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Arquivo Mensal maio 2014

Estudo confirma eficácia do uso do sachê de micronutrientes na alimentação infantil

Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição, do Departamento de Atenção Básica/SAS/MS, divulgou, na tarde desta quarta-feira (14), os resultados do Estudo Nacional de Fortificação da Alimentação Complementar (ENFAC).

O Enfac teve como objetivo avaliar efetividade, aceitabilidade e adesão da fortificação caseira com vitaminas e minerais na prevenção de anemia e deficiência de ferro em crianças menores de um ano de idade. Os resultados do estudo subsidiam a incorporação da fortificação da alimentação infantil com micronutrientes em pó como estratégia programática de prevenção da anemia na saúde pública brasileira.

O evento, realizado na Fiocruz Brasília, reuniu representantes de diversas secretarias do Ministério da Saúde e instituições parceiras como UNICEF, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Conass, Conasems e universidades.

A pesquisa

O ENFAC avaliou a efetividade do sachê de micronutrientes, sua adesão por mães e a aceitação por parte das crianças de 6 a 8 meses de idade atendidas em unidades básicas de saúde, público-alvo da pesquisa.

Participaram deste estudo crianças de 6 a 15 meses de idade, residentes em quatro cidades brasileiras (Rio Branco, Olinda, Goiânia e Porto Alegre), atendidas em Unidades Básicas de Saúde (UBS). A efetividade desta estratégia foi avaliada pela comparação do estado nutricional de crianças do chamado grupo intervenção, que receberam sachês de micronutrientes (vitaminas e minerais em pó), e aquelas do grupo controle, atendidas na rotina vigente na rede pública de saúde, ou seja, sem o uso do sachê.

Além das orientações sobre como utilizar os micronutrientes em pó, mães, pais e responsáveis pelas crianças do grupo intervenção receberam informações sobre práticas alimentares saudáveis, baseadas no Guia Alimentar Para Crianças Menores de Dois Anos, elaborado pelo Ministério da Saúde.

As crianças que participaram da fortificação caseira da alimentação infantil apresentaram perfil de saúde e nutrição melhor quando comparadas às do outro grupo. Meninos e meninas que receberam os sachês tiveram menor prevalência de anemia, assim como de deficiência de ferro e de vitamina A.

A adesão à fortificação caseira da alimentação infantil pela mãe/responsável foi satisfatória e observou-se boa aceitação do sachê pelas crianças quando adicionado a alimentos semissólidos, como papas de frutas e purês.

Foi realizada também uma avaliação qualitativa sobre as percepções de mães e de profissionais da saúde sobre o uso dos sachês. Os resultados identificaram que a qualidade da informação recebida pelas mães pode atuar como fator facilitador da adesão à fortificação.

Resultados

  • A prevalência de anemia foi menor nas crianças que utilizaram o sachê de micronutrientes;
  • A Anemia foi 38% menor nas crianças que receberam a fortificação;
  • Nas crianças que usaram o sachê de micronutrientes, a prevalência de deficiência de vitamina A foi 55% menor;
  • A deficiência de ferro no grupo intervenção foi 20% menor quando comparado ao grupo controle;
  • Melhor perfil de saúde foi observado nas crianças do grupo intervenção, com menores frequências de febre e chiado no peito nos últimos 15 dias. A insuficiência de vitamina E foi 60% menor, sugerindo boa adesão ao uso do sachê com alimentação mais diversificada;

Fonte site do DAB/MS – http://dab.saude.gov.br/

Lançado o aplicativo da SBMFC para celulares

Em comemoração ao dia internacional do Médico de Família comemorado em 19 de maio, a SBMFC está lançando um aplicativo móvel para ser
utilizado em Celulares e Tablets com os sistemas Android e IOS. A intenção é aproximar a SBMFC de seus associados e auxiliar todos os
MFC oferecendo ferramentas que possam ser úteis para o seu dia a dia.

