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Arquivo Mensal dezembro 2020

Em 2020, Covid-19 colocou o tema da saúde no topo do mundo. No Brasil, desde março, diariamente governantes, políticos, juízes, cientistas, gestores, profissionais de saúde e a quase totalidade da população discutem a pandemia e as estratégias para seu enfrentamento. A transformação na vida do planeta encontrou nosso país em um contexto político e social adverso. No governo federal as teses “negacionistas” da pandemia e os interesses privatistas fragilizaram a resposta do país, que alcança quase 200 mil mortes e oito milhões de casos confirmados. Nossa situação só não é mais desesperadora graças ao Sistema Único de Saúde (SUS), amplamente reconhecido no debate nacional da pandemia, passados 32 anos de sua fundação.

A inexistência de tratamento eficaz e vacina contra o novo vírus colocou ênfase na prevenção e destacou a relevância da APS na resposta dos serviços de saúde, para além do necessário debate sobre leitos de UTI, respiradores e hospitais de campanha. A relativa estabilidade na APS anterior à pandemia foi bruscamente interrompida e alterou a rotina de milhares de UBS e equipes da ESF em todo o país. No curso da pandemia, profissionais de saúde e ACS foram afastados do trabalho, por razões da doença e de segurança. A retomada das múltiplas ações de saúde exigiu adaptação, transformação e reinvenção por parte de gestores, profissionais e usuários da rede básica de saúde.

As dificuldades e a desorganização do governo federal para coordenar as ações do SUS mobilizou a interação e as iniciativas de equipes da APS, fortalecendo ações e a comunicação com gestores locais do SUS, profissionais de outros pontos de atendimento da rede de saúde e também com a população e as organizações comunitárias. Frente à inação e contradições do Ministério da Saúde, a APS mostrou enorme potencial, com reconhecimento de sua capacidade de resposta aos desafios da pandemia. O legado da pandemia para o futuro da APS está fundamentalmente ligado às transformações ocorridas no processo de trabalho cotidiano das UBS do país. A organização do cuidado por equipes da ESF inova-se ao redefinir a magnitude do uso presencial das ações ofertadas em UBS e clínicas da família, mas também ao separar fluxos de pessoas com queixas respiratórias. Boa parte da população dos territórios de abrangência da ESF pode ser vantajosamente acolhida, atendida, monitorada e orientada por meio de tecnologias de informação e comunicação em saúde. A internet e a infraestrutura eletrônica impulsionaram o uso de painéis epidemiológicos e individuais para orientar as ações e acompanhar seus usuários.

Estes processos foram identificados, analisados e detalhadamente registrado nas atividades da Rede de Pesquisa em APS da Abrasco, que também viveu um ano de marcantes transformações. Ao longo de uma década nos acostumamos a realizar, todos os anos, algumas reuniões presenciais do Comitê Gestor, principalmente em eventos da Abrasco e da saúde coletiva. Em seminários e oficinas de trabalho abertas ao público construímos uma extensa rede de cooperação em pesquisa, com especial ênfase na aplicação às necessidades cotidianas de gestores e profissionais de saúde da APS. Com a pandemia de Covid-19 tudo mudou. A interrupção de atividades presenciais e eventos juntamente com o isolamento social aumentou a conexão dos membros do Comitê Gestor e fortaleceu os laços com de parceria e cooperação com a Abrasco e as demais entidades e instituições que constituem a Rede. Neste ano comemoramos a inclusão de Ilda Correia, presidente da Confederação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde (CONACS), no Comitê Gestor da Rede. As reuniões do Comitê tornaram-se semanais no início da pandemia e depois quinzenais e mensais. Além dos debates internos, a nova rotina da Rede incluiu a realização de excelentes seminários, simpósios e relatos de experiências nacionais e internacionais sobre os desafios e rumos da APS e o enfrentamento da COVID-19.

Todas as atividades foram registradas na página da Rede na Internet (https://redeaps.org.br) em boletins, notícias e vídeos, mas também em artigos publicados na APS em Revista, o periódico eletrônico da Rede (https://apsemrevista.org/aps). Neste ano superamos a marca de 10.000 cadastrados na Rede e realizamos 25 reuniões do Comitê, colóquios na Ágora da Abrasco e seminários nacionais com a participação de convidados da academia, dos serviços de saúde e também da presidência da Abrasco e colegas das entidades e instituições parceiras. Em 16 de abril de 2020, no 1º. Seminário Virtual da Rede sobre os “Desafios da APS no SUS no enfrentamento da Covid-19” buscamos identificar novos problemas que se somavam aos desafios históricos da área. Em 4 de agosto, no segundo Colóquio na Ágora da Abrasco apresentamos e debatemos diversas evidências sobre “Como a APS está enfrentando a pandemia de Covid-19 no Brasil?”. Fruto da pesquisa nacional online, coordenada pela Rede, com 2.566 participantes (1.908 profissionais de saúde e 658 gestores) de 1000 municípios de todos os estados e do DF, com o objetivo de identificar os principais desafios e as estratégias de reorganização da APS utilizadas no enfrentamento da Covid-19 nos municípios brasileiros.

O estudo foi realizado em tempo recorde, com a divulgação dos primeiros resultados menos de três meses após a aprovação do Comitê de Ética da Faculdade de Medicina da USP. Além de um minucioso relatório da pesquisa nacional foram elaborados mais quatro relatórios, com resultados dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia, em função do maior número de participantes destas UF e do interesse de gestores nas informações estaduais. A pesquisa reforça a urgência de investimentos em infraestrutura, organização dos serviços e educação permanente na AB, para melhorar a resposta do país à pandemia, tanto na prevenção e medidas de higiene, incluindo a vacinação, quanto de cuidados e reabilitação de usuários com condições agudas (Covid-19 e outras) e crônicas (sequelas de Covid-19 e outros problemas).

