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Arquivo Mensal setembro 2020

Financiamento da APS em 2020 – estimativas do Cosems RJ apontam perdas em 2021 para 76 municípios do Estado do Rio de Janeiro

Desde a divulgação por parte do Ministério da Saúde da proposta de alteração do sistema de financiamento da APS – que se concretizou com a publicação da Portaria 2.979 de 12 de novembro de 2019 – o Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Rio de Janeiro (COSEMS-RJ) vem analisando as consequências do novo modelo de financiamento para os municípios do estado do Rio de Janeiro e debatendo a questão de como assegurar que não haja perdas significativas de recursos para os municípios. Estas discussões até levaram a debates históricos com o então Secretário da Atenção Primária à Saúde, Erno Harzheim, em outubro de 2019, e depois em dezembro, no Conselho Nacional de Saúde.

Para destrinchar as consequências da nova modalidade de financiamento, o COSEMS-RJ montou um Grupo de estudo permanente com a Superintendência de Atenção Primária à Saúde da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SAPS-SES/RJ), desenvolvendo projeções do efeito das novas modalidades de financiamento nos orçamentos dos municípios do Estado. Além disso, organizou Fóruns regionais em 2019, e segue com ações de apoio cotidianas, mantendo a pauta constante nas Comissões Intergestores Regionais (CIR) e nas Assembleias e Comissão Intergestora Bipartite (CIB), sempre em articulação com o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems).

Depois de um ano das primeiras apresentações do novo modelo de financiamento da APS, entre a corrida dos municípios para tentar cadastrar o maior número possível de usuários, e o isolamento social devido à pandemia de Covid-19, o debate sobre os custos e benefícios da proposta de financiamento da Portaria 2979 permanece mais importante do que nunca. Portanto, no dia quatro de setembro, o Comitê Gestor da Rede APS convidou Manoel Santos e Luis Paiva do COSEMS-RJ, junto a Juliana Sobral e Cristiane Lima da SAPS-SES/RJ, para apresentarem os resultados mais atualizados dos estudos realizados, apontando para importantes perdas nos orçamentos de atenção básica dos municípios fluminenses.

A primeira estimativa foi concluída pelo grupo de estudo em 2019 antes de a Portaria ser publicada. Desde aquela primeira previsão, os indicadores acompanhados têm apresentado desenvolvimentos na linha do que fora antecipado. As principais diferenças decorrem das várias prorrogações da implantação da Portaria 2.979/19.

A mudança proposta altera critérios e composição do financiamento para a APS que anteriormente consistia em dois componentes: o Piso de Atenção Básica (PAB) Fixo e o PAB Variável. O PAB Fixo transferia para os municípios um valor fixo por cada habitante, e o PAB Variável transferia recursos para custeio dos vários programas que compunham a APS: a Estratégia Saúde da Família (ESF), os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), o Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), as equipes de saúde bucal e vários outros programas (Programa Saúde na Escola, Prisional, etc).

Com o novo modelo, o financiamento passa a ter três componentes. O mais importante destes, em termos numéricos, é o Componente de Capitação Ponderada, que responde por 60-70% do custeio da AB. A lógica deste é destinar um valor X para cada indivíduo cadastrado junto à AB, não mais por cada habitante. Existem regras de ponderação de acordo a faixa etária, vulnerabilidade social, e outras. O segundo elemento, aproximadamente correspondente ao financiamento do PMAQ-AB, é o Componente Desempenho. Este é baseado no alcance de metas de uma série de indicadores que já foram detalhados Portaria Nº 3.222, de 10 de dezembro de 2019. O outro componente integra uma série de programas que seguirão recebendo transferências de forma separada, como anteriormente: por exemplo, ACS, a academia da saúde e PSE, e um programa de Informatização da APS.

No debate, foi apontado que a principal mudança – passar de pagamento por habitante a pagamento por indivíduo cadastrado – já comporta significativas dificuldades relacionadas ao cadastramento. Porém, os municípios de todo o país têm se movimentado desde o começo do ano para aumentar o número de cadastrados, com um aumento em nível nacional de 11% entre dezembro de 2019 e julho de 2020, enquanto o Estado do Rio de Janeiro teve o maior aumento em cadastrados, com 30,5% a mais no mesmo período.