Por meio do aplicativo você poderá acessar as seguintes ferramentas:
• Telessaúde (cadastramento) – A SBMFC estabeleceu parceria com o Telessaúde-RS visando auxiliar nossos associados por meio da
oferta de teleconsultorias sobre casos clínicos, processo de trabalho, educação em saúde, planejamento, monitoramento e avaliação de
ações em Atenção Primária à Saúde (APS). A partir de agora você poderá se cadastrar para ter acesso ao serviço de teleconsultoria
bastando preencher os dados abaixo. O cadastro será realizado pela SBMFC e você receberá um login e uma senha para utilizar o serviço
em qualquer computador, tablet ou celular.
• Segunda Opinião Formativa – Segunda Opinião Formativa (SOF) são respostas sistematizadas, construídas com base em revisão
bibliográfica nas melhores evidências científicas e clínicas. Além disso, é levado também em consideração o papel ordenador da Atenção
Primária à Saúde a perguntas originadas das teleconsultorias e selecionadas a partir de critérios de relevância e pertinência em
relação às diretrizes do SUS. São mais de 700 dúvidas já respondidas e de livre acesso.
• Biblioteca virtual – São mais de 120 publicações de livre acesso para você baixar diretamente em seu aparelho, além do
catálogo de publicações editadas pela Artmed em parceria com a SBMFC que estão disponíveis para aquisição.
• Vídeos online – Acesso livre a um catálogo virtual de vídeos com aulas, palestras, entrevistas, guias de procedimentos e
outros assuntos de interesse da MFC.
• Fotos – Visualize a baixe fotos de eventos e congressos da SBMFC assim como dos concursos que realizamos periodicamente.
• Eventos – Fique por dentro de todos os eventos relacionados a MFC para os próximos meses e coloque-os em sua agenda
diretamente do aplicativo bastando clicar no evento para importar para o seu calendário.
• Revista Brasileira de MFC – Acesse a RBMFC diretamente em seu aparelho sem complicações.
• Notícias – Fique por dentro das últimas novidades da SBMFC através de nosso site e Facebook que podem ser acessados
diretamente do aplicativo.

Além disso você poderá entrar em contato com a SBMFC de maneira facilitada assim como se cadastrar para se tornar um associado ou

atualizar o seu cadastro.

Baixe o aplicativo no site:

http://SBMFC.mobapp.at

ou entre diretamente no Play Store (android) ou no Itunes (IOS) e digite “SBMFC” para baixar.

Fique a vontade para fazer sugestões para o aperfeiçoamento do aplicativo.