Nesse intervalo, em reuniões do Comitê e seminários nacionais continuamos a divulgar experiências de fortalecimento da APS para o enfrentamento da Covid-19. A comunicação por internet permitiu a cada participante viajar de Sobral a Florianópolis, de BH e de Brasília ao Rio de Janeiro, de Porto Alegre a João Pessoa, do Complexo do Alemão aos bairros de Milão, Madri e do Porto, de UBS a Clínicas da Família e hospitais de referência para conhecer, com o auxílio de dezenas de profissionais de saúde, gestores, lideranças comunitárias e da sociedade civil, as iniciativas de enfrentamento da Covid-19.

Apesar da ênfase na pandemia, em 14 de outubro, na Ágora da Abrasco, retomamos o debate sobre um ponto central da agenda histórica da APS. Discutimos os “Impactos do novo financiamento da APS no SUS”, com a apresentação de estudo realizado por técnicos do Cosems RJ (José Luiz Paiva e colegas) que situa o Previne Brasil como grave ameaça de prejuízo financeiro aos grandes municípios. Apesar das denúncias e das propostas de revogação, a atual política federal da APS continua com o ataque aos pilares históricos do SUS na ESF e a perspectiva de privatização e ampla terceirização da APS. A agenda histórica ainda ganhou destaque em nosso último grande evento do ano, o 3º Seminário 2020 da Rede sobre “Eficiência da Atenção Primária – Uma Agenda de Debates” realizado em 15 de dezembro do corrente ano.

Mas nossas atividades também ampliaram o espectro de mídias e canais de comunicação com membros da Rede e pessoas com interesse na APS ao incluir a produção de mais de uma dezena de vídeos, que de maneira simples e objetiva apoiam a formação de facilitadores para educação permanente de ACS no enfrentamento da Covid-19, em parceria com Conass e Conasems. No campo da divulgação científica publicamos quatro números regulares da nossa “APS em Revista” e mais dois números especiais com ensaios, relatos de experiência, estudos e posicionamentos da Rede sobre a pandemia e a APS. Participamos ainda da Marcha pela Vida e da Campanha “O Brasil precisa do SUS”, movimentos virtuais que mobilizaram a sociedade para os grandes dilemas da pandemia que estão longe de serem plenamente solucionados. É preciso registrar que todas as atividades foram realizadas sem financiamento e com uma dose extra de dedicação e solidariedade de todos os membros do Comitê Gestor e da secretaria executiva da Rede, a quem dedicamos nosso aplauso e gratidão.

Para 2021, nosso propósito é continuar com as reuniões periódicas online e buscar apoio financeiro para fortalecer o intercâmbio no âmbito da APS no Brasil e no exterior, em especial na América Latina, frente às demandas de vacinação e controle da pandemia. Em plena segunda onda de transmissão do novo coronavírus, de suas mutações e em meio aos debates sobre vacinas e planos vacinais contra a Covid-19 é preciso reconhecer, 2020 foi um ano de tirar o fôlego, refazer o presente e projetar o futuro.

2020 foi um ano muito difícil de crise sanitária e humanitária. De dentro da janela vimos o tempo passar. Estivemos juntos virtualmente com muitas trocas, pesquisando, ensinando, produzindo informação, resistindo.

Desejamos a tod@s um 2021 com muita saúde e esperança em novos tempos com saúde, trabalho, cooperação, solidariedade e ação na defesa da vida, da APS e do SUS público universal de qualidade.

Relatório das atividades da Rede em 2021

 

 

 

 

 

 

 

 

Um Natal Feliz e muita saúde em 2021

2020 foi um ano muito difícil de crise sanitária e humanitária.

De dentro da janela vimos o tempo passar. Estivemos juntos virtualmente com muitas trocas, pesquisando, ensinando, produzindo informação, resistindo.

Desejamos a tod@s um Natal com amor e um 2021 com esperança em novos tempos com saúde, trabalho, cooperação, solidariedade e ação na defesa da vida, da APS e do SUS público universal de qualidade.

Segundo Boletim de resultados da pesquisa “Monitoramento da Saúde e contribuições ao processo de trabalho e à formação profissional dos ACSs em tempos de Covid-19”

A pesquisa “Monitoramento da Saúde e contribuições ao processo de trabalho e à formação profissional dos Agentes Comunitários de Saúde em tempos de Covid-19” realizada por professores e pesquisadores da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz); do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz); da Fiocruz Ceará; e da Cooperação Social da Fiocruz, e financiada pelo Programa de Políticas Públicas, Modelos de Atenção e Gestão de Sistema e Serviços de Saúde – Fiocruz/VPPCB/PMA, tem como produto a organização de boletins bimensais.

A pesquisa tem como objetivo principal analisar os impactos da Covid-19 na saúde dos ACS, as condições de trabalho e de formação profissional ofertadas a estes no momento de pandemia em três capitais do país com elevado número de casos e alta densidade demográfica – São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Fortaleza (CE); além de outras 3 cidades que integram as regiões metropolitanas das respectivas capitais – Guarulhos (SP), São Gonçalo (RJ) e Maracanaú (CE).

