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Arquivo Mensal setembro 2021

A resposta da APS à pandemia na América Latina é tema de discussão no Congresso Anual da Associação Latina para a Análise dos Sistemas de Saúde (CALASS) 2021

Nos dias 16,17 e 18 de setembro foi realizado o XXXI Congresso Anual da Associação Latina para a Análise dos Sistemas de Saúde (ALASS). Um dos paneis desenvolvidos no marco do evento foi a “Crise sociosanitaria e a resposta da Atenção Primária em Saúde à pandemia: experiências desde América Latina”. Nessa importante discussão foram apresentados os casos de países da região: Brasil, Chile, Uruguai, Bolívia e Colômbia. Os panelistas foram as pesquisadoras e pesquisadores: Ligia Giovanella (ENSP, Fiocruz, Brasil), Mario Parada Lezcano (Universidade de Valparaiso, Alames Chile), Gilberto Rios Ferreira (Sociedade Uruguaia de Saúde Coletiva), Nila Heredia Miranda (Alames Bolívia), Naydu Acosta Ramírez (Universidade Libre de Cali, Colômbia), Román Vega Romero (Pontifícia Universidade Javeriana de Bogotá, Colômbia).

A pesquisadora Ligia Giovanella apresentou o caso de Brasil. Criticou a estratégia institucional de propagação do Coronavirus liderada pelo presidente da república. Por outro lado, destacou a importância do Sistema Único de Saúde como sistema de acesso universal e de financiamento fiscal e da Estratégia Saúde da Família para o enfrentamento da pandemia e a continuidade dos cuidados na APS.  Destacou que a potencialidade da APS/ESF foi desperdiçada, não houve coordenação nacional no SUS, a resposta da APS/ESF foi dispersa e em alguns municípios as atividades da ESF foram suspensas no início da pandemia. No entanto, iniciativas locais têm fortalecido a APS por meio de diversos processos. Em muitos municípios as equipes da ESF realizam ações de vigilância, telemonitoramento de casos e contatos, atividades de continuidade dos cuidados rotineiros mediante diversas formas de comunicação à distância, os ACS têm voltado aos territórios e realizam visitas peridomiciliares. Além disso, as equipes da ESF realizam ações articuladas com outros setores e com movimentos sociais e comunitários para oferecer suporte aos grupos mais vulneráveis.  Também, destacou os desafios para o SUS e APS/ESF após a pandemia relacionados com as demandas acumuladas, a redução da cobertura vacinal, a redução dos atendimentos de pré-natal, as necessidades associadas à síndrome pós-Covid e o aumento de demandas em saúde mental. Para finalizar, foi destacada a necessidade de melhorar a integração da vigilância epidemiológica na APS, fortalecer a APS integral, territorializada, com orientação comunitária e participação social e reforçar as ações comunitárias do ACS.

O caso da Bolívia foi apresentado por Nila Heredia Miranda. A pesquisadora destacou que a crise política ocasionada pelo golpe de 2019 e a consequente repressão militar contra a população foi o contexto no qual iniciou a pandemia de Covid-19. O governo de facto implementou mudanças contrárias ao direito fundamental à saúde: desestruturou a Política de Saúde Familiar Comunitária Intercultural (SAFCI), extinguindo equipes destinadas à atenção em saúde principalmente para populações rurais com médicos formados em Cuba. As políticas de APS foram ignoradas, não foram elaboradas diretrizes, protocolos de atenção ou proteção para a APS. A atenção sanitária para o controle da pandemia limitou-se ao componente assistencial e não houve um trabalho articulado com as organizações sociais. Por outro lado, as severas medidas de isolamento e distanciamento social implementadas foram usadas pelo governo para controlar a mobilização social de resistência contra o governo de facto. No entanto, a mobilização social articulada entre as organizações populares conseguiu que fossem convocadas as eleições novamente após 11 meses. Com o novo governo que iniciou em novembro de 2020 retomou-se a política SAFCI, está sendo realizada atenção em domicilio quando for possível ou traslado ao hospital de referência, detecção de casos e vacinação para todas as pessoas de 18 anos ou mais de forma gratuita. Os governo dos estados e as prefeituras definem as medidas de restrição na sua área e têm se implementado algumas medidas modestas de suporte para as famílias mais vulneráveis, estudantes e pessoas acima de 60 anos. Além disso, Nila destacou que o uso da medicina tradicional tem sido muito importante para a população, a sabedoria ancestral foi e é utilizada para estimular o sistema imune, melhorar o estado de ânimo e se sobrepor à insegurança sanitária e ao isolamento social.