Atenção básica: é preciso equilibrar gastos em saúde

Atualmente, o Brasil gasta cerca de 65% do seu orçamento com atenção hospitalar de média e alta complexidade. A informação foi destacada pelo subsecretário de Atenção Primária, Vigilância e Promoção da Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, durante sua palestra no IX Ciclo de Debates – Conversando sobre a Estratégia de Saúde da Família. Segundo Soranz, não é possível sustentar um sistema com este tipo de gasto. “Isso é danoso para o país. Se não nos preocuparmos em buscar equilíbrio nos gastos com atenção primária, a possibilidade de alcançar um sistema mais justo se reduz consideravelmente. Não há incentivo ou programa de melhoria de qualidade que se faça e se mantenha se não tivermos financiamento”, apontou. O debate da terceira mesa do encontro, realizado em 7/5, teve como foco as políticas e programas de avaliação da atenção básica.
O subsecretário falou sobre as avaliações que vem sendo feitas para avaliar os processos de mudança na saúde do município do Rio de Janeiro tanto com usuários quanto com gestores. De acordo com ele, em todos os processos de análise foram utilizados valores de avaliação que, de alguma maneira, permeiam os atributos da atenção primária, seja na avaliação do usuário, dos profissionais ou dos processos internos.
Acesso, número de procedimentos realizados pelas equipes, horário de atendimento e satisfação do usuário quanto a unidade em que visitou estão entre os itens avaliados. “Apesar do número de consultas terem aumentado enormemente de 2009 para 2013 – de 21 mil para 133 mil consultas mensais, respectivamente –, a pesquisa aponta que 90% dos nossos usuários conseguiram ser atendidos e 96% deles avaliaram o atendimento como satisfatório. “Ainda que a avaliação seja positiva, precisamos trabalhar muito para dar conta da demanda que aumenta a cada dia”, apontou Soranz dizendo ainda que, se as vagas dos hospitais federais fossem inseridas no sistema de regulação, a coordenação do cuidado teria melhora significativa. Segundo ele, hoje, apenas 4,3% destas vagas são disponibilizadas.
O subsecretário contou que a Pesquisa de Opinião dos Centros Municipais de Saúde e Clínicas da Família coletou dados e gerou informações cruciais sobre a percepção dos funcionários em relação a fatores que influenciam em seu desempenho e motivação. Palavras como trabalho, equipe, saúde, comunidade e população foram as mais ditas na pesquisa em relação à motivação em dar continuidade ao trabalho que os profissionais exercem. Segundo ele, tais dados também são capazes de identificar questões a serem trabalhadas em longo prazo a partir de ações para a melhoria contínua.
Para encerrar, Soranz apontou que nem sempre o que vem como incentivo é, de fato, um incentivo para ampliação. “O Ministério tem falado que está portando recursos, mas quando vamos analisar os repasses para o Departamento de Atenção Básica e os repasses de financiamento para os municípios isso não fica tão claro. De 2008 a 2010, a variação do DAB/MS ficou em 14,7% e de 2011 a 2013 ficou em 0,8%. Em relação à implementação das equipes de saúde da família, de 2008 a 2010 cresceu 8,1% e de 2011 a 2013 cresceu apenas 7,5%. O crescimento do número de equipes foi praticamente o mesmo, entretanto o orçamento não acompanhou. Ou seja, o MS diz que repassa recursos para o município, porém ele deixou de dar aumentos sistemáticos ao longo dos anos no repasse fundo a fundo do Piso de Atenção Básica (PAB) variável e no fixo para criar esses processos de avaliação e há um incentivo artificial, não real”, advertiu ele.
A pesquisadora da Escola de Governo em Saúde da ENSP e uma das coordenadoras da participação da ENSP no Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ), Márcia Fausto, também participou da sessão como debatedora. Ela contextualizou a questão da atenção básica no país fazendo um resgate histórico, contando que desde os anos de 1990, os municípios gradualmente assumiram novas responsabilidades na atenção à saúde com importante e progressiva expansão da oferta de unidades básicas de saúde no país. Além disso, o governo federal passou a induziu fortemente a adesão à Estratégia Saúde da Família (ESF) como uma nova abordagem em Atenção Primária à Saúde. O ano de 2003 foi um marco, pois foi criada a Coordenação de Acompanhamento e Avaliação da Atenção Básica/DAB/MS com foco no fortalecimento da avaliação como instrumento para a gestão do SUS.
Também teve início a institucionalização da Avaliação da AB a partir de 2000 com o desenvolvimento e difusão de três correntes metodológicas: Avaliação para Melhoria da Qualidade da Estratégia Saúde da Família (AMQ), Avaliação Rápida dos serviços de Atenção Básica em Nível Local (Primary Care Assessment Tools-PCATool) e Pesquisa Mundial da Saúde – Atenção Básica (PMS-AB). Em 2011, começou um novo ciclo no processo de institucionalização da avaliação da atenção básica com o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ AB).
A pesquisadora contou que com o PMAQ foi possível captar informações sobre o processo de trabalho das equipes, a organização do cuidado e a articulação da atenção básica à rede de serviços de saúde. A pesquisa também gerou informações sobre as condições de infraestrutura das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e possibilitou que usuários relatassem suas experiências e emitissem sua opinião sobre o acesso e utilização dos serviços de atenção básica.
Ela concluiu dizendo que devemos utilizar os resultados do PMAQ para analisar a posição da atenção primária na rede de serviços de saúde. “Encontramos questões de dificuldades sobre o acesso à unidade de Atenção Básica (AB), aos serviços especializados, entre outros. De modo geral, a expansão da AB já é um fato na maior parte dos municípios brasileiros, porém esta porta de entrada ainda é questionável. Em muitos lugares, ainda é necessário pegar ficha, fazer fila, chegar antes da unidade abrir para acessar os serviços de atenção primária. O ideal é alcançarmos um patamar em que esta seja a porta de entrada preferencial”, disse Marcia.
Fonte site da ENSP- http://www.ensp.fiocruz.br/

Coordenadora de Pesquisa do Observatório Ibero-Americano destaca a APS Brasileira

O Portal da Inovação em Saúde conversou com a coordenadora de pesquisa do Observatório Ibero-Americano de Políticas e Sistemas de Saúde, (OIAPSS), a médica Eleonor Minho Conill, também professora aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina.Ela  foi integrante do comitê coordenador da Rede APS. Em sua entrevista ela destaca a maior política de atenção primária do mundo, o Programa Saúde Família do Brasil.

Portal da Inovação – Qual a diferença entre o conceito de Sistema Universal em Saúde e Cobertura Universal em Saúde?

Eleonor Conill – O termo cobertura universal de saúde se refere à prestação de um serviço ou de um conjunto de garantias que podem estar cobertas ou não. Isto reduz a noção de saúde. Mas quando falamos em sistemas universais estamos considerando a saúde como resultado de um conjunto de outros subsistemas essenciais, como o da educação, da habitação, do trabalho, entre outros. Todos esses subsistemas sociais interagem para promover melhoria na qualidade de vida da população e com isso prevenir doenças. Portanto, a noção de sistema universal de serviços de saúde é mais abrangente.

