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Arquivo Diário 13 de março de 2012

Vitória: Prevenção e treinamento explicam bom resultado do SUS

O investimento em prevenção, o treinamento de pessoal e uma rede que facilita o atendimento ao público explicam por que Vitória (ES) foi a capital com melhor avaliação no Índice de Desempenho do SUS, divulgado na semana passada pelo Ministério da Saúde. O município tirou a nota 7,1, o que coloca sua população no seleto grupo de 2% de brasileiros que vivem em municípios com índice de qualidade da saúde pública acima de 7,0. O Rio, a pior das capitais, teve nota 4,3. Em Vitória, o programa de Saúde da Família chega a quase 80% dos moradores, e, em escolas e creches públicas, as crianças, desde pequenas, têm aulas de como escovar os dentes e passar fio dental corretamente.Na avaliação da prefeitura de Vitória, no entanto, é preciso considerar que a capital é a que apresenta a maior proporção de pessoas cobertas com planos de saúde (76%). No Rio, por exemplo, são 56%. O investimento em tecnologia também facilita a vida de quem procura atendimento. Na unidade municipal de saúde Dr. José Moyses, no bairro Santa Luíza, desde a marcação de agendamento das consultas até os pedidos e resultados de exames, incluindo o controle de medicamentos, são informatizados. O médico tem acesso ao histórico do paciente pelo prontuário digitalizado, que aparece no computador do consultório. Na unidade, o paciente recebe atendimento periódico e, ao final, já sai com a próxima consulta agendada.

– Não usamos mais papel. Todas as informações do paciente e o histórico de saúde ficam no banco de dados, que é atualizado a cada nova consulta. Então, o médico consegue saber quando foi a última vez que ele se consultou, por quais médicos passou e quais medicamentos recebeu. Antes, tínhamos que consultar a pasta de cada paciente, anexar papel por papel – conta Helena Christ, diretora da unidade de saúde.A dona de casa Kátia Machado Bastos, de 45 anos, descobriu, em 2010, um câncer no seio. Ela conta que foram apenas dois meses entre a descoberta da doença por meio de um exame de mamografia, a realização da cirurgia, feita pelo SUS no próprio hospital, e o início do tratamento de radioterapia.

– Tudo muito rápido. Fui muito bem atendida. Ai da gente se não fosse esse hospital. Muita gente iria morrer.

O aposentado Roberto Pedrini, 65 anos, faz controle de diabete e hipertensão na unidade desde que ela foi inaugurada:

– A diferença para mim é que minhas consultas já são agendadas periodicamente, e sou sempre atendido no horário. Os médicos daqui são muito bons. Verdade seja dita: às vezes faltam alguns medicamentos. Mas eles me avisam quando o remédio chega, e faço meu acompanhamento certinho.Profissionais da rede recebem capacitação.

As escolas e as creches também fazem o seu papel na saúde preventiva. Desde cedo, as crianças têm aulas específicas e aprendem como escovar os dentes e passar fio dental. A prefeitura cita ainda a valorização e o treinamento dos profissionais de saúde como um dos trunfos do sistema. Antes de serem efetivados nas funções, eles passam por treinamento especializado na Escola Técnica de Saúde.

– A gente aprende qual a filosofia do SUS, como atender o hipertenso. Isso ajuda porque ele já sai da consulta com um calendário de todas as outras consultas marcada – conta a enfermeira Leontina Soares Souza Lima, 69 anos.

O professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e especialista em políticas públicas Roberto Garcia Simões acredita que o perfil e a renda da sociedade capixaba influenciaram nos resultados da pesquisa.

– Vitória é uma cidade onde os moradores têm alto poder aquisitivo e possuem plano de saúde. Portanto, uma parte considerável da população, aquela tem plano de saúde, não utiliza a saúde pública e a outra parte, bem menor, tem acesso ao SUS.

Mesmo assim, a cidade não está livre de problemas. No quesito razão de procedimentos ambulatoriais de média complexidade por população residente, a nota foi muito baixa: 2,61. Esta semana, no Pronto Atendimento localizado no bairro Praia do Suá, a dona de casa Jamara Batista reclamava de uma espera de mais de três horas para ser atendida por um médico:

– Com muita dor no pé, não consigo nem pisar no chão. Ninguém dá satisfação.

A auxiliar de serviços gerais Valdemira de Souza estava com a sobrinha precisando de socorro e também reclamou da demora:

– Com minha sobrinha passando mal e vomitando, esperei mais de duas horas e não fui atendida.

Para prefeito, ainda é preciso melhorar

O prefeito João Coser (PT) comemora os bons resultados na Saúde, mas diz que eles são reflexo de uma sequência de governantes que investiram no setor.

– Essa rede de infraestrutura, aliada ao esforço de toda a administração e à presença da Saúde cada vez mais perto das pessoas, torna eficiente a nossa rede pública. E isso é uma evolução que começou lá atrás. Não é do meu governo.

Para o prefeito, os principais desafios são melhorar a velocidade nos atendimentos especializados e nas emergências. Pesquisas recentes feitas pela prefeitura de Vitória também apontaram que o atendimento básico precisa avançar e que a população necessita de mais carinho e acolhimento ao chegar às unidades de saúde.

– O que tá pegando é a média complexidade. Ainda há demora.

Ele, no entanto, faz uma aposta ousada.

– Não tenho dúvida em dizer que em alguns anos nosso atendimento será melhor que o oferecido pelos planos de saúde da cidade.

 

Matéria publicada no jornal o Globo dia 10/03/2012

http://oglobo.globo.com/pais/vitoria-prevencao-treinamento-explicam-bom-resultado-do-sus-4275620