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Arquivo Mensal setembro 2022

Abrasco: 43 anos de luta pela saúde da população brasileira

Em 27 de setembro de 1979. Cerca de 28 representantes de programas de pós-graduação em Saúde Pública participaram da Reunião sobre Formação de Nível Pessoal em Saúde Pública, realizada na sede da Organização Pan-Americana de Saúde, em Brasília, e fundaram a então Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – Abrasco, renomeada em 2011, Associação Brasileira de Saúde Coletiva.

Neste 2022 a Abrasco está fazendo 43 anos. Os marcos dessa história são inúmeros, encontram-se escritos em livros (veja aqui e aqui duas publicações), na memória e na produção científica da área, nas conquistas pelo direito à saúde do povo brasileiro. É muita história vivida!

Num ano com tantas ações em simultâneo, trazemos para a celebração desses 43 anos os pontos principais de nossa atuação em 2022

Para Rosana Onocko, presidente da Abrasco, destaca sua alegria e honra em estar nesse momeno à frente da Associação. “Nesses anos tão difíceis pelo que a gente passou e continua a passar não nos furtamos à defesa do direito do povo brasileiro.

Seguimos a luta contra a Covid-19 numa pandemia que ainda não acabou e por ampla vacinação!
Até o momento, mais de 49 notas técnicas e posicionamentos para garantir a proteção da saúde do povo brasileiro!

Esse ano também foi um ano de renovação. Atualizamos nossa logomarca e implantamos uma nova identidade visual! Agora temos novas cores, elementos e uma marca que reflete o caráter dinâmico da instituição.

Nos 200 anos da independência, participamos com diversas atividades da 74ª Reunião Anual da SBPC.levamos olhar da Saúde Coletiva para pensar e construir saídas e soluções para um Brasil efetivamente independente e soberano.

Assista à mesa Pobreza, Desigualdades, Proteção Social e Saúde no Brasil na 74ª RA SBPC

Assista à mesa As Ciências nas pandemias: da gripe espanhola à Covid-19, na 74ªRA SBPC

Assista à fala de Rosana Onocko sobre os 200 anos da ciência brasileiraa à 74ª RA SBPC

A Abrasco compõe a Frente pela Vida que, junto com demais entidades, realizou a Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde, numa construção coletiva para uma nova política de saúde para o Brasil.

Em clima de eleições, estamos realizando a campanha #FortalecerOSUS. Ao pautar a luta por um Sistema 100% público com destaque nas candidaturas, mostramos para a população o tamanho do SUS e como ele pode (e deve!) ser ainda maior e mais inclusivo!

Este ano também será marcado pelo retorno dos congressos presenciais da Abrasco.

Depois de 2 anos, nos reuniremos em Salvador para o 13° Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, o #Abrascão2022. Esperamos ver toda a comunidade da Saúde Coletiva por lá.

A APS em Revista lança novo número do volume 4 (2022)

A APS em Revista coloca à disposição da comunidade científica e profissional seu novo número, em um contexto de fortes pressões e embates nos diferentes campos da ação social, ainda sob os efeitos de uma pandemia que paulatinamente vai sendo superada. O novo número pode ser acessado através do link (https://apsemrevista.org/aps/issue/view/11) ou clicando aqui.

A notável resiliência da Atenção Primária à Saúde (APS) frente às contínuas e sistemáticas medidas econômicas e políticas que fragilizam sua lógica e ação, demonstraram sua relevância e centralidade no âmbito da saúde.

Seja pelas experiências em curso no contexto nacional, seja pelas experiências internacionais, torna-se cada vez mais importanteo papel daatenção primária enquanto garantia da equidade e eficiência no cuidado e resposta consistente às situações de saúde da população.

Em meio a isso, a comunidade cientifica e profissional demonstra sua capacidade em gerar informações e reflexões contributivas a uma APS forte e resolutiva e os artigos aqui presentes demonstram isso.

O primeiro deles traz uma contribuição internacional que discute o impacto da pandemia da Covid-19e seus efeitos sobre a APS, comparando três estágios sucessivos: a situação pré-pandêmica, a resposta à pandemia e o possível cenário pós-pandêmico.

O segundo artigo discute a validação e uso de painéis de indicadores de desempenho no SUS aplicados aos resultados de unidades de Atenção Primária à Saúde.