O pesquisador Mario Parada Lezcano apresentou o onde o sistema de saúde é altamente segmentado com iniquidades no acesso, oferecendo planos de saúde diferenciais para a população vulnerável e doente e para os ricos e saudáveis. O setor público da saúde apresenta um subfinanciamento crônico e os seguros privados não garantem a solidariedade e a eficiência. Ainda que, nos documentos oficiais a APS é a base do sistema, na realidade não existe uma política de APS realmente implementada. No que diz respeito ao enfrentamento à pandemia por Covid-19, o governo implementou medidas como o distanciamento e isolamento social, realizou transferências de dinheiro para os setores mais vulneráveis e realocação de fundos para o setor saúde de outros fundos do gasto público. Durante a pandemia algumas atividades do escopo da APS foram suspensas como os cuidados preventivos não emergenciais, controles de doenças crônicas e ações intersetoriais. Algumas atividades de acompanhamento a populações de risco continuaram sendo desenvolvidas como o pré-natal e o atendimento de recém-nascidos e crianças de até três meses. Houve algumas poucas experiências de trabalho comunitário para o acompanhamento de casos e contatos, cozinhas comunitárias e ações de informação e educação. Um esquema de testagem, identificação, rastreamento de contatos  e isolamento foi elaborado, mas não plenamente implementado na APS. De maneira geral o enfrentamento à pandemia centrou-se nos hospitais. Para terminar, o pesquisador destacou o compromisso, a resiliência e a capacidade de inovação das equipes de saúde para continuar cuidando da população pela qual são responsáveis.

O caso da Colômbia foi apresentado pela pesquisadora Naydu Acosta. De maneira similar aos casos dos outros países, as estratégias de enfrentamento à pandemia na Colômbia têm se limitado principalmente a medidas biomédicas e clínicas, fazendo investimentos para fortalecer as unidades de terapia intensiva. As estratégias de suporte aos mais vulneráveis têm consistido em transferências de recursos monetários e em espécie, mas com muitas críticas por corrupção em alguns contratos. Tem se utilizado o termo de “indisciplina social” para culpar aos grupos mais vulneráveis por não cumprir as medidas de isolamento social. Similarmente ao caso do Chile, na Colômbia segundo a Lei 1438 de 2011 a APS é o eixo principal do Sistema de Saúde Colombiano, no entanto, não existe uma política de APS realmente implementada. As experiências de APS implementadas são de caráter seletivo e são produto de iniciativas locais, dependentes do financiamento municipal e da vontade do governo de turno. Durante a pandemia, a infraestrutura e as equipes de APS foram reorientadas para a vigilância, controle, acompanhamento de casos e contatos, tomada de amostras para testes e vacinação. Para finalizar, foi destacado que a pandemia revelou desigualdades estruturais que demonstram que estamos numa sindemia intensificada por doenças crônicas não transmissíveis e por condições de pobreza e iniquidade social e econômica e deficiências na infraestrutura sanitária.

Gilberto Rios apresentou o caso do Uruguai. O pesquisador destacou que no país o desenvolvimento da pandemia pode ser analisado em duas etapas conforme as duas ondas da pandemia com diferente atuação relacionadas com a transição política do governo de esquerda que ocorreu no início de 2020. Na primeira etapa, março 2020 – fevereiro 2021, inicialmente foi priorizada a atenção hospitalar em detrimento do potencial da APS e implementada uma quarentena voluntaria. No entanto, o governo conformou um comitê científico vinculado a universidade e na primeira onda, acolheu as sugestões do comitê para o controle da pandemia e a APS retomou suas funções essenciais, participando na detecção e acompanhamento de casos e contatos, tratamento comunitário, informação e comunicação. Essas decisões contribuíram para que durante esse período houvesse uma circulação comunitária leve a moderada com bons resultados e poucas mortes. Segunda etapa /segunda onda: fevereiro – setembro 2021, o governo de centro direita neoliberal deixou de seguir as orientações do comitê científico: A APS foi relegada a segundo plano, foram implementadas poucas medidas de isolamento social e houve atraso no início da vacinação. Essas decisões contribuíram para a alta circulação comunitária do vírus, o aumento da positividade, do número de casos ativos, da letalidade e da ocupação de UTI, durante esse período. A partir de junho de 2021, a vacinação aumentou e diminuiu a circulação comunitária.