Trata-se de um estudo quantitativo, transversal, realizado com ACS dos municípios enunciados. A seleção da amostra foi por conveniência, através de uma amostragem não probabilística. O instrumento de pesquisa é um formulário digital, auto instrucional, com predomínio de perguntas fechadas organizadas em quatro eixos: perfil; acesso a equipamentos de proteção individual em tempos de Covid-19; condições de saúde do ACS frente à pandemia; e formação profissional do ACS para atuação nesta conjuntura.

Para acompanhar as condições de saúde, trabalho e formação dos ACS em diferentes momentos, previu-se aplicar o formulário 3 vezes durante este ano, com intervalo de dois meses. Em agosto deste ano foi publicado o Primeiro boletim de resultados da pesquisa que aborda essas condições dos ACS durante o período inicial de enfrentamento à pandemia (meses de abril e maio). Recentemente foi publicado o Segundo Boletim que apresenta os resultados da segunda fase da pesquisa que faz referência às condições informadas pelos ACS nos meses de junho e julho.

Na segunda rodada de aplicação do instrumento responderam 884 ACS (184 em São Paulo, 55 em Guarulhos, 269 no Rio de Janeiro, 89 em São Gonçalo, 194 em Fortaleza, 93 em Maracanaú). A maioria dos participantes foram mulheres 93,2% (824), a maioria sindicalizada 75,6% (669), metade dos ACS, 50% (442), declarou-se parda, 19,8% (175) preta e 29,3% (259) branca.

Com relação ao acesso a equipamentos de proteção individual 86,1% (761) dos participantes nesta rodada da pesquisa afirmaram que a UBS fornece EPIs para os profissionais de saúde; 10,4% (92) afirmaram que houve fornecimento de EPIs aos profissionais, mas não especificamente para os ACS; e 3,5% referiram que a UBS não forneceu EPIs aos profissionais.  Dentre os ACS cujas UBS forneceram EPI, 62% referiram se sentir inseguros em relação ao equipamento.

No que se refere ao processo de trabalho do ACS em tempos de Covid-19 a pesquisa apontou que 83,3% (736) dos ACS que participaram da segunda fase da pesquisa durante os meses de junho e julho continuaram realizando visitas domiciliares: 47,9% (423) relataram que houve redução das visitas no período; 24,9% (220) referiram que não houve mudança; e 10,5% (93) indicaram aumento das visitas. 16,7% (148) dos ACS participantes desta etapa da pesquisa relataram suspensão das visitas.

Por outro lado, destacou-se que 80,8% (714) dos ACS que participaram na pesquisa mencionaram ter realizado busca ativa de pessoas com maior risco para Covid-19 nos meses de junho e julho. 40,6% (359) dos ACS indicaram que essa atividade era realizada tanto de forma presencial quanto remota (através de telefone ou outros meios de comunicação); 29,8% (263) mencionaram realizar busca ativa somente presencial; e 10,4% (92) indicaram realizar a busca apenas de maneira remota. 19,2% (170) dos ACS relataram não ter feito busca ativa no período em análise.

O estudo levantou a presença de sintomas associados à Covid-19 (perda de olfato e paladar, febre e dificuldade para respirar) junto aos ACS. 40,6% (359) dos 884 ACS participantes da pesquisa referiram ter apresentado sinal ou sintoma associado à Covid-19 nos meses de junho e julho e 59,4% (525) informaram não ter apresentado. Entre todos os ACS participantes 32,1% (284) indicaram ter apresentado pelo menos um desses sintomas ou signos nos meses de junho e julho. Desses 284 ACS 77,8% (221) informaram que estiveram afastados do trabalho em algum momento (durante junho e julho), porém 22,2% (63) relataram que permaneceram trabalhando.

Além disso, do total de ACS participantes nesta fase da pesquisa (884), 69,6% (615) tiveram acesso ao teste para detecção da Covid-19 nos meses de junho e julho e 30,4% (269) não tiveram acesso. Desses 615 ACS que foram testados no período de estudo desta fase da pesquisa, 26,6% (164) foram positivos e 72,5% foram negativos. Entre os ACS que referiram ter apresentado ao menos um sinal e sintoma associado à Covid-19 e tiveram acesso ao teste, 54,7% (128) testaram positivo para Covid-19. Chama a atenção que entre esses 128 ACS 87,2% (112) estiveram afastados do trabalho em algum momento entre os meses de junho e julho, no entanto, 12,8% não foram afastados ainda que sendo positivos para a doença.

No referente às vivencias de perdas sentidas pelos ACS, a pesquisa apontou que dos 884 ACS participantes nesta fase da pesquisa, 60,9% (538) experimentaram (durante junho e julho) a morte por Covid-19 de pessoas com as quais tinham algum vínculo. Além disso, 80,8% dos ACS (714) relataram sofrimento relacionado ao contexto da Covid-19 no período: 63% (557) dos ACS indicaram sentir ansiedade, 60,6% (536) angústia e 48,8% (432) insônia.

Com relação à formação do ACS para a atuação na pandemia, 54,8% (484) dos ACS participantes nesta fase da pesquisa mencionaram que a UBS ou secretaria de saúde não proporcionou formação ou treinamento sobre a Covid-19; 28,7% informaram ter recebido formação insuficiente, e somente 20,5% disseram ter recebido uma boa formação, durante junho e julho.

Para as pesquisadoras que integram a equipe do estudo os dados apontados nesta segunda fase da pesquisa demonstram que os ACS estão expostos a riscos que podem ser reduzidos através de medidas de proteção, acesso adequado a EPI e testes, boa formação sobre a Covid-19, acompanhamento e suporte de saúde mental dentre outros. Por outro lado, o processo de trabalho dos ACS tem sofrido alterações como a incorporação de outras atividades e o uso mais intensivo de ferramentas para comunicação remota.

