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A solução para melhoria da saúde no Brasil está também nas mãos dos profissionais

Quem acha que na saúde é preciso ter soluções mirabolantes para resolver os problemas que se acumulam ao longo dos anos pode estar redondamente enganado. Claro, em alguns casos são realmente necessários altos investimentos para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Mas na maioria das vezes uma conversa aberta e franca entre os profissionais de saúde envolvidos e a busca de ações simples para reduzir as dificuldades que existem pelo caminho podem ser a melhor solução. Um exemplo de resultado eficaz é o caso da Equipe de Saúde de Testo Central, localizada na cidade de Pomerode, em Santa Catarina. Essa ESF é uma das maiores do município, responsável pelo atendimento de 4.700 usuários. Há alguns anos, a equipe vinha sofrendo com excesso de demanda e conflitos naquela unidade no horário de 7h às 9h30 – período que habitualmente é realizado o acolhimento. A discussão entre a equipe ocorria porque o número de pessoas que buscava o posto no período citado gerava insatisfação pelo tempo de espera para o atendimento. A maior demanda nesse período era por consulta médica.

A equipe se sentia pressionada porque os usuários queriam ser atendidos, mas não tinham um horário definido para a consulta. Essa longa espera gerava conflitos entre equipe e população. Por outro lado, o médico, com a intenção de diminuir esse tempo de espera, fazia o atendimento na base da queixa-conduta, com um tempo médio de permanência na consulta de 5 minutos para cada usuário. Mas o tempo era corrido demais, diminuindo a resolubilidade, o que resultou no aumento da procura por outros atendimentos pelo mesmo paciente.

Apesar das tentativas individuais e não planejadas, o conflito de Testo Central só cresceu. A tal ponto que os profissionais começaram a pedir para mudar de equipe. Com o alerta vermelho disparado, o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), criado há um ano em Pomerode, foi chamado em maio deste ano (2012) para atuar junto com aquela equipe, como conta o integrante do NASF, Roberto Moreira.

Na reunião da equipe (composta por um médico, uma enfermeira, dois técnicos em enfermagem, uma recepcionista, um dentista, um técnico em Higiene Dentária, uma auxiliar de serviços gerais e dez agentes comunitários) e os representantes do NASF foram levantadas as causas do problema:
– atendimento realizado sem ouvir outras queixas do paciente;
– muitos usuários na unidade que esperavam por atendimento sem saber o horário certo;
– tempo de consulta médica reduzido;
– falta de consciência coletiva por parte da população para entender os problemas mais graves;
– e fila de espera antes de abrir a unidade.

Diante dos problemas, foram levantadas sugestões para melhorar. Segundo Roberto, apesar da insatisfação e conflitos dentro da equipe, os profissionais tentavam de alguma maneira buscar uma solução eficaz para melhorar o atendimento de Testo Central.

Um dos participantes da reunião colocou que a demanda de atendimentos em emergência é essencialmente ambulatorial e que somente 10% a 15% são realmente de urgência. Mesmo assim, todos esperavam na unidade pelo atendimento. Os casos mais graves eram passados na frente.

Outros pontos levantados pelos profissionais de Testo Central foram:
– a importância do acolhimento por parte de toda a equipe de trabalho, desde o médico até a funcionária de serviços gerais.
– mudar o termo de “acolhimento” para “demanda espontânea” para os atendimentos médicos realizados no referido período.
– agendamento do horário de atendimento da consulta médica (maior demanda da ESF Testo Central) a cada 10 minutos, dobrando o tempo de permanência na consulta dos usuários após consentimento do médico.

Com essas e outras sugestões que tiveram o apoio da coordenadora do NASF de Pomerode, Anna Carolina Raduenz, foi estabelecido que a equipe de enfermagem faria uma triagem da demanda e estabeleceria prioridade no atendimento para os casos mais graves. Outra ação foi feita pelos agentes comunitários que ficaram responsáveis em comunicar à comunidade local sobre as mudanças discutidas.

Resultados

Após dois meses da implantação das mudanças, já pode se notar a melhoria do relacionamento entre a equipe. Como resultado, os pacientes estão mais satisfeitos com o atendimento geral porque, segundo Roberto, os usuários estão sendo melhores atendidos e com equidade. A fila de espera antes de abrir a unidade acabou e há menos usuários circulando na unidade já que há um horário programado para a consulta médica na demanda espontânea e sendo cumprido como previsto. Ele contou ainda que na última reunião, os profissionais que até então levavam queixas para o encontro, passaram a elogiar o atendimento de Testo Central.

”Acreditamos que pulamos mais uma etapa na construção do SUS em nossa cidade, pois estamos dando acessibilidade, qualidade, humanização e resolubilidade no atendimento da ESF”, ressaltou o integrante do NASF, Roberto Moreira.

Pomerode

Considerada a cidade mais alemã do Brasil, Pomerode está localizada no médio Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Com 28 mil habitantes, o município tem 100% de cobertura de Estratégia da Saúde da Família (ESF). São oito equipes, todas inscritas no Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB). Em agosto, todas elas passarão pela fase 3 do PMAQ, que é a Avaliação Externa.

De acordo com dados do NASF de Pomerode, todos os habitantes estão cadastrados no sistema de informática da Secretária Municipal de Saúde e todos os atendimentos são informatizados.

* texto colaborativo produzido por Roberto Moreira e Maria Lopes e publicado no site da COMUNIDADE DE PRÁTICAS http://atencaobasica.org.br/

 

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