seguindo experiências internacionais, disponível no link  bit.ly/SUScovid19

O protocolo que deve ser estudado com atenção e implementado por todos os profissionais de saúde da APS foi também respaldado pela SBMFC (2020) que recomenda cuidados especiais de proteção aos profissionais.

Países da Europa como Inglaterra e Espanha, com reconhecidos serviços universais de saúde, ratificam a APS como local importante para a detecção e manejo dos casos de doença causados pelo Coronavírus, com protocolos que destacam a importância de reduzir contágios.   

No Reino Unido, o guia para atenção da Covid-19 na APS aconselha evitar que possíveis casos cheguem na consulta presencial nos centros de Atenção Primária (GP Practices) do National Healh Service (NHS). A recomendação é que os pacientes permaneçam em casa e telefonem para um número específico do NHS (111). Na recepção das GP practices, os pacientes são indagados sobre possíveis sintomas associados à Covid-19, viagens a locais de risco ou contato com pessoas com infecção com coronavírus. Se definido como um caso suspeito orienta-se o paciente a voltar para casa e ligar imediatamente para o NHS 111, evitando contágio na unidade. Se na consulta é definido algum caso suspeito recomenda-se isolar a pessoa na sala, fechar a porta, desligar ar condicionado e ligar para o NHS para receber indicações de como trasladar o paciente para a sua casa ou o hospital, segundo o caso. Não se recomenda testagem diagnóstica na APS, o teste pode ser realizado na casa do paciente, no hospital ou unidades receptoras designadas (Razai et al., 2020).

Na Espanha, a guia de atuação para casos de Covid-19 na APS definiu a adequação nos centros de APS de locais específicos para a atenção aos pacientes com suspeita de Covid-19, registro da entrada e saída de todas as pessoas nessa área e as atividades desenvolvidas. Além disso, em locais estratégicos das unidades de APS deve ser disponibilizada informação visual (cartazes) sobre a adequada higiene de mãos e etiqueta respiratória, além da garantia de elementos de proteção individual suficientes e dispensadores de álcool gel. A recomendação é que todos os pacientes com sintomatologia de infecção respiratória recebam uma máscara cirúrgica, sejam indagados sobre viagens a locais de risco ou contato com pessoas que tenham viajado ou tenham sido diagnosticados com coronavírus. Se o paciente cumpre os critérios epidemiológicos e clínicos é levado ao local para casos suspeitos. Os profissionais da saúde pública e os responsáveis pela assistência avaliarão o seguimento do caso no domicílio ou o traslado a um hospital. Nos casos de solicitação de atenção domiciliar pelo paciente, o pessoal sanitário realiza avaliação telefônica dos critérios clínicos de urgência. Se for considerado um caso urgente será trasladado aos serviços de urgência e emergência indicando que é um possível caso de Covid-19. Todo caso suspeito deverá ser notificado às autoridades de Saúde Pública do local (Gobierno de España, Ministerio de Sanidad, 2020)

No Brasil, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério de Saúde publicou no dia 14 de março de 2020 o Boletim Epidemiológico 05 que apresenta indicações para a detecção e o manejo de casos do Covid-19. São contempladas medidas não farmacológicas que visam reduzir a transmissibilidade do vírus na comunidade, as quais podem ser implementadas por estados e municípios a depender do cenário epidemiológico particular e sua capacidade de resposta frente ao COVID-19. Algumas das recomendações gerais para qualquer momento de transmissão são: etiqueta respiratória; isolamento de sintomático (casos suspeitos por até 14 dias); recomendar aos pacientes com sintomas leves acudir às unidades de APS /ESF e não às UPAS e serviços terciários; uso de equipamentos de proteção pessoal para profissionais da saúde, doentes e contatos domiciliares; monitoramento dos contatos próximos e domiciliares; sensibilização da rede de saúde pública e privada para identificação, campanhas de sensibilização da população sobre a etiqueta respiratória e o auto-isolamento dos sintomáticos; redução do trânsito desnecessário em farmácias e unidades de saúde estimulando a prescrição com validade ampliada para medicamentos de uso continuo; disponibilização de locais para lavagem de mãos, álcool em gel, toalhas de papel descartável; e ampliação de frequência de limpeza nas superfícies em locais públicos e privados. Para áreas com transmissão local pode se recomendar a restrição do contato social de idosos e doentes crônicos, uso de fast-track no primeiro contato com o paciente nos serviços de APS/ESF, urgência/emergência ou hospitais, considerando a possibilidade de adiar ou cancelar eventos com aglomeração, dentre outras. Para áreas com transmissão comunitária algumas recomendações são incentivar o trabalho remoto, estimular a adoção de horários de trabalho alternativos para reduzir o fluxo urbano em horários de pico, antecipar férias em instituições de ensino, monitorar diariamente o número de admissões e altas relacionadas à Covid-19 em UTIS (Secretaria de Vigilância em Saúde; Ministério da Saúde, 2020).

A Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro também publicou no dia 16 de março de 2020 uma resolução que visa nortear os serviços de APS e profissionais sobre as ações de prevenção, vigilância, manejo clínico e proteção profissional frente a pandemia de Covid-19. Levando em conta a situação da pandemia no Brasil, e que o Rio de Janeiro já se encontra na fase de transmissão comunitária do vírus, todo caso de Síndrome Gripal ou Síndrome Respiratória Aguda Grave deve ser tratado como possível infeção pelo novo coronavírus. Portanto o diagnóstico etiológico só será realizado em casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave nos hospitais. Os casos de síndrome gripal leves serão manejados na APS (repouso, hidratação, boa alimentação, analgésicos, antitérmicos, isolamento domiciliar por 14 dias desde o início dos sintomas), enquanto os casos graves devem ser encaminhados pelos sistemas de regulação de urgências. Todas as unidades de atenção básica e equipes de saúde de família devem manter uma lista dos casos de Síndrome Gripal e das pessoas com fatores risco (doenças crônicas, infecciosas, transplantados de órgãos, imunossuprimidos, gestantes). No documento também destacam-se as adequações necessárias nas UBS: formação de equipes de resposta rápida para a chegada de casos de Síndrome Gripal; adequação de locais diferenciados para a atuação desses equipes e locais de espera para as pessoas com quadro clínico de Síndrome Gripal; disponibilização permanente dos insumos para proteção individual; implementação de ações para diminuição da aglomeração de pessoas nas UBS (suspensão de atividades coletivas, adiar consultas de retorno ou seguimento a condições crônicas, emitir prescrições com maior validade para medicamentos de uso crônico) (Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, 2020).

Em Florianópolis uma nova ferramenta pode ser muito útil neste momento de pandemia. O “AlôSaúde Floripa” é uma linha telefônica que funciona 24 horas por dia, 7 dias na semana, operada por técnicos de enfermagem e enfermeiros, com o objetivo de orientar os usuários sobre qual serviço procurar, segundo sua necessidade e fluxos definidos para seguir dentro da rede atenção. Para situações de surto, epidemias e pandemias de fácil contágio respiratório, como a Covid-19, é recomendado aos pacientes se comunicar por meio da linha telefônica antes de procurar o atendimento em qualquer serviço de saúde, com objetivo de redução do contágio. Esta ferramenta começou a ser implementada em alguns centros de saúde do município no dia 16 de março e será ampliada progressivamente (Prefeitura de Florianópolis, 2020).

As orientações das autoridades sanitárias brasileiras têm sido pautadas pelo equilíbrio e cuidado, considerando a diversidade territorial e os diferente impactos nas esferas sociais e produtivas que uma situação como essa exige. Mas para além de fortalecer o SUS, é necessário implementar medidas de proteção para as pessoas mais vulneráveis e ampliar transferências financeiras para a população trabalhadora do mercado informal que em situação de isolamento social, muitas das quais sem proteção e sem recursos mínimos para a sua subsistência e de seus familiares.   