Acesse o primeiro e segundo boletim da pesquisa no link a seguir https://acscovid19.fiocruz.br/

 Por Diana Ruiz– doutoranda que contribui para a REDE APS

Frente pela Vida convoca sociedade para campanha nacional pela valorização do SUS

Diante do espantoso número de mais de 170 mil mortes oficiais decorrentes da Covid-19 e dos inúmeros ataques que o Sistema Único de Saúde (SUS) vem sofrendo, as entidades da Frente Pela Vida lançam a campanha O Brasil precisa do SUS, com a presença de representantes das entidades da sociedade civil, da saúde; ciência, tecnologia & inovação; comunicação; educação; políticas públicas, entre outras áreas. Será na terça-feira, dia 15, às 14 horas, com transmissão pelo YouTube no canal da Abrasco e de diversas entidades.

Assista, transmita e compartilhe – 15/12, às 14 horas, na TV Abrasco:

 

O objetivo da campanha é mobilizar a sociedade para a importância da defesa do SUS e dos riscos que ele está correndo. O SUS é base essencial para a saúde e o bem-estar da população e, mesmo em um contexto de desmonte e desfinanciamento, tem dado a resposta necessária nesta pandemia, segundo a Frente Pela Vida. Se não fosse ele, o enfrentamento da crise sanitária seria muito mais difícil. O SUS salvou a vida de milhões de pessoas e poderá salvar ainda mais com estrutura e financiamento adequado.

Os sucessivos ataques ao SUS têm se intensificado, como a recente publicação do decreto nº 10.530 que teve a intenção de privatizar as Unidades Básicas de Saúde (UBS) de todo o Brasil. Além disso, diversas medidas governamentais vêm promovendo o desfinanciamento do Sistema, agravando a situação para 2021, colocando em risco a capacidade de atender à demanda reprimida no pós pandemia.

Em mais uma ação de politização das ações de resposta à pandemia, o governo federal apresenta um plano de vacinação contra a Covid-19 incompleto e com ações insuficientes. A população brasileira não pode ficar à mercê de disputas políticas. O Ministério da Saúde precisa assegurar que a população tenha acesso às vacinas aprovadas pela Anvisa e organizar uma campanha transparente, de comunicação direta e em âmbito nacional. #Vacina para todas e todos

Carta ao Povo Brasileiro

No último 25 de novembro a Frente Pela Vida publicou uma carta, criticando a negligência do governo federal diante da pandemia de Covid-19. Uma das principais reivindicações é a recuperação do orçamento do SUS, que segue em desfinanciamento constante, e um plano de vacinação para a Covid-19, que ainda não existe no Brasil.

O documento menciona que “o presidente da república incentivou aglomerações, desarticulou medidas de proteção de populações vulneráveis, como os povos indígenas. Não existe plano para a futura vacinação, o que gera ansiedade e insegurança na população”. Num outro trecho, há a reafirmação das ações de Atenção Primária como fundamentais nesse contexto, que requer o financiamento adequado para a Saúde Pública.

Leia a carta na íntegra

Petição pública

A campanha também vai reforçar a petição do Conselho Nacional de Saúde (CNS) O SUS merece mais em 2021. O objetivo é sensibilizar deputados e senadores para que seja aprovada a continuidade do orçamento no próximo ano. O abaixo-assinado já conta com mais de 560 mil assinaturas. 

O SUS precisará lidar com o contexto de pós-pandemia, com demandas reprimidas de 2020 decorrente do adiamento de cirurgias eletivas e exames de maior complexidade, bem como das consequências da interrupção do tratamento de doenças crônicas que estão sendo noticiadas. A petição também pede a revogação da Emenda Constitucional 95/2016, que congelou os investimentos em saúde e demais áreas sociais até 2036.

Assine pela manutenção do orçamento emergencial do SUS em 2021

Frente pela Vida

Motivadas pela necessidade de propor ações efetivas em resposta à pandemia da Covid-19, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI); a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco); a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes); o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes); o Conselho Nacional de Saúde (CNS); a Associação Rede Unida; a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC); e a Sociedade Brasileira de Bioética (SBB) formaram a Frente pela Vida. Em 9 de junho, realizaram a Marcha Pela Vida, um dia inteiro de atividades e atos virtuais pelos valores da democracia, da ciência, do SUS e do meio ambiente.

Como desdobramento da Marcha, a Frente reuniu entidades científicas da saúde para a construção do Plano Nacional de Enfrentamento à Pandemia de Covid-19 (PNEP-Covid-19), lançado em julho. O documento apontou a urgência de uma comunicação clara e coordenada pelo governo federal e a necessidade de ações efetivas, apresentando 70 propostas para autoridades políticas, sanitárias e sociedade.

A Frente também prestou solidariedade e manifestou revolta quando o país atingiu 100 mil vidas perdidas, em agosto e novamente em setembro, quando passaram das 150 mil mortes.