O terceiro artigo analisa as contribuições e avanços da telessaúde no campo da enfermagem na APS durante a pandemia da COVID-19.O quarto artigo examinaos atributos essenciais e derivados da APS na perspectiva dos cirurgiões-dentistas que atuam na saúde bucal de Florianópolis, Santa Catarina.

Os artigos seguintes trazem quatro relatos de experiência, onde são evidenciadas situações cotidianas de grande relevância na atuação da APS. Nesta linha, o quinto artigo narra o processo de (re)estruturação do trabalho naAPSmediado pelo telemonitoramento em Recife, Pernambuco.

O sexto artigo apresenta uma experiencia do Residência Multiprofissional em Saúde da Famíliana implantação de ações de telemonitoramentoem usuários suspeitos ou confirmados com covid-19,em Recife, Pernambuco.

O sétimo artigo aborda os métodos de prevenção à gravidez e às infecções sexualmente transmissíveis emuma Unidade Básica de Saúde. Por fim, o oitavo artigo apresenta a experiência de implementação da linha de cuidado aos portadores de feridas crônicasem uma unidade da atenção de Salvador, Bahia, entre 2020 e2022.

Com este novo número, a comunidade da Atenção Primária à Saúde dá mais uma prova de seu engajamento e interesse no debate construtivo e propositivo, que atue cada vez mais no fortalecimento de uma saúde de qualidade para todos e todas. Neste contexto , a APS em Revista representa o espaço por excelência da divulgação de estudos e experiências que expressam a capacidade de diálogo e respeito imprescindíveis a uma sociedade solidária e consciente.

Os editores,

Allan Claudius Queiroz Barbosa (IEAT/FACE/UFMG) Editor Responsável, Aluísio Gomes da Silva Júnior (ISC/UFF), Ayelene Bousquat (FSP/USP), Elaine Thumé (UFPel), Fabrício Silveira (Fiocruz-Minas e UFMG), Editor Adjunto, Fúlvio Borges Nedel (UFSC), Nelson Filice de Barros (UNICAMP), Renato Tasca (Médico e Consultor)

Rede APS participa do Diálogos CONASS

Ontem, quarta-feira, dia 21 de setembro de 2022, a Rede APS participou da reunião chamada Diálogos CONASS. O professor Luiz Augusto Facchini apresentou um resumo das proposições da Rede APS que está disponível no e-book “Bases para uma APS integral, resolutiva, territorial e comunitária no SUS: aspectos críticos e proposições” publicado recentemente e a Profa Aylene Bousquat apresentou os resultados da segunda onda da Pesquisa da Rede APS “Desafios da Atenção Básica no enfrentamento à pandemia de Covid-19 no SUS”. A profa Ligia Giovanella também esteve presente representando a Rede APS.

 

 

Resumo da Reunião:

Data: 21/09/2022
Horário: 09hs às 11hs
Local: Auditório Adib Jatene
Participantes:
• Colaboradores Conass
• Dr. Sandro Rogério Rodrigues – Sec. Estadual do Goiás – Faz parte da rede de pesquisa. 
• Dr. Renato Tasca 
 
Tema Principal: Rede de Pesquisa APS da ABRASCO
Palestrantes convidados:
1ª Palestra 
Pesquisa APS no enfrentamento da Covid 19: no território ou no consultório? – Profa. Aylene Emília Moraes Bousquat – Professora do Departamento de Política, Gestão e Saúde e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da USP (Participação virtual).  – 20 min
 
2ª Palestra
Agenda Estratégica para a APS no SUS: Proposições para uma APS integral, resolutiva, territorial e integrada à rede do SUS – Prof. Luiz Augusto Facchini – Professor do Depto de Medicina Social da Universidade Federal de Pelotas e coordenador da Rede de Pesquisa em APS da ABRASCO. (Participação virtual). – 20 min
 
Convidada: 
Profa. Lígia Giovanella – Professora da Ensp Fiocruz e da Rede de Pesquisa em APS da ABRASCO. (Participação virtual).

Oficina da Rede APS no Abrascão: “Bases para uma Atenção Primária à Saúde integral, resolutiva, territorial e comunitária no SUS: aspectos críticos e proposições”

A Rede APS fará uma oficina no pré 13o Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão). A oficina que carrega o nome da Agenda proposta pela Rede (“Bases para uma Atenção Primária à Saúde integral, resolutiva, territorial e comunitária no SUS: aspectos críticos e proposições”) acontecerá no domingo, dia 20 de novembro de 2022, durante os dois turnos (manhã e tarde). Em breve a programação completa e cadastro estará disponível no site do congresso pelo link (https://www.saudecoletiva.org.br), ou clique aqui para saber mais.