Roman Vega apresentou uma síntese comparativa desenvolvida a partir da análise dos casos apresentados. O pesquisador destacou que a efetividade da resposta à pandemia de Covid-19 não tem dependido somente das caraterísticas dos sistemas de saúde e da APS, senão também das estratégias de prevenção e controle. A busca por um equilíbrio entre as demandas de assistência médica gerada pela doença e o desempenho da economia, ou a prioridade para economia, nos países, tem se traduzido na implementação e suspensão recorrente de quarentenas generalizadas segundo a ocupação de leitos de UTI, privilegiando os interesses econômicos das elites sobre a proteção da população, especialmente dos mais vulneráveis. Salientou que, se a prioridade no enfrentamento da pandemia está em controlar o contágio, detectar os casos e contatos e cuidar integralmente das pessoas doentes e as pessoas em isolamento, os sistemas de saúde baseados na APS integral e integrada seriam mais eficazes, do que aqueles focados na doença. A APS integral e integrada pode contribuir no controle da pandemia através de ações como: vigilância em saúde humana, animal e ambiental, cuidado dos casos não graves em articulação com a rede de atenção, suporte social para os mais vulneráveis, continuidade dos cuidados de rotina, controle de surtos.

Na conclusão do debate Vega apontou ser necessário repensar os sistemas de saúde, passar de sistemas de saúde baseados na cobertura universal de saúde, centrados na atenção individual, antropocêntricos e com enfoques de APS seletivos a sistemas de saúde tipo SUS, sistemas universais, centrados na saúde coletiva, na vida, e na APS integral e integrada.

Convidamos a acessar o evento na integra no link – https://www.youtube.com/watch?v=5xNBjVLR7N8

Por Diana Ruiz, doutoranda que contribui com a Rede APS

 

 

APS em Revista – disponível a segunda edição de 2021

APS em Revista coloca à disposição da comunidade acadêmica,cientifica e profissional seu novo número, ainda sob os efeitos da tragédia sanitária que se abateu sobre o planeta. É importante não esquecer que a pandemia da COVID-19 trouxe impactos severos e desnudou as fragilidades dasações e práticas desconectadas de uma robustez cientifica que sempre deve estar ao lado dos interesses da sociedade. Por causa disso, mesmo com a aceleração da vacinação, os efeitos ainda se fazem sentir e certamente, para além dos mais de 120 mil artigos e publicações científicas1abordando a temática, o debate vai perdurar, exigindo ações e atitudes compatíveis com a preservação da vida humana.

Neste número os artigos traduzem tanto as inquietações existentes quanto a esperança de sua superação.

primeiro artigo aborda o papel central da APS na formação de redes intersetoriais de cuidado para o enfrentamento da pandemia na gestão do cuidado, através de estudo avaliativo nacional com as equipes de Consultórios na Rua para grupos vulneráveis.

segundo artigo descreve o perfil e a classificação de risco familiar dos usuários de uma Unidade Básica de Saúde da Família em Uberlândia, Minas Gerais, evidenciando a importância do fortalecimento de políticas públicas na promoção e monitoramento das condições de saúde.

O terceiro artigo aborda a vivência em uma unidade de Estratégia Saúde da Família (ESF) no município de Canto do Buriti, Piauí, sobre os aspectos 1OEI/Observatório CTS, 2021. relacionados ao processo de matriciamento e a gestão do cuidado.

quarto artigo apresenta uma discussão sobre a oferta das práticas integrativas e complementares na APSem prol dadesmedicalização, acesso e resolutividade.

quinto artigo aborda o papel do Agente Comunitário de Saúde (ACS) em sessões de Ginástica Laboral (GL) de uma Unidade de Saúde da Família no município de Itabuna, Bahia, na promoção do bem-estar e valorização da saúde do trabalhador e interação grupal.

