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Arquivo Mensal dezembro 2021

Está disponível o terceiro número da APS em Revista

A  APS   em   Revista   chega   ao  seu  terceiro número  de  2021 e  com  mais  de  160  mil acessos  registrados 1em  sua  plataforma,  e ainda  reverbera  fortemente os  efeitos  da maior   tragédia   sanitária   que   se   abateu sobre  a  humanidade  nos  últimos  séculos.  A pandemia  da  COVID-19,  que  completa  dois anos  desde  o  primeiro  caso  identificado 2, trouxe inúmeros desafios ao modus operandi dos sistemas de saúde.  Com efeito, as consequências devastadoras causadas  pela  rápida  disseminação  do  vírus colocaram  em  evidência  a  necessidade  de uma   ampla   coordenação   e   solidariedade que  pudessem  preservar  vidas  e  garantir  a saúde  de  todos  e  todas.  A  divulgação  de mais  de  120  mil  artigos  científicos  voltados ao  tema, bem  como  o  desenvolvimento  de inúmeras    vacinas, proporcionaram    uma poderosa barreira de contenção, associadas às medidas de distanciamento social, uso de máscaras     e     higienização     permanentes, trazendo  alívio  e  esperança  às  pessoas  que tiveram acesso a essas medidas. Neste contexto, a Atenção Primária à Saúde, para  além  de  sua  permanente  preocupação com  a  prestação  de  serviços  essenciais  de saúde   para   a   população,   teve   que   lidar também  com  os  efeitos  da  pandemia  sobre sua prática cotidiana e estratégica.Por causa disso, este número busca retratar em um primeiro bloco experiências vivenciadas  nesta  pandemia  quanto  à  sua lógica  e  ação. 

O  primeiro  artigo  aborda as atividades    e    serviços    realizados    pelos profissionais  do  NúcleoAmpliado  de  Saúde da    Família    e    Atenção    Básica    em    Belo Horizonte,    Minas    Gerais,      durante    a pandemia.     

O   segundo   artigo      aborda   o controle  glicêmico  à  distância  dos  idosos diabéticos  insulinizados  através  da  atuação do  Núcleo  de  Apoio  à  Saúde  da  Família  em , setembro de 2021Recife,  Pernambuco.   

O  terceiro  artigo,  por sua  vez,  discute  o  incentivo  à  prática  da atividade física e as estratégias do NASF em meio  à  Pandemia  de  Covid-19  em  Londrina, Paraná.

O segundo bloco trata, no  quarto artigo, da caracterização  e  perfil  do  desenvolvimento de    crianças    em    puericultura    de    uma Estratégia de Saúde da Família em Sapucaia do  Sul,  Rio  Brande  do  Sul. 

Na  sequência,  é discutida  no  quinto  artigo  a  construção  de uma linha guia para hipertensos e diabéticos  na  Atenção  Primária  à  Saúde  em Camaçari,   Bahia.  

O   sexto   artigo   trata   da hipertensão   arterial   como   precedente   a ocorrência  de  doenças  cardiovasculares  em uma região popular de Salvador, Bahia.

A   sessão   Debates   e   Discussões   traz   dois artigos  (um deles denominado Notas Técnicas),     convidados     para     apresentar pontos de vista sobre a APS em um contexto de   formulação   de   posições   de   natureza estratégica e aplicada.  Nesta linha, o sétimo artigo traz  um  debate  sobre o  trabalhador comunitário   de   saúde   e   suas   ações   em resposta   aos   novos   desafios   enfrentados para dar continuidade à atenção à saúde das pessoas assistidas. 

Por    fim,    o    oitavo    artigo apresenta    e descreve a iniciativa “APS Forte”, realizada em 2020 e dedicada a mapear o enfrentamento à pandemia da COVID-19 na APS  no  Brasil  na  geração  de  conhecimento para o aumento da cooperação e solidariedade entre os trabalhadores, gestores, usuários e especialistas da APS.

Ao finalizar este ano, a Editoria Cientifica da APS    em    Revista,    em    um    momento    de expectativas  e esperanças,  deseja a todos  e todas   um   ano   de   2022   de   superação   e conquistas.