 

Resumo:

Bases para uma Atenção Primária à Saúde integral, resolutiva, territorial e comunitária no SUS: aspectos críticos e proposições
Data: 20/11 (manhã e tarde)
Local: Centro de Convenções de Salvador

3o Seminário Rede APS: “Avaliação e Monitoramento da ESF: desafios frente ao desmonte dos Sistemas de Informação”

A avaliação e o monitoramento da ESF será tema do 3o Seminário da Rede APS. O evento acontecerá na sexta-feira, dia 16 de setembro e será transmitido pela TV Abrasco (canal do Youtube). Os apresentadores serão: Luiz Augusto Facchini (Rede APS, UFPel); Ilara Hammerli Sozzi de Moraes (ENSP/FIOCRUZ) e Nereu Henrique Mansano (CONASS).

 

Resumo:

Avaliação e Monitoramento da ESF: desafios frente ao desmonte dos Sistemas de Informação

Dia: 16 de setembro

Horário: 9-11h

Apresentação:
Luiz Augusto Facchini (Rede APS)
Ilara Hammerli Sozzi de Moraes (ENSP/FIOCRUZ)
Nereu Henrique Mansano (CONASS)

Coordenação
Fúlvio Borges Nedel (UFSC)

Transmissão:
Tv Abrasco
Link: https://www.youtube.com/watch?v=x1O4MtL3fAw

Confira o card:

Piso Salarial da Enfermagem: ameaça à conquista histórica pelo reconhecimento profissional

As trabalhadoras e trabalhadores da Enfermagem, assim como, todas as entidades e lideranças da área da saúde, o Fórum Nacional da Enfermagem, o Conselho Nacional de Saúde, assim como parlamentares que estão juntos na luta pela efetivação do Piso Salarial da profissão, estão indignados com a decisão do Ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu os efeitos da Lei nº 14.434/2022.

A Lei obedeceu a todos os trâmites constitucionais necessários para que fosse instituído, de forma segura, o Piso Salarial da categoria. O Projeto de Lei foi amplamente debatido e aprovado no Senado Federal e na Câmara dos Deputados, e, Lei sancionada pelo Presidente da República em 03/08/2022. Ainda, teve a proposta de Emenda à Constituição (PEC) 11/22 aprovada, justamente para evitar suspensão e contestações.

A decisão monocrática do STF desconsiderou o amplo debate e a avaliação econômica do impacto financeiro, segundo a Aben. Causa retrocessos, quando solicita nova demonstração do impacto do aumento salarial no orçamento das entidades, já debatido e comprovado. Reafirmando, a notícia da Câmara dos Deputados, conta sobre os estudos realizados pelo Deputado Federal Alexandre Padilha, relator do Projeto de Lei. O impacto, calculado sobre dados do ano de 2020, representa 2,7% do PIB da Saúde, 3,65% do orçamento do Ministério da Saúde e um acréscimo de apenas 2,02% na massa salarial anual dos contratantes. No setor privado, o aumento de despesa corresponde a 4,8% do faturamento dos planos e seguros de saúde. O que nos leva a crer que a decisão visa atender aos interesses econômicos e de lucro das instituições privadas, representadas na ação movida pela Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde).

A Enfermagem, está presente em todos os municípios, estados e regiões do país, quer seja no sistema público ou no privado, atuando nos cuidados diretos e indiretos o tempo todo. Seu exercício profissional, junto com as(os) demais trabalhadoras(es), de fato colabora com a recuperação, prevenção e promoção da saúde. Podemos destacar alguns poucos exemplos, como na ampliação do acesso aos serviços, na promoção da saúde da criança com a vacinação, no apoio ao aleitamento materno e cuidados na puericultura, nos cuidados à saúde da mulher, aumentando o acesso ao pré-natal e ao exame colpocitológico, no acompanhamento das doenças crônicas, inclusive com a redução dos riscos de amputação em pessoas com diabetes, na diminuição do tempo de permanência das internações hospitalares, entre outras.

