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Arquivo Mensal maio 2014

APS ainda recebe baixo investimento público, diz relatório do TCU

Apresentado em plenário no mês de abril e recentemente divulgado, o Relatório Sistêmico de Fiscalização da Saúde traz um atualizado mapa da saúde pública do país.  A publicação é do Tribunal de Contas da União (TCU).

Em 198 páginas, o corpo técnico do órgão juntou diversos estudos realizados ao longo de 2013 e os comparou com uma vasta literatura de dados, indicadores e documentos de relevância. O levantamento centrou parte de suas análises na assistência hospitalar oferecida pelo SUS, a partir da avaliação de 116 hospitais públicos, representantes de 8,6% da rede. Na amostragem, foram ressaltados dados conhecidos de todos: ocupação excedente das emergências e déficit no quadro profissional.

O estudo, no entanto, vai além da superfície dos dados da assistência de média e alta complexidade, estendendo o levantamento para a dificuldade de implementação do Cartão SUS e da ampliação da Atenção Básica ou Atenção Primária em Saúde (APS). Apesar dos gastos em APS mostrarem evolução significativa – cresceram 70% entre 2008 e 2012 – sua composição dentro do montante total da pasta não ultrapassa 21%.

Na parte de tributos e licitações, o relatório aponta um salto nos gastos com medicamentos e insumos para cumprimento de decisões judiciais: de R$ 2,5 milhões em 2005 para R$ 266 milhões no ano de 2011. O TCU verificou também distorções em alguns preços fixados pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), que se mostraram em patamares bastante superiores aos praticados nas compras públicas, chegando, em alguns casos, a mais de 10.000% acima do obtido na licitação. O relatório foi encaminhado ao Ministério da Saúde como contribuição institucional. Confira aqui o documento na íntegra.

Fonte site Abrasco – http://www.abrasco.org.br/site/

MS e UFRGS chamam profissionais para curso de tutoria à distância

is mil vagas para tutores à distância/presenciais estão disponibilizadas por um edital de chamamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, do Ministério da Saúde e parceiros. Em modalidade semipresencial, o curso de Formação Integrada Multiprofissional em Educação Permanente em Saúde (EPS em movimento) terá carga horária de 360 horas, iniciará em setembro e possibilitará a atuação do tutor num programa de formação de mediadores de educação permanente voltado às 435 regiões de saúde do País.

Entre os requisitos para o preenchimento de vagas o profissional deve ter nível superior com experiência em educação permanente em saúde nas redes do Sistema Único de saúde, experiência ou atuação em facilitação de grupos, além de vivências em tutoria presencial ou à distância. Também se requisita inserção no SUS, habilidade com plataformas digitais e ambientes virtuais de aprendizagem, a disponibilidade de oito (8) horas semanais para exercício da tutoria.

As inscrições podem ser feitas até 25 de maio, on line, no portal do EducaSaúde, cujo endereço eletrônico é www.educasaude.org no item Processo Seletivo do menu. O edital está disponível no endereço a seguir: http://www.educasaude.org/noticias/edital-de-chamamento-para-banco-complementar-de-tutores-a-distancia.

Caso a banca de seleção considere necessário convocará, entre 30 de maio e 10 de junho, os inscritos para entrevista individual, em horário e local a ser informado pelo correio eletrônico do candidato. O tutor selecionado fará jus a uma “bolsa programada” com doze parcelas em valor total de R$ 12 mil.

Fonte site DAB/MS – http://dab.saude.gov.br/

 

Atenção Básica na Revista Brasileira Ciência & Saúde Coletiva


A Revista Brasileira Ciência & Saúde Coletiva traz em sua edição de fevereiro de 2014 uma série de interessantes artigos analíticos sobre a Estratégia de Saúde da Família no Brasil, do mais alto interesse para gestores e conselheiros de saúde, além de estudiosos em geral e, particularmente, dos membros das equipes de Saúde da Família.

Veja publicação – http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=1413-812320140002&lng=en&nrm=iso

 

III Congresso Nordeste de Medicina de Família e Comunidade

A realização do IIIº CNMFC configura-se como uma oportunidade privilegiada de ampliar a troca entre profissionais que atuam na Atenção Primária à Saúde (APS) de diversos estados, compartilhando dificuldades e avanços dentro desta área de atuação, dando visibilidade para a especialidade da Medicina de Família, difundindo e estimulando a produção científica na APS.