As análises realizadas pelo grupo de estudo permanente incluíram uma análise do impacto financeiro do componente Capitação Ponderada para os municípios fluminenses em 2020 e 2021, uma análise geral do impacto financeiro nos municípios fluminenses, e uma análise do impacto financeiro do componente Capitação Ponderada para os municípios brasileiros com mais de 500 mil habitantes nos anos de 2020 e 2021.

Para as estimações relacionadas ao efeito da Capitação Ponderada no orçamento de 2020, a equipe, primeiramente, identificou no Fundo Nacional de Saúde (FNS) o que foi efetivamente recebido pelos municípios entre janeiro e julho de 2020. Para os meses de agosto a outubro de 2020 repetiu-se a competência de julho 2020, já que foi determinado que até outubro deste ano os municípios seguirão recebendo como se 100% do cadastro potencial – que ainda assim pode ser um número menor do que a população total. Finalmente, para os meses de novembro e dezembro de 2020 aplicaram-se as regras da portaria 2.979/19, considerando o número de indivíduos cadastrados até julho de 2020. Adicionou-se também o Incentivo Per Capita de Transição: um recurso a mais, previsto somente para 2020, que paga R$5,95 por habitante ao longo do ano.

Para estimar o efeito do mesmo componente no orçamento de 2021 aplicaram-se por completo as regras da portaria 2.979/19, com base na proporção de ponderáveis informada pelo Conasems e cadastros de julho 2020. Estas estimativas mostraram que haverá uma importante perda de orçamento entre 2020 e 2021, se não mudarem as regras e condições de cadastramento.

Para avaliar os componentes Desempenho e Ações estratégicas para 2020 utilizaram, respectivamente, os dados do Painel do Conasems e a anualização dos valores recebidos nas rubricas Ações Estratégicas, ACS e Informatização da APS, de janeiro a julho de 2020 no FNS.

Todas estas estimativas foram comparadas com o recebido em 2019, como apresentadas na Tabela 1. Determinou-se que, com as regras originais da Portaria 2.979/19, o orçamento para atenção básica de todos os municípios fluminenses para 2020 seria de quase R$ 469 milhões, ou apenas 72% do orçamento de ano anterior. Porém, com as prorrogações aplicadas ao longo do ano – sobretudo as relativas ao pagamento do 100% do cadastro potencial pelos primeiros 10 meses, ao invés que somente os primeiros 5 meses, como previsto na Portaria original – a previsão mudou para mais de R$703 milhões, equivalente a um aumento de 8% no orçamento de 2019. Mais preocupantes são as previsões para 2021, quando, assumindo os níveis de cadastro de julho 2020, o orçamento total para atenção básica dos municípios do Rio de Janeiro cairia abaixo de R$ 370 milhões, ou seja, menos de 57% do recebido em 2019.

Tabela 1. Previsão de impacto financeiro 2020 e 2021 com cadastro julho 2020 nos municípios do Rio de Janeiro

Fonte: Apresentação do COSEMS-RJ para o Comitê Gestor da Rede APS/Abrasco, em reunião virtual no dia 04.09.2020

Na análise por município, o grupo de estudo permanente estimou que, com as condições atuais de implantação da portaria, e contando os cadastros em julho 2020, 18 municípios fluminenses receberiam um orçamento para atenção básica menor ao de 2019, com uma perda total de quase R$ 14 milhões (Tabela 2). Ressaltam-se os municípios de Campos dos Goytacazes e Comendador Levy Gasparian, por serem partes dos municípios contemplados pela Portaria nº 173, de 31 de janeiro de 2020 que “dispõe sobre os municípios que apresentam decréscimo dos valores a serem transferidos, conforme as regras do financiamento de custeio da Atenção Primária à Saúde do Programa Previne Brasil”.

Tabela 2. Comparativo 2019-2020 de componente de Capitação Ponderada por 18 município de Rio de Janeiro que receberiam menos

Fonte: Apresentação do COSEMS-RJ para o Comitê Gestor da Rede APS/Abrasco, em reunião virtual no dia 04.09.2020

Após expandir a análise para os três componentes, o número de municípios com perda diminui para 12, totalizando R$ 10 milhões a menos. Porém, apontaram os apresentadores, isso representa uma redistribuição de recursos que irá, na prática, afetar negativamente a implantação de rubricas como a ESF e o NASF.