Na pandemia da COVID-19, a Enfermagem demonstrou todo o seu profissionalismo, estando na linha de frente, diretamente na assistência dentro dos hospitais, ao lado de outras(os) trabalhadoras(es). Se expôs à contaminação, trabalhou em condições precárias, insalubres e inseguras, e, se afastou de suas famílias para protegê-las do contágio.

Na Atenção Primária à Saúde (APS), atuou junto às comunidades, acolhendo as pessoas com sintomas da COVID-19. Reorganizou os fluxos e adotou novos processos de trabalho, orientou quanto aos cuidados no curso da doença e as medidas de isolamento social e domiciliar. Participou das mobilizações junto com as(os) Agentes de Comunitárias e demais integrantes da equipe no apoio as famílias, para buscar soluções de enfrentamento aos problemas sociais, de renda e acesso à materiais de higienização, máscaras, alimentos, entre outros. Realizou a vacinação contra a COVID-19, de forma ampla e rápida em todo território nacional, concomitantemente a manutenção das demais vacinas do calendário e outras campanhas, mesmo que com todas as limitações impostas pelo governo, ao adotar medidas que impediram um melhor desempenho. Buscou manter, a todo custo, os serviços funcionando, com continuidade das ações nas principais linhas de cuidado, como das doenças crônicas e transmissíveis, da saúde da mulher e da criança, como apontam as Notas Técnicas da Rede APS/Abrasco sobre a Enfermagem e as(os) Agentes Comunitárias(os) de Saúde.

Atualmente, trabalhadoras e trabalhadores estão buscando o reestabelecimento e a reestruturação dos processos de trabalho, considerando os aspectos endêmicos e os efeitos prolongados da COVID-19, que se somam à piora das condições de saúde gerais da população e às consequências de um sistema de saúde desfinanciado e sucateado.

Maria Helena Machado, em matéria recente sobre a atual ameaça ao piso salarial aponta que a “Enfermagem enquanto categoria profissional é exemplar, com movimentos históricos de profissionalismo, determinação, trabalho pioneiro e essencial da mulher na saúde. Uma profissão com vocação no trabalho interdisciplinar e multiprofissional como preconiza o SUS”. Contudo, a autora revela dados alarmantes sobre as condições de trabalho e saúde mental das(os) trabalhadoras(es) da saúde na pandemia, em recente pesquisa realizada, na qual a Enfermagem teve participação em peso. As comorbidades (hipertensão, obesidade, doenças pulmonares, depressão e diabetes) estão presentes em ¼ das(os) trabalhadoras(es); mais de 70% possuem fortes sinais de esgotamento e cansaço pelo excesso e sobrecarga de trabalho; há sequelas físicas e psíquicas herdadas da pandemia; denunciam más condições de trabalho e medidas de biossegurança insuficientes; queixam-se de salários baixos e insuficientes; há multiplicidade de vínculos, quase sempre precários e temporários, ou seja, estão longe da condição de Trabalho Descente apontado pela Organização Internacional do trabalho.

É necessário, então, mais uma vez destacar o perfil, a atuação e os desafios da profissão. Estudos importantes, como o Perfil da Enfermagem no Brasil (Cofen e Fiocruz) e a pesquisa Práticas de enfermagem no contexto da Atenção Primária à Saúde: estudo nacional de métodos mistos (Cofen e UnB), retratam o tamanho da categoria no país, como se dá a formação e especialização profissional, sua inserção no mercado de trabalho e a atuação nos diversos níveis do sistema de saúde e, especificamente no contexto da APS. Ambos os estudos revelam a importância do reconhecimento e valorização profissional, e reforçam a necessária luta pela melhoria das condições de trabalho, redução da carga horária e um piso salarial digno.

Falamos de 2.726.822 profissionais, segundo o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), onde 85% são mulheres. A maior parte da equipe é composta por técnicas e auxiliares de enfermagem, demonstrando a força da profissionalização técnica da categoria. No entanto, a Fotografia da Enfermagem no Brasil também revela problemas no quantitativo e distribuição de profissionais pelo país. Outro desafio, toda a Enfermagem se forma e se especializa essencialmente por instituições privadas, ou seja, financiam sua própria educação profissional.

A profissão é atravessada pelas questões interseccionais, envolvendo marcadores sociais e raciais, de classe, gênero e raça/cor da pele. Estamos falando de mulheres, negras, mães solo, em situação socioeconômica vulnerável, que se deparam com condições de trabalho, emprego e renda num mercado árido mergulhado na égide do patriarcado.

