A Rede APS coloca em destaque o artigo intitulado “Organização da atenção e vigilância em saúde na atenção primária frente à Covid-19 em municípios do Nordeste Brasileiro” publicado na revista Ciência e Saúde Coletiva em fevereiro de 2023. Parte-se do pressuposto que as abordagens de vigilância à saúde, embora aparentemente ‘consensuais’, revelam distintas concepções, ainda que não antagônicas, que podem contribuir para diferentes respostas à pandemia no âmbito da APS [1]. 

O objetivo do estudo foi analisar a organização e desenvolvimento das ações de vigilância e atenção na APS, desde o arcabouço normativo até a execução das ações sanitárias nos territórios de abrangência das equipes de saúde em três municípios do Nordeste brasileiro.

Realizou-se 75 entrevistas e análise documental. Os resultados consideraram a lógica de organização tecnológica e o desenvolvimento das ações de atenção e vigilância em saúde pelas equipes no nível local. Cabe destacar que a intenção não foi o julgamento de cada município, mas a compreensão de processos de integração entre as ações nos territórios de municípios, por meio de cenários representativos, que permite as múltiplas inter-relações dos aspectos observados.

Nos três municípios, a resposta da APS foi caracterizada pela atenção, notificação e monitoramento de casos, estratégias de educação em saúde restritas aos grupos de WhatsApp e às unidades de saúde e incipiência de ações de vigilância da saúde relacionadas à busca ativa e comunicação de risco nos territórios. No caso de M1, constatou-se uma concepção bem definida sobre a integração das ações, com vistas à organização do processo de trabalho das equipes. Contudo, não houve aumento da capacidade técnica dos distritos sanitários para apoiar as ações de vigilância junto às equipes. Em M2 e M3, a demora na definição da APS como porta de entrada e a priorização de serviço central de telemonitoramento realizado pela vigilância municipal reforçou a fragmentação das ações, revelando um baixo protagonismo da APS nas respostas à pandemia

Ao analisar o modelo da vigilância em saúde desvela-se um desafio persistente quanto à reorganização dos processos de trabalho das equipes, apontado como principal dificultador a existência de lógicas próprias entre as ações desenvolvidas tradicionalmente nas vigilâncias. Evidências apontam que os papéis organizacionais em resposta à Covid-19 foram mal definidos, inicialmente, devido à falta de comunicação entre a diversidade de atores dentro do sistema de saúde.

 Assim, para planejar novas estratégias de vigilância com base no trabalho coordenado, é fundamental entender a influência e a interação entre mecanismos de coordenação interorganizacional em contextos específicos. Por outro lado, cabe pontuar que diretrizes políticas e técnicas, e condições estruturais são fundamentais para a reorganização do trabalho entre os setores, de modo a fomentar arranjos permanentes que promovam condições e incentivem a colaboração intersetorial

Os autores concluem que examinar a organização da APS e sua posição na rede assistencial, enquanto ordenadora do cuidado em saúde, fundamentalmente perpassa em refletir sobre os processos de descontinuidade agudizados a partir da revisão da Política Nacional de Atenção Primária, o que recrudesce fatores restritivos à atenção à saúde. Assim, os obstáculos na práxis para operacionalizar a integração entre APS e vigilância em saúde nos territórios, por si só, á constituem-se num dilema que precisa ser problematizado amplamente, não apenas em período pandêmico.

Para acessar o artigo na íntegra clique aqui (ou através do link https://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/organizacao-da-atencao-e-vigilancia-em-saude-na-atencao-primaria-frente-a-covid19-em-municipios-do-nordeste-brasileiro/18641).

Referência

Prado, N.M.B.L, Vilasbôas, A.L.Q, Nunes, C.A, Aleluia, I.R.S., Aquino, R.. ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO E VIGILÂNCIA EM SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA FRENTE À COVID-19 EM MUNICÍPIOS DO NORDESTE BRASILEIRO. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2023/Jan). [Citado em 23/02/2023]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/organizacao-da-atencao-e-vigilancia-em-saude-na-atencao-primaria-frente-a-covid19-em-municipios-do-nordeste-brasileiro/18641. Acesso em: 13 mar 2023.