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Arquivo Diário 3 de maio de 2021

Testes para detecção do vírus SarsCov2

A Rede de Pesquisa em Atenção Primaria à Saúde continua comprometida com a divulgação de informações confiáveis e de relevância que contribuam no controle da pandemia causada pelo vírus SarsCov2. Com esse objetivo, o Comitê Gestor da Rede APS conversou com o biólogo Fabricio K Marchini, pesquisador da Fiocruz Paraná e gestor do portfólio de desenvolvimento de produto da Fiocruz Paraná e do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), para esclarecer as características e indicações dos diferentes testes de detecção para Covid-19 disponíveis no Brasil. Neste boletim apresentamos brevemente as principais caraterísticas dos testes Real Time RT-PCR (reação em cadeia da polimerase em tempo real) e dos Testes Rápidos Antigênicos e sua possibilidade de uso rotineiro na APS para diagnóstico e rastreamento.

O Teste Real Time PCR é o mais sensível, isso significa que mesmo com carga viral baixa detecta o vírus. Este teste permanece sendo considerado como padrão ouro para a detecção oportuna da doença. O melhor período para aplicar este teste é entre o terceiro e o sétimo dia desde o início dos sintomas, ou ainda no oitavo dia, período que a carga viral é mais alta e, portanto, com taxa de transmissão mais elevada. No entanto, como é um teste tão sensível pode continuar dando positivo por um período mais longo, com baixa carga viral e baixo risco de contágio (Crozier et al, 2021).

O que preocupa no teste RT-PCR é o extenso tempo de processamento (desde 6h no melhor dos casos, até 24 ou mais horas) porque a amostra tem que ser processada em laboratório específico com processos técnicos com etapas que demoram horas. Existem iniciativas para diminuir esse tempo de processamento, por exemplo, através do uso de um equipamento que faz todo o processamento integrado em um cartucho, tardando apenas uma hora ou hora e meia. No entanto, o problema desse equipamento é o custo que é bastante alto. Ademais, importante parte na demora no retorno de resultados está relacionada à logística de envio das amostras para o laboratório, muitas vezes centralizado na capital dos estados e em grandes centros urbanos

A aplicação oportuna de testes para Covid-19 e acesso rápido aos resultados é crucial para controlar a epidemia por meio da vigilância epidemiológica, identificação precoce de casos, rastreamento de contatos próximos para permitir o isolamento de casos e contatos e quebrar a cadeia de transmissão. No entanto, quando o tempo de retorno do resultado dos testes é longo, perde-se a possibilidade de identificar os casos no período de maior transmissibilidade, isso impede o rastreamento dos contatos baseado nos resultados dos testes, e se perde a oportunidade em estabelecer isolamento domiciliar e quarentena dos contatos, reduzindo a transmissão comunitária.

Outro objetivo da testagem é obter dados epidemiológicos da evolução da pandemia, e para este fim podem também ser feitos os testes sorológicos que detectam a presença de anticorpos no sangue. No entanto, estes testes não são adequados para a identificação de casos na fase aguda, de maior contágio, pois a produção de anticorpos em geral se inicia depois do oitavo ou nono dia quando a fase de maior contagiosidade, que é o período obrigatório de isolamento, já está finalizando. Observou-se que após o décimo dia após o início dos sintomas, o risco de contágio é muito baixo, tanto é que o isolamento domiciliar recomendado é de dez dias (se o indivíduo não tiver mais sintomas).

Atualmente estão disponíveis no mercado Testes Rápidos Antigênicos, isto é, testes que também identificam a presença de vírus na orofaringe, com coleta por swab nasal de secreção, mas que são sempre menos sensíveis que o RT-PCR. A sensibilidade e especificidade dos testes antigênicos são avaliadas em comparação ao RT PCR e alcançam no máximo 93% de sensibilidade comparado ao RT-PCR.

Os testes antigênicos devem ser aplicados do terceiro ao oitavo dia do início dos sintomas, quando a viremia é alta. Ainda que a sensibilidade do teste antigênico seja menor, seu uso pode ser importante porque consegue identificar grande parte dos casos com elevada carga viral, e estes são os casos mais importantes de detectar, pois são os mais contagiosos e propagadores da epidemia.