Saiba mais: frentepelavida.org.br 

Amanhã, 15/12 acontece o  3º Seminário 2020- Eficiência da Atenção Primária – Uma Agenda de Debates 

A Rede de Pesquisa em APS  realizará o 3º Seminário 2020 da Rede APS – Eficiência da Atenção Primária – Uma Agenda de Debates  que acontecerá  amanhã 15 de dezembro das 9h às 12h pelo sistema zoom e será  transmitido pelo YOUTUBE  – TV ABRASCO no link https://youtu.be/t4mQ9UMHn2E

O contexto da pandemia reforçou a relevância do debate sobre avaliação da eficiência dos serviços de saúde principalmente quando envolve o financiamento com recursos públicos. O encontro permitirá que pesquisadores, gestores, profissionais da APS e dos demais níveis de atenção à saúde reflitam como tornar a APS melhor e mais próxima de seus princípios ordenadores.

 

Assista vídeo finalista do concurso SBMFC em defesa do SUS

O vídeo que conquistou o primeiro lugar do concurso SBMFC em defesa do SUS, foi produzido por Bianca Niemezewski Silveira, Bianca Cadore Morás, Carolline Paggi Montemezzo, e Marco Aurélio Ferreira. Como prêmio, cada um receberá uma assinatura anual do PROMEF e uma inscrição no @CBMFC/CIMF 2021.

A premiação foi realizada dia 5 de dezembro, durante evento comemorativo pelo Dia do Médico e Médica de Família e Comunidade, com entrega pelos coordenadores do concurso Maria Inez Padula e Ricardo Heinzelmann.

A banca avaliadora do prêmio composta por Ana Petta, Claudia Collucci, Renato Tasca e Vitor Ribeiro selecionou os três vídeos finalistas que passaram por votação popular no canal do YouTube da SBMFC. O vídeo SUS, presente! ficou em primeiro lugar com mais de 2 mil e 800 likes.

Vídeo finalista do Prêmio SBMFC em Defesa do SUS, produzido por Bianca Niemezewski Silveira, Bianca Cadore Morás, Carolline Paggi Montemezzo, e Marco Aurélio Ferreira.

 

 

 

Plenária de mobilização para a campanha “O Brasil precisa do SUS” reúne mais de 100 entidades

No dia 7 de dezembro, mais de 100 entidades estiveram reunidas em plenária organizada pelo movimento Frente pela Vida para reafirmar o compromisso na campanha O Brasil precisa do SUS.  O lançamento oficial será na próxima terça,  15 de dezembro, às 14 horas, com uma cadeia de transmissão no YouTube e demais redes sociais. O objetivo da mobilização  é valorizar, defender e fortalecer o SUS, e as primeiras ações são a garantia do orçamento emergencial e novos investimentos, com a revogação da EC 95 e a organização de uma campanha nacional de vacinação contra a Covid-19 ampla, transparente e efetiva. 

Coordenada por Gulnar Azevedo, presidente da Abrasco, a reunião contou com a presença de parlamentares, centrais sindicais, movimentos estudantis, coletivos que representam diversas populações, entidades de comunicação e imprensa, além de associações médicas e científicas.

Logo na abertura da plenária, Gulnar ressaltou a importância do SUS na resposta à pandemia e a necessidade da continuidade do orçamento emergencial e revogação da EC 95 para a garantia de recursos e a bandeira pela vacina para todas e todos: “Estamos em uma grande luta. A Frente pela Vida é um movimento que está atuando desde o primeiro semestre contra as iniciativas de desmonte do SUS. No dia 9 de junho, o movimento reuniu mais de 600 entidades em uma marcha virtual, devido aos 38 mil óbitos, atingidos naquela época. Desde então, a Frente tem se mobilizado com as entidades parceiras para que o SUS seja defendido e com uma grande ação para o dia 15, com o lançamento da campanha O Brasil precisa do SUS”.

Entidades e parlamentares reafirmaram seus compromissos

O ex-ministro da saúde Arthur Chioro também participou da reunião e reforçou a adesão e comprometimento com a campanha ao relembrar que os 47 anos de história do Programa Nacional de Imunização (PNI). Chioro chamou a atenção para os desmontes promovidos pelo governo federal e a importância da vacinação: “A vacina não vai resolver todos os problemas, mas vai amenizar. Além da pandemia, não podemos fechar os olhos também para o desmonte da política de saúde mental que está acontecendo neste momento”.

Ricardo Patah, líder da União Geral dos Trabalhadores (UGT) reforçou em sua fala que a saúde é um dos temas mais caros aos trabalhadores e às trabalhadoras: “Queremos a valorização do SUS e daqueles que estão na linha de frente. Então, recebam o apoio da UGT e demais centrais sindicais”

A representante da Frente Parlamentar em Defesa da Universidade Pública, deputada Margarida Salomão, participou e enfatizou a importância do SUS no momento atual. Segundo a parlamentar, o sistema é fundamental para a população: “O SUS é um único recurso que o povo tem para enfrentar de uma forma justa os efeitos malignos da pandemia. Lutemos para que os recursos orçamentários sejam recompostos”.

A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) destacou a importância da campanha na fala de Maria Inez Padula: “A questão da vacina é importante, mas e o dinheiro? Existem várias propostas de APS, inclusive uma que pode desmontar o que mais fortaleceu a saúde durante a pandemia que é a Estratégia Saúde da Família, que com suas equipes multidisciplinares têm como manter uma rotina adequada para as síndromes gripais, cenário fundamental nesse momento”.

A ausência de uma liderança nacional por parte do Ministério da Saúde foi destacada por Lúcia Souto, presidente do Cebes. Em sua fala, Lúcia não poupou críticas à política de desmonte do atual governo: “A Plenária é uma ação em um momento em que a vida política brasileira está uma catástrofe sanitária. A ausência radical do Ministério da Saúde, em um contexto que é o desmonte do SUS no atacado, seja com o desfinanciamento, demonstra que sem o SUS é barbárie. Temos que arregimentar forças como essa plenária para ampliar esse campo político”.

