Artigo publicado na revista Plos Medicine no dia 30 outubro de 2020 apresenta um estudo de coorte realizado na cidade de Rio de Janeiro que aponta que a expansão da ESF a partir de 2008 na cidade está associada com reduções no risco de morte em populações urbanas pobres.
O estudo de coorte foi realizado com 1,2 milhões de adultos (15-84 anos) de baixa renda, registrados na base de dados do Cadastro Único no período 1 janeiro 2010 a 31 dezembro 2014 residentes na cidade de Rio de Janeiro, Brasil. Os registros do Cadastro Único foram vinculados com os cadastros da Estratégia de Saúde da Família (data de cadastro e utilização); registros de mortalidade 2010-2016 (data e causa de morte) e registros públicos de internações hospitalares. Foi estimado o tempo transcorrido até a morte por todas as causas e por causas especificas definidas, para usuários e não usuários da ESF.
Na coorte 67% (827.250 pessoas) recebiam Bolsa Família e 37,6% (467.155 pessoas) utilizavam os serviços da ESF. Foram analisados 34.091 óbitos: 8.765 (26%) por doenças cardiovasculares; 5.777 (17%) por neoplasias; 5.683 (17%) por causas externas; 3.152 (9%) por doenças respiratórias; e 3.115 (9%) por doenças infecciosas e parasitárias.
Na análise de sobrevivência encontrou-se que em média um usuário da ESF teve um risco 44% menor de mortalidade por todas as causas e uma redução de risco de morte em 5 anos de 8,3 por 1.000 (IC 95% 7,8–8,9, p <0,001) em comparação com um não usuário da ESF. Encontraram-se maiores reduções no risco de morte em usuários da ESF negros ou pardos em comparação com brancos. Também, observaram-se maiores reduções no risco de morte em usuários da ESF com nível de escolaridade mais baixo. Indivíduos em domicílios que recebem o Bolsa Família, também tiveram maiores reduções no risco de morte associadas ao uso da ESF em comparação com famílias não beneficiarias.
Os autores concluíram que a expansão da ESF na cidade do Rio de Janeiro desde 2008 pode estar associada a melhorias importantes na saúde e na redução das desigualdades em saúde nas populações urbanas pobres. Segundo os autores: “o estudo indica que a expansão da ESF no Rio de Janeiro foi associada a reduções substanciais no risco de morte em populações urbanas pobres. Aqueles com menor escolaridade, em domicílios beneficiários do Bolsa Família, ou que eram negros ou pardos tiveram maior redução relativa e absoluta no risco de morte, com evidências de que a ESF reduziu desigualdades sociais na mortalidade. A diminuição na mortalidade associada à utilização da APS foi maior entre aqueles que usam os serviços com mais frequência e por períodos mais longos, aumentando a plausibilidade dos achados.” (Hone et al, 2020:20).
Hone T, Saraceni V, Medina Coeli C, Trajman A, Rasella D, Millett C, et al. (2020) Primary healthcare expansion and mortality in Brazil’s urban poor: A cohort analysis of 1.2 million adults. PLoS Med 17(10): e1003357. https://doi. org/10.1371/journal.pmed.1003357
Acesse o artigo na integra no link a seguir https://journals.plos.org/plosmedicine/article?id=10.1371/journal.pmed.1003357
https://journals.plos.org/plosmedicine/article/file?id=10.1371/journal.pmed.1003357&type=printable
Por Diana Ruiz doutoranda ISC/UFBA que contribui para a REDE APS.