Em 2021, o número de municípios com perda aumenta para 76, representando 82,6% dos municípios de todo o Estado RJ. Estes, segundo as estimativas, terão uma perda total de orçamento para atenção básica de R$ 285 milhões – sempre tomando em conta os níveis de cadastro de julho 2020, sendo improvável que esses números cresçam muito mais em um cenário de pandemia.

Finalmente, em relação aos municípios do país com mais de 500 mil habitantes, incluindo o Distrito Federal, analisaram-se 47 municípios, dos quais 5 cairiam dentro das providências da Portaria 173/2020. Entre estes 47 municípios houve um aumento em cadastros em julho de 6,04%, enquanto no município do Rio de Janeiro (capital) o incremento foi de 22,91%. Não obstante, 16 municípios acabariam perdendo orçamento para atenção básica entre 2019 e 2020 em um total de R$ 85 milhões (Tabela 3). Esta perda aumenta para R$ 924 milhões – entre os 48 entes federativos – quando se compara o componente de capitação para 2021 ao PAB fixo e financiamento ESF, NASF e para gerentes UBS de 2019 (Tabela 4).

Em síntese, os convidados apontaram para um grave cenário de perdas de financiamento  em 2021, em um contexto de pandemia e eleições municipais; para o fato que, apesar do compromisso do Ministério da Saúde para não deixar nenhum município em perda em 2020, as análises indicam que vários municípios mesmo assim irão perder orçamento para atenção básica; para a dificuldade de cadastrar 100% da população, por não ser um processo obrigatório para os cidadãos; para as particulares condições de violência de alguns municípios fluminenses, onde o cadastramento é um desafio além do logístico; e para as distorções da classificação dos municípios, o que levará a que um grande número de municípios tenham perdas no ano de 2021. Concluíram, então, “é uma conta que não fecha”.

Tabela 3. Previsão de impacto financeiro em 2020 do Componente de Capitação, segundo regulamentado pelas portarias 172/20* e 173/20, em municípios brasileiros com mais de 500 mil habitantes

Fonte: Apresentação do COSEMS-RJ para o Comitê Gestor da Rede APS/Abrasco, em reunião virtual no dia 04.09.2020

*Portaria nº 172, de 31 de janeiro de 2020 – Dispõe sobre municípios e Distrito Federal que apresentam manutenção ou acréscimo dos valores a serem transferidos, conforme as regras de financiamento de custeio da Atenção Primária à Saúde do Programa Previne Brasil e sobre o valor per capita de transição conforme estimativa populacional da Fundação IBGE.

Tabela 4. Previsão de impacto financeiro em 2021 do Componente de Capitação, segundo regulamentado pelas portarias 172/20 e 173/20 em municípios brasileiros com mais de 500 mil habitantes

Fonte: Apresentação do COSEMS-RJ para o Comitê Gestor da Rede APS/Abrasco, em reunião virtual no dia 04.09.2020

 

Por Diana Ruiz e Valentina Martufi – doutorandas que contribuem para a REDE APS

Painel: O futuro das políticas públicas de saúde no Brasil pós Covid-19 – 06/10

O Instituto de Economia da Unicamp convida você para o painel “O futuro das políticas públicas de saúde no Brasil pós Covid19”, o terceiro de uma série de atividades sobre o do Sistema Único de Saúde (SUS) e a economia brasileira neste período de pandemia. Veja abaixo os dois primeiros eventos:

1) O SUS, a pandemia e a política econômica – uma convergência necessária | https://youtu.be/oD8km19vr7k

2) Os caminhos do SUS e do Estado social brasileiro: painel sobre Teto de gastos e reforma tributária | https://youtu.be/_CHhJK3FqWI

Neste terceiro encontro, o objetivo é debater a importância do SUS para a democracia brasileira, bem como a necessidade de políticas públicas para atender às novas exigências por serviços de saúde, assistência e previdência gerados pela Covid19. Diversas pesquisas, no Brasil e no exterior, têm nos indicado que um novo conjunto de demandas sociais exigirá do sistema de saúde organização, estrutura e planejamento incompatíveis com as políticas fiscais austeras e de restrição do financiamento da saúde pública.

Para conversar sobre esses e outros desafios, convidamos uma equipe de especialista em saúde coletiva, gestão pública e economia.

Participantes:

Ana Luiza d’Ávila Viana, professora aposentada da USP. Tem como principais áreas de estudo as políticas sociais e de saúde, políticas públicas e economia política da proteção social. Coordenadora do projeto nacional Região e Redes – caminhos para a universalização da saúde no Brasil (https://www.resbr.net.br/).