Acesse a revista em – https://apsemrevista.org/aps

Análise das mudanças e efeitos do Programa Previne Brasil para a APS

O tema de discussão da última reunião de 2021 do Comitê Gestor da Rede APS, realizada no dia de 10 de dezembro, foi o Programa Previne Brasil e seus efeitos no financiamento da APS e na garantia do direito à saúde. A reunião contou com a participação de Thais Severino – Superintendente de APS/SES-RJ; e José Luiz Paiva – Assessor técnico, COSEMS-RJ que apresentaram as análises desenvolvidas desde a SAPS SES RJ, e o COSEM-RJ, sobre a trajetória e desafios do Programa Previne Brasil no Estado do Rio de Janeiro.

José Luiz Paiva estruturou a sua apresentação destacando as mudanças e efeitos do Previne Brasil sobre o financiamento e a avaliação de desempenho da APS. O pesquisador destacou que desde a publicação da Portaria 2.979 de 2019 que instituiu o Programa Previne Brasil surgiram grandes preocupações. Por um lado, em relação às mudanças no financiamento que subtraíram recursos de municípios que já tinham alta cobertura da Atenção Básica, e por outro lado, quanto às modificações em relação ao componente desempenho, que ficou limitado a sete indicadores que não refletem a realidade da atenção básica.

Com sucessivas postergações por conta da pandemia, a implementação do Previne foi iniciada em setembro de 2022, após mudanças incorporadas ao Programa pela Portaria 2.254 de setembro de 2021 por pressões de Conass e Conasems para reduzir as perdas financeiras de muitos municípios, provocadas pelo programa. Segundo o pesquisador, as modificações permitem equacionar a situação dos municípios com alto parâmetro de cobertura, minimizam o problema dos municípios com baixo cadastro; mas mantém as dificuldades para os municípios com baixa cobertura com continuidade de risco de desfinanciamento federal da APS e maior sobrecarga dos municípios.

Em relação ao desempenho, as modificações para 2022 estão limitadas a parcelar o impacto negativo da aplicação, mas sem alterar o método que culpabiliza os municípios por não alcançar os indicadores. A partir de agosto de 2022 o repasse dos recursos será realizado considerando o alcance real dos sete indicadores de desempenho. Veja a apresentação.

Thais Severino destacou que, o desenho do Programa Previne Brasil apresenta uma lógica compatível com um processo de privatização da APS e tem efeitos negativos sobre os atributos da Atenção Primária. A tipologia urbano e rural usada no programa é inadequada para a distribuição de equipes na APS, não leva em conta a dispersão territorial e promove a concentração dos serviços em um local só. Essa lógica ambulatorial não territorializada, representa uma perda da ênfase do trabalho em determinantes sociais, vigilância em saúde, promoção da saúde, busca ativa, atividades coletivas e territoriais. Nesse sentido, observa-se que a ESF perde seu caráter estratégico. Veja a apresentação.

Lembrando que o Previne Brasil restringe a universalidade do SUS aos cadastrados, aboliu a prioridade para a Estratégia de Saúde da Família e acabou com os incentivos ao Nasf, afetando a multiprofissionalidade, tão importante nestes tempos de crise sanitária e humanitária, demandas reprimidas e novas demandas pela covid longa e saúde mental, entre outras.

Convidamos a todas e todos a assistir a gravação das apresentações disponíveis no canal de YouTube da Rede APS https://www.youtube.com/watch?v=lAzG8sQahRk&ab_channel=TV247

Por Diana Carolina Ruiz, doutoranda que contribui com a Rede APS – Dezembro de 2021

 

Prorrogada a inscrição ao Prêmio APS Forte no SUS – nova data será divulgada em breve

Devido a problemas no servidor do Ministério da Saúde, alguns serviços de internet estão paralisados desde o último sábado, dia 11/12, como por exemplo, o funcionamento do e-mail institucional. Para não prejudicar as inscrições de relatos de experiências ao Prêmio APS Forte no SUS – integralidade do cuidado, a comissão organizadora da iniciativa decidiu prorrogar o período de inscrições, previsto para encerrar na próxima sexta-feira (17/12). O novo prazo vai ser anunciado em breve pois depende do retorno do serviço de e-mail do Ministério da Saúde. A proposta da comissão organizadora é que a nova data de encerramento da inscrição contemple o período que o serviço ficou suspenso.