Um teste rápido antigênico é confiável, isto é, seu uso é efetivo, se consegue detectar todos os casos com carga viral alta (isto é, com maior taxa de transmissão). Este tipo de testes produz poucos falsos positivos, mas pode produzir falsos negativos quando as pessoas testadas estão no período de incubação (3-5 dias antes do surgimento dos sintomas) ou quando não existe suficiente carga viral para ser detectada mediante este teste. Por isso sugere-se, o acompanhamento do paciente, para repetição do teste caso necessário.

Os falsos negativos são preocupantes porque podem dar a impressão ao paciente que não está infectado e causar um relaxamento das medidas de isolamento físico, favorecendo o contágio (Crozier, et al., 2021). Portanto, as pessoas com resultados negativos neste tipo de testes precisam de acompanhamento, vigilância epidemiológica e revisão do tempo desde o momento do contato e com a realização de um teste mais sensível, o RT-PCR.

Este teste é processado no local, o resultado é quase imediato (10-15 minutos) e é mais econômico que o RT-PCR. Os profissionais de saúde que aplicam este teste devem ser treinados para a tomada da amostra nasofaríngea e para a interpretação do resultado. Mas são procedimentos sem muita dificuldade que podem ser bem executados ap´so treinamento.

O teste rápido antigênico poderia ser produzido em larga escala no Brasil e poderia potencialmente ser aplicado em larga escala na APS, principalmente em regiões mais distantes dos centros urbanos, sem disponibilidade e acesso ao RT-PCR.

O teste RT-PCR e o Teste Rápido Antigênico são os principais testes usados para detecção do SarsCov2. No entanto, existem iniciativas para o uso de outros testes. No Brasil, foram iniciados estudos para o uso do teste RT LAMP. Este é um teste rápido molecular (demora 1h ou menos) com sensibilidade menor que o teste RT PCR. Tem potencial de ser mais econômico que o PCR mas tem maior custo que o teste antigênico.

Considerando o custo, disponibilidade, sensibilidade e especificidade dos testes aqui revisados conclui-se que o teste RT PCR permanece como padrão ouro, e que o teste rápido antigênico de coleta por swab nasal (ou saliva, quando devidamente validado) seria uma boa opção para utilização na APS, para apoiar as ações clínicas e de vigilância em populações e territórios definidos. Em todo caso, a aplicação deste teste em massa requer acompanhamento e revisão contínua dos benefícios e riscos dessa estratégia (Crozier, et al., 2021). Muitos países têm disponibilizado amplamente testes de antígeno para toda a população, como por exemplo a Alemanha que disponibiliza um teste rápido antigênico por semana, gratuito, em centros de testagem para toda sua população de mais de 80 milhões de pessoas e disponibiliza dois testes rápidos por semana para alunos assistirem as aulas presenciais com maior segurança.

 

É importante considerar que atualmente no mercado estão disponíveis muitos tipos de testes rápidos antigênicos e nem todos são confiáveis. Portanto, Fabricio K Marchini sugere alguns critérios a levar em conta para gerentes da APS escolherem adequadamente testes antigênicos:

  • Aprovação na ANVISA. Verificar no site da Anvisa: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/produtosparasaude/coronavirus
  • Analisar a avaliação clínica prévia do teste, comparado com o padrão ouro (RT-PCR): examinar o número de amostras utilizadas nessa avaliação, no mínimo 50, e verificar a sensibilidade e especificidade. A sensibilidade deve ser de no mínimo 90% e a especificidade deve ser no mínimo de 95%.
  • O teste deve ter sido avaliado para as novas variantes do vírus.

 

Maiores informações sobre os testes para detecção da Covid-19 podem ser consultadas no artigo a seguir utilizado na elaboração deste boletim.

 

Crozier A., Rajan S., Buchan I. e Mckee M. Put to the test: use of rapid testing technologies for covid-19. BMJ 2021;372:n208. doi: https://doi.org/10.1136/bmj.n208 Acesso: 13 abril 2021