Portal da Inovação – Qual é o melhor modelo para atender as necessidades de saúde da população especialmente de países em desenvolvimento como o Brasil?

Eleonor Conill – Não existe nenhum sistema ideal, nenhum sistema é puro, pensar diferente é uma ilusão. Sistemas de países centrais, aqueles que apresentam melhores formas de garantir os direitos sociais, ainda tem uma parte de serviços em saúde complementada pelo setor privado. Nem sempre o sistema público garante tudo. Mas há evidência de que os sistemas universais públicos financiados por impostos, organizados a partir de um território com a atenção básica interagindo com os demais níveis de especialização e trabalho em equipe multiprofissional, tem bons resultados em indicadores de saúde, com menor gasto. São exemplos disso, os sistemas da saúde de Portugal e Espanha, países que adotaram sistemas universais e, têm resultados melhores nos indicadores de saúde que outros com gastos mais elevados. Temos os trabalhos da Barbara Starfield e colaboradores (veja mais – http://apsredes.org/site2013/blog/category/autores) que compararam indicadores nos países da Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), os que eram orientados pela atenção primária apresentaram melhores resultados medidos através de anos potenciais de vida perdidos para todos os tipos de mortalidade e para ambos os sexos.

Portal da Inovação – Qual o impacto que a reforma do sistema de saúde americano, o programa conhecido como Obamacare, está produzindo em outros países?

Eleonor Conill – O modelo americano do Obamacare expandiu a cobertura de serviços para pessoas que não tinham um seguro privado. Estabeleceu sistema de saúde baseado em uma cobertura universal de seguros privados. É o seguro privado regulado pelo setor público, um modelo que influenciará nesta discussão sobre coberturas universais, pois sugere que este tipo de opção é possível. É um pouco o que a Colômbia fez, mas por questões como a corrupção das operadoras de lá, não deu certo. O problema é que começamos a reforçar a idéia de que saúde é consumir um serviço e basta ter acesso a consultas e exames, sejam esses fornecidos pelo governo ou pelo setor privado. Em geral, neste sentido, os serviços privados são mais rápidos, mas gastam mais e geram excessos desnecessários. Isso pode ser perigoso porque muda a direção, a idéia de que saúde é um bem público, um direito que tem que ser garantido pelo Estado e discutido pela sociedade. Passa a ser mais uma forma de consumo disputada num mercado, o que pode ser muito reducionista. Na verdade a doença já é isso, um grande negócio, regular esse mercado e produzir mais saúde são os grandes desafios para os sistemas universais financiados pelo setor público.

Portal da Inovação – Qual boa prática executada pelo SUS/Brasil que seria modelo para outros países?

Eleonor Conill – O Programa Saúde da Família é a maior política de atenção primária do mundo, mesmo com todos os problemas que ainda persistem o Brasil é o grande protagonismo neste tema.

Portal da Inovação – Qual o impacto da recente crise financeira nos sistemas universais de saúde?

Eleonor Conill – O impacto da crise do capital financeiro que se explicitou na Europa criou sérios problemas sociais para os países com uma situação política e econômica mais frágil dentro da União Européia. Os sistemas de saúde de Portugal e Espanha, que ainda são excelentes sistemas nacionais, estão sob grande pressão, mesmo que eles não sejam a maior fonte de gastos. Mas sempre que há uma crise financeira o corte de despesas é absorvido pelo setor social. E, esses cortes impactam na qualidade e na legitimação desses sistemas que são referências para nós.Quando escuto sobre os efeitos no cotidiano assistencial, lembro de que nós vivemos mais de 20 anos em crise. Quando reclamam com razão do aumento no co-pagamento de serviços e dos medicamentos, nos cortes na assistência aos imigrantes ilegais, por exemplo, como a gente já viveu e, de certo modo ainda vive numa penúria muito grande, não nos chocamos tanto. O principal ponto é o risco do desmonte desses sistemas nacionais de saúde. Quando ocorrem cortes de pessoal, congelamento de salários de médicos e de outros profissionais como foi o caso em Portugal e na Espanha, o sistema vai perdendo qualidade e diminui a aprovação social. É como o nosso SUS que, citando meu amigo Gilson Carvalho do CONASEMS “nasceu uma Mercedes que esqueceram de botar gasolina”. Não tem como andar, ou anda empurrado, lutando para não se desqualificar. Aí o seguro privado vai oferecendo formas complementares e esse mercado tende a crescer.