Na sequência, a sessão Debates e Discussões traz artigos (dois deles denominados Notas Técnicas), convidados para apresentar pontos de vista sobre a APS em um contexto de formulação de posições de natureza estratégica e aplicada.

Nesta perspectiva, o sexto artigo traz uma proposta de avaliação de impacto na APS a partir da análise contextual da atenção primária, considerando a experiência em cidades do Ceará com diferentes modelos de gestão.

sétimo artigo traz uma posição ao debate sobre avaliação, monitoramento e melhoria da qualidade na APS.

Por fim, o oitavo artigo aborda a importância do conceito de eficiência e discute a gestão pública no contexto da APS. Ambos apontam ao final posições para qualificar o debate em torno da Atenção Primária à Saúde.

Acesse a Revista eletrônica da Rede APS – https://apsemrevista.org/aps

APS FORTE no SUS: no combate à pandemia

Desafiados pela emergência sanitária, os profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) remodelaram os processos de trabalho e perceberam que muitas das inovações implantadas de forma emergencial para responder à pandemia de COVID vieram para ficar. A iniciativa APS Forte no SUS – no combate à pandemia de COVID-19 reuniu experiências de todo o País, executadas por trabalhadores da saúde engajados que, apesar das dificuldades impostas pela nova doença, lutam diariamente para melhorar a oferta e o cuidado em saúde no Sistema Único de Saúde (SUS).Com o auxílio de tecnologias digitais, as equipes e profissionais da Estratégia Saúde da Família superam diariamente um dos principais desafios da APS nesta pandemia: garantir o acesso aos serviços de saúde. As ferramentas digitais ganham força na agenda para o fortalecimento do SUS, tão bem representadas nesta iniciativa.Foram 1.471 experiências analisadas que mostraram, além da capacidade de liderança e reação rápida da APS – fundamentais para o funcionamento do SUS –, a preocupação em garantir cidadania e efetivação do direito à saúde.
Cita
APS FORTE no SUS: no combate à pandemia. Brasília, D.F.: Organização Pan-Americana da Saúde e Ministério da Saúde; 2021. Licença: CC BY-NC-SA 3.0 IGO. https://doi.org/10.37774/9789275724378.

Imprescindível vacinar todos os adolescentes contra Covid-19

CONASS e CONASEMS reafirmam sua confiança na Anvisa e nas principais agências sanitárias regulatórias do mundo, que afirmam a segurança e eficiência da vacina Comirnaty, da Pfizer, para crianças com 12 anos de idade ou mais.

Também confiam na Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda a aplicação desse imunizante após o término da vacinação dos públicos de risco prioritários.

Abaixo as notas 

Conass e Conasems reforçam a importância da vacinação de adolescentes contra a Covid-19

Nota Cosems RJ Vacinação

Nota ABRASCO

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) vem, por meio desta, se posicionar em relação à vacinação da população de 12 a 17 anos.

  1. A vacina Comirnaty (Pfizer/Biontec) obteve autorização da ANVISA para uso na faixa etária de 12 a 17 anos e foi considerada segura e eficaz para utilização neste grupo populacional, não somente pela ANVISA, mas também por agências reguladoras de vários outros países.
  2. O questionamento relativo à segurança da vacina prejudica o Programa Nacional de Imunização, ampliando o receio em pessoas que já estão hesitando para se vacinar e dificultando a ampliação de cobertura vacinal.
  3. Todos os grupos populacionais que contam com vacinas disponíveis se beneficiam da vacinação, tanto individualmente pela redução dos óbitos e dos casos graves e suas complicações, como coletivamente, uma vez que a ampliação da cobertura vacinal reduz a transmissão da covid-19.
  4. Uma vez que existam vacinas disponíveis para maiores de 12 anos toda a população acima desta idade deve ser vacinada. Há insuficiência de vacinas porque o governo não fez encomendas quando deveria, e por isso a priorização é necessária.
  5. No contexto de escassez de doses de vacina deve ser priorizada a dose de reforço para pessoas com mais de 70 anos e pessoas com imunossupressão, bem como a vacinação completa dos adultos. Entretanto, quando houver disponibilidade de vacinas, a população de 12 a 17 anos também deve ser vacinada.
  6. Adolescentes que já fizeram a primeira dose devem completar o esquema vacinal na data aprazada.
  7. É preciso transparência em relação a projeção de entrega de vacinas, explicitando qual o quantitativo esperado por mês no 4º trimestre do ano.
  8. É necessário transparência em relação aos processos de compra de vacinas para o ano que vem, garantindo diversidade de alternativas e valorizando a produção nacional, tanto da Fiocruz que já está em tratativa, quanto do Butantã.
  9. É importante dar transparência à composição do Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de Imunização e às suas decisões.
  10. O governo federal deve promover ampla campanha de comunicação, utilizando todo os meios, convocando a população para se vacinar e orientando quanto à 1ª dose, 2ª dose e dose de reforço.
  11. A Abrasco apoia as diretrizes da OMS sobre a necessidade de uma distribuição mais equitativa de vacinas para os países de renda baixa e de renda média baixa.