Movimentos sociais têm se articulado para exigir proteção aos vulneráveis. O “Fórum permanente sobre população adulta em situação de rua do Rio de Janeiro”, o “Movimento Nacional da População de Rua” e a “Pastoral da População de Rua da Arquidiocese do Rio de Janeiro” divulgaram em 17 de março de 2020 uma nota pública onde propõem ações de proteção para a população em situação de rua como: contratar novas equipes de Consultórios na Rua para garantir os atendimentos sem aglomerações, disponibilizar banheiros químicos em praças para facilitar o acesso à água e à higiene,  oferta de pequenos abrigos e recursos para pagamento de aluguel social, articular com a rede pública e privada para distribuir material informativo, kits de higiene e alimentação, garantir acolhimento institucional para os idosos em situação de rua. Também, chamam a atenção para a necessidade de interromper a redução dos recursos para programas sociais (como o Bolsa Família e o BPC para idosos e pessoas com deficiência), o aumento imediato dos gastos públicos e a revogação da EC95.

Para finalizar alertamos como destacado na carta das entidades de saúde coletiva, a necessidade do uso unificado de leitos de UTI para toda a população. Nossa realidade de profundas desigualdades sociais, que se reflete na saúde da população, com maior prevalência e surgimento precoce de enfermidades crônicas e comorbidades nos grupos populacionais de menor renda, exige a disponibilização de toda a capacidade instalada dos serviços de saúde da rede pública e privada para o atendimento dos casos graves da Covid-19 a fim de evitar que a excessiva letalidade e massacre dos mais pobres.

O enfrentamento desta pandemia depende do fortalecimento do Sistema Único de Saúde em todos os seus componentes de vigilância, cuidado, promoção, prevenção e pesquisa, além do acompanhamento e aprendizado das experiências internacionais, compreendendo  recomendações e medidas de controle.

A despeito das dificuldades de financiamento aos quais tem sido submetido nos últimos anos e que comprometem sua ação plena, a Rede APS reitera, como tem feito cotidianamente, que o SUS é o melhor caminho para minimizar os efeitos desta pandemia!! A defesa e valorização do SUS e do conjunto das políticas sociais a serem garantidas pelo Estado mais uma vez se mostram essenciais para a garantia da vida e da saúde da população brasileira!

O SUS é nosso, nosso SUS

Fortalecimento do SUS

Mais SUS – Mais Estado – Mais Saúde

Revogação imediata da EC 95

Abastecimento e distribuição imediata de insumos e equipamentos para proteção dos profissionais de saúde em todos os serviços de saúde e para os pacientes

Contratação imediata de profissionais de saúde para auxiliar nas atividades assistenciais

Equipar hospitais e UTIs com insumos adequados e capacitação da força de trabalho com orientações de como proceder – organizar fluxos internos de atendimento

Disponibilizar de forma unificada todos os leitos dos serviços públicos e privados para atender os casos mais graves de Covid-19

Proteção econômica imediata de trabalhadores informais e formais para mitigar os efeitos econômicos do isolamento social

Proteção econômica imediata de todos os vulneráveis

Provisão gratuita imediata de produtos para a higiene pessoal das pessoas sem acesso

Investimentos em pesquisa para enfrentar a pandemia

 

Rede de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde da Abrasco

Rio de Janeiro, 23 de março de 2020

Referências

ABRASCO; SBB; ABRES; REDE UNIDA; CEBES; APSP. Carta Aberta à Presidência da República, Governadores e Congresso Nacional. 18 mar 2020. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/outras-noticias/notas-oficiais-abrasco/a-pandemia-do-coronavirus-e-o-brasil-carta-aberta-a-presidencia-da-republica-governadores-e-congresso-nacional/45789/ Acesso em: 18 mar 2020

Bastos, Pedro Paulo Zahluth  Ascensão e Crise do Governo Dilma Rousseff e  o Golpe de 2016: Poder Estrutural, Contradição e Ideologia Economia Contemporânea (2017), Número Especial: p. 1-63