O e-mail institucional do Ministério da Saúde é utilizado para resgatar informações sobre a senha do site de inscrição, quando solicitado pelo profissional de saúde. Também pelo e-mail institucional é confirmada a inscrição com sucesso para o candidato. A comissão organizadora entendeu que a ausência do e-mail institucional está prejudicando a execução do processo de inscrição, deixando o candidato inseguro se o relato foi inscrito.

A comissão organizadora do Prêmio APS Forte, integrada por profissionais do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) no Brasil, avisa também que as inscrições confirmadas não foram afetadas pela paralisação do servidor do Ministério da Saúde.

Saúde coletiva e subfinanciamento do SUS: pautas urgentes para 2022

Como se não fosse suficiente toda a dor que a pandemia trouxe – e segue trazendo – ao Brasil, a Covid-19 tem se mostrado capaz de deixar sequelas duríssimas aos sobreviventes e mesmo àqueles que tiveram casos leves da doença. A necessária assistência a essas pessoas mostra mais uma vez a necessidade de fortalecimento do Sistema Único de Saúde – SUS. “Ainda não temos certeza de qual é a proporção de pessoas afetadas com a Covid longa, nem fatores marcadores de diversidade de prognósticos. Podemos, sim, supor que isso trará alguma sobrecarga ao nosso sistema de saúde já exaurido”, pontua a médica Rosana Onocko Campos.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU, ela revela que essa questão da chamada “Covid longa” não é a única preocupação. Outras doenças que, por diversos fatores, foram tratadas como coadjuvantes na pandemia estão recrudescendo e trazendo grande impacto sobre a saúde coletiva. “Aumentos de câncer com diagnóstico tardio, crescentes taxas de depressão e suicídio em todas as faixas etárias, complicações advindas da hipertensão e diabetes mal controladas fazem parte da preocupante situação que já estamos vivendo. Minimizar esses danos é possível, mas exige um esforço direcionado e recursos à altura das circunstâncias”, detalha. Para Rosana, a resposta a essa pressão “dependerá de como conseguiremos fazer funcionar o SUS para superar os gargalos e quais e quantas serão as sequelas no médio e longo prazo”.

E não há outro caminho. “Teremos de combater o subfinanciamento”, dispara Rosana. “Nunca como na pandemia o SUS pôde ser conhecido por aqueles que não o utilizavam, nem valorizado pelos seus usuários habituais. Mas temos – nós sanitaristas – obrigação também de mostrar onde e para que esses recursos a mais serão investidos”, observa.

Por isso, ela também observa que esse período eleitoral que já temos vivido é propício para discutir a pauta da saúde pública coletiva com ainda mais intensidade. E, além disso, encarar todos os dramas que já existiam e que a pandemia escarnou. “Precisamos fugir das falsas controvérsias fáceis. Tipo: emprego ou sustentabilidade. Precisamos criar uma nova economia na qual os empregos sejam mais bem remunerados e aconteçam em setores de economia limpa. Temos essa dívida com as gerações futuras, tomara que saibamos honrá-la”, resume.

Rosana Teresa Onocko Campos é presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco. Possui graduação em Ciências Médicas pela Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, residência médica em Medicina Interna também pela mesma instituição, Especialização em gestão hospitalar pelo Technnion Institute, de Israel (1993). Também é mestra e doutora em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e livre-docente também na Unicamp. Psicanalista, atualmente é Visiting Professor no Departamento de Psiquiatria da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Confira a entrevista abaixo e clique para ler na publicação original.

IHU – O que a experiência da pandemia ensina ao Brasil?

Rosana Onocko Campos – Ainda é cedo para responder isso taxativamente. Mas, por enquanto, ensina que devemos refletir muito sobre nosso sistema de seguridade social e sua estabilidade e, também, sobre nossa fragilidade institucional. [O presidente Jair] Bolsonaro desmontou o Ministério da Saúde sem derrogar (nem publicar) nenhuma lei. As leis trabalhistas foram detonadas em nome da proteção social (de quem? das empresas).

Precisamos fortalecer as instituições públicas com funcionários de carreira e excelente nível técnico de maneira a diminuir o aparelhamento pelos governos de turno. Também precisamos fortalecer o corpo normativo e legal. O Sistema Único de Saúde – SUS funciona praticamente por conta de portarias, isso não é mais aceitável. Precisamos mais e melhores leis nesse campo.