Jairnilson Silva Paim, professor titular do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia. Especialista em política de saúde; planejamento em saúde; reforma sanitária brasileira e Sistema Único de Saúde. Coordena o projeto Observatório de Análise Política em Saúde (https://analisepoliticaemsaude.org/oaps/).

Guilherme Santos Mello, professor do Instituto de Economia da Unicamp e diretor do Centro de Estudos de Conjuntura do IE/Unicamp.

A moderação do evento será realizada pelo professor Denis Maracci Gimenez, professor do IE-Unicamp, e que atua nas áreas de desenvolvimento econômico, economia brasileira, história econômica, mercado de trabalho e estrutura social.
Quando: 06 de outubro, terça, às 14h30.

Participe: https://youtu.be/4WOMyOwuIAI

Debate 10/09 – O atendimento de Urgência e Emergência na Atenção Primária no contexto da Covid-19

Como parte das atividades da iniciativa APS Forte no SUS no combate à pandemia, três experiências do Sistema Único de Saúde participarão do debate virtual na próxima quinta-feira, 10 de setembro, às 17h. As práticas mostram estratégias utilizadas para ampliar e qualificar os atendimentos de urgência e emergência na Atenção Primária à Saúde (APS) no enfrentamento da Covid-19, como por exemplo a adequação de estruturas, a capacitação das equipes e o estabelecimento de fluxos na rede assistencial.

A debatedora convidada para este debate é a diretora científica da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, a médica Maria Inez Padula. O debate virtual será moderado pela coordenadora da Unidade Técnica de Sistemas e Serviços de Saúde e Capacidades Humanas da OPAS/OMS no Brasil, Mónica Padilla. A iniciativa APS Forte no SUS – no combate à pandemia foi desenvolvida pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) no Brasil e pelo Ministério da Saúde, e visa divulgar experiências brasileiras de organização do enfrentamento à pandemia com base na APS.

O debate será transmitido no Portal da Inovação na Gestão do SUS (www.inovacaoemsaude.org ou www.apsredes.org) e também no facebook @inovacaoemsaude e no canal do youtube do portal.

O público poderá enviar perguntas para os convidados no endereço www.apsredes.org/participe.

Experiências convidadas:

  • BRASÍLIA – DF: Abordagem ao paciente grave com COVID-19 em unidade básica periférica do Distrito Federal

Descreve a experiência de uma Unidade Básica de Brasília para adequar estruturas e capacitar profissionais para reconhecer e conduzir um caso suspeito ou confirmado de COVID-19 que chegue até a unidade básica apresentando sinais de alarme, de insuficiência respiratória aguda ou parada cardiorrespiratória.

Ruan Ribeiro Ferrazza, residente da Escola Superior de ciências da Saúde da Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal.

  • SOROCABA – SP: Capacitação de profissionais multiplicadores da Atenção Básica em Urgência Emergência nos seus cenários de prática

Estratégia para capacitar equipes de trabalhadores das UBSs para o atendimento de Urgência/Emergência nos casos suspeitos ou confirmados de Covid-19, formando multiplicadores nas próprias Unidades, facilitando o fluxo de informações.

Diéssika Falleiros, supervisora da SMS Sorocaba/SP

  • ARAPIRACA – AL: A IMPORTÂNCIA DA SpO2 E OXIGENOTERAPIA NO MANEJO CLÍNICO DA COVID-19 NA APS

Iniciativa do município de Arapiraca para estruturar as unidades básicas de saúde para o manejo clínico-terapêutico dos pacientes suspeitos ou confirmados da COVID-19 incluindo, para casos graves, a estabilização clínica e o encaminhamento e transporte a centros de referência, serviço de urgência/emergência ou hospitalares.

Lousanny Caires Rocha Melo, Enfermeira especialista em UTI e Assessora Técnica de Atenção a Saúde de Arapiraca/AL.

Saiba mais informações em www.apsredes.org.

APS Forte Hoje e Sempre

A APS em Revista, publicação quadrimestral da Rede de Pesquisa em Atenção primária à Saúde, coloca à disposição das comunidades acadêmica e profissional seu mais novo número. Em seu segundo ano de existência, tem sido importante veículo de comunicação e articulação entre pesquisadores, profissionais, usuários e gestores da APS.