A fala de encerramento foi de Fernando Pigatto, presidente do CNS, que comemorou o registro histórico dessa construção que as entidades estão fazendo conjuntamente: “No dia a dia as coisas vão acontecendo. Desde agosto, não recebemos um retorno do Ministério da Saúde sobre o plano de enfrentamento que foi entregue, com objetivo de salvar mais vidas. Agora começamos outra luta pela saúde mental. Não teremos descanso e vamos abraçar a causa da vacina para todas e todos! Esses avanços tem que ser movimentos com apoio da população, não podemos recuar. A campanha começa dia 15, mas não irá parar por aí”

Disponíveis os materiais para divulgação da campanha

Os materiais para o dia 15, data do lançamento oficial da campanha, também foram apresentados e já estão disponíveis. São banners, imagens e informativos para sites e redes sociais. Eles podem ser encontrados no site da Frente pela Vida: https://frentepelavida.org.br/

Participe dessa campanha pelo SUS e pela Vida!

Assista o ato de lançamento da campanha O Brasil precisa do SUS na TV Abrasco:

 

Covid-19: O que é preciso para enfrentar o crescente aumento de casos no país?

 
A retomada do aumento de casos de Covid-19 no Brasil preocupa a sociedade e especialistas. A média móvel nacional de mortes, em queda desde outubro, subiu 34% em comparação com duas semanas atrás, chegando a quase 500 falecimentos diários. Segundo pesquisadores, o momento atual requer, sobretudo, reforço e investimento na Atenção Primária (APS) e Vigilância em Saúde. Afinal, a oferta suficiente de leitos e testes, além do rastreamento e monitoramento de casos, são imprescindíveis para o combate a qualquer pandemia. Mas, diante de tantos desafios enfrentados por aqueles dois campos, como atender a uma demanda que voltou a crescer?  A Coordenadora da Rede APS e pesquisadora da ENSP Lígia Giovanella concedeu entrevista ao site da instituição sobre o aumento de casos da Covid-19 e outras perguntas. Confira abaixo a entrevista:

Quais os principais desafios da APS no enfrentamento da retomada da subida de casos de Covid-19 no Brasil? E o que deve ser feito para enfrentá-los, de forma que a APS possa dar conta do momento atual?

A pandemia de Covid-19 alastra-se sem trégua pelo Brasil desde março de 2020, gerando uma crise sanitária e humanitária sem precedentes. Com diferentes tempos em cada estado do país, depois de um pico da pandemia que foi atenuado pelas medidas de isolamento/distanciamento social, casos e mortes mantiveram-se em um patamar elevado e agora temos um recrudescimento do número de casos e mortes em diversos estados. No Rio de Janeiro, depois de um patamar mais baixo desde meados de julho, em novembro se observa aumento de internações e mortes por Covid-19. Novamente, a ausência de autoridade sanitária nacional e de coordenação e cooperação intergovernamental para enfrentamento da pandemia mostra seus efeitos perversos, com raras inciativas governamentais locais para evitar um maior recrudescimento da pandemia. São raras as iniciativas urgentes de promoção do distanciamento social, distanciamento físico e uso de máscaras, certamente imprescindíveis.
 
O alerta se dá pela superlotação de leitos e UTIs e pouco se fala na imprescindível vigilância em saúde, que poderia ser realizada pelas equipes da Estratégia de Saúde da Família em estreita cooperação com os setores de vigilância de saúde dos municípios. Desde o início da pandemia, temos frisado que enfrentar uma epidemia requer uma abordagem populacional, ademais do cuidado individual. É necessário aliar cuidado individual e cuidado coletivo. Há evidências de que sistemas de saúde fortemente baseados na Atenção Primária à Saúde (APS) podem ofertar esse cuidado integral e articulado, respondendo de melhor maneira às emergências sanitárias, como é o caso desta pandemia terrível.
 
A Atenção Primária à Saúde (APS) tem papel crucial nessa necessária abordagem comunitária e de vigilância em saúde. A Atenção Primária à Saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), em especial a Estratégia Saúde da Família (ESF), com suas equipes multiprofissionais e enfoque comunitário e territorial (e que tem apresentado ao longo do tempo impactos positivos comprovados na saúde da população, importante recordar), pode e deve atuar na abordagem comunitária necessária ao enfrentamento de qualquer epidemia e tem papel decisivo na rede assistencial de cuidados, no controle da epidemia e na continuidade do cuidado. 
 
Os desafios para a APS são muitos e incluem em primeiro lugar equipes ESF completas, disponibilidade de equipamentos e insumos, EPIs, medicamentos, testes; educação permanente específica; integração à rede assistencial e ao transporte sanitário; integração com os setores de vigilância em saúde; financiamento adequado…E ressalto, a APS sozinha não pode dar conta do momento atual. Pode sim muito contribuir neste e a todo momento para preservar a saúde de nossa população e defender a vida. 
 
Mesmo reconhecendo as fragilidades da ESF/APS no SUS, intensificadas desde o golpe parlamentar de 2016, não se pode negar a importância das mais de 44 mil equipes de Saúde da Família com 260 mil Agentes Comunitários de Saúde (ACS) atuando, capilarizadas por todo o país. Um potencial que não foi plenamente acionado em nível nacional. Um potencial que se pode dizer foi desperdiçado pelo governo federal. Nossas equipes de APS conhecem seus territórios, sua população, suas vulnerabilidades e, em geral, atuam na perspectiva da vigilância em saúde, o que é crucial no controle do contágio. 
 