Campos, Gastão. “Governos e MS precisam de bastante agilidade e, para isso, o principal instrumento é o SUS”. [Entrevista concedida à Abrasco] Bruno C. Dias e Pedro Martins. Abrasco, Especial Coronavírus.  12 mar 2020. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/outras-noticias/sistemas-de-saude/governos-e-ms-precisam-de-bastante-agilidade-e-para-isso-o-principal-instrumento-e-o-sus/45638/ Acesso em 17 mar 2020

CNN. Coronavirus: OMS llama a colaborar en “aplanar la curva y dar tiempo para desarrollar vacunas”. 18 mar 2020. Disponível em: https://www.cnnchile.com/coronavirus/oms-coronavirus-pide-aplanar-curva-dar-tiempo-vacuna_20200318/ Acesso em: 18 mar 2020

Fórum permanente sobre população adulta em situação de rua do RJ, o Movimento Nacional da População de Rua e a Pastoral da População de Rua da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Nota pública: População em situação de rua e coronavírus. 17 mar 2020.

Gobierno de España. Ministerio de Sanidad. Documento Técnico. Manejo en atención Primária de pacientes con  COVID-19. Versión de 9 marzo de 2020.

Grabois, Victor. “Enfrentar o coronavírus significa fortalecer o SUS e o trabalho dos profissionais de saúde”. [Entrevista concedida à Abrasco] Bruno C. Dias e Pedro Martins. Abrasco, Especial Coronavírus.  12 mar 2020. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/outras-noticias/enfrentar-ao-coronavirus-significa-fortalecer-o-sus-e-o-trabalho-dos-profissionais-de-saude-abrasco-entrevista-victor-grabois/45630/ Acesso em 17 mar 2020

Johnson C, Sun L, Freedman A. Social distancing could buy U.S. valuable time against coronavirus The Washington Post. 14 mar 2020. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/health/2020/03/10/social-distancing-coronavirus/ Acesso em: 18 mar

Medronho, Roberto. “Governos e MS precisam de bastante agilidade e, para isso, o principal instrumento é o SUS”. [Entrevista concedida à Abrasco] Bruno C. Dias e Pedro Martins. Abrasco, Especial Coronavírus.  12 mar 2020. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/outras-noticias/sistemas-de-saude/governos-e-ms-precisam-de-bastante-agilidade-e-para-isso-o-principal-instrumento-e-o-sus/45638/ Acesso em 17 mar 2020.

Moraes JC. “Governos e MS precisam de bastante agilidade e, para isso, o principal instrumento é o SUS”. [Entrevista concedida à Abrasco] Bruno C. Dias e Pedro Martins. Abrasco, Especial Coronavírus.  12 mar 2020. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/outras-noticias/sistemas-de-saude/governos-e-ms-precisam-de-bastante-agilidade-e-para-isso-o-principal-instrumento-e-o-sus/45638/ Acesso em 17 mar 2020

Moura, Antonio. Sobre a possibilidade de interrupção da epidemia pelo coronavírus (COVID-19) com base nas melhores evidências científicas disponíveis. Abrasco, Especial Coronavírus. 16 mar 2020. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/revistas/revista-brasileira-de-epidemiologia/sobre-a-possibilidade-de-interrupcao-da-epidemia-pelo-coronavirus-covid-19-com-base-nas-melhores-evidencias-cientificas-disponiveis/45734/ Acesso em: 12 mar 2020

Ocké, Carlos. Mudar a política econômica e fortalecer o SUS são medidas corretas para combater coronavírus. Abrasco. 12 mar 2020. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/outras-noticias/saude-da-populacao/mudar-politica-economica-e-fortalecer-o-sus-sao-medidas-corretas-para-combater-coronavirus/45624/ Acesso em: 17 mar 2020

Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Saúde. Resolução SMS de 16 de março de 2020. (Mimeo)

Prefeitura de Florianópolis; Secretaria Municipal de Saúde. Manual AlôSaúde Floripa. Guía para profissionais de saúde. Versão 15 de março de 2020.