IHU – O que a ciência sabe sobre a chamada “Covid longa” e quais seus impactos no contexto da realidade brasileira?

Rosana Onocko Campos – É difícil também dizer quais serão os impactos a longo prazo. Ainda não temos certeza de qual é a proporção de pessoas afetadas com a Covid longa, nem fatores marcadores de diversidade de prognósticos. Podemos, sim, supor que isso trará alguma sobrecarga ao nosso sistema de saúde já exaurido por falta de recursos e pelo acúmulo de doenças crônicas mal acompanhadas durante a pandemia, o que tem trazido diagnósticos mais tardios e sequelas de vários tipos.

IHU – Vivemos novamente um momento de medo e incertezas com o surgimento da variante Ômicron. É possível mensurar os impactos dessa nova variante do coronavírus na realidade brasileira?

Rosana Onocko Campos – Não, não é possível ainda. Talvez nas próximas semanas comecemos a ter uma noção da magnitude e da gravidade desses novos casos trazidos pela nova variante.

IHU – Levando em conta o atual quadro de vacinação no Brasil e tudo que a ciência descobriu sobre a Covid-19 e as variantes do coronavírus, podemos ainda passar por novas ondas da Covid-19, como a de novembro do ano passado?

Rosana Onocko Campos – Responder a isso com sim ou não é ousadia. Não sabemos como se comportarão as novas variantes com relação às vacinas. Mas tudo leva a supor que não voltaremos a estar como no começo da pandemia, quando nem vacinas disponíveis havia. Minha impressão é de que o momento é de cautela, precaução, mas de que as respostas serão mais rápidas frente às novas variantes do que no início da pandemia. As medidas chamadas de “etiqueta respiratória”, contudo, não deveriam ser abandonadas.

IHU – Profissionais da saúde, estudantes de graduação e pós-graduação, reunidos no 11º Congresso Brasileiro de Epidemiologia da ABRASCO, denunciaram “sérias condições socioeconômicas e de saúde” pelas quais o Brasil tem passado. O quanto dessas condições já estavam presentes no contexto brasileiro? E o que a pandemia revelou de novo no que diz respeito a problemas estruturais da saúde pública no Brasil?

Rosana Onocko Campos – Não se trata de algo novo que a pandemia nos tenha revelado, mas da exacerbação de uma situação de inequidade e desigualdades inaceitáveis. Nada há de novo sob o sol, só que a exacerbação da pobreza, do desemprego, a falta de inclusão digital que prejudicou muito mais as crianças pobres – por exemplo – tornaram-se insuportáveis. Estamos denunciando isso aos quatro ventos porque a denúncia é condição prévia à exigência de políticas reparadoras.

O Estado brasileiro terá de reparar órfãos, viúvas e planejar medidas propositivas e eficazes para minimizar o gap educacional. Se essas medidas não forem implementadas, o fosso social só se agravará e nosso futuro estará hipotecado.

IHU – Em que medida o declínio econômico, agudizado desde a pandemia, e suas consequência como a volta da fome, aumento do desemprego e empobrecimento da população devem impactar a saúde dos brasileiros no médio e longo prazo?

Rosana Onocko Campos – A carga de doenças crônicas mal acompanhadas aumentou na pandemia, dependerá de como conseguiremos fazer funcionar o SUS para superar os gargalos e quais e quantas serão as sequelas no médio e longo prazo. Aumentos de câncer com diagnóstico tardio, crescentes taxas de depressão e suicídio em todas as faixas etárias, complicações advindas da hipertensão e diabetes mal controladas fazem parte da preocupante situação que já estamos vivendo. Minimizar esses danos é possível, mas exige um esforço direcionado e recursos à altura das circunstâncias.

IHU – A atual gestão federal, em pleno quadro de pandemia, construiu um cenário de ataques à ciência e à educação. Como mensurar as perdas em ciência, tecnologia e educação nesse período? Quais os caminhos para reverter esse cenário?

Rosana Onocko Campos – Já desde o governo [Michel] Temer os cortes em Ciência, Tecnologia e Educação se fizeram sentir. Quando você pensa que o orçamento de Ciência e Tecnologia é de aproximadamente três bilhões e que o orçamento secreto é praticamente de 30 bi, dá para ter uma dimensão do descalabro ao qual este governo nos levou.