No início da pandemia, parte das atividades das Unidades Básicas de Saúde (UBS) foram suspensas, ACS foram retirados dos territórios e passaram a atuar principalmente nas UBS, seja por pressão da demanda e tentativas de reorganização de fluxos para atendimento de casos suspeitos, seja por receio de propagação do contágio.  No entanto, com o passar dos meses, muitas equipes desenvolveram novas estratégias e processo de trabalho. Experiências que poderiam informar diretrizes gerais para a atuação da APS neste momento e durante toda a pandemia. A rede de pesquisa em APS realizou uma pesquisa em junho com profissionais da ESF e gestores municipais que mostrou as dificuldades, mas também o engajamento dos profissionais e potencialidades de sua atuação, indicadas pelas experiências locais. Podemos dizer que a APS no SUS está se reinventando. Lembrando sempre que, os modos de operação da APS devem ser adaptados a cada contexto.
 
Destaco que, neste momento, faz-se necessário reforçar a atuação integrada das UBS/ equipes ESF com os territórios, com a comunidade e com os outros equipamentos sociais, tanto para reduzir o contágio nos territórios e prestar cuidado individual de casos suspeitos e confirmados de Covid-19 como para garantir a continuidade dos cuidados de rotina da AB. Em uma atuação das equipes da ESF, Saúde Bucal, NASF, Agente Comunitário de Saúde e agentes de endemias nos territórios. Experiências locais de organização da APS para o enfrentamento da Covid-19, em diversos municípios, sugerem que a atuação das equipes APS-AB na rede de enfrentamento à Covid-19 se organiza em quatro campos principais de ação integrados nos territórios, que devem ser reforçados neste momento: a vigilância em saúde; o cuidado aos usuários com Covid-19; a continuidade do cuidado ofertado pela APS; e a ação comunitária com apoio social.  
 
Na vigilância de saúde: As equipes ESF devem ser fortalecidas na sua atuação na vigilância de saúde nos territórios, em estreita cooperação com os setores de vigilância em saúde, para bloquear e reduzir o risco de expansão da epidemia, coordenando no território, ações de promoção e prevenção com ações de educação em saúde com identificação precoce de casos, testagem por RT PCR, rastreamento, busca ativa de contatos, apoio ao isolamento domiciliar de casos e à quarentena dos contatos, notificação de casos. 
 
Os ACS e Agentes de endemias devem ser acionados para atuar nos territórios, com EPIs adequados e capacitação específica, em visitas peridomiciliares com: 
 
– Ações de educação em saúde para prevenir contágios, explicando sobre o modo de transmissão respiratória, a necessidade e efetividade do uso de máscaras por todos, distanciamento físico, ficar em casa, lavar as mãos; 
– Para a busca ativa de casos suspeitos e encaminhamento precoce para cuidado e exame na UBS;
– Para rastrear os contatos, quer dizer, buscar identificar as pessoas com as quais os casos confirmados na UBS em sua área de atuação tiveram contato próximo, para que possa orientá-las a ficar de quarentena e identificar a necessidade de apoio para o isolamento  domiciliar/quarentena. Para esta vigilância, é necessário disponibilizar acesso ao teste RT PCR nas UBS para todos os casos suspeitos, com resultados em tempo oportuno. A testagem por RT-PCR é crucial, pois é o único teste que permite conhecer a doença no início, conhecer que a pessoa está transmitindo e, assim, permitir interromper o contágio pelo isolamento. Mas a testagem somente será efetiva se acompanhada por busca ativa dos contatos com o objetivo de identificar e isolar precocemente, quebrando a transmissão. E, certamente, informação transparente com notificação de casos diariamente. Muitas UBS, e o Centro de Saúde da ENSP foi exemplar no desenvolvimento de painéis próprios de informação sobre a Covid em seus territórios: Uma atuação em estreita cooperação com a vigilância em saúde dos municípios, identificando precocemente novos focos da doença e empreendendo reforço nas vigilância e controle.
 
Para estas ações, é necessário que as ESF sejam informadas de todos os casos de Covid em seu território diagnosticados por outros serviços, para que possam buscar contatos e cuidar/acompanhar seus cuidados e evolução. 
 
No cuidado individual dos casos suspeitos e casos não graves de Covid-19: Outra responsabilidade das equipes APS é o cuidado individual dos casos suspeitos e casos não graves de Covid-19, sendo necessário voltar a reorganizar fluxos separados de atenção para sintomáticos respiratórios/casos suspeitos para evitar contágios nas UBS. A APS deve garantir o cuidado dos pacientes com quadros leves e seu monitoramento cotidiano para apoio e observação da evolução da enfermidade, e garantir o encaminhamento oportuno daqueles que necessitem de cuidados de outros níveis de atenção; sendo também necessário fortalecer o transporte sanitário adequado. Este acompanhamento vem sendo realizado com telemonitoramento pela equipe de casos e contatos, tele atendimentos por vídeo, e disponibilizando telefone de contato das equipes para os usuários. Aqui o reforço na disponibilidade de celulares para as equipes e internet nas comunidades permanece crucial.
 