Razai MS, Doerholt K, Ladhani S, Oakeshott P.Coronavirus disease 2019 (covid-19): a guide for UK GPs. BMJ 368:m800 5 mar 2020. Disponível em: https://www.bmj.com/content/bmj/368/bmj.m800.full.pdf?__cf_chl_jschl_tk__=9e2277e4bf969e4810f13e0f4487b94410a12ff5-1584568966-0-AQ-ubhqC9JUQRME0I-5jjpdXpmVwWsFhyykucHXe9aizs4TNShouee065d-nlJnzI1fv1hLhrv9VWUdzCuJthJcLMe1eEqbXN1yDgFYlkrxfy9ALJIW99tmxK2P39yCDwuYsWJcue7YYzJxOn8Eq4eVDOCmlA990aVcjFAmjf-1WU-DaUqNT1VBcq7vJqF2wCK5eYX8dIw8srflz6zJRouk51yDTWum0PqCaKgkz141dijI3N0mTaKZd076XHzJW8wPvZCjsp4S_ymrp9RmySeeIcRhs8S8D3y1Z6Be0Yr0cqwwkIGhUL4T2O2rCQsaTHA Acesso em: 18 mar 2020

Rede APS. Contribuição da Rede APS ao debate sobre as recentes mudanças na política de Atenção Primária. João Pessoa, setembro de 2019.  Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/eventos/congresso-brasileiro-de-ciencias-sociais-e-humanas-em-saude/contribuicao-dos-pesquisadores-da-rede-aps-ao-debate-sobre-as-recentes-mudancas-na-politica-de-atencao-Primária/43125/ Acesso em: 18 mar 2020

SBMFC. Como profissionais de saúde devem se proteger do corona vírus (Covid-19). Marco de 2020. Disponível em https://www.sbmfc.org.br/noticias/profissionais-de-saude-e-corona-virus/ Acesso em: 18 mar 2020

Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Protocolo de manejo clínico do coronavírus (Covid-19) na atenção primária à saúde. SAPS/MS: Brasília, março de 2020.  Disponível em: https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/marco/20/20200318-ProtocoloManejo-ver002.pdf Acesso em: 21 mar 2020

Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico 05. Doença pelo Coronavírus 2019. Ampliação da Vigilância, Medidas não Farmacológicas e Descentralização do Diagnóstico Laboratorial. 14 de março de 2020.

Stevens, Harry. Why outbreaks like coronavirus spread exponentially, and how to “flatten the curve”. The Washington Post. 14 mar 2020. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/graphics/2020/world/corona-simulator/ Acesso em: 18 mar 2020

Ventura, Deisy. Especialista fala sobre medidas contra o coronavírus no Brasil e orienta cuidados. [Entrevista concedida a Globonews] 12 de mar de 2020. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/outras-noticias/deisy-ventura-fala-sobre-os-desafios-para-lidar-com-o-coronavirus/45696/ Acesso em: 17 mar 2020

WHO World Health Organization. Report of the WHO China Joint Mission on Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) [Internet]. World Health Organization; 2020 Disponível em: https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/who-china-joint-mission-on-covid-19-final-report.pdf Acesso em 18 mar 2020

 

[1] Dados do IBGE para 2019 e 2020 apontam que o emprego sem carteira e o trabalho autônomo cresceram acima da formalização. A taxa de desemprego no trimestre encerrado em janeiro de 2020 chegou a 11,2%, ou quase 12 milhões de desempregados. A população informal chegou a 38,6 milhões de trabalhadores  em 2019, inseridos no mercado de trabalho sem proteção social (Fonte: IBGE, 2019, 2020).

Doença pelo Coronavírus 2019 – Boletim epidemiológico

Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde classificou a Doença pelo Coronavírus
2019 (COVID-19) como uma pandemia. Isso significa que o vírus está circulando em todos os
continentes e há ocorrência de casos oligossintomáticos, o que dificulta a identificação. Deste
modo, principalmente no hemisfério sul, onde está o Brasil, os países devem se preparar para o
outono/inverno com o objetivo de evitar casos graves e óbitos.