Vivemos um momento singular para a Medicina de Família com a perspectiva de expansão da especialidade através do fortalecimento e estímulo ao trabalho na APS. A implantação de programas de provimento profissional com contratação de médicos brasileiros e estrangeiros, a ampliação das vagas em Programas de Residência em Medicina de Família e Comunidade e a implantação das novas diretrizes curriculares para os cursos de medicina, com foco na formação de médicos generalistas, coloca a Medicina de Família em evidencia, demandando políticas para um efetivo fortalecimento da Atenção Primária como porta de entrada privilegiada do sistema de saúde, como o que ocorre em países como Portugal, Espanha, Cuba, Canadá ou Inglaterra. Assim, o IIIº CNMFC se apresenta como espaço privilegiado para socialização e discussão das perspectivas para a APS neste contexto, com o olhar voltado para a região Nordeste do Brasil.

O IIIº CNMFC trará também atualizações nos principais temas clínicos na APS, qualificando e ampliando a resolutividade dos profissionais que atuam cotidianamente no cuidado aos indivíduos e coletivos em suas comunidades.

Finalmente, o IIIº CNMFC busca agregar, além da Medicina de Família, as diversas categorias profissionais que atuam na APS, desde estudantes de graduação, pós-graduação e profissionais da área, entendendo que o trabalho multiprofissional é fundamental para a produção do cuidado integral em saúde.

Acesse o site do III Congresso Nordeste de MFC e confira as informações preliminares

O Cuidado das Condições Crônicas na Atenção Primária à Saúde: O Imperativo da Consolidação da ESF

Este livro é mais uma obra do autor Eugênio Vilaça Mendes, abordando os desafios atuais da Atenção Primária à Saúde (APS) frente ao novo cenário de transição epidemiológica e demográfica. Trata-se de um tratado sobre APS no contexto das Redes de Atenção e a epidemia de doenças crônicas, que vem assolando os sistemas de saúde no mundo. O livro – O cuidado das condições crônicas na atenção primária à saúde: o imperativo da consolidação da estratégia da saúde da família – foi lançado no contexto do Laboratório de Inovações sobre atenção às condições crônicas desenvolvido pela OPAS/OMS Brasil e CONASS, como uma importante contribuição teórica e empírica, produzida pelo próprio coordenador do Laboratório, Eugênio Vilaça Mendes.

 

Leia publicação Redes-de-Atencao-condicoes-cronicas

 

Fonte site do Portal da Inovação da Gestão do SUS -http://apsredes.org/site2013/

Ética médica e rastreamento: em quais evidências deveríamos nos apoiar?

Se o rastreamento fosse uma droga, ela já teria sido retirada do mercado. Assim, qual será o primeiro país a parar com as mamografias para rastreamento de câncer de mama?

Nesta edição a RBMFC discute o tema da ética médica, espinha dorsal que orienta tanto as demandas por serviços ou tecnologias em saúde, como a prática dos médicos de família e comunidade. Como estímulo a essa reflexão, a seção Debate discute a “mamografia-obrigatória preventiva” no Uruguai, enquanto que na seção Ensaios, Jamoulle e Gomez discorrem sobre o conceito de prevenção quaternária, ação que tem como objetivo oferecer alternativas eticamente aceitáveis aos usuários, de modo a prevenir o excesso de intervenções médicas.2 Portanto, apesar das consideráveis transformações tecnológicas e sociais que afetam diretamente a saúde das pessoas, a ética em medicina continua a formatar moralmente as decisões e problemas em saúde, com implicações para pacientes, médicos e instituições de saúde.

Como guia analítico prático e de fácil compreensão para os profissionais da saúde, Gillon3 discute os quatro princípios e o escopo da ética médica: autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça. Esta última se divide em justiça distributiva, justiça com base no direito e justiça legal. Esses quatro princípios fornecem um patamar de diálogo para diferentes culturas, crenças religiosas e posicionamentos políticos, visto que estes princípios são considerados prima facie: constituem dever que se impõe em todas as ocasiões em que se atua sobre a saúde das pessoas, a menos que haja um conflito entre deveres iguais ou mais fortes que estes.4 Assim, com base nesses quatro princípios que fundamentam a ética em medicina e, consequentemente, a aplicação da prevenção quaternária, pretende-se analisar criticamente o rastreamento do câncer de mama, enquanto medida preventiva.

