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Arquivo Diário 7 de setembro de 2020

A importância do planejamento: a experiência do Ceará no enfrentamento da Covid-19

O Comitê Gestor da Rede APS recebeu no final de junho a Secretária-Executiva de Vigilância e Regulação do Estado do Ceará, Magda Almeida, que relatou a experiência do Ceará durante a crise sanitária que vem sacudindo o país desde o começo do ano. Magda Almeida é integrante da Comitê.

O que se destaca nesta experiência é a antecedência com a qual o estado preparou-se para enfrentar a pandemia, começando por desenhar o plano de contingência quando ainda não havia casos. Este planejamento preventivo comportou a elaboração de uma variedade de estratégias, organizadas em três fases de resposta: Fase 1 – Alerta; Fase 2 – Perigo Iminente; e Fase 3 – Emergência em Saúde Pública.

A Fase 1 teve como enfoque o controle da importação de casos – oriundos principalmente do exterior e do estado de São Paulo –, e o diagnóstico precoce. Para este fim, articularam-se atividades multissetoriais de prevenção e controle, criaram-se canais de comunicação rápidos e definiram-se pontos focais de ação. Em preparação à chegada do vírus, tomou-se ciência da capacidade instalada de atendimento, com ênfase nos leitos, material médico-hospitalar, insumos e medicamentos necessários para atender casos de Síndrome Gripal e Síndrome Respiratória Aguda Grave, concomitante a qualificação dos profissionais da atenção secundária e terciária em biossegurança, diagnóstico, coleta de RT-PCR, e armazenamento e envio de amostras.

Na Fase 2 mantiveram-se os esforços para realizar diagnósticos precoces, adicionando atividades direcionadas ao controle das fontes de infecção e bloqueio da transmissão, para evitar a disseminação do vírus. Isolaram-se tanto os casos confirmados quanto os suspeitos, e realizou-se identificação de contatos, incluindo o rastreamento de contatos íntimos dos casos confirmados, testando e isolando todos os indivíduos identificados. Para fortalecer as atividades de controle da pandemia, ativou-se também o time de epidemiologistas de campo para a investigação de surtos. Em termos de preparação para o atendimento, durante esta fase começou-se a treinar os profissionais de atenção primária à saúde, alocaram-se equipamentos e suprimentos médicos, e realizou-se a aquisição de respiradores e implantação de leitos hospitalares, inclusive com requisição de estabelecimentos inativados da iniciativa privada para garantir o tratamento de todos os casos que aparecessem. Paralelamente houve esforços para fortalecer a comunicação com os serviços de saúde, e a ampliação de atividades de educação em saúde.

A Fase 3 foi planejada para reduzir a intensidade da epidemia, e controlar o aumento de óbitos. Graças ao minucioso trabalho de preparação comportado pelas primeiras duas fases, esta última fase comportou principalmente ajustes, tanto no âmbito médico quanto no social. Primeiramente, cancelaram-se todos os eventos de massa, e realizaram-se inciativas para reduzir a movimentação de pessoas, e manter o fornecimento e preço de mercadorias estáveis, para garantir o bom funcionamento da sociedade através das parcerias com o Ministério Público. Por outro lado, criaram-se Postos Médicos Avançados (PMA) e hospitais de campanha nas várias regiões de saúde, ajustaram-se os protocolos clínicos e de testes diagnósticos, e adquiriram-se os fármacos indicados nas atualizações de tratamento.

Em relação à criação de hospitais de campanha, a Secretária-Executiva Magda Almeida realçou que, para amenizar o problema de não saber por quanto tempo seriam necessários, as autoridades optaram por investir em hospitais que seguiriam funcionando depois da pandemia.

Para fortalecer a comunicação, bidirecional, com a população, adicionou-se a toda página do governo um Chat Bot automático, denominado Plantão Coronavírus, destinado à identificação e classificação de casos através de sintomas auto-relatados. Criou-se também um site especializado sobre o Coronavírus (https://coronavirus.ceara.gov.br/) com várias ferramentas, incluindo um boletim semanal sobre a situação epidemiológica, tanto para cidadãos quanto para profissionais de saúde. Por outro lado, promoveu-se o portal de transparência da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, a Plataforma IntegraSUS, um sistema que cruza vários bancos de dados, e que agora disponibiliza a visualização de uma ampla variedade de indicadores relacionados à Covid-19, e é acompanhada todos os dias pela população através das transmissões da TV Globo local. Membros do Comitê Gestor recomendaram que a experiência de comunicação com a população do Ceará deve inspirar outros estados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em relação às dificuldades enfrentadas durante este percurso, a Secretária-Executiva Almeida ressaltou três pontos de resistência encontrados:

Testagem: os testes mais recomendados para controlar de maneira efetiva a pandemia são os RT-PCR, embora fossem menos acessíveis, além de muito demorado na obtenção de resultados. Portanto, os municípios têm adotado prevalentemente os testes rápidos, e resistido às recomendações da Secretaria de Saúde de priorizar os testes de biologia molecular. A ampliação da capacidade de testar se deu pela articulação entre outras instituições da rede estadual como o Hemocentro, associação com laboratórios de universidades (UNIFOR e NPDM) e ainda um edital de chamamento público, com contratação de laboratório privado local agregado que possibilitou suprir as fragilidades da capacidade laboratorial.

Agentes Comunitários de Saúde (ACS): como em vários outros relatos, no Ceará encontrou-se também um bom nível de resistência por parte dos ACS que estavam com medo de ignorar as indicações para a população quanto a não sair de casa. A Secretaria-Executiva Almeida explicou que hoje em dia, predominantemente, estes profissionais têm mais de 60 anos, estão prestes a se aposentar – sendo que no Ceará eles têm carreira de estado –, e têm dificuldades com a tecnologia. Este profissional é fundamental para realizar a vigilância nas comunidades, para manter sua atuação a Secretaria teve que emitir um comunicado oficial para explicar aos ACS que podiam sair de casa para a realização de atividades de trabalho.  Além disso, pensa-se em redefinir as funções dos ACS no Ceará, e ir a campo para formar estes profissionais.

Rastreamento de contatos: a Secretaria-Executiva Almeida apontou para as dificuldades encontradas no processo de rastreamento de contatos dos casos suspeitos e confirmados, porque os cidadãos resistiram aos pedidos de informações pessoais realizados por telefone ou pela internet pelas autoridades. Até alguns municípios se recusaram realizar rastreamento de contatos através das equipes de atenção primária, pela resistência dos ACS.

A ausência de uma política de saúde integral no CE deixou os municípios trabalharem isoladamente o que se reflete em experiências diferenciadas.

Ao final do relato de experiência discutiu-se que em face da manutenção dessas necessidades sentidas e de sua possível manutenção nos próximos meses deve-se dar ênfase ao fortalecimento da vigilância e da testagem, às medidas para facilitar o trabalho dos ACS que assegurem ao mesmo tempo a segurança destes, e de todos os profissionais envolvidos no enfrentamento da pandemia.  A vinculação da APS à política de e na crise é importante para reduzir o afastamento da população, a continuidade do cuidado e a incorporação de tecnológica pelos médicos de família para o tele atendimento, interconsulta, monitoramento e articulação com as especialidades via central de regulação.