Portal da Inovação – Na América Latina temos diversos modelos de sistemas de saúde. Colômbia, Chile e Brasil seguem caminhos diferentes, mas quais são os desafios em comum enfrentados pelos países da Região?

Eleonor Conill – Foram três modelos diferentes de organizar a prestação de serviços. No Brasil, se quis organizar a saúde por meio de um sistema. Em 1988, incluímos na Constituição que saúde é um Direito de todos e dever do Estado com determinantes sociais e econômicos e que seria financiada por fontes fiscais. Então, no Brasil fizemos uma reforma publicista e avançamos para uma concepção ampliada da saúde. Mas na verdade a reforma ficou no discurso, pois na prática houve um crescimento exponencial de seguro privado. Em nenhuma outra reforma com construção de sistemas nacionais ocorreu isso. Em muitas capitais a cobertura de planos de saúde é superior a 50% da população e o SUS é suplementar ao seguro privado e não o inverso.

O Chile foi o primeiro país da América Latina a ter o seu serviço nacional da saúde em 1950, inspirado no serviço nacional de saúde inglês. Quando o presidente Salvador Allende foi deposto o Chile estava fazendo um SUS. Quando Pinochet assumiu estabeleceu que as pessoas escolhessem se queriam contribuir para o sistema público ou para o sistema privado, sendo que quem tivesse cobertura num não poderia usar o outro. Esse foi um modelo liberal explícito.

Nos anos 1990, a Colômbia, sob efeito de uma conjuntura neo- liberal, fez uma reforma um pouco publicista e um pouco privatista, denominada de “pluralismo estruturado”. A Colômbia aumentou a cobertura através de um sistema regulado pelo governo, mas administrado pela iniciativa privada. O governo passou a pagar um seguro subsidiado, mas quem gerencia e presta os serviços são operadoras de planos de saúde. Este modelo entrou em crise por algumas razões principais, insuficiência das garantias com uma crescente judicialização e corrupção de algumas operadoras, conhecidas como Empresas Promotoras da Saúde. Então, na América Latina temos sistemas duais de complexa regulação. Há uma mistura público e privada com múltiplos arranjos no financiamento, na forma de prestar serviço e no seu uso. Temos como desafio comum organizar essa complexidade, definir qual será a tendência principal do sistema de saúde.

A sociedade deve ser estimulada a pensar que ter saúde é diferente de tratar a doença. Quanto mais mantivermos a saúde melhor será para cada indivíduo e para todos. Atualmente, a doença é um grande negócio, um setor econômico extremamente forte, tanto a produção de equipamentos médico-hospitalares, quanto a produção farmacêutica e a intermediação desse sistema, com operadoras de seguros, consultores, tecnologias de informação, tudo isso é um grande negócio. Ao construir um sistema que estimule as pessoas a terem menos doença haverá um menor consumo e menores lucros nesse potente setor econômico, então os interesses e obstáculos são enormes.

Portal da Inovação – Quais são os principais obstáculos para um sistema universal de saúde?

Eleonor Conill – Nas manifestações ocorridas no ano passado, quando as pessoas foram para as ruas pedir políticas sociais de qualidade, perdemos uma grande oportunidade. Pela primeira vez a classe média brasileira foi às ruas pedir políticas públicas, de habitação, de saúde, de mobilidade urbana. Não pediram planos de saúde e sim um SUS padrão Fifa. Ali foi uma oportunidade perdida para costurar um pacto social melhor.Vejo como obstáculo o sub-financiamento público, mas principalmente a necessidade de um amplo debate com a sociedade brasileira sobre o tipo de sistema de saúde que ela quer. Hoje em dia o SUS oferece uma cobertura integral, mas as pessoas não se sentem seguras. Vivem numa multiplicidade de arranjos, de ‘jeitinhos”. Não concordo com o programa Mais Médicos enquanto principal resposta as demandas sociais feitas em junho do ano passado. Precisamos de mais médicos, mas também de carreiras adequadas, de profissionais mais bem treinados, de despolitizar a gestão, de melhores equipamentos sócio-sanitários, mas isso eu chamo de ingredientes.

Antes temos que decidir qual o tipo de sistema de saúde que queremos construir. O melhor caminho é discutir as questões sobre a organização da prestação dos serviços com mais transparência, não desviar o foco de questões de fundo, como foi feito.

As pessoas querem ter respostas do sistema quando precisam, querem ter segurança quando são atendidas. Uma grande e séria discussão em torno disso seria a grande inovação no Brasil. Eu acho que esses sistemas públicos – Portugal e Espanha – inovaram justamente por mostrar que um serviço nacional público orientado pela atenção primária pode ter bons resultados com grande aprovação social.