Os programas organizados de rastreamento têm por princípio a utilização de um instrumento inicial de seleção ou peneiramento (i.e. mamografia) para separar pessoas assintomáticas na população-alvo, que necessitarão ser classificadas ou diagnosticadas por meio de um ‘gold-standard’ que define a doença (i.e. anatomopatológico) para, então, ser oferecido à pessoa o tratamento preventivo definitivo para a condição rastreada.5 Como esse tipo de intervenção recai sobre indivíduos saudáveis, os requerimentos éticos nos casos dos programas de rastreamento são altíssimos, pois os riscos de danos não estão contrabalançados com um sofrimento real (doença já instalada), mas sim, estão ancorados em um potencial futuro de adoecimento e morte. Neste caso, o princípio da não-maleficência (não causar danos) impera sobre o da beneficência (desejo de promover o bem-estar dos pacientes), visto que pessoas assintomáticas, que se percebem como saudáveis, podem ter sua saúde abalada indefinidamente devido a intervenção da biomedicina. Os exemplos de danos mais citados na literatura são sofrimentos psicológicos (devido as incertezas dos falsos positivos, falsa segurança dos falsos negativos e das situações limítrofes, que requerem monitoramento de perto, como as Neoplasias Intra-epiteliais Cervicais – NIC I, II, III), bem como as sequelas físicas resultantes dos tratamentos, tais como impotência ou incontinência urinária, no caso do rastreamento e tratamento do câncer de próstata.

Como no rastreamento e/ou check up a intervenção é orientada com base em uma ‘miragem’ ou probabilidade, este pode resultar em ‘danos sem potenciais benefícios’,6 em que os procedimentos invasivos (para esclarecer ‘imagens’ ou resultados de exames ‘positivamente’ suspeitos na fase de seleção ou peneiramento) resultam em complicações, porém a biópsia resulta normal. Por exemplo, as colonoscopias, laparoscopias, biópsias (de fígado, rim, próstata), podem produzir complicações (perfuração de alça intestinal, complicação na anestesia, perfuração de artéria importante, sepses) podendo escalonar para readmissão hospitalar, com estresse para pacientes e familiares e/ou em um pior cenário, morte do paciente com um laudo de anatomopatológico benigno. Portanto, os programas de rastreamento, por converterem pessoas saudáveis em enfermos em uma escala populacional, são altamente iatrogênicos, podendo ser resumidos na seguinte frase: “muito serão chamados, poucos os escolhidos…”, mas muitos serão prejudicados para que pouquíssimos sejam ‘curados’.

Isso é particularmente verdadeiro no caso do rastreamento do câncer de mama, que produz canceres fisiopatologicamente insignificantes (sobrediagnóstico) expondo mulheres previamente saudáveis a danos significativos devido ao tratamento com radioterapia. Gøtzsche et al.7 alertam para os riscos de efeitos adversos importantes da irradiação, tais como insuficiência cardíaca (27%) por dano da circulação cardíaca e/ou indução de câncer de pulmão (78%). Além do mais, uma revisão sistemática recentemente publicada no British Medical Journal8 sobre os efeitos adversos dos rastreamentos de cânceres em geral, verificou que somente um terço dos ensaios clínicos controlados aleatorizados se preocupou em medir os danos da intervenção do rastreamento. Esse artigo é importante porque afeta diretamente a prática dos profissionais para estabelecer os parâmetros de segurança da intervenção junto a seus pacientes, visto que existe um viés de seleção de informação que ressalta apenas os aspectos positivos do rastreamento, deixando de controlar e/ou monitorar potenciais danos.

Do ponto de vista ético, esse contexto de incerteza fere a autonomia das pacientes, criando muita vezes um falso empoderamento, uma vez que as mulheres não detém uma visão mais completa sobre os potenciais riscos e benefícios dos programas de rastreamento do câncer de mama.9 Para realmente empoderar a mulher, de modo a fortalecer sua autonomia para decidir sobre as intervenções que afetam sua saúde, há a necessidade de que a informação seja mais transparente e que revele também os potenciais danos da intervenção. Além disso, a linguagem usada na divulgação da informação deve ser neutra, de simples entendimento, culturalmente acessível, de modo que as usuárias do sistema de saúde possam decidir melhor sobre sua saúde.3

Do ponto de vista da saúde pública, da ética da justiça distributiva, e dos limitados recursos em saúde que qualquer sistema de saúde enfrenta, os programas de rastreamento desviam recursos financeiros – que deveriam ser prioritariamente investidos no tratamento e cuidado das pessoas doentes – para as pessoas saudáveis, com o agravo de produzir novos doentes reais, fruto do dano da intervenção sobre corpos saudáveis, gerando mais custos para o sistema de saúde e para a sociedade em geral.