Em 2020, para além das dificuldades usualmente presentes na rotina e dinâmica da APS, a pandemia da COVID-19 causou transtornos e consequências dramáticas para países, governos, organismos multilaterais e profissionais ligados à saúde. Como consequência, a APS sofreu impactos de diversas magnitudes e mesmo num quadro adverso, reforçou seu papel fundamental no enfrentamento da situação.

A APS em Revista compreendeu a gravidade do momento e a  importância em promover o debate qualificado e propositivo, e, ao lançar dois números1 contendo artigos voltados ao debate sobre o enfrentamento da pandemia, vocalizou um grande movimento de experiências e relatos que apresentaram ao mesmo tempo diversidade de enfoques e ações e uma imensa capacidade mobilizadora de um sistema  e de seus profissionais de saúde. Isso, em um ambiente político conturbado e com orientações nem sempre convergentes e racionais. Portanto, o legado da APS, longe de ser episódico, vem sendo continuamente fortalecido ao longo das décadas.

Compreendendo esta situação e dentro da lógica de se pensar os sistemas de saúde deforma orgânica, em 2019, antes da pandemia, a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), escritório regional da Organização Mundial da Saúde, em parceria com o Ministério da Saúde lançaram o Prêmio APS Forte para o SUS: Acesso Universal.

O objetivo foi “identificar, dar visibilidade, reconhecer e promover iniciativas locais, municipais ou regionais que tenham como foco a melhoria da APS.” 2 Esta iniciativa buscou experiências que promovessem a melhoria do acesso da população, sempre priorizando e reforçando o papel da APS como porta de entrada prioritária e coordenadora da atenção no sistema de saúde.

Para dar visibilidade e reconhecimento a estas experiências, a APS em Revista se juntou aos organizadores da premiação e apresenta neste número as experiências vencedoras, bem como um conjunto de análises sobre os trabalhos enviados sob diferentes prismas da APS. Trata-se, sem dúvida, de uma grande contribuição ao debate sobre a APS e se mostra bastante atual pelas alternativas e possibilidades que surgem em um momento dramático que a sociedade vive.

O primeiro artigo traça um quadro geral do acesso aos serviços de atenção primária à saúde no Sistema Único de Saúde, apontando fortalezas e desafios emergentes das experiências apresentadas, pavimentando a sequência que apresenta nos três artigos seguintes as experiências vencedoras: inicialmente, uma análise do discurso dos atores na mobilização social e institucional na experiência de trabalho em Atenção Básica/Saúde da Família na UBS de Heitor Beltrão, Rio de Janeiro; depois o artigo que descreve a experiência de empoderamento da população como estratégia para construção de cidadania visando o enfrentamento de problemas de saúde no âmbito da APS em Abaetetuba, Pará; e por fim o artigo que descreve a experiência de Jaraguá do Sul, Santa Catarina, visando reduzir filas de espera nas unidades de saúde do município mediante a elaboração e aplicação de um Protocolo de Enfermagem.

Os artigos subsequentes deste número tratam de diversas facetas da premiação. O quinto artigo analisa as experiências e iniciativas realizadas em áreas remotas e/ou em cenários de vulnerabilidade social e que visam trazer melhorias à população no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS). O sexto artigo analisa as experiências do Prêmio APS Forte relacionadas à ampliação e flexibilização de horários visando identificar atributos do acesso/primeiro contato e da orientação comunitária que embasaram a construção das experiências.

O sétimo artigo aborda as experiências que abordaram intervenções no campo da força de trabalho em saúde, realizadas para garantir o fortalecimento da APS no SUS. Na sequência, o oitavo artigo analisou as experiências ligadas às estratégias para ampliação do acesso a ações e serviços de saúde em áreas remotas e/ou de vulnerabilidade. O nono artigo deste número apresenta uma análise das experiências de imunização submetidas ao premio APS Forte apontando seus desafios e praticas na condução de uma das mais relevantes e consolidadas intervenções em saúde pública no Brasil.

O décimo artigo analisou as experiências submetidas ao prêmio APS Forte de iniciativas de Práticas Integrativas Complementares que demonstram como as mesmas estão inseridas e incorporadas na APS. O décimo primeiro artigo analisou as experiências de alimentação e nutrição inscritas no Prêmio APS Forte, apontando potencialidades, desafios e perspectivas futuras. Por último, o décimo segundo artigo, uma contribuição internacional, apresenta a necessidade de fortalecer a APS para alcançar melhores resultados de saúde apoiada por uma ampla base de evidências, independentemente do tipo de modelo de saúde, país ou cultura.

