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Arquivo Diário 25 de novembro de 2013

Pesquisora da ENSP analisa relação do território na gestão da ESF

O território e seus determinantes sociais envolvem, produzem e tensionam os processos de gestão, produção e promoção da saúde.” Com essa afirmação, Daniele Rodrigues Vidal Rocha apresentou sua dissertação de mestrado profissional em Saúde Pública na ENSP, abordando o tema As múltiplas dimensões do Território na construção de uma prática de gestão comprometida com as necessidades da população: um estudo de caso de uma Clínica da Família do município do Rio de Janeiro. O objetivo do estudo foi reconhecer, na abordagem do território, as concepções, os dispositivos e a potência operacional para estruturação de uma prática de gestão na Estratégia Saúde da Família (ESF) comprometida com os problemas e as necessidades da população.

O trabalho, orientado pela pesquisadora da EPSJV/Fiocruz, Gracia Maria de Miranda Gondim, se baseou na clínica localizada no bairro do Engenho Novo, que possui quatro Equipes de Saúde da Família, sendo elas: Céu Azul, Dois de Maio, Polônia e Engenho. A amostra trabalhada foi de 56 pessoas. Observou-se que 27% da amostra apresentava ensino médio completo. Isso em razão da própria composição da equipe da ESF, que possui dois profissionais de nível superior e oito profissionais de nível médio, e da Equipe de Saúde Bucal, que é composta de um profissional de nível superior e três profissionais de nível médio. A grande maioria da amostra (61%) é mãe, apesar de ser uma amostra de pessoas jovens, o que reflete uma característica do território da Equipe Dois de Maio, a gravidez na adolescência.

Na clínica estudada, 66,1% da amostra identificam o trabalho no território como a forma de integração e interação da ESF com a comunidade. Segundo o estudo, essa característica é muito positiva, pois todos os espaços que o território oferece devem ser considerados possíveis promotores de saúde, e o território estudado oferece muitos dispositivos operativos que podem ser utilizados na construção de uma gestão comprometida com as necessidades da população.

De acordo com a nova mestre, a categoria território tem grande relevância para a prática da gestão do cuidado, tendo em vista que o processo saúde-doença possui uma forte dependência social e territorial, pautado nos determinantes sociais das condições de saúde. “O diagnóstico situacional é uma ferramenta fundamental para o planejamento e a potencialização do processo de trabalho na ESF, pois permite o conhecimento dos diversos fatores e formas de adoecimento por microárea, levando em consideração o risco social e epidemiológico”, afirmou Daniele.

Os resultados da pesquisa constataram que a apropriação do território e dos seus dispositivos operacionais ocorreu na maior parte da amostra por meio do diagnóstico situacional e da construção do Conselho Gestor Local. Observou-se também que a gerência local e os profissionais de modo geral valorizam a gestão participativa, apoiando e participando da construção do Conselho Gestor Local e da construção de parcerias, o que possibilita ações intersetoriais. Conforme aponta o estudo, as estratégias são fundamentais para a potencialização da gestão do cuidado, levando em consideração as necessidades da população.

Fonte site da ENPS www.ensp.fiocruz.br

Rede entrevista Elaine Thume

Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, doutorado em Epidemiologia na Universidade Federal de Pelotas (2010) com estágio de doutoramento na Harvard School of Public Health (2009-2010). Membro do grupo de pesquisa AQUARES. Possui experiência na gestão do Sistema Único de Saúde, no ensino e na pesquisa no âmbito da atenção básica à saúde, com especial interesse na avaliação de políticas, serviços e programas de saúde.

1) Como pesquisadora qual foi o maior aprendizado na participação do PMAQ?

O maior aprendizado foi trabalhar com pesquisadores de Universidades Federais de todas as regiões do Brasil em parceria com o Ministério da Saúde, através de um trabalho articulado ao interior da Rede de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde. O debate entre pesquisadores e os técnicos do Departamento de Atenção Básica oportunizou conhecer a proposta da atual gestão para a ampliação do acesso e os investimentos na melhoria da qualidade dos serviços ofertados à população. Além disso, a preparação da avaliação externa do PMAQ exigiu a construção de consensos e esclarecimentos dos propósitos não apenas da política, mas também do processo de pesquisa que possibilitará a efetivação dos investimentos na melhoria da estrutura das Unidades Básicas de Saúde, incluindo equipamentos e no processo de trabalho dos profissionais do SUS. Estas questões ganham relevância considerando as marcantes diferenças regionais em nosso país.

2) Entre as instituições parceiras da UFPEL quais foram os maiores desafios para a realização da pesquisa?

