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Arquivo Diário 30 de outubro de 2020

Além do distanciamento físico é necessário o uso de máscaras e considerar a ventilação e tempo de exposição

Artigo publicado no British Medical Journal BMJ no dia 25 agosto de 2020 discute a evidência para as medidas de distanciamento físico adotadas para o controle da Covid-19.

Os autores e autoras do artigo destacaram que as recomendações que definem regras de distanciamento físico específicas de 1 ou 2 metros para reduzir a transmissão por SARS-CoV-2 estão baseadas numa noção científica antiquada. Os estudos nos quais essas recomendações estão baseadas começaram no século XIX e indicam que gotas grandes que são emitidas ao falar, tossir ou espirrar caem perto do emissor. As gotas pequenas ou aerossóis se evaporam antes de cair, então, sem fluxo de ar, ficam perto do exalador. No entanto, 8 dos 10 estudos analisados numa revisão sistemática recente encontraram gotas respiratórias além de 2m para partículas de até 60 μm, resultados que sugerem que o SARS-CoV-2 poderia se estender além de 2 m. Alguns estudos relacionados com SARS-CoV-1, MERS-CoV e Gripe aviária também encontraram uma possível propagação além de 2 m.

A noção científica que indica que as gotas não chegam além de 2 metros não leva em conta a física das exalações respiratórias, segundo a qual quando exalamos, cantamos, tossimos ou espirramos produzimos nuvens de gás quente, úmido e com grande impulso de ar. Essas características ocasionam que gotas de diferentes tamanhos fiquem concentradas e sejam levadas por vários metros (7-8m) em poucos segundos.  

Esses estudos de dinâmica de fluidos ajudam a explicar surtos como o ocorrido numa prática de coro nos Estados Unidos onde foram infectados 32 cantores, a pesar do distanciamento físico, casos em academias, igrejas e centros de ligações telefônicas. 

A respiração ofegante que se produz ao correr ou praticar alguns esportes ocasiona exalações violentas com maior impulso que a respiração habitual o que aumenta a distância alcançada pelas gotas que ficam na nuvem de gás, portanto, precisa se um maior distanciamento social na pratica de exercício vigoroso. No entanto, as gotas diluem-se mais rapidamente em exteriores bem ventilados, reduzindo o risco de transmissão.

No artigo conclui-se que para determinar o risco precisa-se levar em conta não somente o distanciamento físico, também fatores como a ventilação, o padrão de fluxo de ar, o tipo de atividade realizada, a carga viral do emissor, a duração da exposição e a susceptibilidade do indivíduo à infeção. Nessa perspectiva, as regras de distanciamento físico seriam mais efetivas se fossem adequadas aos níveis diferentes de risco, portanto os autores e autoras propõem uma primeira versão de um guia de como o risco de transmissão muda de acordo ao entorno, nível de ocupação, tempo de contato e uso de máscara facial. As situações de maior risco seriam espaços interiores com pouca ventilação, alta ocupação, tempo de contato prolongado e sem uso de máscara (como bares ou clubes noturnos), nos quais se precisaria um distanciamento físico maior a 2m e minimizar a ocupação e o tempo de exposição. Em cenários de baixo risco pode considerar-se um distanciamento menos estrito. Os casos sintomáticos respiratórios deveriam ficar isolados porque tendem a ter maior carga viral e exalações respiratórias mais frequentes e violentas.

Acesse o artigo na integra no link a seguir https://www.bmj.com/content/370/bmj.m3223

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Por Diana Ruiz doutoranda ISC/UFBA que contribue para a REDE APS.