A APS em Revista, ao promover a divulgação de uma premiação que mobilizou equipes e profissionais de saúde do país, reforça sua convicção de que a busca pela excelência tem efeitos positivos sobre toda a cadeia de formulação e geração de conhecimento aplicado. Em um ambiente altamente dinâmico e que apresenta um forte condicionante de conjuntura, o esforço coordenado deve estar alinhado a rápidas respostas na ponta. Por isso, este número somente foi possível pela colaboração e solidariedade entre editoria, OPAS e autores e autoras. A estes, nosso agradecimento especial.

Desejamos uma boa leitura e um ano de 2021 com saúde para todos e todas.

Reunião geral Comitê Gestor Rede APS

Comemorando nossos 10 anos de trabalho da Rede APS convidamos a todos os grupos de pesquisa em APS e entidades integrantes do Comitê Gestor  a participarem da reunião apresentando as atividades atuais de pesquisa de seu grupo, e posição de sua entidades frente às mudanças nas políticas de AB/ APS no SUS. A reunião também tem por objetivo um balanço das atividades e planejamento e as perspectivas futuras da Rede APS.

Sistema Zoom 

A importância do planejamento: a experiência do Ceará no enfrentamento da Covid-19

O Comitê Gestor da Rede APS recebeu no final de junho a Secretária-Executiva de Vigilância e Regulação do Estado do Ceará, Magda Almeida, que relatou a experiência do Ceará durante a crise sanitária que vem sacudindo o país desde o começo do ano. Magda Almeida é integrante da Comitê.

O que se destaca nesta experiência é a antecedência com a qual o estado preparou-se para enfrentar a pandemia, começando por desenhar o plano de contingência quando ainda não havia casos. Este planejamento preventivo comportou a elaboração de uma variedade de estratégias, organizadas em três fases de resposta: Fase 1 – Alerta; Fase 2 – Perigo Iminente; e Fase 3 – Emergência em Saúde Pública.

A Fase 1 teve como enfoque o controle da importação de casos – oriundos principalmente do exterior e do estado de São Paulo –, e o diagnóstico precoce. Para este fim, articularam-se atividades multissetoriais de prevenção e controle, criaram-se canais de comunicação rápidos e definiram-se pontos focais de ação. Em preparação à chegada do vírus, tomou-se ciência da capacidade instalada de atendimento, com ênfase nos leitos, material médico-hospitalar, insumos e medicamentos necessários para atender casos de Síndrome Gripal e Síndrome Respiratória Aguda Grave, concomitante a qualificação dos profissionais da atenção secundária e terciária em biossegurança, diagnóstico, coleta de RT-PCR, e armazenamento e envio de amostras.

Na Fase 2 mantiveram-se os esforços para realizar diagnósticos precoces, adicionando atividades direcionadas ao controle das fontes de infecção e bloqueio da transmissão, para evitar a disseminação do vírus. Isolaram-se tanto os casos confirmados quanto os suspeitos, e realizou-se identificação de contatos, incluindo o rastreamento de contatos íntimos dos casos confirmados, testando e isolando todos os indivíduos identificados. Para fortalecer as atividades de controle da pandemia, ativou-se também o time de epidemiologistas de campo para a investigação de surtos. Em termos de preparação para o atendimento, durante esta fase começou-se a treinar os profissionais de atenção primária à saúde, alocaram-se equipamentos e suprimentos médicos, e realizou-se a aquisição de respiradores e implantação de leitos hospitalares, inclusive com requisição de estabelecimentos inativados da iniciativa privada para garantir o tratamento de todos os casos que aparecessem. Paralelamente houve esforços para fortalecer a comunicação com os serviços de saúde, e a ampliação de atividades de educação em saúde.