Felizmente, os programas de rastreamento estão cada vez mais perdendo sua força, principalmente na Europa, a exemplo do Swiss Medical Board10 que não encontrou razão para a manutenção dos programas de rastreamento do câncer de mama, em face das novas evidências científicas. Na Dinamarca a taxa de mortalidade atribuída ao câncer de mama não foi reduzida devido a implementação do rastreamento sistemático do câncer de mama com mamografias, ao longo de 17 anos de seguimento,11 entretanto, se produziu uma taxa de sobrediagnóstico de 33%.12 Resultados semelhantes também foram encontrados nos Estados Unidos após 30 anos de observação13, e no Canadá, o acumulado de 25 anos de acompanhamento dos efeitos do rastreamento do câncer de mama, além de não representar redução da mortalidade por câncer de mama, resultou em 22% de sobrediagnósticos.14 Assim, para Peter C. Gøtzsche,1 umas das maiores autoridades mundiais sobre o tema, o melhor método que dispomos para reduzir a ocorrência do câncer de mama é parar com o seu rastreamento por meio de mamografias.

Desse modo, tanto do ponto de vista ético como científico,10 os programas de rastreamento deveriam ser descontinuados ou se restringirem a grupos ou situações muito específicas, e o foco da prevenção ser redirecionado para a intervenção no sintomático-precoce, visto que o tratamento do câncer de mama melhorou consideravelmente nas últimas décadas, sendo este o provável responsável pela melhoria da qualidade de vida das mulheres afetadas.1 A Força Tarefa Canadense15 de cuidados preventivos em saúde, em sua mais recente atualização (em 2011) avaliou como fraca a recomendação para o rastreamento do câncer de mama com mamografia a cada 2 a 3 anos na faixa etária de 50 a 69 anos, pois as evidências para o rastreio foram consideradas apenas de moderada qualidade. Assim, o Ministério da Saúde16 brasileiro agiu de forma bem fundamentada ao restringir os incentivos financeiros ao rastreamento do câncer de mama à faixa etária de 50 a 69 anos.

Portanto, ‘não há nada de errado em dizer não à mamografia’,9 pois, ao se atuar sobre pessoas assintomáticas e saudáveis, o princípio da não-maleficência deve sobrepor-se ao da beneficência. O desafio posto aos médicos de família e comunidade é o de individualizar cada caso neste mar de incertezas, compartilhando com seus pacientes os potenciais danos, frequentemente omitidos, atribuídos ao rastreamento de cânceres, de modo a operacionalizar na prática a prevenção quaternária.

 

 

Referências

1. Gøtzsche PC. Time to stop mammography screening? CMAJ. 2011;183(17):1957–8.http://dx.doi.org/10.1503/cmaj.111721

2. Norman AH, Tesser CD. Prevenção quaternária na atenção primária à saúde: uma necessidade do Sistema Único de Saúde. Cad Saúde Pública. 2009;25(9):2012–20.http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2009000900015

3. Gillon R. Medical ethics: four principles plus attention to scope. BMJ. 1994;309(6948):184.http://dx.doi.org/10.1136/bmj.309.6948.184

4. Limentani AE. The role of ethical principles in health care and the implications for ethical codes. J Med Ethics. 1999;25:394–8. http://dx.doi. org/10.1136/jme.25.5.394

5. Norman AH, Tesser CD. Rastreamento de doenças. In Lopes JMC, Gusso GDF, editors. Tratado de Medicina de Família e Comunidade: princípios, formação e prática. Porto Alegre: Artmed; 2012. Vol 1. p. 521-32

6. Gray JAM. New concepts in screening. B J Gen Pract. 2004;54(501):292–8. PMCID: PMC1326079

7. Gøtzsche PC, Jørgensen KJ. Screening for breast cancer with mammography. The Cochrane Database of Systematic Reviews. (2013);6:CD001877. http://dx.doi.org/10.1002/14651858.CD001877.pub5

8. Heleno B, Thomsen MF, Rodrigues DS, Jorgensen KJ, Brodersen J. Quantification of harms in cancer screening trials: literature review. BMJ. 2013;347:5334. http://dx.doi.org/10.1136/bmj.f5334