Na continuidade dos cuidados ofertados pela APS: Ao mesmo tempo, as atividades de rotina da APS, em grande parte já retomadas, precisam ser preservadas. Em outras epidemias se observou um excesso de mortes por outras causas que deixam de ser atendidas, que podem superar aquelas geradas pela própria doença. Processos estão sendo readequados, incluindo novas formas de cuidado cotidiano à distância. Contatar por telefone os pacientes pré-agendados, quando possível realizar teleconsulta com médicos ou enfermeiros da equipe são iniciativas sugeridas por experiências em curso, lembrando-se que, para alguns, serão mantidos atendimentos presenciais, assim como outras atividades de rotina, a exemplo da vacinação que precisa ser realizada sem expor a população ao risco de contágio. A chave é a UBS permanecer de portas abertas, atendendo aos casos necessários, mas com restrições, resolvendo o que for possível à distância e reduzindo os atendimentos presenciais. Os ACS podem apoiar famílias e acompanhar grupos por meio de visitas peridomiciliares. 
 
Na ação comunitária e apoio social a grupos vulneráveis: As equipes de APS devem oferecer suporte aos grupos mais fragilizados e vulneráveis que necessitam de atenção especial no contexto da epidemia, seja pela situação de saúde ou pela vulnerabilidade social, com papel importante dos Agente Comunitário de Saúde. É necessária a ação coordenada no território com as lideranças, instituições e organizações locais, articulando as ações implementadas pelas equipes com as iniciativas comunitárias para apoio social às populações em maior vulnerabilidade e para a educação em saúde. Para esta ação, ademais dos ACS, os profissionais das equipes do NASF podem ser acionados. A interação das equipes com movimentos sociais facilita o mapeamento e o apoio aos usuários de maior risco da Covid-19 (idosos, crônicos, pessoas em extrema pobreza ou com insegurança alimentar) para reforçar medidas preventivas e buscar garantir recursos para estabelecer as condições de permanência no domicílio (distanciamento social, quarentenas, isolamento de casos); para acionamento de redes sociais locais; para apoio na inscrição em programas sociais de transferência de renda, na distribuição de cestas básicas etc – a para possibilitar que as pessoas fiquem em casa, cumpram quarentenas. Esta articulação é crucial para a informação adequada potencializam recursos de comunicação coletiva existentes na comunidade tais como rádios comunitárias, grupos de mensagens, carro de som.
 
Nós, pesquisadores da ENSP, elaboramos em maio de 2020, para o Observatório Covid da Fiocruz, diretrizes para a atuação da APS no SUS com conjunto de recomendações que permanecem válidas e estão em detalhe.
 

O aumento de casos de Covid-19 provocou ‘engarrafamento’ de testes em laboratórios do RJ e SP. Quais são as principais falhas no que diz respeito à testagem e como ampliar a oferta de forma a atender essa crescente demanda?

Incialmente não havia disponibilidade de testes e insumos no mercado, mas, agora, o que vemos são graves problemas de logística e de baixo investimento para ampliação da capacidade pública laboratorial na realização de testes moleculares RT- PCR. Tenho reiterado, ao longo destes meses, que devemos nos preocupar com qual será o legado para o SUS deixado pelo enfrentamento desta pandemia. O setor de diagnósticos no país é altamente privatizado e mercantilizado; a capacidade pública própria do SUS não foi ampliada. Seria necessário ampliar e interiorizar a capacidade laboratorial pública para a realização dos testes RT PCR, cruciais para o diagnóstico oportuno e controle do contágio, como já mencionei.  Esta ampliação da capacidade ambulatorial pública seria um grande legado para o SUS.
 

A vigilância e o monitoramento ativos são fundamentais para o controle da doença. No entanto, não foi feito o suficiente nesses dois campos no primeiro momento da pandemia, conforme defendem alguns especialistas. O que é preciso fazer nessas áreas para enfrentar a retomada do aumento de casos no país?

A vigilância em saúde é certamente o aspecto que mais precisa ser reforçado nos territórios, em estreita cooperação com os setores de vigilância em saúde, como já comentei. As equipes ESF, por meio de busca ativa, podem identificar precocemente os casos, precisam testar por RT PCR, fazer rastreamento, isto é, busca ativa de contatos próximos. E, certamente, precisam, em articulação com a assistência social, outros setores da administração municipal e as organizações e lideranças comunitárias, encontrar formas de apoiar o isolamento domiciliar de casos e a quarentena dos contatos. Os ACS e Agentes de endemias devem ser acionados e podem dar uma contribuição fundamental nesta vigilância ativa, se disponibilizados EPIs adequados e capacitação específica.

Para finalizar, é necessário reconhecer o desafio que é este trabalho de vigilância da saúde para os profissionais das equipes, um trabalho muito delicado de informação, comunicação clara, afetuosa , sem autoritarismo, para conseguir a adesão das pessoas às medidas de controle, a usarem máscaras, a manterem o distanciamento físico e,  ainda mais desafiante, mais complexo, a fazer isolamento domiciliar mesmo com poucos sintomas, a realizarem suas quarentenas após ter tido contato próximo com casos confirmados, ou suspeito até o resultado dos exames. Estas ações exigem mudanças comportamentais, fundadas na boa informação, na solidariedade e na generosidade para com o outro. Adesão que é difícil para todas as pessoas, mas que é muito mais difícil para a população que vive sem boas condições de moradia, sem acesso ao saneamento básico, sem espaço para isolar-se ou que precisa a cada dia ganhar seu pão do dia.  Finalizo agradecendo o engajamento dos ACS, médicos e enfermeiros, de todos os profissionais da Atenção Básica pelo país afora na proteção da vida, apesar da sobrecarga de trabalho, das dificuldades por falta de insumos, insuficiência de EPI e capacitação.