Por Vanessa Borges, para o Portal da Inovação em Saúde http://apsredes.org/site2013/

Abrasco lança novo portal da Saúde Coletiva

Uma nova ferramenta em atualidade com os tempos atuais. Nesta semana, o novo portal da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco – entra no ar, renovando a forma de comunicação da entidade com seus pares, comunidade acadêmica, comunidade da saúde e sociedade em geral. O lançamento marca também o início das comemorações dos 35 anos da Abrasco.

Clareza, possibilidade de interação e uma melhoria significativa na alocação das informações foram os principais quesitos que motivaram e orientaram as mudanças, realizadas pela equipe de comunicação da Associação junto com a empresa de webdesign Artexpressa. Logo na entrada do portal, há as notícias em destaque, atualizadas diariamente; um campo para avisos e a lista de notícias, separadas agora em editorias. Todas as notícias terão espaço para comentários do público. A interação se dá também com as redes sociais, como Twitter e Facebook, expostas suas últimas atualizações ao fim da home page.

Os principais eventos da Associação: Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão), Congresso Brasileiro de Epidemiologia, Congresso Brasileiro de ciências Sociais e Humanas em Saúde, Congresso Brasileiro de Política, Planejamento e Gestão em Saúde; Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária; Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente ganharam páginas próprias, no qual trazem as informações sobre os eventos e todo o histórico dos mesmos publicados na internet desde 2006.

A vitrine da página de entrada dá visibilidade também a outros produtos de comunicação: a TV Abrasco, que ganha maior visibilidade e o Podcast Abrasco, com curtas matérias de rádio para serem ouvidas pelos internautas. Abre espaço também para a lista das obras em destaque oferecidas pela Abrasco Livros, que prepara seu novo site e terá como principal ferramenta o comércio eletrônico.

As estruturas que compõem a entidade e os fóruns de coordenadores de Pós-Graduação e de Graduação também ganharam nova roupagem. O link para a Rede APS está, por enquanto,apenas no menu A Abrasco com um texto falando dos seus 4 anos de atividade. Em poucos dias deverá ganhar um destaque na página principal com sua logomarca remetendo para a página da Rede. As Comissões e GTs terão espaço destacado para apresentarem seus documentos e manterem seus pares informados. Os dois fóruns terão suas listas de programas e cursos atualizadas e uma biblioteca, facilitando o acesso de seus documentos.

O novo portal encontra-se em fase de testes e já está no ar. Quaisquer dúvidas podem ser esclarecidas pela Comunicação da entidade, pelo e-mail comunica@abrasco.org.br.

Navegue e seja bem-vindo!

Atenção Primária à Saúde e Sistemas Universais

Conferência aborda papel da atenção primária na construção de sistemas universais de saúde

Experiência espanhola será apresentada em perspectiva aos sistemas sul-americanos

Como a atenção primária à saúde pode contribuir para a construção de sistemas universais? A pergunta é o mote da conferência proferida pelo especialista espanhol José-Manuel Freire e promovida pelo Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (ISAGS) no dia 13 de maio às 11 horas (GMT-3), que terá transmissão online em espanhol, inglês e português e estará disponível pelo link www.aps.isags-unasur.org.

Dentre os países europeus, a Espanha se destaca por seu sistema nacional de saúde universal regionalizado com um modelo de atenção primária à saúde com equipes multiprofissionais e centros de saúde públicos territorializados que cobrem 100% da população. Os êxitos e desafios da experiência espanhola serão apresentados por José-Manuel Freire, que abordará porque um sistema de saúde com financiamento público e organizado em torno dos cuidados primários e prática generalista apresenta melhores indicadores do que um sistema que aposta na provisão privada e no financiamento, organização e prestação dos chamados níveis mais complexos de atenção.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a atenção primária tem o papel de responder à maioria das necessidades de saúde e coordenar a atenção integral e o fluxo das pessoas no sistema de saúde, além de ser a estratégia mais eficiente para responder às condições de saúde do século XXI: a globalização de modos de vida pouco saudáveis, a aceleração da urbanização não planejada e o envelhecimento demográfico – que contribuem para o aumento das doenças crônicas e geram novas demandas para os serviços.

A conferência faz parte da iniciativa do ISAGS de fomentar a discussão sobre o desenvolvimento de sistemas universais de saúde na região sul-americana. Os interessados poderão participar através do envio de perguntas por e-mail (comunicacao@isags-unasur.org), Twitter (@isagsunasur) ou Facebook (/isags.unasursalud).