9. Heath I. It is not wrong to say no. BMJ. 2009;338:2529. http://dx.doi.org/10.1136/bmj.b2529

10. Biller-Andorno N, Jüni P. Abolishing mammography screening programs? A view from the swiss medical board. N England J Med. 2014;1–3. http://dx.doi.org/10.1056/NEJMp1401875

11. Jørgensen KJ, Zahl PH, Gøtzsche PC. Breast cancer mortality in organised mammography screening in Denmark: comparative study. BMJ. 2010;340,c1241. http://dx.doi.org/10.1136/bmj.c1241

12. Jørgensen KJ, Zahl PH, Gøtzsche PC. Overdiagnosis in organised mammography screening in Denmark: a comparative study. BMC Women’s Health. 2009;9:36. http://dx.doi.org/10.1186/1472-6874-9-36

13. Bleyer A, Welch HG. Effect of three decades of screening mammography on breast-cancer incidence. N England J Med. 2012;367(21):1998– 2005. http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa1206809

14. Miller AB, Wall C, Baines CJ, Sun P, To T, Narod SA. Twenty-five year follow-up for breast cancer incidence and mortality of the Canadian National Breast Screening Study: randomised screening trial. BMJ. 2014;348:g366. http://dx.doi.org/10.1136/bmj.g366

15. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção Básica. Nota técnica conjunta: Rastreamento do câncer de mama. Brasília: MS; 2013 [Acesso em 2014 Apr 14]. Disponível em:http://sbmfc.org.br/media/Nota_CGAPDC_CPV.pdf

16. Canadian Task Force on Preventive Health Care. Screening for Breast Cancer: summary of recommendations for clinicians and policy-makers. Canadá; c2000-2014 [acesso em 2014 Apr 14]. Disponível em: http://canadiantaskforce.ca/guidelines/2011-breast-cancer/.

 

Editorial da Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade

Armando Henrique Norman

Tese aponta que infraestrutura da Saúde da Família é problema em unidades básicas de Manaus

Informe Ensp

Os profissionais das Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF) de Manaus desenvolvem suas práticas em ambientes desfavoráveis, tanto do ponto de vista das condições de trabalho no espaço físico, como dos territórios em que atuam. A infraestrutura das unidades é um fator que dificulta a realização do processo de trabalho, portanto, é um produtor de insatisfação. Foi a conclusão a que chegou a aluna de doutorado em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Arlete Lima Simões, que defendeu sua tese intitulada Trabalho e saúde de equipes da Saúde da Família em contextos socioambientais vulneráveis no município de Manaus, na Fiocruz Amazônia, sob orientação do pesquisador Carlos Machado de Freitas.

Para ela, embora os trabalhadores reconheçam estar num contexto de importantes vulnerabilidades, as entrevistas coletadas revelaram que os contextos repercutem muito menos em suas práticas laborais do que a infraestrutura inadequada das condições de trabalho, como a falta de materiais e equipamentos necessários para a produção de saúde no território. Como proposta para garantir a promoção de ambientes saudáveis em consonância as ações em Saúde do Trabalhador, Arlete aponta a implementação de um planejamento harmonizado com a realidade concreta desses trabalhadores. “Isso implica em inserí-los nesse processo, e também implementar ações no âmbito da UBSF em consonância com o preconizado na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), quanto à garantia de infraestrutura necessária à realização das atividades”.

A Estratégia Saúde da Família (ESF) representa a política considerada fundamental do Sistema Único de Saúde (SUS) no âmbito da atenção básica, voltada para imprimir mudanças na reorganização e reorientação das práticas de saúde, desenvolvidas na lógica do trabalho em equipes. Nesse modelo de atenção à saúde, o processo de trabalho assume características peculiares como a definição de território de atuação e o desenvolvimento de um conjunto de ações de saúde, visando interferir no processo saúde-doença da população.

Desse modo, explica Arlete, para a realização desse conjunto de ações de saúde, o território de atuação não é só o ambiente das condições de vida e saúde da população, mas também o ambiente do processo de trabalho e saúde dos profissionais da atenção básica. “No contexto do tema da Saúde do Trabalhador, torna-se relevante compreender como os profissionais desenvolvem suas práticas nos territórios sobre os quais assumem responsabilidade sanitária”, destacou. Por isso, o interesse da aluna nessa pesquisa, cujo objetivo foi fazer um estudo de caso, no âmbito da abordagem qualitativa com utilização das técnicas da observação participante, entrevistas e grupo focal.