O desmonte do sistema de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, a falta de indicação da comissão de planejamento, os ataques ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq e as demais agências de Ciência e Tecnologia caracterizam todos juntos um cenário de guerra ao pensamento. Teremos de recriar um sistema de Ciência e Tecnologia que volte a colocar o Brasil no páreo mundial e que – ao mesmo tempo – contribua para o combate às desigualdades sociais e regionais.

É preciso, também, avançar nas alianças globais, mas também nas agendas Sul-Sul, buscando soluções conjuntas e cooperativas para os problemas de nossos povos. Assim também poderá ser enfrentada a dependência tecnológica (que tão evidente ficou na questão das vacinas).

IHU – Ainda antes da Covid-19, o Brasil já tinha que lidar com epidemias de AIDS, MERS, SARS, Zika, Chikungunya. Como será o enfrentamento dessas doenças, num cenário em que parece que a Covid-19 ainda vai mobilizar as autoridades sanitárias e de saúde por muito tempo?

Rosana Onocko Campos – Há a necessidade urgente de se planejar e sustentar o combate a essas outras doenças e suas sequelas. A relação entre essas doenças transmitidas por vetores e a questão ambiental merece ser destacada. O estímulo a um sistema agroalimentar mais sustentável será relevante no futuro próximo, inclusive para prevenir novas pandemias. As estratégias para o novo desenvolvimento de Ciência e Tecnologia também deveriam levar em consideração o enfrentamento dessas doenças prevalentes no território nacional.

E, por último, essas doenças também nos apontam que a questão urbana – irresolúvel no Brasil há mais de cinco décadas – precisa ser enfrentada e é uma questão de Saúde Coletiva.

IHU – A carta dos epidemiologistas que sai do 11º Congresso Brasileiro de Epidemiologia de Epidemiologia da ABRASCO também associa a degradação ambiental com aumento de riscos à saúde pública. Como conceber políticas de saúde que compreendam a preservação e reconstituição de ambientes naturais?

Rosana Onocko Campos – Acho que respondi em parte anteriormente, mas não é fácil a estratégia de pressão sobre empresas e governos. Entramos no campo da política com P maiúsculo: a que deve discutir os problemas humanos na Polis. Teremos um ano eleitoral. Precisamos fugir das falsas controvérsias fáceis. Tipo: emprego ou sustentabilidade. Precisamos criar uma nova economia na qual os empregos sejam mais bem remunerados e aconteçam em setores de economia limpa. Temos essa dívida com as gerações futuras, tomara saibamos honrá-la.

IHU – A carta ainda revela que “mesmo depois de atingirmos o controle da pandemia, o SUS, cronicamente subfinanciado, continuará sobrecarregado, lidando com as demandas de saúde represadas e com as sequelas da COVID-19”. Como encarar esse desafio do subfinanciamento do SUS e, ao mesmo tempo, garantir atendimento digno e especializados para quem sofre as sequelas da COVID?

Rosana Onocko Campos – Teremos de combater o subfinanciamento. De novo é uma questão da grande política, não da politicagem. Nunca como na pandemia o SUS pôde ser conhecido por aqueles que não o utilizavam, nem valorizado pelos seus usuários habituais. Mas temos – nós sanitaristas – obrigação também de mostrar onde e para que esses recursos a mais serão investidos. Nossa associação publicou este ano um documento chamado Fortalecer o SUS, em Defesa da Democracia e da Vida, no qual apontamos vários caminhos viáveis para fortalecimento do sistema de saúde.

IHU – A saúde pública e a gestão da pandemia estarão entre as pautas centrais das candidaturas à presidência no próximo ano. O que não pode faltar em termos de políticas de saúde para o próximo governo? E como a senhora avalia o que se tem ouvido dos pré-candidatos acerca do tema?

Rosana Onocko Campos – Ainda não temos ouvido propostas em relação à saúde, nem sabemos exatamente quem serão os candidatos. É importante que as pessoas se atentem para o passado desses políticos e parlamentares, pesquisar e se interessar – por exemplo – por como quem era parlamentar votou sobre determinadas pautas em relação à saúde, educação, ciência e tecnologia.