Carta em apoio aos coordenadores de área da CAPES e em repúdio à política de desmonte da pós-graduação no país

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) vem, por meio desta, manifestar apoio à Carta Aberta dos Coordenadores de Área da CAPES que compõem o Conselho Técnico Científico do Ensino Superior (CTC-ES), divulgada em 14 de setembro de 2021.

A ABRASCO solidariza-se com as manifestações de preocupação relacionadas à condução da política de pós-graduação no país pela presidência da CAPES. Além de representar uma nítida ameaça de retrocesso nas práticas e nos processos de avaliação dos programas, particularmente aqueles construídos de forma dialógica com os pares ao longo dos diversos ciclos avaliativos, a atual forma de condução também explicita uma clara tentativa de desmonte da pós-graduação brasileira.

Conscientes do contexto sanitário que temos enfrentado, com impacto em várias esferas da sociedade brasileira, os programas de pós-graduação se reorganizam para continuar formando profissionais de qualidade, assim como têm contribuído, de forma solidária e potente, no enfrentamento dos problemas reais da sociedade brasileira. O contexto adverso ao desenvolvimento da educação, ciência e tecnologia do país, oriundo de um crescente processo de desestruturação de políticas públicas sociais, seja em sua organização, seja em seu financiamento, constitui um movimento de fragilização da ciência em nosso país. A CAPES, como instituição atuante na consolidação da pós-graduação stricto sensu brasileira, sempre teve a postura de trabalhar com pares para o fortalecimento e qualificação dos programas nacionais, estabelecendo ações e medidas para garantir atividades de ensino e pesquisa com qualidade. Assim, nos parece contraditório ações recentes de sua direção, no sentido de desestruturação e fragilização dos processos já em andamento.

Dessa forma, a ABRASCO apoia o teor da referida carta e manifesta seu repúdio a todas as tentativas de retrocesso e de ameaças da atual gestão superior da CAPES ao Sistema Nacional de Pós-Graduação. Além de colocar em risco a credibilidade da própria instituição, tais retrocessos comprometem a expansão, o fortalecimento e a sustentabilidade da pós-graduação do país, duramente conquistados ao longo das últimas décadas.

Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2021

Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO

Fórum de Coordenadores dos Cursos de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – ABRASCO

Fórum de Editores em Saúde Coletiva – ABRASCO

Comitê gestor da Rede APS recebe Rosana Onocko Campos

Na última sexta-feira (10/09), a presidente da Abrasco, Rosana Onocko Campos, participou da reunião do Comitê Gestor da Rede de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde, que aconteceu virtualmente. Os coordenadores  Ligia Giovanella e Luiz Augusto Facchini, juntamente com outros membros do comitê, receberam Rosana com uma breve apresentação sobre a história e as atividades desenvolvidas em 11 anos da Rede APS, e os projetos que estão em andamento. 

Rosana expôs algumas das ações que pretende desenvolver durante a sua gestão, como estabelecer conexões mais fortes entre as diferentes organizações internas da Abrasco, como comitês, comissões, GTs e a própria Rede APS. Reforçou o orgulho e a potencialidade dos integrantes de toda a Abrasco:  “Quando nos conectamos todos, produzimos um trabalho riquíssimo para o Brasil, e pensar no futuro é o que nos fortalece”. A presidente da Abrasco também afirmou que, neste momento, precisa-se avançar na produção de um documento orientado à reconstrução do país, do SUS e da Atenção Primária à Saúde.