Um dos desafios foi conciliar o tempo acadêmico para o desenvolvimento da pesquisa, respeitando todos os critérios de qualidade de uma investigação, com o tempo político, levando em conta um cronograma exíguo marcado pela necessidade de coletar os dados no período anterior as eleições municipais de 2012. Também foi desafiador trabalhar com outras cinco Universidades Federais (UFSC, UFMG-FACE, UFG, UFMA e UnB) e estabelecer um processo de organização das atividades de pesquisa de forma a valorizar os conhecimentos regionais, incentivar a troca de experiências e a solidariedade entre as equipes de pesquisa. Desde o princípio, as dificuldades decorrentes das grandes distâncias geográficas entre nossas instituições foram superadas através de reuniões presenciais e também a distância, contribuindo para alcançar consensos entre os grupos de pesquisa envolvidos e para padronizar a coleta de dados. Em conjunto planejamos a logística da pesquisa, incluindo a seleção dos entrevistadores, capacitação, contato com gestores, trajetos para deslocamento entre municípios e conduta no campo. Ao olharmos este processo à véspera do início do trabalho de campo do ciclo 2 do PMAQ podemos dizer que formamos um time de pesquisadores extremamente comprometidos no propósito da avaliação externa e fortalecidos em nossas instituições e grupos de pesquisa.

3) Como a instituição pretende transformar  os dados gerados em produção e divulgação científica?

Estamos trabalhando na perspectiva de produção de artigos científicos para publicação em periódicos nacionais e internacionais. Há um esforço em curso, liderado pela professora Márcia Fausto, de organização de um número temático no periódico Cadernos de Saúde Pública com o objetivo de apresentar resultados relevantes sobre a atenção primária no Brasil. Além disso, outros periódicos tem mostrado interesse em divulgar números especiais sobre os resultados da avaliação externa do PMAQ, como por exemplo, a revista Ciência e Saúde Coletiva. Nossos alunos dos cursos de graduação e pós-graduação também estão envolvidos no esforço de divulgação dos achados sobre o PMAQ em suas teses, dissertações e monografias.

Os resultados também estão sendo apresentados em eventos científicos regionais, nacionais e internacionais. A experiência do Maranhão, por exemplo, foi apresentada no Seminário Nacional de Atenção Básica na Amazônia Legal, realizado em junho deste ano em Manaus e organizado pela Escola Nacional de Saúde Pública, o Instituto Leônidas e Maria Deane – Fiocruz Amazônia e o Departamento de Atenção Básica/MS.

4) Qual foi o papel da universidade no processo de avaliação e implementação do PMAQ?

As Universidades tiveram um papel crucial na realização da coleta de dados considerada por muitos acadêmicos e gestores como impossível de ser feita dada sua magnitude e abrangência. Antes disso, a participação das universidades foi destacada na crítica aos princípios teóricos e fundamentação metodológica da avaliação externa. Também participamos ativamente na construção dos instrumentos, fortalecendo o debate sobre os propósitos e desafios da certificação das unidades básicas. A agilidade na coleta de dados e sua disponibilidade para a certificação favoreceu o recebimento dos recursos financeiros repassados aos gestores municipais através do PMAQ, cumprindo assim com o propósito desta estratégia política.

5) Como o PMAQ poderá contribuir para o desenvolvimento de pesquisas em APS?

Ao mobilizar professores vinculados às instituições públicas de ensino e pesquisa, o PMAQ auxiliou na formação e/ou consolidação de grupos de pesquisa capazes de realizar avaliações complexas da atenção primária que extrapolam o âmbito da própria avaliação externa. O estudo foi um aprendizado para pesquisadores e entrevistadores, aproximando-nos de gestores, trabalhadores e usuários em áreas remotas e aglomerados urbanos com especificidades extremamente diversas. Para muitos pesquisadores o SUS deixou de ser teórico e passou a ser parte da vida prática. A experiência, para todos, neste ‘mutirão’ onde todas as Unidades Básicas de Saúde do país foram visitadas, possibilitou identificar a real situação da atenção primária no Brasil, seus avanços, retrocessos e desafios para futuros estudos.

6) E como a rede poderá contribuir  com as ações do PMAQ?

O papel da Rede de Pesquisa é o de manter a postura crítica em defesa da APS, da Saúde da Família e da consolidação dos princípios e diretrizes do SUS. Ao aglutinar pesquisadores, gestores, trabalhadores e estudantes, a Rede propicia o olhar crítico sobre os propósitos da política nacional de saúde. A Rede, que reúne mais de 4.000 pessoas, é um excelente espaço para a difusão do conhecimento, a troca de experiências e o debate construtivo do sistema de saúde que almejamos para toda a sociedade brasileira.