Nos meses de outono (20/03-20/06) e inverno (21/06-20/09), há uma circulação importante dos
vírus respiratórios (à exemplo do influenza), esses vírus causam pneumonias, otites, sinusites e
meningites. Apesar de ocorrer em todas as estações do ano, é nesse período que há maior
frequência dessas doenças, quando as pessoas ficam mais concentradas nos espaços e com
menor ventilação. A doença pelo coronavírus não é diferente, ela também é uma doença
respiratória e todos devem se prevenir. 

Leia boletim epidemiológico publicado pelo MS no dia 14/03 – 2020_03_13_Boletim-Epidemiologico-05

Carteira de serviços da APS: antes e depois da consulta pública

Antes da consulta pública

Em agosto do ano passado a Secretária de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde (SAPS/MS) abriu uma consulta pública para “avaliar, revisar e contribuir” para o desenvolvimento de uma Carteira de Serviços da Atenção Primária à Saúde Brasileira (CaSAPS), uma “lista de serviços básicos” a ser adotada pelas Secretarias Municipais de Saúde nas próprias áreas de abrangência (MS, 2019a). Para esboçar a primeira proposta, a equipe da SAPS inspirou-se nas experiências de algumas capitais brasileiras que já estavam implantando uma Carteira de Serviços da APS (Rio de Janeiro, Florianópolis, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Natal), e a Carteira utilizada na Espanha (MS, 2019b).

Os serviços propostos, totalizando em 207, foram categorizados entre Atenção à Saúde do Adulto/Idoso (61 serviços), Atenção Centrada na Criança e no Adolescente (36 serviços), Procedimentos na APS (52 serviços) e Saúde Bucal (58 serviços) (MS, 2019b).

A consulta pública durou 7 dias, chegando a receber 1.855 contribuições por parte de profissionais de saúde (76%), gestores municipais (7%), usuários do SUS (5%), estudantes (4%), pesquisadores (2%), gestores estaduais (2%), entre outros atores do setor (MS, 2019c). No relato sobre as contribuições recebidas, a SAPS somente apontou para as taxas de aprovação de alguns itens, sem publicar os resultados das contribuições na integra.

Por outro lado, alguns atores da APS, entre os quais o Conselho Nacional de Saúde posicionaram-se contra a proposta (EPSJV/Fiocruz, 2019), e sua validação através da resposta à consulta pública; denunciaram que a mesma não reflete os princípios de equipe multiprofissional e abordagem territorial e comunitária do modelo de Saúde da Família adotado para a APS no Brasil (Rede APS, 2019), e impõe restrições à integralidade do SUS (EPSJV/Fiocruz, 2019). Além disso, também forma criticados a falta do controle social do SUS no processo de elaboração da proposta, e a predominância de um modelo biomédico de atenção à saúde no documento, deixando a prevenção e promoção da saúde invisibilizadas (EPSJV/Fiocruz, 2019).

Em relação ao texto introdutório da Carteira, apontou-se, entre outras coisas, o desaparecimento da especialidade em medicina de família e comunidade, sendo substituída pelo termo médico de família, “sem comunidade”, e a completa ausência dos agentes comunitários de saúde (Rede APS, 2019). Enquanto à lista de serviços em se, criticou-se a desarticulação das ações, listadas em ordem alfabética, e a presencia de um item relacionado à identificação de porte de armas, para nada relacionado ao escopo de trabalho da APS (Rede APS, 2019).

Depois da consulta pública

No dia 18 de dezembro de 2019, a SAPS/MS lançou a CaSAPS finalizada, para que seja utilizada como documento norteador para a atenção à saúde nos municípios, que poderiam aplica-la na sua versão nacional, ou modifica-la para adaptar-se à realidade do município. A SAPS apontou que a Carteira “não pretende ser excludente, portanto, a não menção de um sinal, sintoma, diagnóstico, ação ou cuidado não significa que este não deva ser realizado na APS” (MS, 2019d).

Em relação às mudanças trazidas pela consulta pública, a SAPS apontou que houveram modificações e qualificações em 109 itens listados, além de incluir-se detalhes sobre equipamentos e referências técnicas necessárias para a realização de cada ação (MS, 2019d).

Foram publicadas três versões da carteira: duas para profissionais e gestores da saúde (completa e resumida), e uma para a população (MS, 2019d).

