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Segundo Boletim de resultados da pesquisa “Monitoramento da Saúde e contribuições ao processo de trabalho e à formação profissional dos ACSs em tempos de Covid-19”

A pesquisa “Monitoramento da Saúde e contribuições ao processo de trabalho e à formação profissional dos Agentes Comunitários de Saúde em tempos de Covid-19” realizada por professores e pesquisadores da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz); do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz); da Fiocruz Ceará; e da Cooperação Social da Fiocruz, e financiada pelo Programa de Políticas Públicas, Modelos de Atenção e Gestão de Sistema e Serviços de Saúde – Fiocruz/VPPCB/PMA, tem como produto a organização de boletins bimensais.

A pesquisa tem como objetivo principal analisar os impactos da Covid-19 na saúde dos ACS, as condições de trabalho e de formação profissional ofertadas a estes no momento de pandemia em três capitais do país com elevado número de casos e alta densidade demográfica – São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Fortaleza (CE); além de outras 3 cidades que integram as regiões metropolitanas das respectivas capitais – Guarulhos (SP), São Gonçalo (RJ) e Maracanaú (CE).

Trata-se de um estudo quantitativo, transversal, realizado com ACS dos municípios enunciados. A seleção da amostra foi por conveniência, através de uma amostragem não probabilística. O instrumento de pesquisa é um formulário digital, auto instrucional, com predomínio de perguntas fechadas organizadas em quatro eixos: perfil; acesso a equipamentos de proteção individual em tempos de Covid-19; condições de saúde do ACS frente à pandemia; e formação profissional do ACS para atuação nesta conjuntura.

Para acompanhar as condições de saúde, trabalho e formação dos ACS em diferentes momentos, previu-se aplicar o formulário 3 vezes durante este ano, com intervalo de dois meses. Em agosto deste ano foi publicado o Primeiro boletim de resultados da pesquisa que aborda essas condições dos ACS durante o período inicial de enfrentamento à pandemia (meses de abril e maio). Recentemente foi publicado o Segundo Boletim que apresenta os resultados da segunda fase da pesquisa que faz referência às condições informadas pelos ACS nos meses de junho e julho.

Na segunda rodada de aplicação do instrumento responderam 884 ACS (184 em São Paulo, 55 em Guarulhos, 269 no Rio de Janeiro, 89 em São Gonçalo, 194 em Fortaleza, 93 em Maracanaú). A maioria dos participantes foram mulheres 93,2% (824), a maioria sindicalizada 75,6% (669), metade dos ACS, 50% (442), declarou-se parda, 19,8% (175) preta e 29,3% (259) branca.

Com relação ao acesso a equipamentos de proteção individual 86,1% (761) dos participantes nesta rodada da pesquisa afirmaram que a UBS fornece EPIs para os profissionais de saúde; 10,4% (92) afirmaram que houve fornecimento de EPIs aos profissionais, mas não especificamente para os ACS; e 3,5% referiram que a UBS não forneceu EPIs aos profissionais.  Dentre os ACS cujas UBS forneceram EPI, 62% referiram se sentir inseguros em relação ao equipamento.

No que se refere ao processo de trabalho do ACS em tempos de Covid-19 a pesquisa apontou que 83,3% (736) dos ACS que participaram da segunda fase da pesquisa durante os meses de junho e julho continuaram realizando visitas domiciliares: 47,9% (423) relataram que houve redução das visitas no período; 24,9% (220) referiram que não houve mudança; e 10,5% (93) indicaram aumento das visitas. 16,7% (148) dos ACS participantes desta etapa da pesquisa relataram suspensão das visitas.

Por outro lado, destacou-se que 80,8% (714) dos ACS que participaram na pesquisa mencionaram ter realizado busca ativa de pessoas com maior risco para Covid-19 nos meses de junho e julho. 40,6% (359) dos ACS indicaram que essa atividade era realizada tanto de forma presencial quanto remota (através de telefone ou outros meios de comunicação); 29,8% (263) mencionaram realizar busca ativa somente presencial; e 10,4% (92) indicaram realizar a busca apenas de maneira remota. 19,2% (170) dos ACS relataram não ter feito busca ativa no período em análise.

O estudo levantou a presença de sintomas associados à Covid-19 (perda de olfato e paladar, febre e dificuldade para respirar) junto aos ACS. 40,6% (359) dos 884 ACS participantes da pesquisa referiram ter apresentado sinal ou sintoma associado à Covid-19 nos meses de junho e julho e 59,4% (525) informaram não ter apresentado. Entre todos os ACS participantes 32,1% (284) indicaram ter apresentado pelo menos um desses sintomas ou signos nos meses de junho e julho. Desses 284 ACS 77,8% (221) informaram que estiveram afastados do trabalho em algum momento (durante junho e julho), porém 22,2% (63) relataram que permaneceram trabalhando.

Além disso, do total de ACS participantes nesta fase da pesquisa (884), 69,6% (615) tiveram acesso ao teste para detecção da Covid-19 nos meses de junho e julho e 30,4% (269) não tiveram acesso. Desses 615 ACS que foram testados no período de estudo desta fase da pesquisa, 26,6% (164) foram positivos e 72,5% foram negativos. Entre os ACS que referiram ter apresentado ao menos um sinal e sintoma associado à Covid-19 e tiveram acesso ao teste, 54,7% (128) testaram positivo para Covid-19. Chama a atenção que entre esses 128 ACS 87,2% (112) estiveram afastados do trabalho em algum momento entre os meses de junho e julho, no entanto, 12,8% não foram afastados ainda que sendo positivos para a doença.

No referente às vivencias de perdas sentidas pelos ACS, a pesquisa apontou que dos 884 ACS participantes nesta fase da pesquisa, 60,9% (538) experimentaram (durante junho e julho) a morte por Covid-19 de pessoas com as quais tinham algum vínculo. Além disso, 80,8% dos ACS (714) relataram sofrimento relacionado ao contexto da Covid-19 no período: 63% (557) dos ACS indicaram sentir ansiedade, 60,6% (536) angústia e 48,8% (432) insônia.

Com relação à formação do ACS para a atuação na pandemia, 54,8% (484) dos ACS participantes nesta fase da pesquisa mencionaram que a UBS ou secretaria de saúde não proporcionou formação ou treinamento sobre a Covid-19; 28,7% informaram ter recebido formação insuficiente, e somente 20,5% disseram ter recebido uma boa formação, durante junho e julho.

Para as pesquisadoras que integram a equipe do estudo os dados apontados nesta segunda fase da pesquisa demonstram que os ACS estão expostos a riscos que podem ser reduzidos através de medidas de proteção, acesso adequado a EPI e testes, boa formação sobre a Covid-19, acompanhamento e suporte de saúde mental dentre outros. Por outro lado, o processo de trabalho dos ACS tem sofrido alterações como a incorporação de outras atividades e o uso mais intensivo de ferramentas para comunicação remota.

Acesse o primeiro e segundo boletim da pesquisa no link a seguir https://acscovid19.fiocruz.br/

 Por Diana Ruiz– doutoranda que contribui para a REDE APS

Rede APS

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