Desejo muito que tenhamos uma campanha à altura dos problemas do país, com debates e discussões de alto nível, mas, lamentavelmente, temo que viveremos uma campanha recheada de fake news, agressões e poucas ideias e propostas de soluções. Caberá a muitas de nós, entidades da sociedade civil, levantar algumas reivindicações e propor soluções passíveis de serem implementadas. Nossa associação está empenhada na elaboração de um dossiê para disponibilizar aos interessados as melhores análises e propostas para o pós-covid no ano eleitoral.

IHU – Como o Programa Nacional de Imunizações – PNI sai dessa experiência da pandemia?

Rosana Onocko Campos – O PNI é mais um morto da Covid. Ele foi implodido, estraçalhado pelo negacionismo, a incompetência e – segundo mostrou a CPI – até pela desonestidade deste governo. A boa nova é que ele poderá ressuscitar. E deveremos também trabalhar para que isso aconteça.

A tradição do SUS nos fortalece para isso, a rigor o PNI é prévio à existência do SUS. As políticas de vacinação se beneficiam de certa centralização, seja pela compra dos insumos, seja pela cobertura ou pela uniformização de estratégias, então será vital que ele seja fortalecido.

IEPS analisa a PLOA 2022 e revela tendência de redução dos investimentos em saúde

Nota técnica publicada pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) analisa a proposta de orçamento para a saúde em 2022, destacando que se mantém a tendência de redução dos investimentos, o financiamento da atenção primária está estagnado e os recursos adicionais destinados ao combate à pandemia podem ser insuficientes.

Pesquisadores do IEPS analisaram o Projeto de Lei Orçamentária para o exercício de 2022 (PLOA2022) com foco na proposta do Ministério da Saúde e o comparam aos anos anteriores.  A análise revelou que o valor do PLOA 2022 para o Ministério da Saúde é de 147,4 bilhões de reais, quantidade similar à de 2012 e 5% menor do que a de 2019.  Além disso, apresenta participação orçamentária federal de 3,19%, a menor dos últimos dez anos.

O Ministério de Saúde possui baixa capacidade de investimento, e que se reduz ano a ano: “entre 2013 e 2022, houve uma redução de 77% na dotação direcionada, caindo de R$9,2 para R$2,1 bilhões, ou, em termos de participação, de 5,9% para 1,45% do PLOA” (Faria et al., 2021). Destaca-se também que boa parte dos recursos do Ministério dependem das emendas parlamentares. Essa questão preocupa, porque a destinação das emendas obedece principalmente a critérios políticos e não a uma análise ampla das prioridades em saúde.

Especificamente em relação à Atenção Primária, os recursos propostos – R$25,4 bilhões, ou 17% da proposta do Ministério da Saúde – são insuficientes para manter os serviços atuais e dificultam a ampliação e qualificação da APS. A proposta para 2022 é 1% menor à de 2021 e 15% menor à de 2014.

Por outro lado, o PLOA 2022 aloca R$7,1 bilhões, ou 4,8% do orçamento total, para o combate à pandemia. Desse valor, 55% estaria destinado para a compra de vacinas contra Covid-19, ou R$3,9 bilhões. Considerando a possível necessidade de atualização anual da imunização, os recursos podem ser insuficientes, levando em conta que a dotação orçamentária para esse objeto na LOA 2021 foi de R$ 6,9 bilhões.

A partir da análise do PLOA 2022, os autores da nota do IEPS concluem que o volume de recursos alocados ao custeio dos serviços de saúde é insuficiente. Em um panorama de sobrecarga do sistema de saúde associado à pandemia, a estagnação do orçamento federal, a redução do orçamento para a APS e a queda dos investimentos são questões muito preocupantes, porque podem afetar a cobertura e qualidade da Atenção Primária, o acesso aos serviços e, por conseguinte, a saúde da população.

Convidamos a todas e todos a fazer a leitura da nota na integra, disponível em: https://ieps.org.br/pesquisas/a-proposta-de-orcamento-para-saude-em-2022/

Por Diana Ruiz, doutoranda que contribui com a Rede APS

3° Seminário 2021 Rede APS Notas Técnicas, vídeos das atividades e apresentação de grupos de pesquisas

Com o propósito de debater os desafios da Atenção Primária, agravados pela atual crise sanitária, política e social, a Rede de Pesquisa em APS realizou, no dia 05 de novembro, o 3º Seminário 2021 – Uma Agenda Estratégica Política e de Pesquisa para a APS no SUS. Compartilhamos abaixo o vídeo da abertura, as notas técnicas, as apresentações dos autores e o vídeo das atividades de cada sala. Na sequência os vídeos da parte da tarde, as apresentações dos grupos de pesquisa e o vídeo da plenária final.

