Rede APS

Boletim 17/2/2025

O discurso de formatura da Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade da Escola de Saúde Pública da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina terminou com a afirmação de que “todo mundo merece um médico ou médica de família e comunidade (MFC) para chamar de seu”.

A Residência faz parte do Programa de Fomento à Especialização Profissional para Atenção Primária à Saúde de Santa Catarina (FEPAPS-SC), em que a Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina (SES), em parceria com municípios e com o Ministério da Saúde, implantou cursos de pós-graduação com o objetivo de promover a formação qualificada e o provimento de profissionais especialistas para a Atenção Primária à Saúde (APS).

O FEPASP-SC possui três modalidades de cursos de formação profissional, que são as residências (Residência Médica em Medicina da Família e Comunidade; Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade); os cursos de formação de preceptores/as (Pós-graduação lato sensu em preceptoria em Medicina de Família e Comunidade; Pós-graduação lato sensu em preceptoria também Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade; e Pós-Graduação Lato Sensu em Preceptoria Multiprofissional para Atenção Primária) e, por fim, a Pós-Graduação Lato Sensu em Educação Permanente em Saúde para Atenção Primária com Enfoque nas Residências em Saúde. Maiores informações são encontradas no link https://esp.saude.sc.gov.br/index.php/cursos/residencias.

No último dia 28 de fevereiro de 2025, no Centro de Eventos da UFSC, ocorreu a formatura da Residência Médica em Medicina da Família e Comunidade, juntamente com a Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade, e os cursos de Residência em Psiquiatria e em Medicina de Emergência. A professora Eleonor Minho Conill, médica generalista e pesquisadora renomada em temas de APS, acompanhou a formatura e relembrou sua trajetória de participação no início das residências em MFC, na década de 1970, e na criação do SUS nos anos 1980. Saudou as iniciativas de formação de profissionais de saúde para a APS no SUS e comentou que “o conteúdo do discurso me emocionou ao dizer o necessário e o fundamental com extrema beleza”.

Leia o discurso na íntegra:

“As emoções têm um papel importante na Medicina de Família e Comunidade. Aqui, aprendemos a importância de nos implicar no cuidado com os usuários: nosso compromisso sempre foi com a relação! Em cada encontro fomos costurando, um com o outro, histórias que formaram o tecido que hoje vestimos para dizer: eu sou MFC!!!

Essa constatação veio quase como um susto ao final desses dois anos de residência. É justamente no momento em que começamos a nos despedir daqueles que encontraram em nós um espaço de confiança, que nos damos conta do poder do vínculo instaurado… Que belo presente de formatura, meus amigos!

“Oh de casa!”, “O resultado veio positivo”, “Tem mais alguma coisa em que eu possa ajudar hoje?”, “Me conta mais sobre essa tua dor”, “Se precisar, tô aqui”… (silêncio) O fio do tempo nos permitiu acompanhar as pessoas em momentos diversos de suas vidas: gravidez, nascimento, adolescência, adultez e também na morte. Escutamos histórias, dores, sonhos e conquistas de uma comunidade inteira. É preciso estar aberto ao inesperado na Medicina de Família e Comunidade.

Olhares que dão notícias também de nós. Olhares que revelam mais do que palavras: incomodações, descobertas, habilidades que nem sabíamos que poderíamos desenvolver. Afinal, como nos conta Geni Nuñez, o cuidado não é unidirecional, o cuidado circula e se refaz no encontro! E ao final desses muitos encontros foi possível ouvir em tom de gratidão um “ninguém tinha me escutado assim antes,” ou então um “gostei de ti, posso trazer minha filha pra uma consulta?”.

Essas trocas não se restringem ao consultório: é preciso um centro de saúde inteiro para formar um Médico ou Médica de Família e Comunidade. Pessoas que diariamente constroem o SUS e que em cada conversa, discussão de caso, ou almoço na copa, moldaram a MFC de cada um de nós.

Mas também fomos além dos espaços formais de cuidado, subimos os morros, fomos às escolas, às ruas do Pelourinho, atendemos populações ribeirinhas, fomos pros interiores desse Brasil… adentramos o sistema prisional… Onde houver pessoas, haverá espaço para um MFC!!! E nesse processo, aprendemos que um MFC não precisa se levar assim tão à sério – nos vestimos de mosquito Aedes, viramos homem aranha e rimos nas salas de espera.

Para adentrar nessa especialidade é preciso enxergar a medicina de um outro lugar. É preciso abrir mão da posição de rigidez e onipotência… Existe uma outra forma de fazer medicina, aquela que inclui a incerteza, que anda ao lado, que faz com o outro. Imagine o quão valioso é para uma usuária do CAPS ensinar médicos e médicas a fazer algo novo, como um crochê. E que importante para esses médicos residentes experimentarem o lugar de “não-saber” no encontro com o “paciente”, ou melhor, no encontro com o interagente!

É, Todo mundo merece um Médico de Família e Comunidade para chamar de seu e hoje temos aqui 21! Cada um com sua singularidade, sua essência, sua força única, tecendo, juntos, o sentido do coletivo. Uma turma que fazemos questão de vestir. Vinte e um que nos lembram a importância de momentos simples, como sentar em roda para uma aula e compartilhar o alimento. Vinte e um que foram respiro, afeto, admiração e resgate da fé na medicina. Que nesse novo começo, nos momentos difíceis, lembremos que em nossa maleta há também um poema que diz: Nós vamos pro mundo, meu povo estimado, / Para todos mostrar o que o MFC faz!”

O discurso foi escrito pelo MFC Augusto Garcia de Cezar a partir da contribuição da turma e lido pela oradora MFC Karina Azevedo de Melo.

Elaboração do Boletim: Carla Straub

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