Conferencista

José-Manuel Freire atualmente é chefe do Departamento de Saúde Internacional da Escola Nacional de Saúde do Instituto de Saúde Carlos III (Madri, Espanha). Médico com especialização em saúde pública e administração em saúde pelas universidades de Londres (LSHTM) e Harvard (HSPH), já desempenhou a função de conselheiro de saúde do País Basco e presidiu o grupo de especialistas em ‘Bom Governo dos Sistemas de Saúde’ do Conselho da União Europeia.

Além da conferência

A conferência de José-Manuel Freire é o ponto de partida para o seminário ‘Abordagens de Atenção Primária à Saúde e estratégias para permanência de profissionais em zonas remotas e desfavorecidas nos países da América do Sul’, promovido pelo ISAGS entre os dias 13 e 15 de maio de 2014 com a participação de representantes dos Ministérios da Saúde das 12 nações sul-americanas. Atualmente o Instituto realiza um mapeamento da APS na região que vai gerar um livro.

 

Mais informações para imprensa

Assessoria de Imprensa do ISAGS

+55 (21) 2505-4427 / 4428

comunicacao@isags-unasur.org

Ciclo de Debates – Conversando sobre a Estratégia de Saúde da Família

Na segunda-feira (5/5), a Escola Nacional de Saúde Pública terá um intenso dia de debates que envolvem a formação e a capacitação de residentes em Saúde da Família e de profissionais que atuam na educação do campo e nas ciências agrárias. Nesta data, a Escola dá início à nona edição do Ciclo de Debates – Conversando sobre a Estratégia de Saúde da Família, em evento no auditório térreo, às 9 horas. Na terça-feira (6/5), inaugura o mestrado profissional em Trabalho, Saúde, Ambiente e Movimentos Sociais, às 14 horas, no salão internacional. As duas atividades são abertas ao público.

De 5 a 9 de maio, a Escola Nacional de Saúde Pública realiza a nona edição do Ciclo de Debates – Conversando sobre a Estratégia de Saúde da Família. Em 2014, a atividade contará com cinco mesas de discussão, além da tradicional formatura do curso de Residência Profissional em Saúde da Família (turma 2012). Os temas envolvem as políticas e os princípios estratégicos que norteiam as ações de atenção básica no país.  A primeira mesa do Ciclo traz o tema A política das Residências Multiprofissionais em Saúde: uma agenda inconclusa? A atividade terá como palestrante Vinícius Ximenes, da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (DES/Sesu/MEC). Felipe Proenço de Oliveira, do Departamento de Planejamento e Regulação da Provisão de Profissionais de Saúde (Depreps/SGTES/MS), será o debatedor da mesa coordenada pela pesquisadora da ENSP Maria Alice Pessanha de Carvalho. A palestra ocorre às 9 horas, no auditório térreo da ENSP.

Workshop discute as competências esperadas para os egressos de residência em MFC

Entre os dias 3 a 7 de maio a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) com o apoio do Ministério da Saúde (MS) e da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ) realiza o evento  Competency Based Curriculum Workshop que discute as competências esperadas para os egressos de residência em Medicina de Família e Comunidade. O evento está sendo realizado no auditório Bárbara Starfield e conduzido pelos professores da Universidade de Toronto Dr. Cynthia Whitehead , Dr. Karl Iglar e Dr. Perle Feldman. Os participantes são  médicos de família de diferentes estados brasileiros.

Event Schedule

Day 1- May 3rd, 2014: Introduction to Competency Frameworks

  1. 08:30 – Registration
  2. 09:00 – Introductions 40 minutes
  3. 09:40 – Competency-based Education 101 60 minutes
  4. 10:40 – Break 20 mins
  5. 11:00 – Competency Basics Small Group Exercise 60 minutes
  • Review of Current Curriculum with Competency Lens
  1. 12:00 – Lunch Break
  2. 13:30 – Competency-Based Education- History and Theory 30 minutes
  3. 14:00 – Developing a Competency-Based Curriculum:  Staged Model Approach  60 minutes
  4. 15:00 – Break 20 mins
  5. 15:20 – Curriculum Development Exercise (small group) 90 minutes
  • Practice using staged model to develop basic areas
  1. 16:50 – Wrap-up 40 minutes
  2. 17:30 – End of the first day