Vídeo abertura – https://www.youtube.com/watch?v=TcyKkd1kuOA

Avanços e ameaças à APS e ao SUS  –  Apresentação Eugênio Vilaça Mendes 

Uma agenda política estratégica para a APS no SUS

 

Sala 1 – Efetividade e eficiência da APS

Nota Técnica  – Financiamento do SUS e APS: ameaças aos avanços de três décadas

Apresentação  

Nota Técnica – Eficiência e Gestão Pública em Saúde na APS

Apresentação     

Nota Técnica – Avaliação, Monitoramento e Melhoria da Qualidade na APS

Apresentação

Vídeo –  Sala 1 – https://youtu.be/tD2R3_okjMQ

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Sala 2 – Processos de trabalho na APS/ESF

 

Nota Técnica – O caráter estratégico do Agente Comunitário de Saúde na APS integral

Apresentação

Nota Técnica – Enfermagem na APS: contribuições, desafios e recomendações para o fortalecimento da Estratégia Saúde da Família

Apresentação

Nota Técnica – Medicina de Família e Comunidade, Atenção Primária à Saúde e Estratégia Saúde da Família: Relações, Desafios e Potencialidades

Apresentação

Nota Técnica –  Saúde bucal no SUS: reflexões sobre as fortalezas e ameaças à Política Nacional de Saúde Bucal

Apresentação

Vídeo – Sala 2 – https://youtu.be/DydyPSUG-Fc

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Sala 3- Saúde, educação e território na APS/ESF

Nota Técnica- Determinação Social da Saúde e participação social na APS

Apresentação

Nota Técnica – Formação de profissionais de saúde na APS no contexto de crise sanitária e humanitária

Apresentação  

Nota Técnica – Educação Popular em Saúde na construção da Abordagem Comunitária na Atenção Primária à Saúde: aspectos conceituais e desafios diante da pandemia de COVID-19

Apresentação

Vídeo – Sala 3 – https://youtu.be/B0TpKRuAJ44

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Sala 4 – APS/ESF e inovação nas redes de atenção

Nota Técnica – Atenção Primária à Saúde e o modelo da vigilância à saúde

Apresentação

Nota Técnica –  APS na rede assistencial e coordenação do cuidado

Apresentação

Nota Técnica –  Incorporação de recursos de telessaúde na APS no Brasil

Apresentação

Nota Técnica – Atenção as condições crônicas na APS – avanços, desafios e perspectivas

Apresentação

Vídeo – Sala 4 –  https://youtu.be/5UFAZx_9iwQ

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Uma agenda estratégica de Pesquisa em APS

Apresentação de grupos de pesquisas

 

Vídeo Sala 2 – https://youtu.be/eCqjzmAGnSo

Vídeo Sala 3 – https://youtu.be/JdMGBlRotmE

Vídeo Sala 4 – https://youtu.be/HyxZ-kZIsPA

 

Apresentação de grupos de pesquisas   

 

Saúde Coletiva e Ensino na Saúde – Universidade Federal de Viçosa  

Gemas – Gênero, Maternidade e Saúde -FSP/USP 

Grupo de estudo de pesquisa em Saúde Coletiva na Amazônia – GEPESCA/UFPA  

Desenvolvimento de Tecnologia em Atenção Primária à Saúde – UNESP/Botucatu 

Grupo de Estudo em Epidemiologia e Saúde Comunitária  – GEEeSC  

Grupo de Estudo e Pesquisa em Cuidado Paliativo – GEPCP/Dihs – ENSP/Fiocruz  

Pesquisa em APS – Fiocruz 

Centro de Estudos, Pesquisa e Prática em APS e Redes – A. Einstein  

Núcleo de Saúde Coletiva – NUSC -UEFS 

Grupo de estudos e Pesquisa em Saúde – GEPS – UNISC

Observatório Baiano de Redes de Atenção à Saúde – OBRAS-UFBA  

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Plenária e encerramento – Vídeo– https://www.youtube.com/watch?v=TcyKkd1kuOA