Então, a importância do piso salarial, conquistado por meio da luta e mobilização da categoria junto com outras entidades e lideranças, é crucial para o reconhecimento profissional e para a vida dessas(es) profissionais. A questão não pode ser tratada como um problema econômico, que irá prejudicar financeiramente o sistema de saúde, pois isso já foi comprovadamente refutado. A análise precisa ser inversamente interpretada, pois, quando a maior categoria profissional do Brasil ascende o seu poder aquisitivo, o que ocorre são os efeitos multiplicadores na economia, com aquecimento de diversos outros setores e, mais do que isso privilegia-se a defesa do cuidado e da saúde da população.  Como alerta a Frente pela Vida, em nota de apoio ao piso salarial, o “orçamento é questão de escolhas, é preciso priorizar a vida e a saúde nesta decisão”.

Os argumentos utilizados sobre o impacto financeiro esfumaçam o reconhecimento da importância da profissão junto a população, uma vez que tem sido veiculada a desinformação de que instituições terão que fechar as portas por conta do aumento salarial, ou haverá demissão em massa da Enfermagem.

É necessário haver um reconhecimento para além do social. Essas(es) profissionais não são celestiais, altruístas e voluntárias(os). O piso salarial é uma correção histórica de uma prolongada desvalorização das(os) profissionais da enfermagem. A Enfermagem, por ora, teve que renunciar a sua reivindicação pelas 30 horas no meio do caminho dessa batalha. Agora, não pode haver mais manobras que impeçam a execução da Lei do Piso Salarial, conquistado legalmente.

 

Autoras: Isabella Koster (Abefaco) e Sonia Acioli (ABEn).

Ultrassonografia Natural como expressão de um cuidado humanizado da gestação na Atenção Primária à Saúde

A gestação é uma das experiências humanas mais complexas, abarcando múltiplas dimensões da vida da mulher e do desenvolvimento humano. Cada mulher a vive de maneira única e cada gestação possui características diferentes. Apesar deste caráter subjetivo, a gravidez também se caracteriza como evento social, que mobiliza as pessoas que convivem com a mulher, estendendo-se, assim, a toda a sociedade (ZAMPIERI, 1998).

Novas tendências do parto humanizado apresentam práticas não observadas anteriormente no cuidado profissional com a mulher, apontando para a revalorização de atividades e cuidados antigos, considerados a partir de estudos baseados em evidências científicas. Estas práticas objetivam promover a humanização, o acolhimento, o reconhecimento, a autoestima e o vínculo da gestante com o processo de gestar.

A pintura de ventres grávidos é a união entre uma expressão artística e cultural com a gestação e está presente historicamente na cosmologia de muitos povos e etnias. No Brasil, desde 1993, foi difundida e realizada pela parteira mexicana Naoli Vinaver, que a chama de “Ultrassom Natural”. A prática, usada em seu processo de trabalho, tem como objetivo proporcionar conexão emocional entre os envolvidos no processo de gestar.

O acompanhamento pré-natal é uma importante ferramenta para o enfrentamento das dificuldades que marcam esse processo. Fundamental para promover a troca de experiências, a compreensão das vivências, abrindo espaço para que a mulher expresse suas angústias e receios. A possibilidade de agregar técnicas que ampliam a visão mais natural do processo de gestar e proporcionam autoconhecimento à gestante são de suma importância para a qualidade do acompanhamento.

O uso da pintura corporal e, mais especificamente, em barrigas de gestantes, é difundido em vários grupos sociais e no decorrer da história manifesta múltiplos significados e funções.  Recentemente no Brasil, várias equipes e profissionais, voltados para o cuidado humanizado, têm oferecido em seus grupos ou em atendimentos individuais, a opção das gestantes visualizarem seu bebê através da Ultrassonografia Natural ou Belly Mapping®, que envolve a técnica da pintura aplicada no abdome da gestante, na qual são representados, objetivamente, o bebê imaginário e outros elementos ligados à gestação como o cordão umbilical, a placenta, o útero e líquido amniótico e seus sentimentos em relação ao bebê. A técnica abarca consigo, o incremento sobre a melhoria da capacidade dos pais em identificar e obter uma noção da posição do bebê. (BABIES, 2022)

Pintar o ventre materno é o ato de exteriorizar aquilo que é inerente ao interior, revelando, aos olhos expectantes, o bebê imaginário e outros elementos da gestação. É um fazer que transforma, promove conhecimentos, emoções e exprime a vida intrauterina, por meio estético, ao combinar imagens, sensações e representações (MATA, 2017).  A iniciativa de oferecer a Ultrassonografia Natural a mulheres que realizam o pré-natal na Atenção Primária à Saúde (APS) é inovadora, evidenciando a potência do Sistema Único de Saúde em se atualizar com as melhores e mais recentes evidências científicas de cuidado, promotoras da saúde. 