Day 2- May 4th, 2014: Steps in Creating your own Competency Framework                                                                         

  1. 08:30 – Introductions and summary from Day 1  (30 minutes)
  2. 09:00 – Competency Curriculum:  Specific Design Principles (70 minutes)
  3. 10:10 – Break (20 mins)
  4. 10:30 – Curriculum Design Exercise (small group) 90 minutes
  • Practice writing competency statements
  1. 12:00 – Lunch Break
  2. 13:30 – Assessment in a Competency-Based Curriculum 60 mins
  3. 14:30 – Assessment small group exercise: Review of current assessment with competency lens
  4. 15:30 – Break 20 mins
  5. 15:50 – Monitoring in a Competency-based Curriculum 50 mins
  6. 16:40 – Wrap-up
  7. 17:30 – End of the second day

Day 3- May 5th, 2014:  Building the Family Medicine Competency Framework

  1. 08:30 – Stepwise Approach to Competency Framework Development 30 minutes
  2. 09:00 – Basic Principles of Writing Competencies 30 minutes
  3. 09:30 – Competency Framework Development Exercise (02:40 hours with 20 min break)
  • Small group work to review domains of practice
  • Begin development of content areas using staged model
  • Large Group discussion of issues, challenges, successes
  1. 12:30- Lunch
  2. 14:00 – Review and Revise Content Areas (1.5 hours)
  • Examine and critically appraise area from another domain
  • Revise own area based on others’ feedback
  1. 15:30 – Break
  2. 15:50 – Mapping Competencies to CanMEDS-FM 40 minutes
  3. 16:30 – Mapping Assessment to CanMEDS-FM 30 minutes
  4. 17:00 – End of the third day

Day 4- May 6th, 2014:  From Framework to Competencies

  1. 08:30 – Introductions
  2. 09:00 – Basic Principles of Writing Competencies 30 minutes
  3. 09:30 – Group Work on Competency Development in Content Areas (02:40 hours with 20 min break)
  • Creating the competencies
  1. 12:30 – Lunch
  2. 14:00 – Review and Revise Competencies of another Group (2 hours)
  3. 16:00 – Break
  4. 16:20 – Competency Mapping Examples 30 minutes- Can MEDS FM link
  5. 16:50 – Mapping Exercise to CanMEDS-FM (1.5 hours)
  6. 18:20 – End of the fourth day

Day5- May 7th, 2014:  Assessment/Evaluation and Next Steps

  1. 08:30 – Introductions
  2. 09:00 – Developing Evaluation Tools Large Group Discussion 60 mins
  3. 10:00 – Break
  4. 10:30 – Mapping Assessment to CanMEDS-FM 30 minutes
  5. 11:00 – Small group exercise to develop and map evaluation tools 60 mins
  6. 12:00 – Lunch
  7. 14:00 – Mapping next steps:
  • Development of work plan for next steps
  1. 17:00 – End of the workshop

 

Estudo multicêntrico brasileiro sobre transtornos mentais comuns na atenção primária

Estudo multicêntrico brasileiro sobre transtornos mentais comuns na atenção primária: prevalência e fatores sociodemográficos relacionados

 

 

Autores: Daniel Almeida Gonçalves1, Jair de Jesus Mari1, Peter Bower2, Linda Gask2, Christopher Dowrick3, Luis Fernando Tófoli4, Monica Campos5, Flávia Batista Portugal5, Dinarte Ballester6, Sandra Fortes7

 

Resumo:

Problemas de saúde mental são comuns na atenção primária e são geralmente relacionados à ansiedade e à depressão. Este estudo tem o objetivo de avaliar a taxa de transtornos mentais comuns e suas associações com características sociodemográficas em unidades de saúde da família. É um estudo multicêntrico, transversal, com os usuários da atenção primária do Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza (Ceará) e Porto Alegre (Rio Grande do Sul), Brasil. Utilizou-se o General Health Questionnaire (GHQ-12) e o Hospital Anxiety and Depression Scale (HAD). A taxa de transtornos mentais nos usuários do Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Porto Alegre foram, respectivamente, 51,9%, 53,3%, 64,3% e 57,7%, com diferenças significativas entre Porto Alegre e Fortaleza comparando-se ao Rio de Janeiro. Problemas de saúde mental foram especialmente altos em mulheres, desempregados, em pessoas com baixa escolaridade e com baixa renda. Dadas as iniciativas do governo brasileiro para o desenvolvimento os cuidados primários e para reorganização da política pública de saúde mental, é importante considerar os transtornos mentais comuns como uma prioridade tal como outras morbidades crônicas.

Leia artigo CaSaudePublica

Artigo publicado no Cadernos de Saúde Pública – Vol. 3