A CaSAPS finalizada, na sua versão completa para profissionais e gestores da saúde, foi um produto conjunto da SAPS/MS com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), a Associação Brasileira de Enfermagem de Família e Comunidade (ABEFACO) e a Associação Brasileira de Odontologia (ABO). O seu objetivo geral é de “descrever, para a população, para os demais níveis do sistema, para os gestores e para os profissionais que atuam na APS, a lista de ações e serviços clínicos e de vigilância em saúde ofertados no âmbito da APS brasileira” (MS, 2019e).

Na Carteira final, os serviços, totalizando 212, foram agrupados com duas categorias a mais do que previamente proposto, sendo estas a “Vigilância em Saúde” (12 serviços) e a “Promoção à Saúde” (10 serviços), conseguindo ampliar a proposta inicial além de somente serviços clínicos, sendo esta uma das críticas trazidas durante a consulta pública (Rede APS, 2019). Além disso, a categoria “Atenção e Cuidados Centrados na Saúde do Adulto e do Idoso” (45 serviços), já presente no rascunho inicial da CaSAPS, na versão finalizada foi dividida em “Atenção à Saúde da Mulher”, “Cuidados e Atenção à Saúde do Idoso” e “Atenção e Cuidados Clínicos em Saúde do Adulto e do Idoso”. As categorias de “Atenção e Cuidados Centrados na Saúde da Criança e do Adolescente” (28 serviços), “Procedimentos na APS” (54 serviços) e “Atenção e Cuidados Relacionados à Saúde Bucal” (63 serviços) mantiveram-se na versão final.

Além da lista de serviços a ser providenciados, esta versão completa para profissionais e gestores de saúde também inclui tabelas adicionais que apresentam descrições do que se espera para cada serviço (mais ou menos detalhadas, a depender do serviço) e/ou os materiais e insumos necessários para sua provisão, e uma seleção de referências para que os profissionais ou gestores possam obter mais informações. 

Comparando a proposta inicial com a finalizada destaca-se que não houve uma grande mudança no número de serviços oferecidos, mas houve uma reorganização e expansão das categorias, além da recomendação do que os serviços listados não excluam a realização de outros. Além disso, o texto introdutório fez um esforço para incluir o termo comunidade junto ao de família, e incluiu uma menção dos agentes comunitário de saúde, em relação à assistência no período do puerpério. Ficou excluído o serviço relacionado ao porte de armas.

A versão resumida para profissionais e gestores de saúde somente excluiu as tabelas sobre os insumos e outros detalhamentos, enquanto a versão para a população apresentou os serviços com linguagem menos técnica, e novamente organizados nas mesmas quatro categorias da proposta inicial. Confira as três versões nos links abaixo.

Por Diana Ruiz e Valentina Martufi – doutorandas que contribuem para a REDE APS

Referências

Ministério da Saúde (MS). MS abre consulta pública para Carteira de Serviços da Atenção Primária

Publicada em: 19.08.2019a     Acesso em: 09.03.2020     Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45687-ms-abre-consulta-publica-para-carteira-de-servicos-da-atencao-primaria

Ministério da Saúde (MS). Carteira de Serviços da Atenção Primária à Saúde Brasileira: Avaliação por Convidados Externos e Consulta Pública

Publicado em: 19.08.2019b   Acesso em: 09.03.2020   Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/carteira_servico_da_APS_consulta_SAPS.pdf

Carteira de Serviços da Atenção Primária recebe 1,8 mil contribuições

Publicada em: 02.09.2019c    Acesso em: 09.03.2020     Disponível em: https://saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45740-carteira-de-servicos-da-atencao-primaria-recebe-1-8-mil-contribuicoes

EPSJV/Fiocruz. Proposta de carteira de serviços da atenção primária divide opiniões

Publicada em: 30.08.2019    Acesso em: 09.03.2020     Disponível em: http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/proposta-de-carteira-de-servicos-da-atencao-primaria-divide-opinioes

Rede APS. Comentários sobre a carteira nacional de serviços para a APS sob consulta – Artigo de Lígia Giovanella e Cassiano Franco