Artigo em destaque: The quality of alternative models of primary health care, and morbidity and mortality in Brazil: a national longitudinal analysis

Pesquisa em processo de publicação no periódico The Lancet Regional Health–Américas revela que o aumento da qualidade da APS relacionado com o modelo da Estratégia Saúde da Família está associado a reduções nas hospitalizações por doenças maternas e hanseníase e a reduções na mortalidade por diabetes e doenças cardiovasculares em municípios brasileiros.

Trata-se de um estudo longitudinal observacional desenvolvido com dados de 5.411 municípios, no período 2000-2014, por meio de análises de regressão em painel. Analisaram-se como proxys para a qualidade da APS: (i) a proporção de consultas realizadas por médicos e enfermeiras altamente qualificados na ESF para cada uma das variáveis desfecho, i.e., hospitalizações e taxas de mortalidade por diabetes, doenças cardiovasculares (DCV), tuberculose, hanseníase e causas perinatais e maternas; e (ii) a proporção de visitas de ACS que trabalham em equipes multidisciplinares da ESF. Ajustaram-se potenciais fatores de confusão.

A pesquisa revelou que o aumento de um ponto percentual na proporção de consultas de atenção primária realizadas no PSF/ESF estava associado a 0,019 (IC 95%: -0,034, -0,003) menos mortes por diabetes por 100.000 habitantes. Isso corresponde à diminuição relativa de -0,08% na taxa média de mortalidade municipal por diabetes durante o período de análise. Adicionalmente, o aumento de um ponto percentual na proporção de visitas de ACS no PSF/ESF estava associado a 0,025 (IC 95%: -0,050, -0,001) menos mortes por DCV por 100.000 habitantes, o que representa diminuição relativa de -0,03%. O aumento de 47,1 pontos percentuais na proporção de visitas de ACS do PSF/ESF durante o período corresponde à redução de -1,4% na mortalidade por DCV. Não foi encontrada nenhuma associação significativa com mortalidade por outras causas.

No que diz respeito às hospitalizações, o aumento de um ponto percentual na proporção de consultas de APS realizadas no PSF/ESF foi associado a 0,29 (IC 95%: -,055, -0,002) menos hospitalizações por hanseníase por 100.000 habitantes. Isso representa redução relativa de -1,1% e se traduz na redução de -12,5% nas hospitalizações por hanseníase, dadas as mudanças médias durante o período. Além disso, o aumento de um ponto percentual na proporção de visitas de ACS do PSF/ESF foi associado internações por causas relacionadas à maternidade por 1000 nascidos vivos. Isso se traduz na redução relativa de -0,09% e, dadas as variações médias, na redução de -4,3% na taxa de internação por condições relacionadas à maternidade no período. Nenhuma associação significativa com hospitalizações por outras causas foi encontrada, embora os tamanhos do efeito para DCV indiquem associações positivas com a qualidade da APS.

Os resultados da pesquisa sugerem que a associação entre o aumento da qualidade da APS com o modelo de atenção da Estratégia Saúde da Família pode gerar ganhos em saúde. Características da ESF tais como cuidado integrado com profissionais de saúde altamente qualificados atuando em equipes multiprofissionais e ACS incorporados nas equipes e com boa supervisão melhoram a qualidade e a eficácia dos serviços e fortalecem as atividades de prevenção, promoção e educação em saúde. A prevenção do desenvolvimento e da exacerbação de DCV e diabetes e a prevenção de internações por doenças maternas e hanseníase exigem atenção integral que considere diversos fatores de risco, atenção pré-natal de qualidade, diagnóstico precoce e acesso a tratamento. As caraterísticas da ESF favorecem esse processo de cuidado integral e integrado com as equipes multiprofissionais, onde o ACS desenvolve um papel muito importante.

Acesse o artigo na integra no link https://doi.org/10.1016/j.lana.2021.100034

Referência

Mrejen M, Rocha R, Millett C, Hone T. The quality of alternative models of primary health care and morbidity and mortality in Brazil: a national longitudinal analysis, The Lancet Regional Health – Americas, 2021; p. 100034-100034, ISSN: 2667-193X. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.lana.2021.100034 Acesso: 1 set 2021

Por: Diana Ruiz, doutoranda que contribui com a Rede APS