A Fase 3 foi planejada para reduzir a intensidade da epidemia, e controlar o aumento de óbitos. Graças ao minucioso trabalho de preparação comportado pelas primeiras duas fases, esta última fase comportou principalmente ajustes, tanto no âmbito médico quanto no social. Primeiramente, cancelaram-se todos os eventos de massa, e realizaram-se inciativas para reduzir a movimentação de pessoas, e manter o fornecimento e preço de mercadorias estáveis, para garantir o bom funcionamento da sociedade através das parcerias com o Ministério Público. Por outro lado, criaram-se Postos Médicos Avançados (PMA) e hospitais de campanha nas várias regiões de saúde, ajustaram-se os protocolos clínicos e de testes diagnósticos, e adquiriram-se os fármacos indicados nas atualizações de tratamento.

Em relação à criação de hospitais de campanha, a Secretária-Executiva Magda Almeida realçou que, para amenizar o problema de não saber por quanto tempo seriam necessários, as autoridades optaram por investir em hospitais que seguiriam funcionando depois da pandemia.

Para fortalecer a comunicação, bidirecional, com a população, adicionou-se a toda página do governo um Chat Bot automático, denominado Plantão Coronavírus, destinado à identificação e classificação de casos através de sintomas auto-relatados. Criou-se também um site especializado sobre o Coronavírus (https://coronavirus.ceara.gov.br/) com várias ferramentas, incluindo um boletim semanal sobre a situação epidemiológica, tanto para cidadãos quanto para profissionais de saúde. Por outro lado, promoveu-se o portal de transparência da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, a Plataforma IntegraSUS, um sistema que cruza vários bancos de dados, e que agora disponibiliza a visualização de uma ampla variedade de indicadores relacionados à Covid-19, e é acompanhada todos os dias pela população através das transmissões da TV Globo local. Membros do Comitê Gestor recomendaram que a experiência de comunicação com a população do Ceará deve inspirar outros estados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em relação às dificuldades enfrentadas durante este percurso, a Secretária-Executiva Almeida ressaltou três pontos de resistência encontrados:

Testagem: os testes mais recomendados para controlar de maneira efetiva a pandemia são os RT-PCR, embora fossem menos acessíveis, além de muito demorado na obtenção de resultados. Portanto, os municípios têm adotado prevalentemente os testes rápidos, e resistido às recomendações da Secretaria de Saúde de priorizar os testes de biologia molecular. A ampliação da capacidade de testar se deu pela articulação entre outras instituições da rede estadual como o Hemocentro, associação com laboratórios de universidades (UNIFOR e NPDM) e ainda um edital de chamamento público, com contratação de laboratório privado local agregado que possibilitou suprir as fragilidades da capacidade laboratorial.

Agentes Comunitários de Saúde (ACS): como em vários outros relatos, no Ceará encontrou-se também um bom nível de resistência por parte dos ACS que estavam com medo de ignorar as indicações para a população quanto a não sair de casa. A Secretaria-Executiva Almeida explicou que hoje em dia, predominantemente, estes profissionais têm mais de 60 anos, estão prestes a se aposentar – sendo que no Ceará eles têm carreira de estado –, e têm dificuldades com a tecnologia. Este profissional é fundamental para realizar a vigilância nas comunidades, para manter sua atuação a Secretaria teve que emitir um comunicado oficial para explicar aos ACS que podiam sair de casa para a realização de atividades de trabalho.  Além disso, pensa-se em redefinir as funções dos ACS no Ceará, e ir a campo para formar estes profissionais.

Rastreamento de contatos: a Secretaria-Executiva Almeida apontou para as dificuldades encontradas no processo de rastreamento de contatos dos casos suspeitos e confirmados, porque os cidadãos resistiram aos pedidos de informações pessoais realizados por telefone ou pela internet pelas autoridades. Até alguns municípios se recusaram realizar rastreamento de contatos através das equipes de atenção primária, pela resistência dos ACS.

A ausência de uma política de saúde integral no CE deixou os municípios trabalharem isoladamente o que se reflete em experiências diferenciadas.

Ao final do relato de experiência discutiu-se que em face da manutenção dessas necessidades sentidas e de sua possível manutenção nos próximos meses deve-se dar ênfase ao fortalecimento da vigilância e da testagem, às medidas para facilitar o trabalho dos ACS que assegurem ao mesmo tempo a segurança destes, e de todos os profissionais envolvidos no enfrentamento da pandemia.  A vinculação da APS à política de e na crise é importante para reduzir o afastamento da população, a continuidade do cuidado e a incorporação de tecnológica pelos médicos de família para o tele atendimento, interconsulta, monitoramento e articulação com as especialidades via central de regulação.