Publicada em: 23.08.2019    Acesso em: 09.03.2020    Disponível em: https://redeaps.org.br/2019/08/23/comentarios-sobre-a-carteira-nacional-de-servicos-para-a-aps-sob-consulta-artigo-de-ligia-giovanella-e-cassiano-franco/

Ministério da Saúde (MS). Ministério da Saúde lança Carteira de Serviços da Atenção Primária à Saúde

Publicada em: 18.12.2019d     Acesso em: 09.03.2020     Disponível em: https://aps.saude.gov.br/noticia/6694

Ministério da Saúde (MS). CaSAPS – Versão Profissionais de Saúde e Gestores – Completa

Publicada em: 18.12.2019e     Acesso em: 09.03.2020     Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/casaps_versao_profissionais_saude_gestores_completa.pdf

Ministério da Saúde (MS). CaSAPS – Versão Profissionais de Saúde e Gestores – Resumida

Publicada em: 18.12.2019f         Acesso em: 09.03.2020     Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/casaps_versao_profissionais_saude_gestores_resumida.pdf

Ministério da Saúde (MS). CaSAPS – Versão População

Publicada em: 18.12.2019g         Acesso em: 09.03.2020     Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/casaps_versao_populacao.pdf

 

 

 

 

Coronavírus no Brasil –“Informação e debate qualificado são essenciais para a avaliação dos riscos e orientação de medidas a serem adotadas”

Abrasco ouviu especialistas e atesta: o principal instrumento frente à pandemia é um SUS forte

Com a elevação à categoria de pandemia, anunciada na quarta-feira, 11 de março, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e o anúncio de 63 novos casos no Brasil, o coronavírus (SARS-CoV-2) chega para ficar no cenário nacional, e com ele, a doença nomeada Covid-19, infecção respiratória de novo tipo, de circulação inédita e global.

Esta condição em que o mundo está assistindo a expansão de uma pandemia em tempo real, além de todas as implicações econômicas, está gerando muita preocupação na população e exige que tenhamos tranquilidade para lidarmos com esta nova situação de saúde. Ciente do seu papel como entidade científica comprometida com os direitos à saúde e à informação, a Abrasco ouviu especialistas associados e parceiros que estão acompanhando e analisando as notícias e os cenários, por entender que informação e debate qualificado são essenciais para a avaliação dos riscos e orientação de medidas a serem adotadas.

Confira esse Especial Abrasco que traz matérias e artigos dos abrasquianos e médicos sanitaristas Gastão Wagner, José Cássio de Moraes, Reinaldo Guimarães e Roberto Medronho, e também dos parceiros Carlos Ocké, economista e vice-presidente da Associação Brasileira de Economia da Saúde (ABrES), e Victor Grabois, médico sanitarista e presidente  da Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (SOBRASP).

Gulnar Azevedo e Silva – Presidente da Abrasco


CONFIRA OS TEXTOS DESTE ESPECIAL

– Coronavírus no Brasil – “Informação e debate qualificado são essenciais para a avaliação dos riscos e orientação de medidas a serem adotadas” – Apresentação de Gulnar Azevedo e Silva

– Matéria “Não teremos como manter esse rastreamento fino quando o coronavírus se espalhar”com José Cássio de Moraes e Roberto Medronho

– Matéria “Governos e MS precisam de bastante agilidade e, para isso, seu principal instrumento é o SUS”, com Gastão Wagner, José Cássio de Moraes e Roberto Medronho

– Artigo O Ministério da Saúde e a pesquisa sobre o Covid-19″, por Reinaldo Guimarães

– Artigo Mudar política econômica e fortalecer o SUS são medidas corretas para combater coronavírus”, por Carlos Ocké

– “Enfrentar ao coronavírus significa fortalecer o SUS e o trabalho dos profissionais de saúde” – Abrasco entrevista Victor Grabois

Produção Especial Abrasco sobre Coronavírus

Entrevistas e edição das matérias: Bruno C. Dias e Pedro Martins
Arte: Hara Flaeschen