De acordo com a aluna, as doenças que mais afetam a população são as infecciosas e parasitárias (DIP), podendo estar relacionadas às condições inadequadas de saneamento, que combinadas com fatores ambientais favorecem a ocorrência de infecções respiratórias, em virtude da umidade presente em moradias precárias. Outros dois grupos de agravos relevantes em termos de morbidade são doenças do aparelho respiratório e neoplasias. De igual modo, as causas externas sinalizam de forma significativa como importante causa de mortalidade.

A pesquisa de campo foi realizada no período de abril a junho de 2013, desenvolvida numa área de importantes vulnerabilidades socioambientais no município de Manaus, com a presença de equipes Saúde da Família. A população da cidade corresponde a 1.802.014, ocupando um território de 11.401 km², densidade demográfica de 158,06 hab/km², sendo que o bairro Compensa, onde ocorreu o estudo, constitui o quarto mais populoso com 75.832 habitantes e o primeiro na Zona Oeste do município (IBGE, 2010).

A autora

Arlete Lima Simões é assistente social, com mestrado em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas (2008), e servidora da Secretaria de Estado da Saúde (Susam) e da Secretaria de Saúde Manaus (Semsa).

Anemia e deficiência de vitamina A em crianças menores de cinco anos assistidas pela ESF no Estado de Pernambuco

Resumo: O objetivo do presente estudo foi descrever a prevalência e os fatores associados à anemia e à deficiência de vitamina A (DVA) em crianças menores de cinco anos assistidas pela Estratégia Saúde da Família. Estudo transversal, realizado em Pernambuco, Brasil, em 2006. Foram selecionadas crianças entre 6 e 59 meses de idade, que tiveram realizadas dosagens de hemoglobina e retinol sérico, perfazendo amostras de 945 e 563 crianças respectivamente. A presença de anemia foi determinada pelo nível de hemoglobina < 11 g/dL e DVA pelo nível de retinol sérico < 0,70 μmol/L. Realizaram-se análises univariada e ajustada por regressão múltipla de Poisson, utilizando modelo hierarquizado. A prevalência de anemia foi de 35%, diminuindo com o aumento do número de pessoas por cômodo, idade materna e idade da criança. No que concerne à DVA, sua prevalência foi de 16%, aumentando em locais onde o destino do lixo era inadequado e em crianças que apresentaram diarreia nos últimos quinze dias. A prevalência de anemia foi maior que o dobro encontrada para a DVA, chamando atenção a influência dos fatores ambientais sobre a DVA.

 

Autores: 

Weslla Karla Albuquerque Silva de Paula 1
Maria de Fátima Costa Caminha 1
José Natal Figueirôa 1
Malaquias Batista Filho

 

Leia artigo artigoanemia

Artigo publicado no Ciência & Saúde Coletiva, abril  2014

Atenção Primária à Saúde e Sistemas Universais

A relação entre ‘Atenção Primária à Saúde e Sistemas Universais’ foi o tema da conferência proferida na última terça-feira (13) pelo espanhol José-Manuel Freire, que veio ao Rio de Janeiro a convite do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (ISAGS) para abrir o seminário ‘ Abordagens da APS e estratégias para permanência de profissionais em zonas remotas e desfavorecidas nos países da América do Sul’, que reúne representantes dos 12 países da região e se estende até o dia 15.

A conferência, que durou cerca de duas horas, foi transmitida pela internet ao vivo e contou com tradução simultânea para o inglês e o português. Aproximadamente 1.840 pessoas de 27 países situados em quatro continentes acompanharam o evento e puderam enviar perguntas a José-Manuel Freire na segunda parte do evento, dedicada ao debate. O vídeo será disponibilizado dentro de alguns dias nos três idiomas no site do ISAGS.

A exposição de Freire se centrou nos sistemas de saúde, no papel da Atenção Primária à Saúde (APS) e, por fim, no histórico e características do sistema de saúde espanhol. Freire iniciou sua fala distinguindo os dois grandes modelos que orientam a construção dos sistemas: o neoliberal e o universal.

“No primeiro, os serviços de saúde são parte de um mercado, o cidadão é tratado como consumidor e a fragmentação é a norma. Já em um sistema universal prevalece a visão solidária, democrática, que considera a saúde como parte dos compromissos assumidos pelo Estado, que deve planificar e organizar a oferta, priorizar e qualificar o acesso para efetivar o direito à saúde e atingir eficiência na gestão dos serviços que oferece”, explicou.