Recentemente o município do Rio de Janeiro realizou o 1º Simpósio Internacional de Práticas Colaborativas e Avançadas em Enfermagem na Atenção Primária à Saúde, que comparou as experiências destas práticas no cenário internacional e nacional. A experiência “Ultrassonografia natural como promotora de vinculação com o bebê” foi apresentada pelos profissionais da Clínica da Família Nildo Eymar de Almeida Aguiar, no bairro de Realengo, zona oeste do município. A prática, inovadora para produção de cuidado em saúde, envolve a participação de enfermeiros, agentes comunitários de saúde, técnicas de enfermagem, equipe de Saúde Bucal e Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica. A atividade reconhece e valoriza os diferentes saberes dos profissionais e usuários. Na perspectiva dos benefícios organizacionais dos serviços de saúde, essa prática colaborativa aumenta a qualidade da assistência à saúde, uma vez que promove melhor acesso e coordenação do cuidado; maior resolutividade do cuidado; melhoria na comunicação interprofissional e maior interação de diferentes áreas profissionais; e, satisfação do usuário aumentando a adesão ao pré-natal (RAWLINSON et al.,2021).

Nesta unidade de saúde, a Ultrassonografia Natural é realizada no último encontro da consulta coletiva, geralmente, no terceiro trimestre. São utilizados os seguintes materiais: tinta para pintura corporal/facial/ artística, pincéis de diferentes tamanhos, lápis delineador para olhos, lenços umedecidos e base líquida de maquiagem. Todos os produtos são atóxicos e podem ser aplicados à pele humana.

Durante a realização da prática, solicita-se que cada gestante relate sobre como imagina o seu bebê. É realizado os três primeiros tempos da manobra de Leopold Zweifel (situação, posição e apresentação) e auscultados os batimentos cardiofetais. Depois, o profissional representa em arte (pintura) o bebê imaginado descrito pela mãe, a placenta, o cordão umbilical, o útero, o líquido amniótico e outros elementos solicitados (Figura 1 e 2). Esta etapa dura em média 60 minutos, sendo registrada por fotografia pelos profissionais.

Figuras 1 e 2 – Prática da Ultrassonografia Natural em gestante na Clínica da Família Nildo Eymar de Almeida Aguiar, Rio de Janeiro

               Fonte: Acervo dos autores, 2022.

 

Uma experiência similar foi apresentada pelos profissionais da APS da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis/SC, na 2ª Edição do Laboratório de Inovação em Enfermagem da OPAS, em parceria com o COFEN, intitulada Pintando ventres grávidos: Uma experiência de Vínculo, Empoderamento e Cuidado. A experiência desenvolvida nos Centros de Saúde Tapera e Armação, na região Sul se estende sobre 3 modalidades de oferta do serviço que contemplam a prática como trabalho terapêutico: Grupo de Gestantes, Consulta de pré-natal e Oficinas de Ultrassonografia Natural para profissionais de saúde.

As oficinas são para sensibilizar o profissional de saúde para a prática da Ultrassonografia Natural, não sendo necessário ter habilidades artísticas ou conhecimento prévio porque se utilizam moldes e técnicas de desenho que facilitam o processo. É de suma importância perguntar se a gestante tem alergia ou sensibilidade aos produtos utilizados, utilizar materiais de qualidade e com data de validade em dia. O desenho parte da construção de uma imagem que agrade a gestante e sua rede de apoio, por isso é imprescindível perguntar quais as expectativas com relação à pintura, suas inspirações, suas cores favoritas, se ela gostou de alguma ultrassonografia que já viu, sempre é deixado claro que não irá ficar igual, pois cada pintura é única e os traços de cada profissional no desenho são diferentes. Os profissionais relatam que é importante, ao desenhar, prestar atenção às proporções do corpo do bebe, lembrando que estamos povoando a imaginação de uma gestante e familiares. Contemplar, mostrar com espelho e fotografar são sugestões para depois da pintura. Incentivar os familiares a desenhar em casa na barriga também, incentivando o vínculo com a gestação.

