Um artigo publicado em maio de 2017 na PLOS Medicine e que teve repercussão na imprensa na última semana estudou os efeitos da expansão da APS sobre a saúde da população brasileira. Nele, os autores Thomas Hone, da Imperial College de Londres e outros quatro pesquisadores vinculados a institutos de pesquisa do Brasil, analisaram longitudinalmente (entre 2000-2013) a associação entre a expansão da Estratégia Saúde da Família e as iniquidades raciais nas mortes evitáveis pela APS.
Para realizar a análise, o estudo utilizou modelo estatístico de regressão de Poisson comparou a expansão da cobertura da ESF com a evolução da mortalidade por condições sensíveis à Atenção Primária (ambulatory-care-sensitive conditions – ACSCs) na população branca e negra de 1622 municípios brasileiros. Utilizou também outras variáveis na análise, incluindo o desenvolvimento econômico e social dos municípios, dados dos sistemas público e privado de saúde e outras informações populacionais, como a cobertura do Programa Bolsa Família. As fontes do estudo selecionadas foram o DATASUS e o IBGE.
Durante os quatorze anos estudados, tal mortalidade caiu 37,9% na população negra ( de 93,3 para 57,9/cem mil habitantes) e de 34,9% (de 75.7 para 49.2/cem mil habitantes) na população branca. No mesmo período, houve aumento significativo na cobertura da ESF nos municípios analisados. Tal expansão foi associada à redução de 15.4% da mortalidade na população negra e 6.8% na população branca.
O estudo afirma que mesmo se a cobertura da ESF fosse 100% em todos os municípios, a taxa de mortalidade evitável seria 11.7% maior na população negra do que na branca, evidenciando as iniquidades raciais no processo de adoecimento e a importância de políticas específicas para essa população, além da cobertura universal da ESF.
Aprofundando a análise de variáveis, o estudo observou o impacto da cobertura sobre as mortes evitáveis separadamente por diferentes grupos de doença e por dados socioeconômicos. Por exemplo, o estudo afirma que na população negra, a mortalidade por diabetes caiu 2,7% ao ano, enquanto na branca, não houve alteração significativa.
Ao analisar os efeitos da APS sobre a saúde e o desenvolvimento social do país, o artigo reforça a necessidade de ampliação e qualificação da atuação multiprofissional da ESF no território brasileiro. Conforme relatou Thomas Hone à Folha de São Paulo, “dado o número de vidas salvas e as melhorias na saúde e no bem-estar, não podemos ver nenhum cenário onde seja sábio ou rentável a longo prazo reduzir o investimento no programa.”
Boa leitura!