Coordenadas básicas: financiamento e provisão

José-Manuel Freire comparou os sistemas de saúde a uma máquina, na qual os botões devem ser ajustados para que se alcancem os resultados esperados, que são eficiência, qualidade e acesso, e ainda: satisfação dos cidadãos, bons indicadores de saúde e proteção social. Partindo dessa imagem, os botões-chave são financiamento e provisão.

O financiamento pode ser público ou privado. Freire demonstrou que nos países desenvolvidos, quando se calcula a porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) gasto com saúde (denominado gasto total em saúde), uma característica fundamental é que a maior parte desses investimentos são públicos. Em países como Reino Unido e França, de cada 100 euros gastos com saúde, 85 são desembolsados pelo Estado. “A qualidade democrática, o desenvolvimento social e humano de um país se mede assim: gasto total versus gasto público em saúde”.

À parte de como uma sociedade financia o sistema de saúde, a segunda coordenada fundamental é a provisão de serviços, que pode ser externa – quando há contratualização de provedores – ou integrada, quando o Estado gere uma rede própria, com profissionais de saúde também próprios. Na América Latina, por exemplo, a maior parte dos sistemas de saúde é integrado. “Os serviços públicos, quando são integrados, precisam ser geridos com alto nível de eficiência. Provavelmente este é o desafio mais importante na América Latina e também na Espanha”, afirmou Freire, ressaltando: “O desafio dos sistemas universais é ter bons serviços: não somente públicos, não somente universais, mas bons”.

Sustentabilidade dos sistemas

De acordo com José-Manuel, a sustentabilidade dos sistemas de saúde depende de pelo menos dois aspectos externos: o econômico-fiscal e o social-político. “É necessário que exista dinheiro disponível para investir naquilo que a sociedade prioriza. Mas também é fundamental que o sistema seja apoiado pelo conjunto da sociedade. Ou seja, os que pagam impostos, normalmente, são aqueles que têm dinheiro. Se os serviços de saúde não aportam valor às classes médias, terão pouco apoio. Por isso é preciso que o serviço público responda às necessidades de todos”, afirmou.

Há também aspectos internos ao próprio sistema, que dizem respeito à organização. É nesse campo da sustentabilidade dos sistemas de saúde que se insere a APS: “Não há sistema de saúde do mundo, por mais rico que um país seja, que possa funcionar sem a dimensão dos cuidados de primeiro nível”.

APS nos sistemas

Segundo José-Manuel, se a característica dos sistemas de saúde que alcançam bons resultados é uma “APS forte”, um dos elementos-chave da Atenção Primária é o papel desempenhado pelo médico generalista, que em alguns países, é chamado de médico da família ou “médico de cabeceira”. Segundo ele, esses profissionais precisam ser reconhecidos, bem pagos e qualificados para exercer suas funções.

“A pátria dos médicos são as especialidades. Os médicos de família da APS forte não podem ser apenas os graduados que terminam a faculdade de medicina. A Medicina de Família é uma especialidade médica que se centra na patologia frequente. E atender bem o frequente significa atender bem 90% dos problemas de saúde”, ressaltou.

O conferencista considera que a APS é forte nos países ibéricos – Espanha e Portugal –, em países nórdicos, como Dinamarca, Noruega e Finlândia, em outros países europeus como Reino Unido, Itália e Luxemburgo e também no Canadá, na Nova Zelândia, em Cuba e na Costa Rica.

O caso espanhol

A APS é a base do Sistema Nacional de Saúde (SNS) espanhol. No país, cada pessoa tem um cartão de saúde e, neste documento, está escrito o nome de seu “médico de cabeceira”. Atualmente, cada médico atende aproximadamente 1,4 mil indivíduos (antes, atendiam a famílias), o que assegura a continuidade dos cuidados e facilita a entrada das pessoas no sistema de saúde. A Espanha já dispõe da história clínica e prescrição eletrônicas. O SNS é descentralizado para 17 Comunidades Autônomas e, dentro delas, os serviços são territorializados em Áreas de Saúde.

“O Sistema Nacional de Saúde é um caso de êxito de um sistema que começa sendo para pobres. É um caso muito parecido com a situação da Costa Rica, que começa cobrindo assegurados, progressivamente cobre uma porcentagem maior e, com a chegada da Constituição e da democracia, começa a cobrir toda a população”.