A partir dos relatos da experiência de Florianópolis, pode-se perceber que a Ultrassonografia Natural auxilia os profissionais a assumir um olhar ampliado durante o cuidado com a gestante, com fins terapêuticos, fortalecendo o vínculo com o bebê e promovendo durante a realização da arte (pintura) momento de relaxamento e expressão dos sentimentos maternos. Presume-se que esse espaço é uma das formas de remover as barreiras de acesso em situações de vulnerabilidade social. Essa estratégia de cuidado repercute em maior adesão ao aleitamento materno, acolhe as angústias  da família, cria espaço para sanar dúvidas e estreitar o vínculo com a unidade de saúde.

A pintura do bebê no ventre materno valoriza a mulher e suas escolhas, apresenta o bebê imaginário por meio de arte a sua rede de apoio e familiar, leva a uma conexão mais profunda e intimista da maternidade e paternidade, bem como vincula irmãos ao nascimento do novo integrante da família. Incentiva a participação de todos no processo de gestar, oferecendo um suporte e troca de experiências única a esse momento (Figuras 3 e 4).

  Figuras 3 e 4 – Prática da Ultrassonografia Natural em gestante nos Centros de Saúde Tapera e Armação, Florianópolis

Fonte: Acervo dos autores, 2022.

Com base nos relatos das gestantes que participaram da experiência, foi identificado motivação e movimento para busca de conhecimento e vínculo ao bebê. Essa prática desperta sentimentos de proteção, amor, perdão, segurança, aumento da auto estima, conexão com o próprio corpo e autonomia no processo de parir e liberação de medos e inseguranças.

Por outro lado, a localização do feto através da palpação, ausculta dos batimentos fetais, observação dos seus movimento, presentes durante a prática da pintura, é uma potente ferramenta pedagógica que populariza, relaciona e integra o conhecimento e práticas científicas dos profissionais à comunidade, fortalecendo a abordagem comunitária e ações baseadas em prevenção quaternária e centrada na pessoa.

A expressão artística de desenho e pintura em gestantes reflete a potencialidade do plano relacional paciente/profissional. Todas as pessoas carregam uma bagagem de vida onde existem conhecimentos, crenças, religiões, sentimentos, valores, emoções e de nenhuma forma nosso conhecimento tem valor maior que o que elas têm. Nesse sentido, todos os conhecimentos, tradicionais e profissionais, devem ser compreendidos num mesmo patamar de relevância, sem hierarquizações. Segundo Barreto (2008) há inúmeras possibilidades de prevenção das doenças e formas de cura, tanto quanto existem distintas realidades, sociedades e culturas presentes na humanidade.

A arte, por sua vez, entra nesse contexto como uma ferramenta fundamental para aproximação e vínculo das gestantes no objetivo de empoderamento da mesma no processo de maternagem. Sugere-se fortemente a capilarização desta prática colaborativa nos serviços de saúde.

 A partir das experiências apresentadas, é possível destacar que a prática da Ultrassonografia Natural, seja realizada pela enfermagem ou por outros profissionais, oportuniza e reforça o caráter da APS na realização de um cuidado humanizado, integral e interprofissional, que visa a promoção da saúde em âmbito familiar e comunitário.

 

Autoria

Rio de Janeiro: Aline Azevedo Vidal, Aline Gonçalves Pereira, Jacqueline Oliveira de Carvalho e Luciana Simões de Oliveira.

Florianópolis: Caren Della Mea da Fonseca, Cilene Fernandes Soares, Elizimara Siqueira, Juliana Cipriano de Arma, Laura Denise Reboa Castillo Lacerda, Lucilene Gama Paes, Tatiane Chimanko Bugs

Revisão: Isabella Koster, Lucelia dos Santos Silva.

 

Referências

BARRETO, A.P. Terapia Comunitária – Passo a Passo. 3º Ed. Fortaleza: Gráfica LCR, 2008; 480p: il.

MATA, Júnia Aparecida Laia da; SHIMO, Antonieta Keiko Kakuda. Arte da pintura do ventre materno e vinculação pré-natal. Revista Cuidarte, v. 9, n. 2, p. 2145-2164, 2018.