De acordo com Freire, desde 1855 as províncias espanholas tinham como obrigação dar atenção médica gratuita à população mais pobre, enquanto os demais pagavam pelos serviços prestados pelas instituições públicas.  Após os anos da ditadura de Francisco Franco, o país promulga a Constituição de 1978, que garante a saúde como direito. O SNS é criado em 1986, como um sistema de seguridade social financiado por impostos.

“O desafio é fazer com que os serviços públicos funcionem bem, com um primeiro nível de atenção diferenciado, com orçamento e pessoal próprio, no qual cada cidadão saiba onde ir, garantindo uma relação personalizada entre o médico e o paciente”, concluiu.

Conferencista

José-Manuel Freire é chefe do Departamento de Saúde Internacional da Escola Nacional de Saúde do Instituto de Saúde Carlos III (Madri, Espanha). Médico com especialização em saúde pública e administração em saúde pelas universidades de Londres (LSHTM) e Harvard (HSPH), já desempenhou a função de conselheiro de saúde do País Basco e presidiu o grupo de especialistas em ‘Bom Governo dos Sistemas de Saúde’ do Conselho da União Europeia.

 

Fonte- Ascom Isags

A crise contemporânea dos modelos de atenção

A crise contemporânea dos modelos de atenção: Acesse as apresentações e o vídeo do Conass Debate

A terceira edição do seminário Conass Debate trouxe o tema A crise contemporânea dos modelos de atenção à saúde e reuniu cerca de 200 pessoas nesta terça-feira (13), em Brasília. O predomínio das condições crônicas e a necessidade de adequação do modelo de atenção foram os eixos das discussões.

Pela manhã, ex-diretor de Gestão de Condições Crônicas e diretor de Políticas do Sistema de Saúde da OMS e ex-Ministro Saúde do Pais Vasco, assessor do programa Obamacare, Rafael Bengoa, falou sobre a implantação do modelo de atenção às crônicas em na Espanha. Bengoa alerta que o modelo assistencialista vigente – reativo e focado nas condições agudas – é economicamente insustentável e incompatível para o cuidado a um paciente crônico. Segundo ele, a principal reforma é a passagem de um sistema reativo e passivo que espera o paciente, para um sistema proativo, que intervenha antecipadamente na doença crônica e transforme o paciente em um ‘paciente ativado’. “O que é caro não são os doentes crônicos, mas, sim, o modelo de atenção fragmentado que é ofertado”, afirmou.

O sanitarista Eugênio Vilaça Mendes contextualizou a crise que assola os modelos vigentes e a necessidade de enfrentar o desafio das condições crônicas. Segundo Vilaça, a taxa de mortalidade no Brasil, em pessoas de 30 anos ou mais, é de 600 mortes por cem mil habitantes e representa o dobro da taxa do Canadá e 1.5 vezes a taxa do Reino Unido. Como consequência, a cada dia, no Brasil, estima-se que morrem mais de 450 pessoas, somente em decorrência de infartos agudos do miocárdio e acidentes vasculares encefálicos.

A tarde, o debate contou com as exposições de Luiz Facchini, professor da Universidade Federal de Pelotas, Claunara Schilling Mendonca, professora de Medicina de Família no Departamento de Medicina Social da Universidade do Rio Grande do Sul, Luiz Fernando Rolim Sampaio, chefe do Escritório de Serviços de Saúde da Unimed Belo Horizonte e Frederico Guanais, especialista Líder em Saúde da Divisão de Proteção Social e Saúde do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Confira as apresentações:

Rafael Bengoa – http://pt.slideshare.net/CONASS/rafael-bengoa-34634358

Eugênio Vilaça – http://pt.slideshare.net/CONASS/a-crise-contempornea-dos-modelos-de-ateno-sade

Frederico Guanais – http://pt.slideshare.net/CONASS/frederico-guanais

Claunara Schilling – http://pt.slideshare.net/CONASS/claunara-schilling

Luiz Fachinni – http://pt.slideshare.net/CONASS/acesso-e-qualidade-da-ateno-ao-diabetes-entre-idosos-iniquidades-sociais-e-modelo-de-ateno

Luis Fernando Rolim – http://pt.slideshare.net/CONASS/luis-fernando-rolim

 

Confira o vídeo do evento:

http://www.conass.org.br/conassdebate/

 

Fonte site do Portal da Inovação na Gestão do SUS http://apsredes.org/site2013/