RAWLINSON, C; CARRON, T; COHIDON, C; ARDITI, C; HONG, Q.N; PLUYE, P; et al. An Overview of Reviews on Interprofessional Collaboration in Primary Care: Barriers and Facilitators. Int J Integr Care. 22 de junho de 2021;21(2):32.

The Basics of the Belly Mapping®️ Method. Spinning Babies, 2022. Disponível em: <https://www.spinningbabies.com/pregnancy-birth/baby-position/belly-mapping/>. Acesso em: 06, julho de 2022.

ZAMPIERI, M. de F. M.. Vivenciando o processo educativo em enfermagem com gestantes de alto risco e seus acompanhantes. Florianópolis, UFSC, 1998. 179p.

 

 

Abrasco e Change entregam petição pelo fortalecimento do SUS em diretórios políticos

Na última semana, uma parceria entre Abrasco e Change levou a petição que clama pelo fortalecimento do SUS à sede de vários diretórios políticos em São Paulo. A ação, promovida pela plataforma de abaixo-assinados Change.org, levou também outras cinco petições, que reúnem mais de 3,6 milhões de assinaturas, às coordenações dos partidos dos candidatos que disputarão as próximas eleições, em outubro. 

Reunindo quase 80 mil assinaturas, a petição da Abrasco propõe o fortalecimento do SUS e a presença da pauta da saúde no centro do debate político destas eleições. Ela integra a campanha Fortalecer o SUS, da Abrasco, e convoca para a mobilização aqueles que acreditam que o nosso sistema de saúde merece mais investimentos. 

Para a presidente da Abrasco, Rosana Onocko, a campanha pelo Fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) leva a atuação que a Associação tem feito, por meio da Frente Pela Vida, para um público mais amplo, que pode não estar tão próximo do debate sobre políticas de Saúde, mas que são usuários e conhecem bem as dificuldades e potências do SUS. “O fato da campanha ter conseguido mais de 78 mil assinaturas mostra a importância que a vida da população tem e a necessidade de mantermos a mobilização por uma retomada de investimentos e qualificação do nosso sistema”, afirma. 

Durante os dias da caravana, os cidadãos e representantes das organizações responsáveis pelas petições selecionadas visitaram diretórios de pelo menos nove partidos: PT, PCdoB, PSOL, PSDB, Rede, Cidadania, PV, PSB e PSD.  O próximo passo da ação irá contar com a entrega da petição da Abrasco para os presidenciáveis. 

Conheça a campanha, acesse www.fortalecerosus.org.br e chame mais pessoas para assinarem a petição! 

Monkeypox : é preciso produzir dados com recorte de raça/cor, gênero e orientação sexual

Fonte e reprodução da imagem: NIAID & Abrasco

Desde que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a monkeypox como uma Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional, em julho de 2022, há estigma e desinformação sobre a transmissão da doença e a comunidade LGBTQI+ . Para gerar políticas públicas efetivas de prevenção e tratamento, sem descriminalizar grupos específicos, é necessário produzir dados com variáveis de raça/cor e etnia, gênero e orientação sexual. 

É o que defende Daniel Canavese, pesquisador do GT LGBTI+ da Abrasco e um dos autores do artigo Pela urgente e definitiva inclusão dos campos de identidade de gênero e orientação sexual nos sistemas de informação em saúde do SUS: o que podemos aprender com o surto de monkeypox? , publicado na revista Ciência & Saúde Coletiva. 

O documento traz propostas para orientar a comunidade científica,  gestores de saúde e a sociedade, de forma geral. Além de recomendar a adoção de ações imediatas de cuidado – como testagem, vacinação, e atenção clínica -, frisa a necessidade da divulgação dos dados de monkeypox nos boletins epidemiológicos, organizados pelos marcadores, e também a disponibilização dessa informação em espaços de ciência aberta, assim como a produção de campanhas de comunicação. 

Para o pesquisador, um dos objetivos do texto é comunicar o quanto os marcadores indispensáveis para que possamos compreender as necessidades de saúde e as questões de vulnerabilização, particularmente. “A resposta brasileira demonstra os impactos de não termos esses dados, dando margem para as situações de estigma, propagação das fake news. É urgente que tenhamos uma produção de dados nos sistemas de informação com essas variáveis, para que possamos analisar, planejar e intervir” 

Canavese também defende que a sociedade civil e a comunidade científica também exijam, nos diferentes espaços de atuação, a produção de informação que subsidie as políticas de equidade em saúde.

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